A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, janeiro 28, 2011


Sob a Alegria Retornemos Ancestrais

1.

Espraiam-se alongadamente inquietos no meu chamamento
Enquanto cresce a distância de teu discreto e silente sentido,
Nas esquinas pródigas acendem-se à luz do amor desmedido
Em labaredas de silêncio amplificado nesse puro sentimento
Que é a ternura dos verbos entre os seus substantivos acesos,
Os teus olhos medindo dúvidas e esgares inflamados possessos
Da alegria, no à-parte da voz que diz seu próprio contentamento…

E di-lo calando na indecisa sombra a conjugação perfeita da cor
Das tuas vestes pelo creme da acinzentada espuma da areia fina
Ao grão ímpar dessa clepsidra que escorre a espera do botão à flor,
Que a vida lança seus ramos, enleia suas teias na orla que ilumina
A seda esguia da tecida intenção de colher frutos nos lábios fiéis
Em que o sonho cresce a realidade se implanta contra os ouropéis:
Eis a tua grandeza de mulher naquela silhueta de crescida menina!


2.

Digamos sempre o ponto sobre o ponto do grão preciso na reta linha
Que a costura nos sobra nas formas exemplares como quem respira,
Pois entre os arcos frios e gélidos das arcadas ímpias ainda se aninha
A lúcida serenidade dum sentir que se diz em gestos da luz que aspira
A ser apenas luz do verbo no som da sílaba viva e fugaz e tão decidida
Que os seus raios são só os vinte e um braços abertos na roda da vida.

Esta que gira em torno do eixo da voz a dizer caminho no cimo do outeiro
Onde o azinho da cortiça virgem algema de verde seu grito de liberdade
Que espelha em cada folha de húmida tez o luar do rosto neste Janeiro
Que sendo primeiro é também o mês da tutela dos deuses pela divindade…

Ante a nobreza felina que dilacera a mentira, a maledicência e a vil inveja
Como quem quebra aquele vaso insano e furado sem préstimo para nada
Com que carcomida palavra se aduba no preconceito e sobre nós despeja
Sua peçonha nojenta, apenas seremos voo e reflexo de sua seta dourada!


3.


Assim erguidos girando numa dança onde mil véus balanceiam só ilusão
Mostram e escondem os rostos subtis na miúda máscara sob a nívea tez
Que o mel lava pela íris em frincha de um felino em salto de caça, siamês
E gémeo deste querer recatado represo e plural de dois num só coração…

E que voando como dardo nas sigilosas alturas se vê como apenas tu o vês
De tuas palavras o meu ser, teus olhos a minha luz, de teu não o meu não
De teu sim o meu sim, teu prazer o meu sentir, teu bem-estar minha intenção
Sem mágoa nem arrependimento, é essa a glória de sempre na primeira vez.

Que onde a alegria do instante perdura mais que o suporta a vulgar eternidade
E o tempo rompe as fronteiras do sequestro entre os mostruários da redondez
É que nasce a flor que roda e rodopia edificando o brilho da mais pura claridade

Da mais pura ousadia, aquela que estende veios ao sangue na doce languidez
Transpirando na conspirada entrega dos deuses à sua Deusa única verdade
Posta sobre os altos montes a brilhar iluminando em seu carinho a humanidade!

domingo, janeiro 02, 2011


Flores de Chocolate…

1.

Ainda guardo, na gaveta superior, a fita dourada
Que vinha a jungir com laço a condizer, a caixa
Da prenda, que pelo Natal me deste, ao sol-pôr
Junto com a Aliança Velha de nossa endecha,
Igual àquela que fora cálice a cálice celebrada…

Tenho para mim que hei de usá-la por marcador
De leituras, nos ensaios e livros de cota baixa
Que é onde o chocolate da ternura se precisa
Que só da filosofia e ética ninguém terá queixa
Quando a lógica fria, aguda e sisuda, está incisa
Daquele soletrar adocicado pelo morno sabor.

É porém possível, que num qualquer outro dia
Eu venha a reconhecer esse aroma numa flor




2.

Gota a gota a plena água da doçura breve deleita
O palato que no céu a língua toca em melaço escuro,
Todavia mais que ao mar dessa calda negra desfeita
Meu ser navega em busca do colo em porto seguro...

Ouvem-se farrapos de nuvens no azul que espreita
E seu branco é de lã sem mágoa, níveo de tão puro,
Como se ditos na voz dos avós que na alma eleita
Seus ninhos constroem de loureiro, azevinho e ouro.

São acenares de fica mais um pouco, se puderes, ‘tá
Não demores nunca as ausências além de um instante
Que o breve é longo pra quem te espera do ainda ao ;

E mais que a nobreza da flor flutue na maré constante
De ir e voltar, balançando no vaivém dum manto grená
É a esperar-te que estou e fico, onde quer esteja e… vá!