A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sábado, agosto 25, 2018

UNIÃO INEGÁVEL




177.
INEGÁVEL UNIÃO
  
Tudo quanto aprendi, perdi-o já
Nada sei, pouco na alma me resta
De quem fui, que pensei; onde quer que vá
Não sou eu quem vai, senão apenas esta
Ânsia de voltar a encontrar-te lá… 

Mas perguntar-me porquê, é letra morta. 
É fingir que não sinto quanto sinto. 
É fugir ao pensar; é fazer batota. 
E tão-só é verdade quando minto… 

Porém, nesse lugar profundo das veias
E brumas indistintas (nossas e alheias) 
Onde moram afetos, amor, paixões
Lanço âncora, renovo a alegria
Perco-me no teu sorriso, tenho visões… 

– Vejo corações unidos por poesia! 

Joaquim Maria Castanho

in REDESENHAR A VOZ

segunda-feira, agosto 13, 2018

ETERNA MUSA




MUSA ETERNA

A morte é um incómodo enorme… 
Vira-nos a existência do avesso. 
Quem amamos até parece que dorme… 
É dano que não mereces, nem mereço! 


E quando na ideia se conforme
Ser possível evitá-la com um Terço
De quanto és, mas ele te informe
Só d’um décimo do que em ti imerso
Navega à deriva no que julgas ser
Então, essa morte é quem por ti vive
Quem percorre os mares, rios, caminhos 
– Os afluentes da liberdade livre, 
Propriedade de quem saltou dos ninhos
Num voo picado pela sã ousadia… 
– Qu’essa sim, é a Musa de toda a poesia!


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

O TEMPO AGORA (Modinha)




MODINHA DO TEMPO AGORA


Esp’rei-te à esquina
Mas não me deste atenção; 
Como qualquer menina
Jogaste pra muito longe
O qu’estava mesmo à mão. 

Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim, 
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim. 


Se o futuro olha pra nós
E nos olha como hoje, 
Escreve a uma só voz
O qu’à outra voz lhe foge. 

Neste tempo que é sem tempo
Agora tudo tem um fim, 
Que também não tenho tempo
Pra quem não tem tempo pra mim.  

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, agosto 08, 2018

O CÃO E A RAPARIGA




A MOÇA E O CÃO 

Fugiu o Biscoito à menina
Retouçou na tarde fresca, amena
Sobre relva, d'esquina em esquina
Fugiu o Biscoito à "piquena"... 
Continuou linda mas não serena!

Deu dois saltos e três corridas
Driblando com ufana galhardia
Quem, por vê-lo, ganhou novas lidas
Cuidados, temores pla ousadia... 

Fugiu o Biscoito à sua dona,
Correu-se descarado e audaz
À sua volta, e naquela zona
Dada à reinação e tropelia
Também frequentada por muito rapaz. 

Fugiu o Biscoito à pequena
Sobre a relva, esquina a esquina, 
Retouçando pela tarde amena
Fugiu o Biscoito à menina... 
Continuou linda mas não serena! 

Joaquim Maria Castanho
Com imagem do Google

terça-feira, agosto 07, 2018

O TEMPO NÃO TEM ESTRATO SOCIAL




O TEMPO NÃO TEM ESTRATO SOCIAL

O presente, esse muro de lamentações
Com que a gente asperge o passado
E salpica de expetativas o futuro, 
Tem por óbice alisar os verões 
Emparedar quaisquer primaveras
E fala sempre muito e por dobrado
Acaso se não sinta pleno e seguro... 
Como podemos resistir-lhe, não sei
Mas vive-o tanto o povo como o rei!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

A SAUDADE, ESSE LABIRINTO...




NO LABIRINTO, A SAUDADE 

Procuro-te memória a memória
Bisbilhoteio a alma plo teu olhar
Atiro ao fundo o anzol da História
Para içar-te de lá reconstruída, 
Mas não te encontro neste vazio: 
Diluíste-te pelas ondas de calor... 

Sei que és descendente do infinito
Guardiã d'imortalidade adiada
Que possuis o encanto que só eu fito
E sem ele não sei desejar mais nada. 


Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quinta-feira, agosto 02, 2018

NO CONFLUIR, A FALA




NO (CON)FLUIR, A FALA 

Desliza a fala
Entre línguas de terra... 
Espelha o que só o sonho cala, 
Só a porfia encerra. 

Tem na redondez da verde espera
A fluidez daquilo que exala
Para rolar sem ferir, 
Fazer que não erra
E se se esmera
É apenas pra florir. 

Joaquim Maria Castanho 
Com foto de Elie Andrade

SEMPRE OS MESMOS MAS HORA A HORA DIFERENTES




SEMPRE OS MESMOS, A CADA HORA DIFERENTES

Sim Monet, os nenúfares 
Partilham sempre mudança
Impressionam vagares
Dizem genuína aliança
Que tem hora e luz do dia... 
Estabelecem empatia
Negam alheada visão,
Que apatia não é opção. 
Não é escolha nenhuma; 
É apenas constatação... 

É só remar que não ruma! 

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade