OS POEMAS DO DIA SEGUINTE
Os poemas crescem entre gestos
Deambulam como sauros inquietos
Desajustados e prontos à corrida.
Estabelecem ligações, inocentes
Enquanto sinais pra longes e pertos
Aperrando os punhos e os dentes
Da ânsia impotente que os conduz
Segrega desdém, ciúme, indiferença
Apego ao visceral pomo da atrofia.
São os vertebrados do dia seguinte
Catastróficos nos enlevos, céticos
Por interesse e necessidade de ser
Apodos com seus pés decepados
Para quem a fadiga é uma salvação
Cujo cansaço lhes induz a sensação
Do dever cumprido: «não ganhámos»
Dizem «mas demos o nosso melhor»,
Como se o feito os ilibasse da culpa
Os reabilitasse prò reino imaculado
Dos eficientes, e sem defeito visível
Capazes da maravilha do (super)ego
Exemplos de retidão, beleza, encanto
Suprassumo do autoconvencimento,
Mágicos do ideal para toda a prova.
São poemas para ludibriar trouxas
Pessoas simples sem manias e porquês
Cuja única consolação está no «Enfim,
Não valemos nada, mas fomos escritos em inglês.»
Referendiam-se, puxam pigarro anunciado
Como uma partida sem regresso nem adeus.
Os olhos comendo o cru e por mau-olhado
Sem cruzes nem santinhos que sejam seus.
Joaquim Castanho
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