sexta-feira, junho 25, 2010

Décimo Segundo Cálice


Se na equidistância entre estrelas o afastamento a uma é aproximação
A outra entre dois pólos navega como pêndulo à procura da unidade
Esse ritmo binário digital com que nos sustentamos irrequieta condição
A bater as horas entre ser e não e não-ser, sintetiza-nos átomo paridade
Ao construir-nos duplos no género mas iguais perante a generalidade.

Olho devagar a concisão de teu sorriso aflorando o recanto da alegria
E nesse olhar em que me vou tornando está o manto rosáceo, puro, liso
Que não descuro nem quanto dele preciso para seguir em frente no dia
A dia, sobre a mesa da ocasião, apenas à solidão calada as letras aviso
Arriscarem-se a perecer se ao cometer a traição temerem doce ousadia
De tecer teus ombros na fina e branca seda dos astros reflexos os areais
Bronzeados mestiços metais nada são se os comparar a alvos celestiais
Das velas navegantes que mundos viram e trouxeram uma página mais.

Duas folhas unidas pela medianiz como dos troncos nasce só uma raiz
A veia feita das duas metades que já foram quartos doutras tantas luas
Ao querer como se crê e tanto quis que as pétalas saídas do cálice tuas
Fossem únicas verdades essas lidas assim tatuadas na pele tão-só a giz
De gizar o caminho ao amaciar o linho da repousada água na líquida fé
De se apagar a mágoa no mansinho ser somente quem, ao querer-te, é.

4 comentários:

  1. Devolvendo em cálices, todos os carinhosos cálices que tenho recebido de ti, amigo. E um pedido especial de que não cale-se... Rsrs... Beijos.

    Façamos, então, agora uma reflexão sobre o tempo que para muitos de nós é o tempo.

    http://4.bp.blogspot.com/_PKIuhfCyZQo/S4BHlh4_zHI/AAAAAAAAAnQ/yIKEqVzWAHc/s320/amanhecer+(3).jpg

    Reflexão sobre o Tempo

    O tempo me traz,
    De repente...
    A verdade
    Que há nas mentiras;
    A face real do escondido;
    O tempo pode ser um inimigo
    Ou a Justiça sutil.
    O tempo...
    Anjo ou monstro;
    Apenas existe
    Sem que alguém conceda-lhe
    O direito de existir ou não;
    Monstro cruel ou espada justa?
    Assim como se fosse Salomão
    Com sua Justiça,
    Separa para unir;
    Une para separar.
    O tempo...
    Este que nos dá cabelos brancos
    Mostra-nos maravilhas
    No espanto;
    Reduz o soberbo a pó;
    Nivela, unifica, arrasta
    Ou traz de volta.
    O tempo...
    Com asas transparentes
    Caminha lado a lado
    Com o seu alado:
    O homem,
    Tolo, distraído,
    Não o vê chegar,
    Fica esperando,
    Como que para abrir um livro
    Para a cara dele mostrar.
    O tempo é fiel
    E caminha contigo.
    O tempo...
    Ele fez de mim, avó;
    Ele faz de mim, melhor;
    Ele une ou desfaz o nó;
    O tempo...
    Só o tempo,
    Pode te fazer homem;
    Pode te tornar imortal;
    Só o tempo...
    Pode perpetuar o teu
    Tempo.
    É preciso ter tempo
    Para poder buscar
    No tempo
    O bem do tempo.

    (Ednar Andrade).

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  2. As estrelícias esculpidas na seiva da voz
    Descem os minutos de pétala em pétala
    Teu voa delas que nem mais um albatroz
    Prestes a escorregar nas algas da fala
    Voo em delta vela de ângulo perfeito
    Esse de seres pêndulo que dentro do peito
    Me navega e marca horas se batendo cala
    Esse outro suspiro que voando me exala.

    É precisamente esse o tempo da reflexão
    Cujo vaivém me balança quando a lança
    E flecha de Cupido me alcança o coração!

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  3. Exacto. A poesia é um cálice de gratidão. Obrigado por esse reconhecimento tão sonegado vulgarmente.

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