MURMÚRIO
DE SANGUE…
Soletro-te
o nome devagarinho
Como quem
o diz em filigrana,
E cada
letra é mais um hino
Desse
puro amor, que não engana…
É gesto
simples, afeto rendido,
Olhar
grande (d’eliminar voz insana),
Onde o
querer no coração proferido
Apenas
diz: «PA-RA-BÉNS… MARIANA!»
Joaquim
Castanho
NA LEITURA
DAS FOLHAS
A minha voz atravessa-me do
princípio ao fim
Todo, antes de sair derradeira
pela boca vulcânica
É lava do fundo, incandescente
génese genital
Capaz de converter o múrmur do
figo maduro
Silente síntese imediata entre o
mel e o leite
Nos teus lábios de gritar sem o
estridor da fé
Mas determinada na simbiose da
sicomancia.
Grotescos, deveras grotescos,
apenas o beijos por dar
Os que não soubemos aconchegar na
seda dos lábios.
J Maria Castanho
O SICOFANTA
Que é isso, da voz dos bojudos e
redondos cântaros
Quando cheios de água até ao cimo
da boca
Rogando pelo poeta, bardo ou aedo
sicofanta
E suas palavras que lhe denunciem
os figos
O granulado mel entrevisto no imo
liquefeito
Húmus, adubo do prazer na
transparência
Cristalina profundidade que
assusta o olhar
Se em vertigem atirado ao
interior de seu ventre?
É a frescura boreal quem melhor
contrabandeia
O fruto doce e aveludado sob as
folhas escondido
Verdes rugosas e felpudas,
ásperas e combatentes
De tuas vestes e mantos de queda
de água, na catarata
Com que te resguardas de mim,
estorninho gritante.
Devias sabê-lo desde o início,
como lei da Lei.
J Maria Castanho
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