A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, julho 09, 2012


DO PROJETO AO DESTINO



1.
(PONTO CARDEAL)



Já pouco (ou nada) nos dizemos nas horas caladas
Ao toque da alvorada dos corpos nus e insubmissos
Concordámos em acordar discordando nos nadas,
Pormenores escolhidos, de enredos apenas esquiços.
Somos breves na profundidade, velozes nas estradas
Do ser sem perscrutar paisagens laterais, sinais, avisos
Alertas prà contramão opressiva do tempo, nessas tapadas
Onde antes pastavam quimeras, mariposas, colibris, narcisos
Nascem agora torres de betão armado, antenas difusoras
Agulhas góticas que pretendem penetrar o firmamento
Como fizeram as petrolíferas perfuradoras ao solo do sustento:
Umas, emitem que jamais teremos os mesmos outroras;
Outras, que embora iguais em nossos agoras somos mais
E estamos Além, lugar utópico e interdito a nós, mortais.



2.
(LIVRE ARBÍTRIO)



Quem poderá saber o que está para acontecer?
Ninguém: é esse o lugar próprio do soneto, a sua
Tabela de aferir, régua, ponto G, ou raio laser,
Medida exata de ordem lunar que não mingua
A dor, nem mitiga complacência. Faz tremer
Intenções que se acendem se o verso se insinua
Entre as prosas da linha, ou decretos do poder,
Há trejeitos estéticos que enfeitam a língua.



Há tambores que ecoam no coração universal.
Há refrões que sublinham o respirar dos ventos.
Há seres de bruços estendidos no lodo intemporal.
Há flores a eclodir da espuma nos vãos momentos.

Porém tu, a quem me rendo de peito aberto, todo
Moldas-me o verbo, o pulsar, dizendo-me a teu modo!

3.
(BAILARINA DA NOITE)



Em pontas voa a luz e a sua forma
Silhueta que rodopia nosso destino
Cujo fito é fintar, e assim contorna
Como seiva, água, derme, puro linho…
Se dança na brisa é flor feita norma
Regra de harmonia prò ser em desalinho
Voz tépida, terna mente, seda morna,
Pétala madura de cetim doce e fino.
Que do coração sua essência nos acarta
Seara pronta, respigo atento, simplesmente
Brilhando na noite escura, quase de repente:
E é por isso, um entreposto da leda marca
Sinal constante desta alegria intermitente
Qual farol de felicidade, que nunca farta! 


quarta-feira, julho 04, 2012


NO PREDICADO, A IDENTIDADE



1.

Pigarreando a voz, exercício afinado, de imediato
Respiro o sol, a macia volúpia do crepúsculo…
Não há gesto que melhor nos esconda
Do que a silhueta perfilada ante o ocaso;
A penumbra agridoce da tarde, o estio violeta
A sombra que entretece a dúvida, o vento
Norte fresco do destino a eclodir maduro.



Se a tua paz é a minha aflição febril
O anil aceso duma aguarela visceral,
Porque danças e balanças os braços nus
Tecendo luz na insurgida escuridão do silêncio?

O rosto diz-te, mas a alma sublinha-te verbo
E eu apenas recito, nego a oralidade do esquecimento.


2.


Acende-se a manhã, é como quem assopra
O nevoeiro dilui-se, o palimpsesto remanesce
A tinta desbotada dos ontens grita sua sobra
Num brilho novo que ao antigo nunca esquece…



És a minha única fragilidade, e aquela que cobra
De mim a dor; quem te magoa me fere, embrutece
Torna ímpio e cruel; rasga no ponto da dobra
O puído ânimo das malhas que o universo tece.

Sofrer é isso… Temer que a pior das piores desgraças
Nos aconteça. E para além do tédio, do choro e do riso
Reconhecer que para ser muito feliz somente é preciso



Que nada de grave te alcança quando leda passas
A fronteira das visões imaginadas, logo (pres) sentidas
Que é onde desaguam todos os medos – todas as vidas!