A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, abril 30, 2016

NENHUM POEMA É TÃO BONITO COMO TU




NENHUM POEMA É TÃO BONITO COMO TU


Que sentido tem o sentido das coisas? 
Se a morte vem não tem sentido nenhum... 
Porém, entre lajes, túmulos e lousas 
Epitáfios floresceram de modo vário. 
O meu, ditará tão-só conforme isto:  
«Aqui jaz o poeta falhado», porquanto
Te fiz mais de mil poemas sem que algum
Fosse tão bonito como tu, e se existo
Outros mais de mil te farei plo encanto
A que me dou, rendo pleno, todo e tanto
Como se foras da vida tudo (e o contrário).  

O que serei e sou apenas de ti veio...  
E se poeta persigo aquela perfeição  
Que é fazer o poema de ímpar enleio
Que te traduza, então, sou só o meio
De executar quanto dita o coração. 

Joaquim Castanho 

DOCE ESPERA




DOCE ESPERA 

Mel de rosmaninho respirado
Em raros instantes, se fugazes, 
São o destino de meu cuidado, 
São os cuidados mais capazes. 
Tem a magia doce da poesia. 
Tem poesia de sublime doçura.
Tem a primavera de cada dia
Até pra lá da noite escura. 

E só esse mel é meu sustento, 
Que outro não conheço nem quero; 
E ainda que ele solte o tempo
Só doçura é, se por ti espero. 

Joaquim Castanho 

sexta-feira, abril 29, 2016

SÓ HÁ UMA VIDA




SÓ HÁ UMA VIDA 

E assim, repentinamente, 
Tudo passa a bater certo: 
O que acendia, é fulgente; 
O que só havia, fica perto.
Tenho teu rosto na mente;
Eu preso nele, ele liberto... 
Que todo poema é semente
Mesmo nas dunas do deserto. 
Desertos cheios de gente:
Esponjas que não apagam! 
Que a flor é pra quem sente, 
Não porque sentidos a tragam
Em tropel, ou de investida...  
É aspergir sonhos com o mel
De teus olhos, que são a vida! 

Joaquim Castanho 

quinta-feira, abril 28, 2016

SONS LUMINOSOS




SONS LUMINOSOS 

Tenho em minh'alma
O eco de tua voz:
Cinco dedos assim
Erguidos da palma, 
Pugnando por mim
Pugnando por nós. 

Acenam à vida 
– Não fazem adeus! –,
Secreta medida 
Do astro dos céus. 
E foi magia tua
Sei disso certeza, 
Que mulher e lua
São pérola ilesa.   

Joaquim Castanho 

FLOR DA CHARNECA E DA FAMÍLIA




FLOR DA CHARNECA E DA FAMÍLIA 

Nuvens brancas como navios em viagem
Armada volátil – no azul a imensidão! –  
Dançam entre estrofes, sopro, aragem
Erigindo sonhos, a poesia e a canção. 
Seu verbo é transparente na paisagem. 
Sua velocidade, medida de intenção... 
Levam cirros, nimbos e quinas na bagagem 
Prò êxito da lusitana navegação.  
A eternidade sagrou-as como suas. 
A íntima luz elegeu-as por brancura. 
São pérolas de vapor, quase luas
Que expressam a sensualidade pura. 
A mim disseram-me hoje quem és afinal:
Flor de cinco pétalas no céu de Portugal. 

Joaquim Castanho 

quarta-feira, abril 27, 2016

CANTO-TE DE COR




CANTO-TE DE COR 

Arredondo a letra
E enrolo a língua: 
Poesia espreita,
E sobra à míngua. 
O verso é menor
(Redondilha de luz), 
Traz recado de cor
E não bate truz-truz.
Apenas faz tantam 
– Batida perfeita! – 
S'ainda de manhã
A poesia espreita.  

