(SÓ) somos quem somos

 

SÓ SOMOS QUEM SOMOS


Deslumbra a fidelidade intrínseca…

Não há metáforas para o teu olhar.

E quando a sombra se torna promíscua

Nenhuma lágrima o poderá lavar.


Hidrato basilar será a sua máscara

O pigmento da memória por colorido;

Mas no fim de tudo o corpo é chácara

Onde o fado destila poema (sofrido).


Que o ser se à alma se entrega de boa-fé

Nem resiste, enfim, à sua unificação,

É porque quer ser somente aquilo que é.


Abdica da mentira e representação,

Do logro, da iluminura e do rodapé,

Pra casar co’a verdade da sua condição.


Joaquim Maria Castanho

Portalegre, 20 de setembro de 2022

NOTAR A AUSÊNCIA É DESEJAR VER

 


NOTAR A AUSÊNCIA É DESEJAR (VER)



Somente saudade resta depois de ti

Ao partir semeaste vazio no meu olhar,

E não fora o instante rasgar que senti

Só a memória habitaria este lugar.


O TEU SORRISO inventou-me por dentro

Como qualquer madrugada por fazer,

E agora se plas manhãs adentro entro

É tão-só na esperança d’O voltar a ver.


O TEU SORRISO é luar prestes a crescer

Entre aspas, até eclodir bem no centro

Onde a palavra entretece o puro tecer,

O que nem mil vocábulos têm pra contar,

Quanto unicamente em teus olhos li…

Que a ausência é prenúncio de desejar!


Joaquim Maria Castanho

Portalegre, 18 de setembro de 2022

A GRANDE incógnita

 


A GRANDE INCÓGNITA


Chamo-me Futuro, e não sou pra graças.

Nada sei do amanhã à exceção daquilo

Que é tão irrevogável como os braços de Milo

Na frugalidade do Agora e suas trapaças.

Podem não me ver sem lentes especiais

Esquecer-me entre as bagagens usuais

De quem pernoita nos desvãos e nas praças.


Nos arquivos, concertos e festivais

Ou nas partilhas por heranças e traças

Com que a inveja congemina planos, ameaças

Para se vingar dos que pensa serem mais.


Mais isto e aquilo, aqueloutro e coisa e tal

Sabe-se lá! – Ou sinal intermitente

Tipo digital VIVO / MORTO, Virtual

Versus Real, em que existe tanta gente.



Chamo-me Futuro, e estou de partida

Para onde o passado não me encontre,

Perdendo de mim o rasto, sentido e norte,

Ainda que mui deseje repetir a vida!


Joaquim Maria Castanho

Com foto de Mia Teixeira

Portalegre, 11 de setembro de 2022

TÍTULO PÓSTUMO


 

TÍTULO PÓSTUMO


Era uma vez um poema sem título

Que fazia parte de um romance, vivo

Real, ativo, nada abstrato e cativo

Do enredo, sendo dele outro capítulo

Jovem, mas sensato e ilimitado,

Como a sustentabilidade infinita

A sua pele cor de mel enfeitiçado

Seu olhar de luar de outono-escuro

Que chamo num silêncio qu’apenas grita

Sentido amor que vai para lá dos sentidos.


Se me aproximo, seu sorriso é puro.

Se o nomeio, conta cantando Mil… Dois… Cem… Três…

E salta da História o tempo, o muro

Dos nomes, para ser Rainha… – Sim…: outra vez!


Joaquim Maria Castanho

Portalegre, 09 de setembro de 2022



SOBRE A IMORTALIDADE DO SONHO

 

SOBRE A IMORTALIDADE DO SONHO


Na orla do movimento

Todo o caos desacontece:

Fenece plo sentimento

Que só teu rosto merece.


E esse sinal que sei de cor

Bem a jeitinho de beijar

Quase tão botão de flor;

Quase seio de nobre amor

Qu’até põe o sonho a sonhar.


Porque ao ver-te eu o digo

Posto fora de perigo

Já longe de qualquer mal:

S’até o sonho sonho contigo

Que não se passará comigo

Que sou simplesmente mortal!


Joaquim Maria Castanho

Portalegre, 06 de setembro de 2022