A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, janeiro 31, 2017

DITAME DA POESIA




O DITAME DA POESIA

Aconteces-me poema irrevogável
Já incontornada magia na jornada
Já Fénix de fogo na tarde plausível
Já continuum d'explosão celebrada. 
Se em minhas veias ecos há, escuto
Latências que te chamam, e chama és 
Flama de luz, verbo cadente no abruto
Cinzento sobre antenas e chaminés
Dum bairro suburbano mas pacato.
Porém, estrela, porém; porém flor-de-lis 
Que escreve nesta alma como um giz
As leis e demais ditames que acato
Por ver-te, em celebração do contrato
Que é ato, e também poema que nos diz.

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, janeiro 30, 2017

RECATO




RECATO

Escondo teu nome em meu peito
Digo-lhe coisas que já por bem sabes,
Que já conheces de cor, neste jeito
De perdida imensidão onde cabes
Sem defeito nem juízo doutro valor,
Senão sentir de amigo que é amor…

E escondo-te para não me esconder,
Na timidez que compõe essa reserva
Que os olhos têm de serem vistos a ver
Se acaso alguém também nos observa; 
Que a seiva é essência de toda a flor,
Mais essencial que a sua própria cor.

E neste esconder em que me mostro
Sou da essência superfície profunda,
Pomo de secreto sentir, e imo estro
Da vida que a ambos abraça… e inunda! 

Joaquim Maria Castanho 

domingo, janeiro 29, 2017

RECICLAGENS E REUTILIZAÇÕES




RECICLAGENS E REUTILIZAÇÕES 

Agonizam antigas atitudes
Condutas desatuais, maduras
Caem no desuso, perdem virtudes
Caminham vacilantes, inseguras
Temem vazios, se radicalizam
Entrincheiradas em ghettos e nichos,
E se justificam quando pecam 
De recaída em recaída ficam e vão 
Pedindo ao sonho e utopia seu pão
Sua dose dominical de bem e de mal…

Os jovens desconhecem-nas, os idosos
Largam-nas; contemporâneos, então
Como quem trata do cão, dão-lhe ossos
Nas pratas e papel das prendas de Natal.

Joaquim Maria Castanho

sábado, janeiro 28, 2017

A CHAVE DAS HORAS




A CHAVE DAS HORAS

Procuro-te nos labirintos do dia
Entre os produtos, entre as estantes
Entre sonhos que não tinha, nem havia
Nos gestos que repetia, como soía antes… 
Tens o nacarado lunar que me guia, 
O jeito das estrelas caminhantes, 
A luz que estilhaça as manhãs frias, 
Pondo doçura nas suas cambiantes.
E se as sombras oprimem, tu libertas.
S'águas doem, tu lavas, purificas. 
Mas, sobretudo, silente dignificas
Habitando horas que, antes, desertas
Me desabitavam, por dilacerantes.
Fechadas. E só, por carinho, abertas! 

Joaquim Maria Castanho 


sexta-feira, janeiro 27, 2017

AMIZADE, ESSE SENTIMENTO




SENTIMENTO UNIVERSAL 

Como uma estátua, no pedestal
Minha Musa organiza no caos
Coisas que a humanidade usa 
Pra fazer as limpezas das naus
Desta navegação infinita
Que é garimpar os sentimentos
Com que o sonho, pepita a pepita, 
Edifica tesouros e momentos
Em que acredita e a faz plural, 
E lhe dita o sentir universal… 

E mais ainda, a silhueta linda
Duma fada pla luz absorvida, 
Perante essa centelha infinda
Da amizade, que é sol da vida!

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, janeiro 26, 2017

ESTRELA CADENTE




ESTRELA CADENTE  

Esgueirou-se, a minha musa 
Entre as colunas do templo, 
Ágil, leda, lesta, difusa
Vestal beleza sem exemplo.
Por ela guerrearam titãs;
Em sua honra nascem os dias; 
Estrelas congeminam amanhãs; 
Amor é flor nas manhãs frias.
E não obstante seja reclusa
Do ganhar prà própria vida,
É bem mais de quem com(n)templo: 
É da morte a pura recusa,
Luar que do sonho é guarida,
Luz que ao breu impõe saída! 

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, janeiro 25, 2017

NÉCTAR DIVINO, A LÍNGUA DA LUSITANIDADE




DIVINO NÉCTAR 

Teu pequeno «Olá!» foi imenso
Na minha imensa solidão, 
Tão grande que até penso
Que é semente de paixão
Que germinará e será flor, 
Pétalas, odor sem igual,
Se for regada com o amor
Que é a língua de Portugal
Adoçada pla brasileira
Num sonho de mel maduro
Torna-viagem da videira
Que dá o néctar do futuro…

– O sentir da vida inteira,
E em cada dia mais puro!

Joaquim Maria Castanho

terça-feira, janeiro 24, 2017

ALUCINADO DIZER





ALUCINADO DIZER

Se saiba, pois, que de toda poesia
Apenas um verso me chega:
É estender o braço e tocar-te
Meu sonho, meu grito de arte, 
Memória que ao presente se confia
– Presente que ao futuro se entrega.

