ÂMAGO SECRETO
Onde um astuto esgar subscreve o incolor,
E nesse vértice do vazio ponho minha cruz
De devoto, num apelo sem qualquer fervor.
Sou nódoa negra da fé, o sem-crença alguma
Que, pé ante pé, se extingue no frívolo nada;
Porém, se encalho no frio coalho da espuma,
É tão-só porque creio numa sede ensimesmada...
Sede de mim, sede de ser seja aquilo que for
E princípio que é fim, no meio da cruz furada;
Somente a alegria nascida da ausência de dor
Que assim é tida por nunca ter sido desejada.
Sede sem sede ser, linha de demarcado aspeto
Que se enleia e desenleia no seu próprio enredo;
Mas sede saciada no seu nada pelo ínfimo afeto
Que há em ser o segredo secreto dum segredo.
Joaquim Castanho
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