A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, dezembro 31, 2018

O PULO DO PONTEIRO




O PULO DO PONTEIRO


Vivi sem planos um ano inteiro!
Prà’manhã não tenho nada planeado 
– Que até o sol, se for de janeiro
Olha pra dezembro como mês passado. 

Minha vida é um supor descuidado
Ponto de fuga adiada, primeiro
Logo assumida, detalhe, seleção;
Como que um tic-tac desse ponteiro
Digital que pula sempre afinado, 
Mas tanto lhe faz seja dia a dia, mês 
A mês, ano a ano ou estação a estação:
Ao fazê-lo, esquece de onde veio
Para, assim, viver o que tem em cheio, 
Esquecendo-o, mal pule outra vez!     

Joaquim Maria Castanho 
Com foto de Elie Andrade

sexta-feira, dezembro 28, 2018

O AGORA TEM POUCA DURA





O AGORA TEM POUCA DURA



Esse agora tem muito pouca dura
Não é de confiar nem longas esperas
Mesmo sendo previsto ou abençoado; 
Sua pureza ‘tá na grande mistura
Impura qu’o futuro tem do passado.  


O presente, esse muro de lamentações
Com que a gente asperge o passado
E salpica expetativas no futuro, 
Tem por óbice alisar os verões
Emparedar quaisquer primaveras
E fala sempre muito e por dobrado
Das quimeras (as tais aves que são feras)
Acaso se não sinta pleno e seguro.


O presente é um cruel condenado
Que esquece quem foi mal vê o futuro; 
Faz dele caminho em qualquer lado… 
– Com manhã clara apaga ontem escuro!

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, dezembro 27, 2018

MADRUGAR




MADRUGAR

Descendente destas sombras esguias
Voz cavada pelas linhas sem credo
Aligeiro os meses, horas e dias
Adormeço tarde e ergo-me cedo. 

E nesse acinzentado destino
Como quem atravessa a neblina, 
Envieso a alma, esgar menino
Prà leitora da palavra que ilumina. 


Joaquim Maria Castanho

domingo, dezembro 23, 2018

PENSADOR




O PENSADOR

Aqui sentado
O tempo escorre, 
Como um cuidado
Que nunca morre. 
Porém, se medito, 
Apenas acredito
Ser quase prece 
Desse grito
Que não esmorece
Pelo  granito 
Que me percorre. 

Joaquim Maria Castanho
C/ escultura de João Aires Garcia

DO OCASO, O SEGREDO


terça-feira, dezembro 11, 2018

BOAS FESTAS




BOAS FESTAS! FELIZ NATAL! 
ANO NOVO DE EXCEÇÃO! 
E que a PAZ UNIVERSAL
Traga harmonia à tradição. 

Eis quanto vos desejo
Minhas amigas, amigos meus: 
PROSPERIDADE e FESTEJO, 
Seja qual for vosso Deus. 

NAMASTÉ _/|\_ 

sexta-feira, dezembro 07, 2018

A medida certa




MEDIDA CERTA

De onde vem, não sei
E, pra onde vai, também não; 
Mas vê-a a filha do rei
Como a do maior pobretão... 

De onde vem, não sei. 
Pra onde vai, desconheço. 
Mas tem meneios de lei
Pois só o amor que dei 


                                      Mereço. 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, novembro 26, 2018

A FORÇA DA VERDADE




A FORÇA DA VERDADE 

Vejo-te, mas desconheço se me vês... 
Aconteces-me sempre tão desacontecida
Como quand'ontem foras pra mim és
O dia sonha, o sol esclarece e a lua, despida 
Recata-se – puxa pra si a nuvem, em pudor
Pelo meu amor, ao ver-te passar outra vez. 

E extremoso, embora descuidado
O vento repara também, 
E fica ali especado, a soprar parado
Antes que o veja mais alguém. 

