A
SEGURANÇA SOCIAL É UM PILAR DA DEFESA E DA SEGURANÇA NACIONAL
"Não acredito na sabedoria
coletiva da ignorância individual."
T. CARLYLE
Com a sustentabilidade demográfica
subtraída, o sistema de segurança social português ameaça ruir não num muito
longo prazo, como parece que está a ser previsto pelas forças do establishment
político atual, mas em poucos anos, sobretudo se atendermos ao crescente
envelhecimento populacional que já lhe sacudiu forte abanão durante a primeira
década deste milénio, e para o qual não foi suficiente a reversão do IVA em
2005, e muito menos as novas medidas consubstanciadas na introdução do fator de
sustentabilidade para a fórmula de cálculo das pensões, a anexação de fundos
profissionais e corporativos, o aumento progressivo do período contributivo, a
cobrança da dívida à segurança social nem o combate à evasão contributiva,
implementados por este governo e o anterior, pelo que se demonstra urgente
reformar as reformas deste sistema com vista a habilitá-lo para enfrentar com êxito
as dificuldades agravadas pelo êxodo motivado da nossa população ativa para
países estrangeiros, gerando neles as suas famílias, como sugerem as previsões
para próxima década, onde também nos prevalecerá uma cadeia circunstancial
adversa cuja ênfase recai na imigração crescente, exigências e limitações do
sistema e cuidados de saúde, elevado desemprego (uma em cada dez pessoas está
desempregada na UE), acesso oneroso à educação e ensino, justiça e formação
profissional, além das consequências diretas das alterações climáticas, como
sejam as deslocações populacionais e alteração dos métodos e culturas
agroalimentares das diferentes regiões do país, incluindo as variações dos
recursos (naturais e humanos) pesqueiros.
Por conseguinte, ao envelhecimento ativo
propalado recentemente contrapõe-se o crescimento integrado e inclusivo, a
aprendizagem contínua com estágios (semestrais) remunerados, a que o
consequente início temporão da carreira contributiva aliada com o aumento
substancial do ordenado mínimo nacional, além do empenho generalizado em
políticas de desenvolvimento, regionais e nacionais, com incidência na economia
verde, e de conservação do património natural, edificado e cultural, pelo
empreendedorismo e geração das micro e pequenas empresas de cariz sócio-ambiental,
energético e do sistema de transportes, que abram novas perspetivas de emprego
e aumento da oferta de trabalho, nomeadamente na área do serviço social e
gerontológico, estrategicamente apoiadas pelos recursos das TIC (Tecnologias da
Informação e Comunicação), promovendo a descontinuidade progressiva da
comparticipação orçamental nos setores da defesa e da cooperação estratégica
com os países exteriores à CPLP- Comunidade dos Países de Língua
Portuguesa.
Nessa amplitude sistemática o reforço
da equidade e o reforço da proteção deve fazer-se não só pela instituição
definitiva da TSU (taxa social única) mas igualmente da PU (pensão única), cujo
valor terá por base o salário mínimo nacional + C (bonificação resultante do
total dos anos civis contributivos) para todos os beneficiários/contribuintes
do regime geral, tendo também o contínuo cuidado de fazer transportar/confluir
(gradual e progressivamente) os regimes especiais para o regime geral, que se
agregará num universo/sistema eficaz, sustentável e universal, a que a
conveniente revisão/reformulação do Código Contributivo não pode ser alheia nem
adiada.
Assim, consideram-se falaciosos e
motivados negativamente os argumentos que apelidam de idealista ou utópica a
coesão social, uma vez que a segurança pública e a defesa nacional só serão
reais e efetivamente conseguidas desde que haja um sistema de segurança social
sustentável, lúcido, vigoroso, pujante, universal e congruente com as
necessidades reais e objetivas do país, porquanto a estabilidade, a ordem e o
progresso internos dependem quase exclusivamente das condições existenciais, de
bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos e das cidadãs de todas as classes
sociais visíveis e submersas na nossa sociedade, a sociedade portuguesa, que
pretende ser para todos os homens e todas as mulheres, todos os credos e
culturas, na contemplação dos valores da fraternidade, igualdade e liberdade
que caraterizam as sociedades ocidentais, europeias, abertas, desenvolvidas e
modernizadas.
Porque a defesa da identidade, da
nacionalidade, da territorialidade, da cultura e da sustentabilidade
portuguesas não se faz com mais submarinos, mais corvetas de guerra, mais
caças-bombardeiros, mais mísseis de longo ou curto alcance, nem mais recursos e
equipamentos bélicos, mas sim com maior desenvolvimento (regional e nacional),
mais cultura, mais conhecimento, mais educação, mais solidariedade, mais
esperança de vida, melhor ambiente, melhor saúde, maior inclusão, maior
emancipação, maior responsabilidade e consciência cívicas, maior humanismo e
humanidade, bem como o positivo reforço das qualidades de cidadania,
transparência e aspirações democráticas dum povo. E nunca com essa propalada
sabedoria coletiva que é produto de muitas abdicações individuais.
Joaquim Castanho
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