Joaquim Castanho 



terça-feira, abril 26, 2016

INVOCAÇÃO E COTODIANO




INVOCAÇÃO E COTODIANO  


Percorro espaço e dia, e não te encontro... 
Todavia, eu continuo a fazer-te poemas
Nascidos com as planícies e outroras, 
Como se fossem outros tantos temas
Apenas vincados na semente das horas. 
Percorro espaço e dias, e não te encontro... 
Mas teus gestos, teus modos, habitam-me. 
São sempre o néctar, a uva, vivo mosto
Que me induz e conduz a esse certame 
Das mais sublimes divindades terrenas. 
Afã de serôdias ousadias, e insurretas
As vozes íntimas travam sútil batalha
Com a maledicência e ignorância, netas
Do ressentimento, ódio, e demais tralha
Que dita que quem não ama, só atrapalha. 

Então, só, convoco as divindades terrenas:
Peito aberto, eis-me aqui, honesta prontidão
Que as supremas paixões (embora amenas)
São brutais e ímpias tempestades no coração.  

Joaquim Castanho

segunda-feira, abril 25, 2016

CONTINUO A FAZER-TE POEMAS E NINGUÉM SABE


CONTINUO A FAZER-TE POEMAS E NINGUÉM SABE




CONTINUO A FAZER-TE POEMAS E NINGUÉM SABE 

Olho prà página em branco
E descortino nela o poema
O rosto, olhos, voz, cabelo, noema
Teus sem dúvida; estanco
Paro, que já era escrito 
Aí, só que sem aparo ou pena. 

O atrito, a nervura, o sulco
A imagem, o esquisso, o dito
E o não-dito são a margem e o fulcro
De um verbo que se estende contrito. 

Os poemas brotam das magias
Com que Musas entretecem os dias; 
Seus motivos motivados são
Sulcando o tempo, o modo, o chão
A terra brava da incerteza
As areias fugidias da lucidez, 
Com que o sonho semeia a natureza
Humana pràs cidades de Inês. 

Então, 
Os poemas florescem das magias
Com que as deusas entrançam os dias
Com motivos que determinados são,
Arroteando «sins» que soam a «não». 

E os pulsos abertos solares
Deixam fluir pretéritos futuros
Onde homens e mulheres dançam a pares
Entre áleas de flores em seus jardins
(Orquídeas, dálias, tulipas, rosas, jasmins)
Sem mondas, abates, podas nem muros. 

Joaquim Castanho 

domingo, abril 24, 2016

O POEMA MAIS-QUE-PERFEITO




O POEMA MAIS-QUE-PERFEITO

Tanto quanto o alento joga
E se enreda nas armadilhas, 
Voa a notícia, e anda em voga
Por um mar digital, milhas e milhas;
Todavia, não será tão assim 
Que a lucidez e metas se esvaem, 
Porquanto, só merece seu fim 
Querubim a quem as asas não caem. 
Nem os cadernos de negra capa, 
Que já trazem odes no interior; 
Abri-los, é Vénus quem destapa 
Véus entre películas em flor. 

Eu tenho um... que afagou tua mão...  
Toque simples que (naturalmente) 
Transformou uma vulgar transação
Num poema perfeito – e evidente!   

Joaquim Castanho 

sábado, abril 23, 2016

O ÚNICO FLORESCER




O ÚNICO FLORESCER 

Pura, pronta e bárbara a alma
Voou entre traços de distinção
Do cimo eterno ao natural; 
E aí, quase prevista brisa
Mista de comunhão e calma 
(Ponte d'esclarecido efeito), 
Gizou as linhas do bem e do mal 
Numa cruz ao centro do peito... 

Procurei-te mas não te vi; porém 
Estavas na franja da floresta. 
Logo o dia surgiu sétimo também
Pleno de lua e tulipas em festa.

Joaquim Castanho  



sexta-feira, abril 22, 2016

FORTUNA ÍMPAR




FORTUNA ÍMPAR 

Tenho a fortuna do meu lado
Presa, imediata. Inaudita
Que, plo sigilo ata, 
Enleia, evola, fumo inalado
Por que a alma fita
O íntimo lacre, nó, sonho selado
De Vénus a Marte
Ligados, quando teu cabelo balanceia... 

São fios de puro mel
(Ouro liso descendente)
Entretecendo sílabas no papel, 
Écran de fragrâncias de luz dulciquente.