Quanto de nós haverá que seja manso
Suave como o borboletar da luz matinal
Sobre as pálpebras ainda adormecidas? 
Porém, mesmo a sonhar, não descanso
De querer teu suspiro profundo, integral
Incandescente grito nas planícies floridas. 

Então, desço sol na tua sombra
E lá, de onde ecoa a eternidade, 
Só o carinho nos deslumbra
Só a ternura é verdade. 

Joaquim Maria Castanho 
Com foto de Elie Andrade  

domingo, novembro 04, 2018

DOS LÍRIOS VIERAM ROSAS





DE LÍRIOS SE FIZERAM ROSAS



Tal brota uma rosa sobre espinhos
Assim é minh’amada entr’as demais
Que, ao cruzarem-se, nossos destinos
Os olhos do coração soltaram ais. 
Abriram novas sendas, novos caminhos
Pintaram noutras cores, o arco-íris 
Pétalas coloridas foram lírios 
No rumor das brisas soaram jograis. 


Seus enganos sublimes (inocentes)
Ensinara-me a espera sem desespero; 
Suas demoras foram puro esmero
Que torna as rotinas bem diferentes, 
Já que antes apenas tédio eram…  

– Amantes amam, mesmo se só esperam!

Joaquim Maria Castanho

domingo, outubro 14, 2018

MEMÓRIA SELECTIVA

 


MEMÓRIA SELETIVA

As mãos mais bonitas
Que eu já vi até hoje
Estavam agarradas a uma esfregona.

 
Dançavam de expeditas
Em ora perto ora longe...
Ora perto ora longe...
Ora perto ora longe...
Mas esqueci-as. – E só lembro a sua dona!


Joaquim Maria Castanho
Com imagem de Lara Coutinho

quarta-feira, outubro 10, 2018

APALAVRAR O COMPROMISSO

 


COMPROMISSO APALAVRADO

Digno e imaculado
O silêncio acomodou-se
No chão gretado
Como se fosse
Pra qualquer lado...


Então, fez-se de vez
Naquele quiosque chinês
O dito, que era esperado!


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

segunda-feira, outubro 08, 2018

OLHAR TÍMIDO





TÍMIDO OLHAR

Lua que viajas nua
Hoje, por cima de nós
Afinal és a mesma lua
Que foi vista assim nua
Aqui, também nesta rua, 
Plos avós de tod'os avós! 

Joaquim Maria Castanho

sábado, setembro 29, 2018

O TRIGO LÍQUIDO




185. 
TRIGO LÍQUIDO 



Rebelde e trigueiro 
Já desci para a fonte,
Que eu cresci no outeiro
Mas também nasci num Monte
Onde aprendi primeiro
As cores do horizonte
Que o devir não eclode 
Dum repuxo cristalino, 
Nem brinc’ao escond’esconde
Como se fora menino… 


É espiga de mármore
A verter líquido puro, 
Regando cada árvore
Qu’edifica o futuro! 


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

A ÁGUA BEM-DITA




186. 
ÁGUA BENDITA 



Digo-me, 
Da sombra do céu sobre mim
Quando me sento na relva
Escuto flores. 
Cognome 
Do que era princípio, será fim 
– O verbo atravessa a selva
E brilha entre demais cores. 


Mas da eficácia do chão
Evola murmúrio de água. 
Para elas, é mais que pão. 
Pra mim… Remédio prà mágoa!   

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quinta-feira, setembro 27, 2018

PINÁCULO DE S. TOMÉ




PINÁCULO DE S. TOMÉ 


Deslizo com a vista
E aliso pelo olhar, 
Que da Serra, a crista 
Já me quer crucificar. 


Mas de luz inundada
Espreita a madrugada
Ponto de mira em riste
Qu’assesta atesta assiste
Com’uma seta de luar. 


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, setembro 26, 2018

POR AMASSO




183.
ESCARPA DESFEITA POR AMASSO ESCARPA  (ELEITA) 


  
Areia batida
Grão celestial; 
Granito, lida
Estrada real:
Passo a passo
Eu gesticulo
E me desfaço
Mas não azulo. 


