A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, julho 31, 2008

Cuido haverem outras Penélopes e outros Ulisses
Aflorando em nossos passos perdidos pelo gesto
De quantos minutos pesam dez anos na clepsidra
Vidro de medir o mar a remar desenganos me apresto
A reinventar mitos esquecidos, a cortar a Hidra
Olho de Ciclope a ver-te de onde apenas tu me visses...

Invectivei o dia, fustiguei a noite, parti por ti a jarra,
Intimidei com ameaças o tempo e o modo, e despi
A parra, para não magoar teus olhos de verbo sem ira
Na beira da fúria que mira o suplício da conjugação
Incondicional me fiz no imperfeito da pretérita solidão
E quando Roma me quis me vi romã aberta em tua mão.

Acordar é um desacordo intempestivo com o sonho
E bago a bago me dedilhas rede da sede que mantenho
Pela madrugada densa no dengado de tuas ancas acesas
Colunas do templo à subtileza columbina de teu colo
Arco que retesas no disparo se desejas quanto imploro
E naufrago na cascata de teus cabelos que a respirar decoro
Quando sôfrego neles morro, se me detenho e me demoro
Até castanho escurecido também eu ser que viver só é viver
Se se for vencido e assim perdido apenas por ti renascer.

Porque só quando a aurora se descodifica em luz e púrpura
A sombra incendeia o manto de aurífero brocado e canto
Ou teus olhos se abrirem para os meus sem medo e temor
Seda estampada de macia cor que na clara derme dorme pura
E mata a sede quando cedo me concedo à dor do desencanto
Ou te escondes de meus olhos sob a digita esquina escura,
É que do cálice do texto se pode fazer a leitura da borra negra
E a sina se desenha tsunami do passado que a ficção agrega
Segura no abraço-luz de ouro futuro rompendo a noite escura.

Cuido haverem outras Penélopes que escrevem e lêem teus passos
Sentem a navegação de sala em sala sobre as páginas da memória
Que as redes de nós lidos sob a prata dos peixes se fazem laços
Nas ombreiras pintados ou sinais da rota, sendas, mar de abraços
Celebrações secretas dos beijos dados nas catacumbas da História.
E delas, uma serei eu, a entrançar palavras para prender-te a mim
Que se me olhas me lavras seara de cristal na aura areia sem fim

Porque há alvas recordações em auríferas sendas entre a escória!

sexta-feira, julho 18, 2008

...

Perdoo-me esta insanidade de sentir-te indomável
Solta sobre o meu corpo na soletração insubmissa
Subjugando-o ao fogo arguto do voo insaciável
Redimensionado no táctil augúrio, dígita premissa;
Que nem fátuo arco-íris entre Vénus e Mercúrio,
No manto azul terreno envolvendo a névoa loa
Mas já nebulosa intemporal adormeço naufragado
Sonhos de corromper o instante tido em si destoa.
Que das ondas sou sempre o outro lado do centúrio
Fustigado, elo e coroa nos corais de mim compartido.
Aí, a seiva que brota em espuma se desfaz no areal
Fui eu a rapariga, enquanto tu o rapaz cavalheiro
Gentil que sulcando em lemes o mar todo e inteiro,
Tremes porém no imo abraço derradeiro mas plural
Ao que explodindo em ti a minha lava de quente bruma
Vulcão assim me (re)tornei homem que em ti se esfuma
E tu, a praia fértil que o (a)mar cava em eterna espiral!

Havia silêncio no pôr do sol, depondo as vestes da ousadia
A resvalada réstia dos ocasos alvorados e nascidos dia a dia
Astro a astro, numa sinfonia infinita compondo o alfabeto
Do mundo a dedilhar arcanjos amputados do grito secreto
No golpe das asas... Asas? Só as que a imaginação nos dá!
Essas sim, que são seguras e verdadeiras de forjar órbitas
Plenas e centrípetas, não ícaras sombras no lado de lá do lá,
A fazer autênticos alqueives e sementeiras de acordar acólitas
Da vida, quais obreiras de produzir o trigo que em nós há...

Pão de searas selvagens os corpos se equilibram e balançam
Incandescentes de bem-querer na vida suspensa dum cordel
Notas de solfejo na paleta colorida das diferenças se abraçam
Na magia simples de arrotear encontros que os peitos cruzam
De eu e tu, tu e eu, do eis à flor da pele, na entrega absoluta
Colhendo sem dor nem luta, das pétalas a cor, e do pólen... o mel!

segunda-feira, julho 07, 2008

Andam Ninhos No Ar

Dizes que já não queres acender o brilho?
Dizes que já Galaaz te venceu, e a espada?
Pois bem, amiga: mataste-te. Estás acabada.
Não há agora quem se importe com teu trilho.

Teus passos jograis do credo do sarilho
Cantam velhos eventos em nova estrada...
É o fim, amiga: quedo-me. Estás acabada:
Jamais amarás o amor como nosso filho.

