COM A PALETA DE VERMEER
Hoje, vi o teu rosto, com gosto e olhar de um pintor
Que, de tão deslumbrado,
Não consegue fugir ao imperativo da cor
Sentindo-me arrebatado
Tanto, tanto, que queria pintar esse quadro
Só pra poder contemplá-lo a toda a hora,
Sabê-lo retido entre linhas a régua e esquadro
E pendurá-lo no crer que me escora
Alicerça à vida, enreda de real eternidade
E ter a certeza que ver-te é ser verdade,
Mesmo quando sonho e viajo ao infinito
Com as plenas asas do verbo a flamejar,
A planar, confiantes, até no rodopio do grito...
Havia de guardá-lo secreto
Emoldurado com os raios solares
De quando este se põe, encarniçado e aberto
Para os horizontes milenares;
E, mais ainda!, repeti-lo vezes e vezes
Até ao Olimpo, por espelhos, aos milhares,
E reconhecer como deusas e deuses
Invejando-te comentam, rapaces,
Audazes, entre os brilhos rosa e lilases
Dos íntimos murmúrios: «Que pintura linda...»
Joaquim Castanho
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