O céu? Abraço 
Que não m’abarca…
E, pur’amasso, 
Todas as retas
São minhas netas
Se fui escarpa! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

terça-feira, setembro 25, 2018

ÀS VARANDAS VIRTUAIS...




VARANDA VIRTUAL

Procuro o eco mas não o sigo 
E recordo teu esgar profundo.
Nesse momento estou contigo...

– Da nossa janela vemos o mundo! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

sábado, agosto 25, 2018

UNIÃO INEGÁVEL




177.
INEGÁVEL UNIÃO
  
Tudo quanto aprendi, perdi-o já
Nada sei, pouco na alma me resta
De quem fui, que pensei; onde quer que vá
Não sou eu quem vai, senão apenas esta
Ânsia de voltar a encontrar-te lá… 

Mas perguntar-me porquê, é letra morta. 
É fingir que não sinto quanto sinto. 
É fugir ao pensar; é fazer batota. 
E tão-só é verdade quando minto… 

Porém, nesse lugar profundo das veias
E brumas indistintas (nossas e alheias) 
Onde moram afetos, amor, paixões
Lanço âncora, renovo a alegria
Perco-me no teu sorriso, tenho visões… 

– Vejo corações unidos por poesia! 

Joaquim Maria Castanho

in REDESENHAR A VOZ

segunda-feira, agosto 13, 2018

ETERNA MUSA




MUSA ETERNA

A morte é um incómodo enorme… 
Vira-nos a existência do avesso. 
Quem amamos até parece que dorme… 
É dano que não mereces, nem mereço! 


E quando na ideia se conforme
Ser possível evitá-la com um Terço
De quanto és, mas ele te informe
Só d’um décimo do que em ti imerso
Navega à deriva no que julgas ser
Então, essa morte é quem por ti vive
Quem percorre os mares, rios, caminhos 
– Os afluentes da liberdade livre, 
Propriedade de quem saltou dos ninhos
Num voo picado pela sã ousadia… 
– Qu’essa sim, é a Musa de toda a poesia!


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

O TEMPO AGORA (Modinha)




MODINHA DO TEMPO AGORA


Esp’rei-te à esquina
Mas não me deste atenção; 
Como qualquer menina
Jogaste pra muito longe
O qu’estava mesmo à mão. 

Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim, 
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim. 


Se o futuro olha pra nós
E nos olha como hoje, 
Escreve a uma só voz
O qu’à outra voz lhe foge. 

Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim, 
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim.  

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, agosto 08, 2018

O CÃO E A RAPARIGA




A MOÇA E O CÃO 

Fugiu o Biscoito à menina
Retouçou na tarde fresca, amena
Sobre relva, d'esquina em esquina
Fugiu o Biscoito à "piquena"... 
Continuou linda mas não serena!

Deu dois saltos e três corridas
Driblando com ufana galhardia
Quem, por vê-lo, ganhou novas lidas
Cuidados, temores pla ousadia... 

Fugiu o Biscoito à sua dona,
Correu-se descarado e audaz
À sua volta, e naquela zona
Dada à reinação e tropelia
Também frequentada por muito rapaz. 

Fugiu o Biscoito à pequena
Sobre a relva, esquina a esquina, 
Retouçando pela tarde amena
Fugiu o Biscoito à menina... 
Continuou linda mas não serena! 

Joaquim Maria Castanho
Com imagem do Google

terça-feira, agosto 07, 2018

O TEMPO NÃO TEM ESTRATO SOCIAL




O TEMPO NÃO TEM ESTRATO SOCIAL

O presente, esse muro de lamentações
Com que a gente asperge o passado
E salpica de expetativas o futuro, 
Tem por óbice alisar os verões 
Emparedar quaisquer primaveras
E fala sempre muito e por dobrado
Acaso se não sinta pleno e seguro... 
Como podemos resistir-lhe, não sei
Mas vive-o tanto o povo como o rei!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

A SAUDADE, ESSE LABIRINTO...




