A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, maio 31, 2008

Socar a Ânsia Retira Algemas

O vazio de uma floresta sem pássaros,
O restolho gretado sob o sol acutilante,
O esquisso do horizonte violeta e rosa,
O silêncio gritante dos sobreiros solitários
Estendal dos panos templários da prosa

E mais que isso, na penumbra do rés-do-chão
A linha de teus gestos que se desprendem
Pouco a pouco, tudo nada, cabelos desalinhados
Que estendem o sonho dos olhos escorrentes
Na lágrima sobre a alvura da face coitados
Os braços esticados na procura do tronco
Elástico, elegante, ágil, felino de ter-te urgente
Verbo preso na caixa da boca, túmido
Socalco da sílaba no crescente desejo
A tua liquidez desmaiada no ocaso
A estrela da alma prestes a rebentar em luz
Lá no alto onde apenas se chega por ânsia
Esmagamento absoluto de perpetuar-te em mim
– AaaSSSSSiiiiiiMMMM!!!!, meu Deus – até as veias romperem
Gretarem a frase pelos complementos directos
Direitos ao verbo eclodir a esgarrar a casca
Pô-la porta aberta a soltar os sons insurrectos
De teu grito ledo de estilhaçar o medo!

sexta-feira, maio 30, 2008

Abraços são Reservas Anímicas dos Sonhos

Desço a Serra, escorregando-lhe pelos flancos. Não me vês?
Eu sei que não... Também não é lá que estou. Nem tu.
É aqui, a ver-me descer os olhos sobre ti, ajoelhar-me
E com sucumbido arrebatamento beijar teu abdómen de luz.

Trago aos ombros o molhe de sonhos que os deuses esqueceram
De levar para o céu quando partiram sob as trombetas da alvorada
E os olhos cintilam das infinitas brincadeiras a aflorar dos lábios
Com que as crianças me depõem entre os sortilégios preferidos.

Logo, talvez mais tarde, virás buscar um, dos mais mágicos e potentes
Talvez aquele que consigo me acarreta sobre as espáduas olímpicas
E me leves, sem nunca chegar a saber, qual a sorte que ele te deitou
Nem como ela se cumpriu quando o meu, ao teu nome, se abraçou
Letra a letra jungido, numa sábia sílaba de salvação apertada
Até que entre cada fonema não coubesse, nem soasse mais nada!

quarta-feira, maio 28, 2008

Soneto da Cantarinha Verde

Saiba-se pois que este ramo de flores
Que o guerreiro Tiuí aqui plantou,
Se regadinhas, até matam as dores
Mesmo as que um dragão semeou.

Da cantarinha ganharam as cores
E às folhas, nenhum vento as levou,
Que grandes jardins são os Jamores
E as taças, de quem neles melhor jogou.

Que do jogo, com ou sem sorte, é igual
Desde que o resultado seja de justiça;
Aos vencedores, é a taça em rico metal
E a dos vencidos, nem sequer de cortiça.

Porque no futebol, todos golos são flores
E até as taças, uma beleza de hortaliça!
Parabéns Inês


Não posso dar-te as chaves da minha cidade
Porque é livre e de portas abertas, sem idade...
Mas de tanto nomeá-las, a todas as suas ruas
Se tornaram minhas – e que agora, são tuas!


Tuas, por direito e alegria de um Portus Alacer
Que aos portos só podem chamar-se da alegria
Se forem igualmente pertença daquela, que mulher
É também rainha e luz quotidiana, no seu dia a dia.


Portanto, se de quanto esta terra dos teus avós
É meritória do romance que o teu nome encerra,
Das muralhas de D. Dinis os Pedros somos nós
Pedras de afecto seguro que só por ti se esmera,
E cresce dando-lhe o peito como lho dá a Serra.


Que os montes das oliveiras, penhascos e sobreiros
Onde pascem os sonhos floridos das Maias este mês
Sabes, sem dúvida o fazem para serem os primeiros
A cantar-te os parabéns... – assim: PARABÉNS INÊS!

(17.05.2008)

segunda-feira, maio 26, 2008

Alvos Reflexos Aspergem-me Silentes

Poderemos nós resistir por mais quantas eras
Estações onde o acontecimento único são teus saltos
Altos batendo à porta entreaberta para o corredor
A tua alva mão pousada sobre a maçaneta da porta
Cachos de castanhos anéis descaídos da nuca
O traço felino do olhar que perscruta a penumbra
Os dedos hábeis acariciando sonhos e esquecimento
No afago do sorriso enigmático e periclitante
A camisa transparente de noite brilha nos contornos
A visão de teu corpo a escorregar desde os ombros...