As princesas do Olimpo, fadas, deusas
Preenchem agora o espaço de tua passagem; 
E no vazio que deixaste ficar, ei-las presas
Inebriadas, capitulando ante a sublime miragem.   

Joaquim Castanho

quarta-feira, abril 20, 2016

ROSA CARDEAL




ROSA CARDEAL 

Se distingue do breu cinza (azul)
Essa emanação lunar, luminosa
Com que a vida celebra norte e sul
Este e oeste com pétalas de rosa; 
O seu mister é tão real e profundo
Que nem os erros dos cervos admite, 
Já que às más intenções do mundo
Lei oculta e natural (im)põe limite...
E aí, na casa celestial viva flama
Eclode; fogo eterno a alimenta. 
Soam címbalos, harpas e liras... 
É Psique a voar, e o céu declama
Poemas a que lua cheia sustenta
Brilho entre gemas, rubis e safiras!

Joaquim Castanho 

terça-feira, abril 19, 2016

A MATURIDADE PURA DA LEI




A MATURIDADE PURA DA LEI 

E quanta magia pode ter 
Um espelho simples e vulgar? 
O mundo para, alma, ser
Ficam suspensos do olhar,
Pra de seguida o encanto
Renascer, e afastar pranto
Irrealidade, receio
Dobrando o universo ao meio... 

Desta, pra outra metade, 
Analogia sem fronteira,
Luz reflete imensidade 
Emanando, e certeira 
Explica sentido da cor, 
Termo cuja explicação
Ainda antes de haver amor
Já era sinónimo de coração.  

A coincidência incide 
Pelo confluir do sentido, 
Pois só ele é que decide
Como ver luz no ouvido: 
E aí se algo me diz, digo; 
Se é tudo, não negarei;
Que viver é ser contigo 
Contínuo de ambos lados
– De cá, e ali espelhados, 
Tendo a pérola como sua lei.  

Joaquim Castanho  

segunda-feira, abril 18, 2016

NOSSO TEMPO, NOSSO SANGUE 2


INSIGHT




INSIGHT 

Versos, podemo-los fazer todos dias; 
Mas Poesia só acontece quando quer 
– Tal como encantam flores e magias
Se regadas com cuidados de mulher.
Os versos nada podem sem o sentido
Dessa viagem perfeita ao interior
Onde um clic solta sonho desmedido,
Acelera bater d'asas ao beija-flor.

O seu pulsar de coração em frenesim
(Que o mantém em voo até no temporal),
Pude ouvi-lo hoje quando em mim
Tu de repente te tornaste assim... real. 

Então, o aguaceiro parou, o dia sorriu: 
A morbidez cinzenta de azul se tingiu.
E a ansiedade naufragou sem um ai. 
Os versos, esses, viraram poema total
Trazendo consigo a vertigem que sai 
No rodopio infinito da espiral.  

Joaquim Castanho

PRECE DO 7º DIA




PRECE DO 7º DIA

Sopro as sombras pelo caminho
Nada permito meter-s'entre nós, 
Iludindo todo o burburinho
Até ouvir somente a tua voz... 
Quero uma brisa que te toque, 
Amadureça como fruta sadia, 
E um hino de luz que invoque
Teu sorriso d'Adeus neste dia. 

Quero só o sonho... e o teu rosto. 
Quero os gestos... mais teu gosto 
– E escutar a pérola da poesia! 

Joaquim Castanho

sexta-feira, abril 15, 2016

UMA GOTA DE FELICIDADE...




UMA GOTA DE FELICIDADE... 

Não há mais divino céu
Do que o infinito olhar
De uma mulher bonita; 
Que entre o chão e o mar
Qualquer onda é botaréu, 
Pedestal de quem o fita. 

E lá no auge iteração
Estribilho imaculado, 
O luar oferta-lh'o condão
De um coral iluminado. 

Contraponto profundo 
Ao diálogo existencial, 
Só ele implanta no mundo
A esperança imortal. 

Pérola de luz perfeita, 
Grão de lua, raio, areia 
– Inata profundidade; 
É esplendor que enleia
Na magia dessa eleita
Que rima com a verdade.   