NO LABIRINTO, A SAUDADE 

Procuro-te memória a memória
Bisbilhoteio a alma plo teu olhar
Atiro ao fundo o anzol da História
Para içar-te de lá reconstruída, 
Mas não te encontro neste vazio: 
Diluíste-te pelas ondas de calor... 

Sei que és descendente do infinito
Guardiã d'imortalidade adiada
Que possuis o encanto que só eu fito
E sem ele não sei desejar mais nada. 


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quinta-feira, agosto 02, 2018

NO CONFLUIR, A FALA




NO (CON)FLUIR, A FALA 

Desliza a fala
Entre línguas de terra... 
Espelha o que só o sonho cala, 
Só a porfia encerra. 

Tem na redondez da verde espera
A fluidez daquilo que exala
Para rolar sem ferir, 
Fazer que não erra
E se se esmera
É apenas pra florir. 

Joaquim Maria Castanho 
Com foto de Elie Andrade

SEMPRE OS MESMOS MAS HORA A HORA DIFERENTES




SEMPRE OS MESMOS, A CADA HORA DIFERENTES

Sim Monet, os nenúfares 
Partilham sempre mudança
Impressionam vagares
Dizem genuína aliança
Que tem hora e luz do dia... 
Estabelecem empatia
Negam alheada visão,
Que apatia não é opção. 
Não é escolha nenhuma; 
É apenas constatação... 

É só remar que não ruma! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

terça-feira, julho 31, 2018

LÍQUIDO CINZEL




LÍQUIDO CINZEL 

Já sereno é o canto deste manto
Cortina de lágrimas que não é pranto
Transparência que só a luz contorna... 

Contudo, rupestre, mudo, interior
O soslaio dum coração intemporal
Gotícula a gotícula a vil forma
Esculpe na fria pedra esse amor
Que a tornará animada – e imortal. 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

domingo, julho 29, 2018

UM POEMA PARA AS SOMBRAS QUE PASSAM




POEMA ÀS SOMBRAS QUE PASSAM

É um silêncio interrompido
Melodia ténue em suspensão
Dum olhar trocado e consentido
Da pedra fria à pedra, na ilusão
De outra coisa ser, já quase dita
Num gesto sem movimento, sugestão
Dele só, capricho imaginado
Qual Adamastor em vão tormento
Senhor do mundo na profundidade. 
Senhor dessa poalha universal
Superficial sem ter nem idade
E desconhece quanto é real...

A cujas sombras, pra lá da cortina
Diz o que a humidade lh'ensina!

Joaquim Maria Castanho  
Com foto de Elie Andrade

segunda-feira, julho 09, 2018

OS QUE SE DIVERTEM, livro de LUZIA




OS QUE SE DIVERTEM, primeiro livro de LUZIA, pseudónimo de Luísa Susana Grande de Freitas Lomelino, nascida em Portalegre mas falecida no Funchal, é a primeira parte de COMÉDIAS DA VIDA, secundada pelo livro RINDO E CHORANDO. No seu interior há textos (diálogos) que já foram teatralizados para rádio, além de muitos apontamentos (ou crónicas) que retratam o Portugal cosmopolita da segunda década do século passado. 

sexta-feira, junho 22, 2018

LÁ, NÃO SEI ONDE...




NÃO SEI ONDE...

Procuro o teu sorriso, o teu olhar
Lá, não sei onde... 
Como se fosse o sol a esgarrar
O folhedo, de fronde em fronde. 
E assim, nesse preparo 
Nem reparo quem repara em mim; 
Que o sol à sombra esconde
Tal como o teu sorriso, o teu olhar
Que insiste em perdurar
A brilhar por entre qualquer fronde
Vindo... Vindo... Vindo... 
Lá, não sei de onde! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, junho 20, 2018

AO LUAR JOANINO...