Ao culto de Onan anuíste, cruel, ilesa,
Esquecendo que o amor é a melhor defesa
Contra o vento forte da morte e solidão?

Pois bem, amiga... A raiva a ti por ti acesa
Dar-te-á a liderança do €uro como do pão;
Mas nunca te há-de dar carinho – isso, NÃO!

quinta-feira, julho 03, 2008

Ainda Sabemos Amar Repetidamente


À porta de casa o futuro nos reescreve.
Por isso, soletra-me inteiro, não só universo quebrado
Da boca
Dos olhos
Do sexo
Da fala
Da diferença, mas também o igual âmago
Referente do que entre nós permanece humano
O rosto exíguo na luz do entardecer nas colinas breves
O sol oblíquo ao falado horizonte sustenido das árvores
A pedra, o tronco, o vidro em que me dilacero sílaba a sílaba
Os dedos
Presa fácil na mortífera insistência de dizer-te sede
Água cristalina Helena da minha Tróia nos cavalos do sangue
À desfilada na crista dos medos a sofreguir
Da boca
Dos olhos
Do sexo
Da fala
De teu corpo todo sob as vestes do silêncio
A fronte hitita e alva na rebentação da memória
Ondas de seda no afagar da sede
Sede de sonhos no congeminar da prece
Se apareço pronto a perecer ao teu apreço
Sebe de estrelas na Via Láctea do sorriso
Em que me acoita em infinita coita
Que a gesta se na serena luz se afoita
Torna-se breve instante de urgência preciso
E conciso
Na fala
Na cor
No gesto
Na alva sofreguidão.

Soletra-me inteiro como te soletro plena
Que o corpo só é verdadeiro
Quando no sonho do próprio nome nos acena!

quarta-feira, julho 02, 2008

Sorrir Ao Ruído Alivia


Há ainda (h)era nos muros da nossa casa
Onde às vezes se nos prende uma asa
Põe o dizer ao "se calhar, talvez" reticente...
Mas quando as falas são o imo que repetes
Eis que o sonho vem e nele se nos escora
Enleado pelos caules o verde da demora
E participo em ti como futuro é estar presente.

É um verbo de partir, ir embora, voltar diferente
Igual não é a mesma coisa e recorrer à cor ausente
Porque inesquecível só a imagem que tens e prometes.

Eu sei quanta flor se abriu assim-assim menina
Acção da pele aberta ao beber a pétala contigo investes
O marfim do nosso castigo seminal onde germina
O gesto de sofrer um fingimento tão real e puro:
Enfim, que verdade sou eu, e não me digo (muro).

Ou se dito, traz consigo a capa do renascimento
Grito de juventude a ecoar nas páginas vestes
Sorrisos de aspergir os dias em cada momento:
Que quando se sorri contentamento aos ruídos
Eclodem ecos musicais dentro de todos os ouvidos!

terça-feira, julho 01, 2008

Poema Peremptório

Peremptória é a luz que nos contrai
Como se fôssemos apenas um vírus de languidez,
Estivéssemos à beira do suspiro que sucede ao ai
Ou andássemos a cruzar os tempos pelo seu entremez
Entre a segura vereda e aquela por que ninguém vai…


Peremptórios são teus olhos que me cosem linhas
Rasgam as vozes, abrem sulcos e caminhos
Na alma de ledos segredos em que o sonho se esvai!
Arte de Regressar Ao Sonho

Procuro os nossos filhos, ouço-os no corredor, em tropel
Sabendo-se poemas tão desatentos todo o cuidado é pouco
Para ressalvar-lhe a voz, não deixá-los tropeçar no cordel
Escorregar pelas escadas de sermos a espiral do pião louco
Aquele que desliza e lhe sabe dos olhos o seu travo de mel
O cotão da camisa, gestos de abrir as mãos sorrindo eternidade.

Procuro os nossos sonhos, escuto-os já quando respiras, serena
E tento quedar-me retendo-me na memória do preferir agora
Mesmo que houvesse chuva a fustigar e relâmpagos lá fora
Que ao acenderem-se nos apagassem dos ledos lábios a amena
Sofreguidão eléctrica em descer nas esquinas dos corpos crus
Sob o contínuo procurarem-se na ambiguidade dos trovões nus.

Procuro os nossos dedos, enxerto-os de flor, em rosa branca
Moldo-os tornando-os a voz do barro, bíblica argila e cuidados
A curva de teu nome a espraiar-se espuma ágil na líquida anca
E assim os deponho sobre a nuca de estreitar abraços apertados
No requerer dos lábios a proferirem-nos promessa de liberdade.

Porquanto nela os soubeste inventar traduzindo o sonho em voo
Como se da vida, se cumprida, nascesse directa a sã qualidade
E dela nada mais contasse, de tudo o que tenho, o quanto sou
E que sendo-o, para ser supremo, é ser só teu, em toda a verdade!