A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, junho 26, 2009

Onde ainda houver água irmã, poderemos sempre ser
Construir a cidade acarreta seus rigores e exigências
É preciso que se queira viver nela e não custe ser feliz
Não esteja somente ao alcance de alguns ou seja Utopia
Que essa de tão sonhada amargurou pendente entre ideais
Suspensa entre vivos nunca se consumiu, nunca se cumpriu
Nem nunca foi, só oásis na visão dos perdidos nos desertos
Que entretanto caminha entrapada, zombie político das Eras
Entre os escombros, as tumbas esventradas ao deus-dará.


Mas olha, faz de conta que ainda sou quem sou e tu também...
Faz de conta que ainda és Arina rainha do Sol a solfejar luz
Faz de conta que ainda sou o escriba do teu celeiro de amoras
Faz de conta que ainda sinto o edículo aperto de teus braços
Faz de conta que ainda sentes meus lábios sobre o teu colo
E peito faz de conta que ainda somos capazes e totais a eito
Faz de conta que és prenome e eu sujeito, dupla sem esporas
A saltar obstáculos no hipódromo da cultura aos socalcos
Labirintos de encosta, nas arribas do vento olhando o mar.
Que a fazer de conta há a História que ainda ninguém contou!


Sabes?, quando os olhos se levantam na ária dos corpos entoam
Quando o vento canta o sussurro da sombra morena na pele
Quando as horas passam rápidas em bando voam consigo os dias
Quando os lábios se encontram rés das estrelas e dos oceanos
A areia esguia se furta ao tempo e cristaliza vítrea a lente doce,
Quando a solidão pesa tanto que nos sentimos multidão anónima
Quando os ramos das árvores soltas soam e tilintam iridescentes
Quando nos escondemos e procuramos no silêncio dos templos
Quando nos cruzamos nas escadas e elevadores do Sul ocaso
Quando nos abatemos no leito como aves abatidas em pleno voo
Quando a nossa loucura ultrapassa os limites da loucura possível
Quando tudo nos acontece sempre pela primeira vez estamos
Preparados, definitivamente preparados prò que der e vier
Cais de chegada como de partida, portas do sonho como da vida
Nenhum impedimento existe quando deveras se é homem e mulher.

terça-feira, junho 16, 2009

Sob as Ameias Rúbeas as Águas do Bósforo

Junto às muralhas gastas (a esfarelarem-se) a teenager faz o pino:
Os calcanhares encostados a pique na parede de pedra sulcada
E lhe desce tanto o vestido garrido coxas abaixo desmaiado
Até se lhe ancorar nos pubianos sovacos, a barra sobre a testa
Os cabelos diluindo-se na relva entrelinhada e mansa e fresca
Onde os gatos cabriolam de retouça com os corvos de Mármara.

Haverá mínimo crime em ousar o gesto num rompante acrobático?
Que mergulho cometeu seu corpo que tão-só rompeu o infinito
Azul violeta, turquesa doce invertida no mundo de cabeça pra baixo
Na sublime perversão dos sonhos escritos em futuro de ter sido?

Mas serena a língua te explora agora tentando recompor as vestes
Como se fosses desbravada ainda não as curvas descendentes ao verbo
Ainda os pés, os seios
O pescoço, o ventre
As coxas, a boca
A voz
O triângulo da intenção mátria
A serra, o monte-de-vénus
A planície, a seiva
A ânsia cega de falar.


Serena a língua interpreta
Penetra e inquieta o corpo percorre
O teu país de gritar paixão
Navegar entre continentes incontida
A sombra que tece e invade e em chama analisa
A brisa explode contigo – sim, ela também!!

sexta-feira, junho 12, 2009

Sentimento Vertical


Antes da palavra o nome, o verbo, o verso despido e nu
Não a intenção, sim primeiro ela, e só muito depois nós
Assim espontânea cerzida azul universo estrelado e cru


Aberto para o futuro e mirante, janela dos egrégios avós
Momento feito aqui, feito de agora, pleno de mim e de ti
Onde a saudade nos dói, explode, implora, racha, tritura
Tortura, e não mata, põe na cela a sela e sela, monta a sós
Doma a espera, pica, incita, espora, a incendeia ideia pura.

Antes da palavra, ecolalia, anagrama circundante, o afago
Nascido do princípio ao fim, em si de imaculada loucura
A eito de mim, fogo me arde e chama, aura no céu largo!

sábado, junho 06, 2009

Sábio, Abraão Revela a Alma

Na aldeia, consta que Abrãao tirava vantagem nos negócios...
Apresentava sua esposa por irmã, tamanha beleza a sua era
Que aqueles que consigo cambiavam ouviam sonhos e ócios
Esquecendo os contratados, trocando os lucros pela quimera.

Também Madalena outrora perdida por iguais equinócios
À sua filha, por tão bela a ver, enfim o mesmo nome dera
Princesa herdeira do trono de Deus na Terra entre os sócios
De uma irmandade por cujo cálice seu tinto sangue bebera.

Porém, tenho muito mais sorte que a mulher de Jesus Cristo
E que o Patriarca dos tempos ancestrais, que a amá-la existo
Além do nome a pessoa também: ela me domina e escraviza,

Porém, incandescente exerce a magia de simples pitonisa
Talvez musa, ninfa, se da fantasia Maia a tristeza suaviza
Só de vê-la troiana lucro ternura onde antes havia quisto!

sexta-feira, junho 05, 2009

Soneto a duas tartarugas (que eu conheço)

Desexilado sou agora que me nomeaste aqui
Entroncamento de sentidos alerta na esquina
Adorno andrino no dorso da cidade imo de si
Estatueta breve em marfim ao Sol de Arina.

Da água a seiva húmida de coligir a pele senti
Sede sob a concha o corpo aos membros ensina
Que no frio é casa ou no estio o meio que escolhi
De guardar a asa do lento voo pelos rios acima.

Até à nascente do inclinado sol, o raio, a luz, a seta
Que a estrela que busco entra pela janel@ abert@
E torna cada segundo contigo mais que a hora certa.

Porém, o melhor da desibernação é este asterisco
Por cuja mão cresce o astro ou se clarifica a meta
E sacia o vício dando-me na boca precioso marisco!
Secreto sussurro manso da helénica brisa

Breve mordisco o lóbulo e sopro teus cabelos de seda doce
Acendo a sede e cobro dízimo ancorar na curva do pescoço
Onde deponho murmúrios de sofreguidão vulcânico alvoroço
Baía fosse apagava o fosso do gesto ao som, da cor ao morse:

Descansa o olhar aqui na voz branca dos terraços sobre o mar
Tece a rede que nos impede a nós de vogar à deriva, naufragar
Entre a luz do silêncio diurno estrelado sob o peso do ser as mós
De soletrar os verbos acesos rolados na ponta da língua luminosa
Cruzada rosa entre operários sorrisos em turno os dentes da prosa
Trituram taciturnos tácitos fadários nos ermos as naus nós após nós
Milhas feitas sobre as fragas correntes entre as gentes estas ilhas
Cujas mulheres entretanto mães também são igualmente filhas.

E adorna quem te adora da ré à proa como uma labareda cristalina
Sonho e alma na marina onde aproa Arina que só a beijos abalroa!