SONHO AZUL
Me desbasta a vida pouco a pouco
Como um respirar de brandura,
Que percorrer o sonho é de louco
– Tal água mole em pedra dura.
Intenso, por vezes, áspero até
Acelera o pensar se o penso
Carrega-me o desespero de fé.
A sua estirpe torceu o mundo
Conduzindo-o bem para lá do lá,
E deu-lhe um céu tão profundo
Que, se o chamarmos, ele virá.
Forjou o voo imortal e ufano,
Com que o mais simples animal
Se tornou racional – e humano.
E assinou o espaço infinito
Com laivos de angelicais penas,
No sussurro azul desse grito
De onde nascem todos os poemas.
Joaquim Castanho
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