GOTA DE LUZ ENTRE ASPAS
Se te vejo sinto que cheguei a casa...
E logo que meu olhar encontra o teu,
Eis que o voo me nasce, sem ter asa...
Eis que plana e volteia pelo céu; e o meu,
Sem dúvida, foi em teu "céu" que nasceu.
Faço-te poemas em segredo...
Escrevo apenas pra ti, e ninguém sabe!
Que o pleno viver é um degredo
Que só no mais íntimo de nós cabe.
A medida da felicidade é essa:
A gente amar com precisão e rigor,
Numa matemática de acreditar em ti,
Acreditar de ser mais que crer no amor;
Acreditar no crer até que ele nos peça
Pra copiar a crença deste ideal para si
– Um ideal porém que de ideal nada tem,
Feito unicamente de discretos gestos
Como quem sonha dentro do sonho de alguém
E aí fica quedo, mudo mas ledo,
A viver cada hora por minutos lestos
Numa prova provada que não tem restos.
Faço-te poemas em segredo...
Digo-te neles o que ninguém sabe.
Que viver é nunca ter medo
De começar algo que jamais acabe.
É por isso que a vida me chama
E desprevenida me reclama acuidade,
Invade a terra de cor, pinta no céu a flama...
E se observo com apreço e simpatia
A gente do bairro no seu labor diário,
Ou lhes leio nos rostos beatitude e poesia,
É porque tu existes, pois caso contrário
Todos e todas seriam estorvo, desconcerto, arrelia.
Se descubro flores mágicas e alucinadas
Nos sítios mais impróprios e rupestres,
Recantos sombrios, locas, bermas de estradas
Ravinas pedregosas, baldios e moitas silvestres,
É apenas porque tu és tu, e és assim
Recatada, reservada, Senhora de meu jardim.
Se ouço o canto das aves namoriscando
Dizendo tudo e nada em formato de canção,
E em rituais encantados celebram a primavera,
É por nele reconhecer teu jeito sereno moldando
As filas de clientes compradores à espera
Que lhes concedas teus préstimos e atenção.
O mundo é mundo porque tu existes, e o habitas
Semeando poemas simples e longitudinais,
Paralelo a esse outro onde infortúnios e desditas
Escrevem a História em mediáticos telejornais.
Porém, é muito além de gratidão o que inspiras
Nestes momentos em que te reconheço o valor:
É o querer-te devolver esse eco de harpas e liras
Que soa íntimo e profundo de pérolas e safiras
Com a transparência fluida e líquida do amor.
Joaquim Castanho
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