LUAR JOANINO 

De imaterial mas humano
E das profundezas das almas,
Só o divino mas profano
Sentido com que me acalmas
Dia a dia, mês a mês, ano a ano...

Que a vida pulsa sempre, é constante
Crescer lunar, círculo imenso, ímpar 
Feito já da imagem desse amante
Que se vê no tempo, quando quer casar.    

Joaquim Maria Castanho 

segunda-feira, junho 18, 2018

QUE A DOR TAMBÉM SOFRE





169. 
QUE A DOR TAMBÉM SOFRE   


Há um sofrimento infinito
Plo deslizar manso na água
Com que o sonho cala o grito
Com que o grito cala a mágoa. 


E nesse círculo tão fechado
Quase onda que pedrada deu, 
Fica o que é belo maculado 
Por quem ao ódio dum odiado 
Com outro ódio maior respondeu. 


Qu’esquece o que ninguém esquece
Nem sequer quando bem aflito: 
Que o amor por quem não merece
Só causa dor, só causa atrito… 

– E sofre a dor mais do que eu 
Que de todos sou quem mais sofreu!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Anabela Pereira

quinta-feira, junho 14, 2018

PURO SENTIR




QUANDO O SENTIR É PURO

Líquido instante esse
Em que penso... 


                                 de repente
O sonho aflora, desce
No trânsito fluente, 
E seguro, mas constante
Grafa granito no muro,
Numa linha diamante
Do cristal da tarde, ente
Dourado e transparente:
Amor queima mas não arde.

Joaquim Maria Castanho
Com Foto de Anabela Pereira

segunda-feira, junho 11, 2018

O PRINCÍPIO E O FIM




167.
PRINCÍPIO E FIM 



Sutil aflorar não é falta de paixão… 
Nem que nela há menor intensidade; 
O amor impõe cuidados ao coração 
– Subscreve sutileza à sensibilidade. 


Fulgor exige doçura, moderação… 
Sequer indica definição d’idade, 
Mas antes explica por que à intenção 
Andam coladas a razão e verdade. 


Já em mim, se exalto nobres valores
Basta-me ver-te pra desde logo sentir
Quanto amor por todas outras flores
Já senti aos pouquinhos, sem explodir,
Sem m’estrondar corpo e alma num vulcão
Que acorda… – liberta lavas de paixão. 

Joaquim Maria Castanho
Com excerto de foto de Anabela Pereira

quinta-feira, junho 07, 2018

OMBRO A OMBRO




OMBRO A OMBRO

Quando a sombra desliza perturbante
Ombro a ombro vem sem ferir, magoar
Entre as frestas da penumbra secular,
É a fantasia de um sonho distante
Esboçando promessa de lesto chegar.
É a magia do desejo traçando secante
Ao interno novelo que enleia as preces,
Transformando o longe num instante
Em que te fazes autêntica... E apareces.
É o fulgor dum flashback desejado
A enobrecer a realidade, pondo amor
Inesperado no acaso tornando torpor...
Mas também é o semáforo apagado
Frente à zebra que queres transpor
E que à ousadia sempre aplica temor, 
Empresta a cada jeito ensimesmado.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

terça-feira, junho 05, 2018

DO SOBRAR DO BANCO...




BANCO DE SOBRA

E como tudo se disse já, 
Ou tudo já se fez também...  

... Mas a felicidade está
Em nos sentarmos tão-tão perto,
Que fique metade deserto
Mesmo que não venha mais ninguém!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

PÃO PLURAL




166. 
MEU PÃO PLURAL 



Mergulho em recordações… 
Abro a voz pra respirar-te.
Redesenho-te por secções
Onde as partes são ambiente
Unidas até serem arte, 
Sentidas até serem gente. 



Não há mar que te desconheça
Não há céu que te não cante, 
Nem sentir que te desmereça
Nem amor sem ser de amante. 



Esse ora assim destilado
Serenidade (e exatidão),
Quase afeto amassado 
Com o cuidado de tua mão 
Que assina por bem, no final
O teu olhar, meigo e plural.

