DO
PROJETO AO DESTINO
1.
(PONTO
CARDEAL)
Já
pouco (ou nada) nos dizemos nas horas caladas
Ao
toque da alvorada dos corpos nus e insubmissos
Concordámos
em acordar discordando nos nadas,
Pormenores
escolhidos, de enredos apenas esquiços.
Somos
breves na profundidade, velozes nas estradas
Do
ser sem perscrutar paisagens laterais, sinais, avisos
Alertas
prà contramão opressiva do tempo, nessas tapadas
Onde
antes pastavam quimeras, mariposas, colibris, narcisos
Nascem
agora torres de betão armado, antenas difusoras
Agulhas
góticas que pretendem penetrar o firmamento
Como
fizeram as petrolíferas perfuradoras ao solo do sustento:
Umas,
emitem que jamais teremos os mesmos outroras;
Outras,
que embora iguais em nossos agoras somos mais
E
estamos Além, lugar utópico e interdito a nós, mortais.
2.
(LIVRE
ARBÍTRIO)
Quem
poderá saber o que está para acontecer?
Ninguém:
é esse o lugar próprio do soneto, a sua
Tabela
de aferir, régua, ponto G, ou raio laser,
Medida
exata de ordem lunar que não mingua
A
dor, nem mitiga complacência. Faz tremer
Intenções
que se acendem se o verso se insinua
Entre
as prosas da linha, ou decretos do poder,
Há
trejeitos estéticos que enfeitam a língua.
Há
tambores que ecoam no coração universal.
Há
refrões que sublinham o respirar dos ventos.
Há
seres de bruços estendidos no lodo intemporal.
Há
flores a eclodir da espuma nos vãos momentos.
Porém
tu, a quem me rendo de peito aberto, todo
Moldas-me
o verbo, o pulsar, dizendo-me a teu modo!
3.
(BAILARINA
DA NOITE)
Em
pontas voa a luz e a sua forma
Silhueta
que rodopia nosso destino
Cujo
fito é fintar, e assim contorna
Como
seiva, água, derme, puro linho…
Se
dança na brisa é flor feita norma
Regra
de harmonia prò ser em desalinho
Voz
tépida, terna mente, seda morna,
Pétala
madura de cetim doce e fino.
Que
do coração sua essência nos acarta
Seara
pronta, respigo atento, simplesmente
Brilhando
na noite escura, quase de repente:
E
é por isso, um entreposto da leda marca
Sinal
constante desta alegria intermitente
Qual
farol de felicidade, que nunca farta!