Joaquim Castanho

quinta-feira, abril 14, 2016

DO MITO AO LOGOS




DO MITO AO LOGOS 

Foi bem até ao fim de mim
Teu olhar mal olhei acima, 
Que o acaso costuma assim
Atar quem não se aproxima. 

Porque prende duma só vez
Cortando fio à distância, 
Põe-nos já a meio do mês
Prà vida toda esta ânsia.

Cruzar-me contigo pode 
A qualquer momento tido, 
Ser o clique que nos sacode
Bem pra lá do conhecido. 

E se ontem isso se fez
Virando o rumo à vida, 
É porque mudou o talvez
Numa certeza querida.  

Joaquim Castanho

quarta-feira, abril 13, 2016

CADA QUAL É TODA A GENTE




CADA QUAL É TODA A GENTE 

Se aprouver à vida
Seus próprios caminhos
Não há depois que fazer
Senão segui-los... Destinos
São, quer nossos, como dela
Que à humana condição
Como à sua natureza,
A razão só será bela
Nascida da incerteza.

Pode o efeito ter tudo 
Tal como pode nada ser; 
Qualquer sinal é mudo
Parta quem o não saiba ler.
Assim nos dita o agora
Abrindo portas ao talvez
Em decisão sem recurso, 
Voando dentro num fora
Sendo todos – mas avulso. 

Joaquim Castanho

terça-feira, abril 12, 2016

NOVO SONETO DA FIDELIDADE




NOVO SONETO DA FIDELIDADE

Imediatos teus olhos são 
O meu ver e entendimento, 
Voo concreto e imensidão,
Matriz vital se momento. 
E escrevem pla minha mão
De que não controlo o tento,
As flores e o sangue, missão
Cumprida que não lamento... 
Nada nem ninguém me ditou
Versos em corrente tão assim, 
E a brotar do instante sou 
Os poemas que ouço em mim; 
Se te vejo, perduras pr'além; 
Mas caso não veja... – também! 

Joaquim Castanho

segunda-feira, abril 11, 2016

NOSSO TEMPO, NOSSO SANGUE




NOSSO TEMPO, NOSSO SANGUE

Amar e ser amado
Não é virtude
Nem é pecado; 
É quietude
De sermos o mesmo lado. 

É este ouvir tua voz
Segredar também
O poder dum nós, 
Dito tu pra quem 
Não tem antes nem após.

Contigo só há agora
Só há luz, brilho
Pérola, flora
Coral ou trilho
Que o hoje comemora. 

É um estar que se dilui
Pulsar d'alegria; 
Chão que não rui 
Feito dia a dia, 
Enquanto o tempo flui
Enquanto o sangue flui. 

Joaquim Castanho

domingo, abril 10, 2016

O PRONOME DURADOURO (E CONTAGIANTE)




O PRONOME DURADOURO 
 (E CONTAGIANTE) 

Meus olhos trazem versos
Que uma fada me concedeu, 
Pra que os lance dispersos
Sobre tudo que não sou eu. 

Foram escritos submersos
Sob manto ca manhã teceu
Ímpares, mas tão diversos
Que creio vê-los toda hora. 

E eu sou deles vassalo,
Como também de sua voz; 
E digo-os mesmo se calo

Sonhar com eles, contigo, nós
Pronome em sua demora
É o dia todo, como agora! 

Joaquim Castanho

sábado, abril 09, 2016

SABER VER




SABER VER 

Não sei medir os instantes
Que eu passei perto de ti, 
Pois nada do que fui antes
Sobreviveu ao que vivi. 
E do dia sequer guardei
Quaisquer outros momentos
Que vinculassem como lei
Pelos actos, plos intentos
Do sangue em ebulição
A gritar aos quatro ventos
Por quem me bate o coração; 
Por quem oscila a certeza
De só haver uma estação 
Pràs flores da natureza... 

Sobretudo porque em mim
Só floresceu a alegria
Quando teu olhar pôs fim
Ao ver que não teu sabia. 