Poderemos nós resistir à ânsia de gritar o silêncio
Deixar de beijar-te toda como faz o sol matutino
Não permitir a língua bandeirante aflorar cada poro
A púbica sombra num triângulo de carícia e verbo
O bago doce no recôndito lóbulo de tuas orelhas
O felino dorso prestes a desferir o salto detonador
Ombros e seios de polido mármore rompendo o tempo
A planície do ventre alqueivando a posse e a sede
Repletos gestos frementes de abraçar o teu nome
Todo, apertado, jungido ao meu até não caber mais
Incandescente e rubro de fogo na fusão do ser.

– É esta a órbita do silêncio de meus gritos à deriva
Uivo na galáxia de estrelas cintilantes do teu olhar!

terça-feira, maio 13, 2008

Soltam-se Alegrias em Raras Almas

Deixem-na ser simples assim como um dia de Julho
Transparecer a fala e dançar em cada letra breve
Soletrar a voz imensa do luar no límpido marinho
Do céu padrão oceânico à bolina vogando no azul
Borboleta de multicoloridas asas nas matizes das vozes
Um rouxinol à procura do eco em que possa pousar-se
Um canto em busca de sua gaiola, seu imperador eleito
Sua boca, vulcão túmido, apurado no silêncio do grito.

Deixem-na apenas ser simples, que é a brincar ecolalia
Que se começa a perpetuação do zero no redondo da voz
Na formação de tudo isso composto e somado que dá nós
Quando conjugação integrante de uma oração preciosa
A fala, o gesto, a tarde, a luz, o corrupio do trânsito citadino
A outra conjugação, copulativa no retrós do modelar figurino
A garganta implorando água, somente sede, só sequiosa de ti.

Deixem soltar-se nela a alegria vasta e redutora da ilusão
Que é seu destino ser sem destinatário a própria missiva
Breve mas secular, mapa genético nuclear ao DNA
Cratera de fogo na placidez falada do corpo que não resigna
Sôfrego encontro entre os passados e os futuros inauditos
Gesto inédito de embandeirar os cabelos ao vento são velas
Redondas de rumo, grávidas de remar adiante, adiante, adiante
Muito para além da vida, esta coisa irrequieta pequena e frágil
Que apenas por ser nossa tanto prezamos e ímpios defendemos.

Porque um dia haverá em que baixamos os braços e, nisso, a vida

Continuará a tua luta imperiosa, apenas por uma questão de hábito!...

sábado, maio 10, 2008

Subterrâneos Acessos Rigorosamente Acesos

O meu jogo é de lantejoulas, palavras subsarianas
Cintilantes, desérticas, vítreos grânulos dos areais
Caracolinhos de cabelo na madrepérola, botão de camisa…

O meu jogo não respira as leis de novos evangelhos
Porque se afia no esmeril da esperança ao desenhar-te
O gesto equino com que irrompes na noite das noites
Partes à desfilada nas asas selvagens do louco desejo.

Jogo que é mesmo jogo entre o jogo e as suas regras
Ao proferir-te verbo de conjugar o aceso rigor da brisa
Pomo de eclosão ao arrancar-te a luz para dispersar-me
Estilhaçado, distribuir-me por todos os cantos universais
Pedacinho de vidro bailando a tinir no espanta-espíritos
Por detrás da porta, ao cimo das escadas, socalco à solta
Solta e livre nos soslaios que cambaleiam em vésperas
A lágrima euclase do lusco-fusco na esmeralda dourada.

sexta-feira, maio 09, 2008

Alvos Reflexos da Alma Secreta

Só quando o silêncio da verdade, arde
É como pátria do corpo na língua amena
E serena a boca com que nos falamos;

Só quando teus olhos ternos aplacam
Apaziguam as tempestades da fria luz,
Esculpem a sombra do grito na espera da tarde;

Só quando nos dizemos ao de mansinho
Consumada é a passagem entre as folhas e ninho
Do cuidado das árvores na lida paisagem;

Só quando a descoberta da flor do outro em nós
No espelho que se não quebra, a decidida imagem
Será então a infinita certeza, de quando a sós
Não se apagarão nunca os dedos
Nos amuados degredos da voz.

Só quando tu queres
Sob o vermelho e o preto
És pétala de todas as mulheres,
Aquela que me acerta perto
Na raiz digital do grito secreto.