Porque amar-te é também porfia
Insistência que à rima prega
Musa contínua, inspiração constante,
Renovada luz que a sorrir existes
Flor que nenhum verão, porém, secará
Quando na palavra a beleza permites
Onde quer que esteja, onde quer que vá.

E se digo agora o teu nome durante
Os amanhãs que nasceram já ontem, 
É por sentir que serei sempre infante
Pajem fiel da suserana estrela, rainha
Alucinação que ilumina e nunca cega
Real encarnação terreste de Arina
Por cujos cabelos a poesia me chega.  
Por cujos raios o dizer se alucina! 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, janeiro 23, 2017

BAILIA DA TRANSPARÊNCIA




BAILIA DA AUSÊNCIA TRANSPARENTE

Pardalitam teus olhos na lembrança
Saltitando ainda dentro dos meus, 
Marcando ritmo aos passos de dança
Com que a alma me baila nestes céus
Sem uma nuvem, uma dúvida sequer
Em entrega total, inocente criança
Ao nome de "mãe", numa linda mulher…

Podiam voar, ser livres, mas, todavia
Preferem ficar presos a esses teus,
Com que a própria luz do dia (a dia)
Pintou no azul uma dança sem véus.

Joaquim Maria Castanho

domingo, janeiro 22, 2017

A SAGRAÇÃO DO FRUTO




A SAGRAÇÃO DO FRUTO 
(poema dominical)


Simples e breve, flash na imensidão,
O destino descreve pra que serve
A escolha do momento na ocasião;
Então, qual ceifeiro, por paralelo, 
Colhido o fruto no pomar singelo
Ei-lo deposto em tua carinhosa mão… 

Suas linhas tornam-no doce e belo.
E minha mesa, a latitude exata 
Onde o raio de luz (ouro amarelo)
Lhe sublinha o gosto, o colorido
De um maduro "trigo" feito em pão
Suculento, e vivo que me mata
Esta fome de sonho qu'é a paixão! 

Joaquim Maria Castanho 

sábado, janeiro 21, 2017

CANDEEIRO BRUXULEANTE




CANDEEIRO BRUXULEANTE


Quase como quem adormece assim
Entre luzes de estação suburbana, 
Aquele que se desconhecia hesitou… 
E eu, que já aí desci ou subi, enfim
Fiz mil reparos à forma assaz insana
Com que ele se ajeitou entre jornais.

Se não sabia ler, com que direito, então
Recorria ele à imprensa vespertina? 

Há silêncios que apenas parecem ais.
Há ais que gritam genuína humilhação. 
Há humilhações que vão de esquina 
Em esquina, onde nada mais… ilumina! 

Joaquim Maria Castanho 

MEU CÉU, É OUTRO CÉU, PORTANTO




MEU CÉU, É OUTRO CÉU, PORTANTO 

Polvilham de estrelas teus gestos
Dizendo amainado, manso luar, 
Como se entre escolhos e restos
Fossem mais doces que o sonhar; 
E demais que agitados sejam
Encrespados pela expetativa, 
Serão guardiães, que sãos protejam 
A senda da vida com seiva viva. 

Polvilham teus gestos meu canto
Teus olhos, palavras, meiga rima, 
Que jamais o céu me dirá tanto
Se ver-te, é vê-lo, sem olhar pra cima… 
Que o céu é um além que nos ‘tá dentro
Tão ideal, tão real, tão perfeito, 
Que, caso o universo tenha centro,
Nasceu-lhe ele do Big-Bang do peito.

Meio assim, do puro sentimento
Com que este céu escreveu em mim,
Sempre e toda vida a espera sem fim
– O eclodir mágico num só momento! 

Joaquim Maria Castanho 

sexta-feira, janeiro 20, 2017

VERSOS SECRETOS




OS VERSOS SECRETOS 

Há momentos, ápices fugazes
Que valem uma vida inteira, 
E mais que ela são capazes
De inventar a felicidade
Quer se queira, quer não queira. 

Não os direi, agora, aqui
Que quero guardá-los só pra mim
Nas profundezas da alma (secreta), 
Onde os tesouros são em carmim
Bordados d'avó plas mãos da neta. 

São versos tais, que jamais li
Escritos num idioma sem idade, 
Eras antes da Era em que nasci
Na serra em frente da cidade.

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, janeiro 19, 2017

O AMOR TOTAL - III




AMOR TOTAL - III 

Não há sonetos que te descrevam
Nem sílabas que te sejam fiéis, 
Que ancestrais deus observam
E zelam e capricham (empenhadas)
Prà beleza não andar nos papéis; 
Não há palavras para contar-te
Nem cores que imitem como és: 
Só Arina pode igualar-te
Só Inanna te chega aos pés
Só Xara(zade) sabe o teu nome. 
Nem és coisa-objeto prò desejo… 
Tens o olhar das odes estreladas, 
A voz com que o sonho me consome. 

És o amor total com que te vejo! 