Joaquim Maria Castanho
in REDESENHAR A VOZ  (Pág. CCXIV) 
Com foto de Elie Andrade

sexta-feira, junho 01, 2018

O TEU ADEUS




165.
TEU  ADEUS


Tu, só tu
Tormentas paras, derrocadas escoras. 
E posso dizer que teus olhos são meus?
Posso aferir quem sou de quem em mim vês? 
Ontem passaste apenas uma vez… 
Mas duraste vinte e quatro horas. 

Dormi toda a noite com teu Adeus! 

Tu, só tu
Suport’as toneladas de esperança
Que há no sonho e só o sonho alcança. 
E posso dizer que teus olhos são meus? 
Ontem sorriste, e fui criança… 


Dormi toda a noite com teu Adeus! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, maio 30, 2018

ESTE ROSMANINHO NACIONAL




164. 
ESTE ROSMANINHO NACIONAL 


Snifei rosmaninho… 
Snifei rosmaninho… 

Pla moldura da janela
Bem no meio do caminho
Vejo sonho, o rosto dela
Jeitinho de Cinderela
Meigo lindo sem igual
Todo feito do carinho
Como só há em Portugal. 

Snifei rosmaninho… 
Snifei rosmaninho… 

Mas não misturei alecrim 
Para não meter no ninho
Quaisquer restos de mim
Menos dignos menos leais
Que aos olhos do mundo
Possam sugerir desditas
E coisas essas que tais
Tão fatais parasitas
Qu’iludem o povo plural
Como só há em Portugal. 

Joaquim Maria Castanho

(Nota desnecessária: Planta por cuja ação antiespasmódica e anticancerígena, pode também ser utilizada para dificuldades no sono, problemas de circulação, prevenção de doenças degenerativas e tratamento de enxaqueca. Ou seja, não obstante o valor, ninguém dá nada por ela.)

terça-feira, maio 29, 2018

VAGUEANDO...




163. 
LÂNGUIDO VAGUEAR 


Atraso o passo, retardo
Fitando teu voo e crer, 
Nascida espera ardo
Flama que clama a crescer
Mas nada digo, divago
Vagueio, tronco sem rama
Na chama desse enleio
Na calmaria dum lago. 

Joaquim Maria Castanho
in REDESENHAR A VOZ (Página CCXI)
Com foto de Elie Andrade 

segunda-feira, maio 28, 2018

TEU OLHAR DEU-ME UM NÓ




162. 
O TEU OLHAR DEU-ME UM NÓ 



Quando teu olhar me falta
Eu fico sem jeito; 
Ando à toa e na malta,
E doi-me o peito. 
Sinto as sílabas trocadas… 
Até perco a razão;
Ando onde não há estradas, 
Ardem-m’as solas no chão. 
Era coisa qu’eu não sabia…
Não se aprende fácil; 
Aprende-se no dia a dia, 
Mal o sentir é ágil. 



Comprar ajuda a (a)pagar. 
Não há mal nenhum nisso… 
A eternidade pod’estar 
No nosso compromisso: 
Podemos crescer como um só 
– Tu serás mãe, tu serás avó. 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

domingo, maio 27, 2018

A BREVIDADE NÃO SEPARA




161.
A BREVIDADE NÃO SEPARA



Quem poderá aproximar-se de ti
Sem te amar é pecado enorme
Que o sonho nunca para nem dorme, 
Faz o seu agora em qualquer aqui. 
Tece enredos onde também teci
Arranja encontros que o conforme
E desce às sombras mais secretas; 
Os teus olhos são mágicas setas
Que fitam na metamorfose a vida
Não quer saber s’é curta ou comprida
Abre sinais já por si abertos
Omite os longes e fá-los pertos
Mas tão perto e tão próximos assim
Tal e qual tu estás hoje em mim.

Joaquim Maria Castanho
Com foto de ELIE ANDRADE