A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, abril 27, 2008

A Metáfora Tudo

A metáfora tudo transforma em poesia
Como se fora serena plástica a respiração
Sulcando o peito, cronómetro de qualquer dia
Gesto de suprimir as réstias da solidão;
O entrançado querer dos corpos selvagens
Disciplinada ousadia de ser entre as margens
A ambiguidade rosácea e terna, encruzilhadas
Cristalinos significados que se libertam contigo
Desnudos sóis, claves deste solfejo, esquinadas
Sombras atravessando as travessas do desejo,
Palavras trincheiras, falas de escorar doce abrigo...

Tento habitar o hábito dos rostos
Tento enunciar-lhe um caminho:
Quem sabe a serena voz que inquieta?
Que bagagem levar além das esquinas?
Tento habituar-me à tua transfiguração.
Diária é a metamorfose do permanecer
A teus pés escravo e sacerdote sou.
Pedes a boca e não a espiga?
Pedes a palavra e não o pão?
Escorre, pelos ombros procura os dedos
Penteia as mãos como se fossem sangue
Rasgos de cal branca em tua alva derme.

Eis tudo o que te encerra e profere
Gruta nos penhascos da serra habitável
Moradia a que não resisto de olhar
Ler do silêncio a expressão do grito
As arcadas que se vincam pra duvidar
Lavram o riso na surpresa de existir
Crua flor na segunda pessoa do singular.

sábado, abril 26, 2008

Arina Respira Aqui Sofregamente

Escrevi-te. A transfusão de fantasmas
Imediata é a tua presença quando me lês
E contudo ausente a voz quase sempre
Trago comigo a infância do esquecimento
E por esquecer é outro o verbo que se diz.

É total o amor que se refaz na escrita corpo
Nada daquilo que não presta se retém em mim
E tu de tão perto respiras, ofegas em sustenido
Sentida ingratidão dum amanhã sim estarei
Contigo frente à fonte o mais escorre como água...

Que o rio que escolhe a foz não abusa das margens
Desmargina-me da tortura da contenção diária
Espelha a sombra de pensar-te ilimitada em mim.

São avaros os meus olhos que te saqueiam
É a contornar os flancos que se aflora a seiva
Um corpo é uma flor que se perpetua verde hera
Nas pétalas da boca o sulco doce de tua língua.

E na devoração do ideal incandescente sequioso
O sangue a descobrir labaredas as faces níveas
Da boca entreaberta a gritar planícies de estevas
O dilatar das pupilas até descaberem-me os olhos
Os dedos trementes percorrendo a polpa de teu colo
O interior das coxas que se afastam sôfregas
As mãos naufragando sob a tensa e terna pressão
A febre intransigente dos dedos sobre o gomo túmido
A anelar fricção de descobrir o fogo inflamável verbo
A ânsia do corpo imaginado pleno na plana dimensão
Apertada ausência entre braços que libertam abraçando
A contracção do grito abre os lábios para os céus
Contornos próprios de suster silêncio e morder o sonho
Sulca a garganta no equino suspiro de cavalgar a noite.

Depois, depois a percepção do canto caótico nas ogivas
Góticas as janelas no vidro de existir entre barrocos vitrais
A árvore em frente com seus pássaros maduros coloridos
Plumas cujo chilreio esvoaça dentro de mim periclitante
Debica a saudade de teus olhos, colibris clandestinos.

sexta-feira, abril 25, 2008

Sagrada, a Aurora, Reflecte Alegrias

Demais sagrado apenas o subtil respirar teu
A profanação da alma perene e (in)temporária
A exorcizar a ignara e teimosa resistência
A matar-me os fantasmas mais profundos
Enraizados, recônditos, soletração da inocência
Exposição imediata, perpétuo, o teu gesto
Germinal abertura ao diálogo ledo e livre.

E do corpo aquela greta rubra da fala
A fenda dilacerante da língua vulcânica
O sorriso da palavra que prometes mágica
A recolha da pérola entre os teus dentes.

