A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, junho 30, 2011

Cornucópia Sigilosa

Inclui minha prece no teu sonho de mar e sol
E escuta o respirar dos búzios nos meus olhos
Entre as frondes de seda a pingar como vimes
O silêncio sob as ramadas pendentes, a sombra
Fresca, aquele parêntesis entre o chão e o (in)finito.

Mas não desmaies na acutilância dos símbolos, nunca
Inequívocos e sonoros rompem significados adiante
Rasgam a dor como a solidão ou a verve ostracizada
Reinventam as cores dos universos mais distantes
Apuram no alambique dos sentidos o paladar de dizer
Dialecto dos deuses transversais à humanidade acesa.

As liras e as harpas conhecem-lhe a dedilhada tradução
As flautas já lá andaram perto por tão bucólicas serem
Porém a esconderem-se pastoris nas clareiras dos bosques
Nos romances de outrora cujas pastoras os enfeitiçaram
Regatos cristalinos a descerem na sede dos altos degelos…

quarta-feira, junho 29, 2011

Soneto de Parabéns

Anda-me a alma neste somenos da Psique enamorada
Cuja mortalidade tem numa flor que à beira-Tejo eclodiu
E entre mil estrelas ribatejanas está agora alcandorada
Por esse soslaio da Lua que nem só o Sol bem sentiu...

Jovem mãe que no horizonte do mar tem mira assestada
Faz mansas as revoltosas águas do mais turbulento rio
Pois ao sonho empresta a Aurora duma nova caminhada
Entre as estevas e urzes do ciúme que nela Afrodite viu.

De Mari, que em dialeto ancestral apenas jovem significa
E de Ana, que por mãe tem culto pela Terra toda inteira,
É porém pelo sorriso que a Eros mais seduz e autentifica;

Que isso, de ser Mariana se cumpre de qualquer maneira
No mais que ao sonho e à beleza e à ternura se multiplica
Onde Psique por Inana se torna mil vezes pura e certeira!

domingo, junho 19, 2011

Da Inspiração Motivadora

Escuta… Eu venho de muito longe
E não cheguei aqui por acaso,
Que a vida é só o dia de hoje
Em que me derreto, se te abraso.

Trago no doce estilo a viagem
A nova sede com que te atraso
De repor o sonho que assim foge
Prà margem do ser sem fim que arraso…

Areia estendida aos pés de Arina,
Sulco de espuma a riscar febril
A praia de versos cor de menina;

Que nisso do rasgar primaveril
A seiva do cálice de Vénus anima
Qualquer homem até ele valer por mil!


(Ilustrações: Libélula, de René Lalique; e quadro de Filipa Brasão Antunes)

sexta-feira, junho 17, 2011

Quando no Soslaio se Entardece


Andava eu morrendo por tão pouco ver-te,
Que da alma me estendo como puro rio,
E eis senão quando aceso o fulgor da arte
Se incendeia ante a busca pra matar o frio.

Podias ser breve, distante, fugaz, ou inerte
Como uma figura tecida pelo rasgado fio –
A luz que mostra também pode esconder-te... –
Se ao poder da voz te aliasses como me alio.

Mas mais que som dito és constante presente.
Mais que verbo és igualmente oração, prece
Em complemento direto ao coração que sente.

E assim, apareces na tarde que me amanhece
Todos os dias em um lusco-fusco intermitente;
Que a vida é a luz que entrelaçada enternece!

quarta-feira, junho 15, 2011

Irmã Lua

Havia naquela sombra o não haver do gesto,
Havia naquela rosa a pétala de crestar a voz,
Havia naquela lomba a colina do meu resto
A dizer a onda na sombra azul de todos nós.

Havia luz mas não estava no bruxulear lesto.
Havia cor mas fundida num grito ímpio e atroz.
Havia teu olhar mas no sinal aberto do incesto
Irmã, guerreira da noite, veio o dia, e ficámos sós.

Portanto, não importa agora repetir a luminosa,
A esperança do que poderíamos ter ainda sido
Se em vez de dizer a rosa a tivéssemos vivido…

Tu como poema, eu como apagada e crua prosa.
Tu que havias, eu que tampouco sonhara sequer
Que isso de ser flor ao luar é também ser mulher!

domingo, junho 12, 2011

O NOVO EMBOÇADO

Acontece sempre que a cor se oculta
Entre as estevas da madrugada arguta
Que o rosáceo timbre da rosa resoluta
Ao desmaiar na sombra se afirma gruta…

Ponto cardeal interno ao ser se tumultua
E manifesta temido sob a eleita e astuta
Sagacidade da ignara tribo cuja conduta
Remonta às profundidades da ímpia luta.

A uns, que sabida é a ambiciosa receita
Tomam o poder para a outros aplicarem;
E na noite se afoitam como secreta seita

Que aos homens humilham dizendo serem
A salvação na opressão que só lhes querem
Dar; triste fado o de quem a si se enjeita!

quinta-feira, junho 09, 2011

Tronco Humano

Sob o contorcido sobreiro, junto à carreteira
Nessa pedra de ângulos gastos pela sombra
Onde os cigarros avulso se dissipam no estio
Fumo agora as imagens recordadas desse rio.

E ponho o ar sisudo da solenidade na dobra
Dessa esquina que o tempo tornou seteira…
Será que aquele ali, sentado, sou eu a fumar?
A raiva escondida, ardendo pouco a pouco
Que em cada trago me ata ao tronco louco
E só, contorcido com a cortiça ainda por tirar?

Não; não pode ser! Eu era muito diferente
E rebelde, pronto para ferir, a língua afiada
A pedra sempre no bolso, a funda no cinto
Dependurada pelos elásticos, aí pendente
Elásticos esticados pelo que agora sinto
Me apresto entretanto a mais uma pedrada.

Tenho que ser breve, contundente e certeiro.
Não se podem desperdiçar palavras, ou dizer
Apenas por dizer. Nada disso. Dizer é preciso.
Nada de salamaleques ou de quer-me parecer.
É proferir na língua o homem pronto e inteiro
Que cabe num verbo do tamanho de seu sorriso!

sexta-feira, junho 03, 2011


Regressa indiferente a gesta lusa
Dessa jornada que a crise lhe impôs,
Que nada lhe valeu a camoniana musa
Nem o socorro de seus egrégios avós;
Agora, que é a doer, se verá quem é capaz…
Muitos há falando, mas nenhum fez, nem faz!