VER
E CALAR É TÃO CRIME COMO MALTRATAR
O ambiente não são coisas, não são
seres, não é lugar, mas relação – relação de aprendizagem, relação de convívio,
relação de trabalho, relação de cidadania, relação de lazer, relação de
mercado, relação de religiosidade, etc., etc. E, não obstante todas e todos lhe
reconheçam o valor de uso (quotidiano ou de propriedade), continuam sendo
apenas uma rara minoria aqueles e aquelas que se preocupam com a sua
importância, aperfeiçoamento e (re)qualificação, passando, exatamente por isso,
salvo-conduto ao laissez-faire
(público e privado) típico das atitudes político-administrativas do mundo
esclavagista e mediavalesco.
A grande desculpa ou mentira social
que alimenta esse status quo tem sido
o subdesenvolvimento que, aliado à carência de recursos (financeiros e
humanos), vai servindo de biombo da generalidade dos organismos autárquicos e
das populações para se aprovisionarem de conjuntos habitacionais de sofrível
qualidade que não vai além das ruas pavimentadas, do saneamento básico
obrigatório, dos transportes públicos de massas e da proliferação dos espaços
comerciais, em detrimento dos espaços de lazer e convivência positivos e
sustentáveis desejáveis que promovam a inserção e a inclusão, a democratização
e cidadania, resultando consequentemente dessa visão atávica cidades e vilas
tipicamente bairristas, conflituosas, sem unidade de conjunto, semiabandonadas
e de precário quotidiano.
Portanto, estou em crer, que é chegada
a altura de nos insurgirmos contra a indiferença e maus-tratos que os naturais
de nossas terras e comunidades têm vindo a manifestar acerca do ambiente,
justificando-se com a realidade deste não ser propriedade sua, sobretudo porque
é de toda a gente, e que compete às edilidades conservá-lo e mantê-lo em bom
estado e saudável, porque é mentira, uma vez que cada qual que estabelece
relações nele, o habita, nele pratica desporto ou passeia, nele compra e vende
bens, o frequenta para satisfação do corpo como da alma, é também seu condómino
e proprietário, e deve ser responsabilizado por qualquer dano que ocorra.
Principalmente se olhar prò lado enquanto o ambiente é danificado, porque então
deve ser responsabilizado ao quadrado: responsabilizado por ter permitido a
sevícia e por ter colaborado com o seviciador no vandalismo praticado. E não
vale a pena espernear, que quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele. Porque
o ambiente são as relações que a gente estabelece, e quem não cuida delas não
as merece.
Joaquim Castanho
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