ESTATUTO DE PAPEL VEGETAL
(O ENGRAÇADO E AS GRACINHAS)
Se ninguém te leva a sério,
Incluindo tu,
Porque vês adultério
Num corpo (apenas) nu?
A peste que em ti grassa,
A que te agarras com'um bem,
Não passa da ignóbil desgraça
De só te veres (e projetares)
Ao olhares para alguém…
E se miserável, vives em vão,
Assombração com ordenado,
Só tens o que mereces, do pão
Que come qualquer condenado.
Que do prazer só tira castigo
E da beleza, apenas inveja;
Ou da moral insano abrigo
Feito do lixo que traz consigo –
Da peste quem em si despeja
– Se a consciência lhe pesa!
Se lhe custa o entendimento
Do que é simples e natural,
E ri pra não verem o jumento
Que há sob seu traje social.
Joaquim Maria Castanho
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