A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, maio 29, 2020

COLIBRI PESTANEJANTE


 


COLIBRI PESTANEJANTE

Regresso, pela areia fina do tempo
És molhada clepsidra, gotejante
Se sereia voltas do mar, e exemplo
Natural escorrendo cada instante.

No chão, só acaso, registo sem ordem
Corpo, visão passo a passo emergente
Com que saudade e destino escrevem
Meus olhos a beijarem-te... – timidamente.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

quinta-feira, maio 28, 2020

A VIAGEM RECÍPROCA


  



VIAGEM RECÍPROCA



No recato, na penumbra

Outra viagem me toma

Lua nova, sol e sombra

Grudam sem grude, nem goma

Pela abstração dos mundos

E me reparto neles, assim...



Contudo, teus olhos serenos

Secretos, morenos, profundos

Também são viagens pra mim!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

domingo, maio 24, 2020

O BOM DIA NUM OLHAR


   


O BOM DIA NUM OLHAR


Se vejo o que teus olhos veem
Meu coração salta contente,
Pra que em batidas semeiem
Também meus olhos ali em frente.
E possam, assim, ver se vejo
Quem passo os dias a imaginar,
Quais Colibris a dar seu beijo
Em quem é flor do meu olhar.

Num gesto doce, inocente
Tão simples como o sol a nascer,
Pondo meus olhos ali em frente
Para que só tu, ao acordar,
Possas ouvir o que têm a dizer
E quem diz que tenho pra contar.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

sexta-feira, maio 22, 2020

AS NUVENS DA VIDA





AS NUVENS DA VIDA

“No espelho da visão está a segurança da verdade”
– Código Visigótico I, 1-2

Na realidade diária, a nossa planificação, previsões, antecipações, palpites, são parte intrínseca ao querer consciente, emancipado, responsável; porém, por mais que nos exercitemos nelas isso não significa que iremos ter êxito garantido ou observação confirmada, e que, salvo nos espaços-quando onde se verifique refletida uma acentuada monotonia e pacatez, o acaso não nos pregue a peça e as surpresas sucedam. Às vezes é o canto de uma ave; outras, um sorriso em que reparámos pela primeira vez, embora vejamos a pessoa que o deu com frequência e, até, repetidamente ao longo dos dias. E outras ainda, um tropeção no escuro, exatamente no momento em que nos deslocávamos de uma sala para a contígua, pé ante pé, com o máximo cuidado para não fazer barulho.
O acaso é profícuo em casualidades.
Então, ao reconhecê-lo, tentamos limitar-lhe as ocorrências, retratando-as ao máximo, reproduzindo-as, tornando-as alegóricas, exemplares, casos notórios ou notáveis, estórias, quadros, cenas que nos ajudem a compreendê-las e compreender-nos, bem como a aproveitá-las (pedagogicamente) sempre que surjam. Tentamos tirar proveito de tudo aquilo que nos espanta, assusta ou deslumbra. Percebemos enfim, não obstante o alheamento natural para onde o presente nos atira irremediavelmente, que o que é importante nem sempre se revela da melhor maneira, bem como que, por muito pessimistas que sejamos, há invariavelmente algo ou alguém para quem isso não conta absolutamente nada. E que, por casualidade, ainda que ninguém os tenha covidado, esses nebulosos imponderáveis, aí estão a balizar-nos cada instante da nossa existência gregária – e terrena.
Não raros chamam-lhe cultura, havendo inclusive quem diga que é arte. Franzimos o cenho, torcemos o nariz, alçamos a venta, estancamos de pronto para manter o distanciamento. E insuflamo-nos de autoestima e orgulho pela revelação. Mas o facto não é assim tão original nem inédito como parece, e já inúmeros elementos da espécie humana o constataram, o reconheceram, e o registaram por mil e uma maneiras possíveis e imaginárias. Por exemplo, Ovídio (poeta latino n. em Sulmona 43 a.C. - f. em Tomis 17/18 d.C), há mais de dois mil anos portanto, na sua Arte de Amar, o resumiu aproximadamente deste jeito: “a arte não faz mais do que imitar o acaso”.
E não é que tinha razão!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Zélia Mendes

segunda-feira, maio 18, 2020

DISCRIÇÃO E DEFERÊNCIA


   



DISCRIÇÃO E DEFERÊNCIA

Nada me remete
Nem me acomete
Se na luz deslizo
Quando aliso
Os dedos no cetim.