Joaquim Maria Castanho 

quarta-feira, janeiro 18, 2017

REGRA DE OURO




A REGRA DE OURO

Tenho a distância num barco
Que te há de um dia trazer, 
Pois todo o sentido é parco
Para quem se quiser devolver.
E eu me devolvo envolvido
Já naquilo que pra ti serei: 
Remada com muito sentido
Em todos os sentidos da lei.

Joaquim Maria Castanho

terça-feira, janeiro 17, 2017

NA FATALIDADE




FATALIDADE 

"Aquele que me adorar está perdido"
(Inscrição da estatueta da deusa Vénus Ibérica)

Se sol brilha, é tua voz que me abraça… 

Sei que há esperança, e dela partilho. 
Sei que podemos escrever o destino, 
Inventar nosso trajeto, nosso trilho;
E que crescer é ganhar independência
(Perder os dependeres de menino). 
Mas de todos os vícios que apanhei
O de ti é o único que me não passa 
– Que és a cura por que me desgraço. 
E se à noite a mim mesmo afianço
Que hei de pôr cobro à dependência, 
Eis que novo dia nasce, e alcanço, 
A certeza pura de minha essência: 
Prefiro mil vezes viver em desgraça! 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, janeiro 16, 2017

LUAR DA MANHÃ




LUAR DA MANHà

Se não fossem os velhos marretas
Hoje, fazia-te um lindo poema; 
Mas assim, pra evitar as petas
Não o faço... – O que é pena! 

Joaquim Maria Castanho

sábado, janeiro 14, 2017

ACERCA DO PAGAR O PATO




ACERCA DO PAGAR O PATO


Dizem da verdade ser relativa,
Qualquer coisa de menor monta,
Pondo a ênfase superlativa
Em  «O ponto de vista é que conta!»

Não me faria dano, nem afronta
Se virasse regra imperativa
O que tamanho dislate aponta;
Contudo, se tomar parte ativa
Importa registar, meus amigos
E amigas, com voz grave e rouca,
Para que evitem maiores perigos
Não ser de somenos, nem coisa pouca
O facto de uns comerem os figos
Quando a outros arregoa a boca! 

Joaquim Maria Castanho

DOCE ALGODÃO





ALGODÃO DOCE


Estou combalido?
Sim. Com o quê?
Com a sorte, que não me quer;
Com a vida, que não me pensa.
Como se a última, fosse mulher
Mãe da segunda
E avó da primeira – a ofensa.

É um encanto que arrelia,
Uma arrelia que não foge,
Como esse niquinho de lã
A voar no bico do hoje.

Joaquim Maria Castanho

sábado, janeiro 07, 2017

BEM ME QUER, MAL ME QUER




BEM ME QUER, MAL ME QUER

Sufixo germinável, o ramo
O galho, esse em que pousaste
No último dia do velho ano
Quando – e por bem! – achaste
Ouvir o cante com que te chamo
Onde o vento, pelo caminho,
A varrer, cumprindo tradição, 
Escolheu como seu destino
Entrançar, raminho a raminho, 
Uma espécie de ninho
Para acolher o coração... 

Talvez o nosso, que é tão maior
Do que o órgão de cada qual, 
E por cujo compasso abre a flor
Pétalas em binário (digital). 

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, janeiro 04, 2017

ALMA TRAIDORA




ALMA TRAIDORA

quarta-feira, 4 de janeiro de 2017
17:22

Passas por mim como uma gota de sol
E trazes advérbios que esplendem,
Porém calado, no suspense, em bemol
Eis-me rendido e os olhos só dizem
Quanto te pertenço (unicamente).
Contudo, não me traem, pois nem notas
Já que ágil, ou lesta, te distancias
Cerzindo com determinação as rotas
Do afazer nas tardes dos teus dias…

Quero gritar, mas com a boca fechada
Para dizer-te que penso, e que sinto,
E de como tudo é ora diferente;
Então, nesse instante, alvoraçada
Esta alma que me pinta no que "pinto"
Deixa-me só na solidão da estrada…
Só pra seguir contigo à minha frente!

Joaquim Maria Castanho 

terça-feira, janeiro 03, 2017

PÃO DOS AFETOS




O PÃO DOS AFETOS  

Saudade sem distância
Ou viagem sem partida, 
São vizinhos desta ânsia 
De quem sobe pla descida; 
De quem balança os braços
Ao lés a lés de si mesmo, 
E fica preso nos laços
Que armou neste torresmo
Pra caçar, na desventura,
Algum préstimo ou sorte, 
E cultivar com ternura 
O esquecimento da morte 
– Negra ceifeira do pão 
Feito com o joio da razão! 

Joaquim Maria Castanho   

ANINHO-ME EM TEU NINHO




ME ANINHO EM TEU NINHO 

Só entre sombras sobramos
Apontamentos na margem difusa
Pétalas no capim dos tempos
Bredos pisados, bermas de várzea… 
Víssemos distância do breve ao perene
E soubéssemos o coaxar dos pauis… 
Se teus passos ecoassem nas veredas
Linhas de sangue, caudal sôfrego 
Intenção de ver-te em contínuo presente, 
Nenhuma história teria folhas caducas
E tua casa seria invisível para quem passa. 

O teu salto no vazio – o primeiro voo! 

Joaquim Maria Castanho