RUA DO ABRAÇO
Como poderei dizer-te... A sombra
Veio raspar – unhas afiadas – rrrhhee-rrrhhee
E na parede do meu silêncio há agora
O dilacerado grafite de suas garras, rasgos
Fundos, abertos vincos onde nascem musgos
Líquenes alucinogéneos, algas viscerais
Habitats preferidos dos moluscos lânguidos
Da ideia quase a desenrolar-se cobra-bicha
Quase a desenhar-se na alma receosa
Quase a recear o seu próprio veneno
Quase sangue em coágulos negros
Quase vulcão morto na ladeira do ser
Quase carvão pétreo do querer em forja.
Porém, entre os escombros uma rua solar
Eclode abraçando a praça nua inundada de luz.
Joaquim Castanho
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