Porém, o sonho cria
Engendra sol em mim...
Emite reflexos
Côncavos, convexos
Laivos de cor – poesia!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

domingo, maio 17, 2020

#ORQUÍDEA IMACULADA


   


A ORQUÍDEA IMACULADA

Riscadinha é mais que flor
Que mora nas sete quintas...
É sorriso feliz d'amor
A bailar na luz e na cor
Como esplendor sem fintas.

E às vezes até parece
Pelo seu porte, o seu condão
A Virgem rezando prece
Plas flores que consigo estão.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

sábado, maio 16, 2020

ORQUÍDEA EM CARNE VIVA


   



ORQUÍDEA EM CARNE VIVA

Derme, pétala acetinada
(Ou grito prestes a eclodir)
Afago doce, se madrugada
Acorda, pronta já a sorrir.

Também seda, esponja macia
Sensível polpa que me seduz,
Assim és, ó fada da poesia
Se no recatado recanto
O teu acetinado manto
Recolhe, como exala, sua luz.

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, maio 13, 2020

A VOZ DO CAMINHO


 



A VOZ DO CAMINHO

Irei aspergir de rosas céus e mar
Poentes, nascentes, o mundo concreto
Cujas portas, alfarrobeiras são pilar
Do templo, d'olhar, se o andar é certo
Tem por meta rua, a estrada da vida
Lá onde navegam tantos, destinos mil
Os sonhos, os frutos, e a nuvem perdida
Debrua de aurífero rosa e anil,
Diz quanto da distância é esperar,
Quanto na espera é o descoberto
Se de cada vez que te olho plo olhar
Teu coração em flor fica mais perto...

É como se dissesses «Estou a chegar,
E vou arrancar-te desse deserto!»

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

domingo, maio 10, 2020

NA #ROTA DA #ALMA


 


NA ROTA DA ALMA
(para a Mia)

Nuvens plúmbeas, sem fim à vista
Escondem a lua, e só por que sim;
Tal a razão turva, não é mista
Se quer ocultar, o luar de mim.

Se quer omitir, como te amo
Quanta é a luz, que de ti vem.
Mas o amor traduz, se o chamo
Que a luz não nasce, por mais ninguém.

E ainda que longe, lá na serra
Ontem como hoje, todos os dias
Se a lua faltar, o olhar não erra
Vai a alma pró sul... - Nela, poesias!

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, maio 08, 2020

BAILIA da LUA-CHEIA


   


BAILIA DA LUA-CHEIA
                  (em Marmelete)

Dança, dança, lança teu olhar silente
Diz aos pomares, hortas, alfarrobais
As saudades, hinos que o luar sente
Se dedilham frondes em sebes ancestrais.
Protegem ninhos, são raiz, são semente.
São passos, são caminhos, meio estivais
Que o luar partilha com quem alente
Mal a lua brilha sobre casas e quintais.
Estendem capas entre o aqui e o além,
Que a hora que chora é acorde também.
Dão luz ao direito d'investir, dolente
Nas sombras, para ter contornos muito seus
A fim de que o fértil chão siga em frente
Pleno de sereias, fadas – sonhos meus!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Mia Teixeira

domingo, maio 03, 2020

#PORQUEHÁROSASSUBLIMES






PORQUE HÁ ROSAS SUBLIMES?

Não sou capaz de dizer quanto penso...
A realidade transpõe-me, vai além.
Diz que há encanto, e fico suspenso
Porque reconheço quanta razão tem.

Se todo o poder é das flores apenso
A mais poderosa, e por que formosa
Será a rosa, não o desconhece ninguém.
Mas eu devo vassalagem à verdade
À ética, à arte, à poesia, e à prosa,
E sei haver uma a quem a sublimidade
Pede humilde, inebriada, calorosa
Que empreste encanto a qualquer rosa
Pra que ela possa ser sublime também!

Joaquim Maria Castanho