Porque só quando tu queres
Me quero cruzado do querer,
A crer que quanto disseres
É único espelho que reflecte o viver!

quinta-feira, maio 08, 2008

Instante Gótico

Desce devagar, rés ao silêncio na exígua voz
As vestes ondeando, cabelo lançado para trás
Voando, o sorriso compassado ao andar direito
A simplicidade é receita do equilíbrio ancestral.

Desce devagar a sinuosa via, íngreme colina de nós
Como se ambos fôssemos, na ânsia de ser capaz
O gesto ao ritmo do bater interno no totem do peito
A invenção pretérita do mais-que-fogo, alerta e sinal.

E ao descer assim, sem ilusão, escusa o fingimento
Escusa o submergir sob as redomas da crua defesa
Com o aval de pagar esquecer com o esquecimento.

Escusa a caveira do que não fomos, tange talvez
A pintura de uma campa, com uma só vela acesa
Porque o amor gritou seu brilho nesse entremez!

quarta-feira, maio 07, 2008

Acto Solidário

Dá-me a cor da oração
A prece de teus olhos maduros
Fruto suculento de vermelha doçura
Violeta perpétua desmaiada no azul do céu
Como qualquer pétala de mulher em flor.

Esse quadro... gostava de saber pintá-lo!

segunda-feira, maio 05, 2008

e- moções íntimas

Dizem que há um rosáceo espaço qualquer entre o aqui
E o agora, que é um produto copulativo mas desconheço
Até que ponto isso é verdade, cruel apenas sei, sei sim
Entre mim e ti há um e- que anula a sofrida distância
Que liga dois seres e os aperta em laço de afim recomeço
E a maior importância é mereceres-me tu quanto eu te mereço.

Portanto, diz-me de vez quantos pensaram
São mortíferos os teus olhos despidos
A mágoa para ao canto sem nada fazer
Abrir das pálpebras ao cristalino arco-íris
O cintilar acutilante das pupilas
O ruborescer das faces sedosas
A tumescência da flor dos lábios
A cascata esticada dos cabelos
Sombreados no desmansinho da voz
As arcadas desenhando incerta nitidez
Meiga solução para a surpresa de ser
Assim dançando à beira de um abismo
O infinito e secreto caminho de sorrir
E voltara ti em mergulho e salto imortal.

Portanto, diz-me de vez quantos voaram
Há insectos rodeando cada luz mais
É cisma saber a sombra do desejo
Aberto sou em perpetuar-te o grito
Ansiar esculpir no útero do amanhã
O sonho a expulsar o medo, a dúvida
Ousar-te expelente e equina e exigente
O corpo incontido na explosão da voz
O gesto de voar no grito da nova aurora
Albatroz de proferir o íntimo elixir
Silêncio a espraiar-se nuvem sobre azuis
Janelas que se desdobram infinitamente.

Portanto, diz-me de vez quantos caíram
São vestidos o que vejo a teus pés?
São cadáveres os nylons estampados?
Mesmo à porta a alcatifa manchada
A garrafa de champanhe abandonou-se
Ouviu-se um riso selvático e felino
Amanhecia, as cortinas baloiçavam
Tremeluzentes as réstias das estrelas
Esmoreciam mas crepitavam promessas
Havia imensas promessas a nascer
A infância era garrafa desarrolhada
O incendido vapor que se espraia
Incandescente a cama respira ainda
O lânguido abrir as coxas sob o olhar
Atento suspendo o tempo e eternizo
O instante atravessa o passado rasga
Penetra o futuro como lâmina mágica
Só aqui se traduz em luminoso agora
Se repete e repete em repetido voo
Ceifa reflexos nos mortiços brilhos
Lacrimeja cometas à suspensão do breu
Solicita os murmúrios que calada grita
Ambígua nos soletra e exorciza ímpia.

Portanto, diz-me de vez quantos voltaram
Do fundo mar ecoam címbalos e trombetas
Toques de à carga em líquidas campanhas
Trocadas foram elas ingratas estridentes
Vorazes me usufruíram o contínuo esperar
Os sustos são besouros orlando as flores
Lábios de mel se entreabrem as pétalas
Conquanto sejas eterna sobre a colcha
O franjado dos sonhos à volta do corpo
A boca recolhendo uvas cristalinas
Gotas de orvalho do cacho de teus cabelos
A dobrar-me num beijo sobre ti deposto
Mosto a fermentar a seiva cola inseparável
Num antes de partir voltarei aficar – de vez.

Havia um espaço e- quase copulativo entre o aqui
E agora há nossas mãos dadas no voo de um colibri
Que nos beija e acorda no esvoaçar que aflora!