A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, outubro 31, 2015

ÍMPETO CROMOFÓBICO




ÍMPETO CROMOFÓBICO 


Sem ti todos os poemas acabam
Antes do fim mesmo ainda antes
Começar é já uma árdua epopeia 
Impossível é renovar palavra concreta
Pastosa agonizante pelos pauis da ânsia
O desespero a escorrer-lhe sílabas abaixo
Viscoso acorrentado ao temível desconhecido
Pronto e viável dos vendavais infinitos, 
Que a vida é um tumulto de incompreensão, 
Um atoleiro de sombras e receios mil. 

Sem ti o sol é uma passagem estreita, 
Um pomar vazio, um rio sem corrente. 
E as sílabas que sabiam taleigos e várzeas
Ou rodopiavam nos trapézios do ocaso,
Não passam agora de lixo amontoado 
Nos cantos da página cega à flor das horas. 

Porque sem ti arranco-me o coração pla boca
Ouço a madrugada dum luar que é só luz
Onde o mistério e saudade são vozes off, 
Os dias somente folhas mortas nos fundos
Das chávenas vazias dum chá cáustico amargo
Ácido de corroer a alma trôpega e senil, 
Trôpega e disforme sem ritmo nem rima
Alagada de silêncio putrefato sulfuroso
Faz almôndegas dos verbos e cartilagens 
Mais desprezíveis da lusatinidade cediça 
Nociva é a pétrea expetativa que mata esperanças
Pica os olhos da noite e da platina de luar 
Frio, lúcido, ímpeto cromofóbico a dizer-se 
– Que ininterruptamente me arranca o coração
Pela língua é que os rios enchem oceanos 
D'água doce e raízes e girinos e sementes de vida. 

Joaquim Castanho

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