Joaquim Castanho

sexta-feira, abril 08, 2016

O COLIBRI DA ALMA




O COLIBRI DA ALMA 

Surpresa boa é quando 
Vemos quem é tudo pra nós, 
E o seu verbo soa brando
Trazendo estrelas na voz... 
Põe as manhãs no alto céu, 
Dita poemas só por estar, 
E destapa a alma do véu
Pra que também possa voar
Livre, solta, vivaz, plena
Rodopiando à tua volta
Como criança pequena. 

Joaquim Castanho 

terça-feira, abril 05, 2016

FEIXE HELICOIDAL




FEIXE HELICOIDAL 

Considero infinitos os voos... 
Não há céu que os segure, limite. 
Apenas porque nascem de teus olhos
E da magia que o sorriso transmite. 

Nada receio; nenhuma espera cansa. 
Que ver-te não é fim ou sequer meio, 
Mas entretecer vida numa trança. 

Joaquim Castanho 

domingo, abril 03, 2016

VIVER NÃO BASTA


QUEM SE METE POR ATALHOS, METE-SE EM TRABALHOS




QUEM SE METE POR ATALHOS, METE-SE EM TRABALHOS(ditado popular)

Enquanto nos explicamos perante nós
Os demais, a vida e até as teorias dela,
Se algo acontece não é por distração,
Nem falhas herdadas de nossos avós…
É antes por tentarmos saltar pela janela
Em vez de rodar a chave da porta e sair por ela…

Que os atalhos e as pressas trabalhos são
Dobrados quer fujamos de cuidados ou não.


Joaquim Castanho

sábado, abril 02, 2016

AS RAÍZES DO AMOR (2)


GOTA DE LUZ ENTRE ASPAS



GOTA DE LUZ ENTRE ASPAS 


Se te vejo sinto que cheguei a casa...
E logo que meu olhar encontra o teu,  
Eis que o voo me nasce, sem ter asa... 
Eis que plana e volteia pelo céu; e o meu,
Sem dúvida, foi em teu "céu" que nasceu. 

Faço-te poemas em segredo... 
Escrevo apenas pra ti, e ninguém sabe! 
Que o pleno viver é um degredo
Que só no mais íntimo de nós cabe.
A medida da felicidade é essa: 
A gente amar com precisão e rigor, 
Numa matemática de acreditar em ti, 
Acreditar de ser mais que crer no amor; 
Acreditar no crer até que ele nos peça
Pra copiar a crença deste ideal para si 
– Um ideal porém que de ideal nada tem,   
Feito unicamente de discretos gestos
Como quem sonha dentro do sonho de alguém
E aí fica quedo, mudo mas ledo, 
A viver cada hora por minutos lestos
Numa prova provada que não tem restos. 

Faço-te poemas em segredo... 
Digo-te neles o que ninguém sabe. 
Que viver é nunca ter medo
De começar algo que jamais acabe. 

É por isso que a vida me chama
E desprevenida me reclama acuidade, 
Invade a terra de cor, pinta no céu a flama... 
E se observo com apreço e simpatia
A gente do bairro no seu labor diário,
Ou lhes leio nos rostos beatitude e poesia, 
É porque tu existes, pois caso contrário
Todos e todas seriam estorvo, desconcerto, arrelia. 

Se descubro flores mágicas e alucinadas
Nos sítios mais impróprios e rupestres,
Recantos sombrios, locas, bermas de estradas
Ravinas pedregosas, baldios e moitas silvestres, 
É apenas porque tu és tu, e és assim 
Recatada, reservada, Senhora de meu jardim. 

Se ouço o canto das aves namoriscando 
Dizendo tudo e nada em formato de canção,
E em rituais encantados celebram a primavera, 
É por nele reconhecer teu jeito sereno moldando 
As filas de clientes compradores à espera
Que lhes concedas teus préstimos e atenção.   

O mundo é mundo porque tu existes, e o habitas
Semeando poemas simples e longitudinais, 
Paralelo a esse outro onde infortúnios e desditas
Escrevem a História em mediáticos telejornais.

Porém, é muito além de gratidão o que inspiras
Nestes momentos em que te reconheço o valor: 
É o querer-te devolver esse eco de harpas e liras
Que soa íntimo e profundo de pérolas e safiras
Com a transparência fluida e líquida do amor.    

Joaquim Castanho