A da boca a fala, o rasgo anímico
A consumação do sagrado alquímico
O filtro, o elixir com que me prendes
Me prendes, surpreendes e suspendes
Entre os lábios de nos soletrarmos sós,
Únicos, na procura da explosão de nós!

quinta-feira, abril 24, 2008

Sono Aberto Recolhe Aliados

Finjo dormir
À procura do sonho
Para nele me surpreender;
Há embriaguez nos soluços bipartidos
Da suprema fortuna
Nas palavras profanas dos sete sentidos
Essenciais à dignidade humana.

– Alto! – Grito, caído
O corpo esticado no Xis da incógnita partitura
Labirinto de mim, que desenho na pauta
Flauta incandescente do solfejo dos lábios
Na procura daquela cujo nome é ferida que cura
Soprada brisa que sara a voz e sussurra:
São vermelhas as rosas e as palavras pétalas
À espera do cálice no coração que as torne perpétuas.

Mas acordo, e se recordo vejo
Desacordo no acordado solfejo
Com que mordo crendo que beijo!

quarta-feira, abril 23, 2008

BIG BANG


Há, com certeza uma forma simples de dizer
Onde se levantam as brumas o olhar se esconde,
O silêncio translúcido de apoucar a pequenez humana.
Há; eu sei. Os Antigos chamaram-lhe tempo
Outros, fonte
Em que o sagrado se corporiza no escorrer
Líquido pelo apelo de quem ama.


Há tudo quanto é possível nomear-se; tudo.
Mesmo o invisível e inexistente existem.
Ainda o medo de morrer, quedar-se mudo,
Ficar pedra, murchar fechado como os lábios
Que resistem.
Bloqueios de não desaguar em oceanos sábios
Dos rios que em si encerram e permitem.


Há – eu confio. É a tua voz,
Teu sorriso, teu andar liberto,
Teu corpo de mulher, menina no mar aberto
Quem mo diz, quando teus e meus olhos gritam “nós”
Mas pensam eu
A evoluir,
Na espiral, a subir
Cintilando para explodir
No infinito céu.

terça-feira, abril 15, 2008

Albatroz V

Tudo está no seu lugar: o PC, o Word, a Gramática,
A fantasia e uma necessidade infinita de dar vida e som
A um pedido do desejo e respeito pelo fraterno sonho
Para hipoteticamente resolver inicial fenómeno criador.

E venha a mim, na imaginação, a palavra simples e exacta,
Sem ensaio nuclear, sem Einstein nem Newton,
Sem morte nem razão, mas a fórmula primeira do habitat
Deste espírito inocente e tardo com que nasci,
Por entre as espigas de Redol que na labuta sego,
Em veneração ao amor antigo e verdadeiro
À Vénus, que tanto como Deusa, como Mãe, como Terra.

A que fez a luz e no arco-íris pintou a cor,
Que transformou o caos em prazer
E a que voltamos na busca do calor,
Do pólen que somos: apenas aquela flor
Nascida de si mesma como um suspiro qualquer
A quem invoco e nomeio de Geia, Musa e Mulher.

Porque grotesco é o verbo azul no breu do céu
Quando aspergidas as nuvens da fala se soltam
E breves vêm dessedentar-se nos ecos do murmúrio
Nas carícias de tua pele clandestinamente nívea,
Sob a polpa de meus dedos invasores selvagens e arruaceiros
Que açulam e incitam os enxames de silêncios
Magoados nós na conjugação do corpo a desferir o grito
Vivo de infinito rio que lava e desanuvia o espanto original,
Com requebros e pronúncia hitita amadurecidamente celta
Na ecolalia do ventre que dança ao tinir dos cristais universais,
Golpe de asa que baloiça na poeira cintilante das galáxias.

Onde a eleita subiu degrau a degrau a fortuna ventura
Para olhar ao de redor de si e ver. Estava só.

E um pouco mais ágil a solidão do verbo
Que a idade encaneceu lhe dobrou os ombros
Sob o manto púrpura para esquecer que outros socalcos
Degraus a degraus até ao cume da espiral infinita
Se desenrolavam na pedra muda e um a um se seguiam:
Cruzou cinco, sete e dez portas
Arrastando consigo nuvens de violetas silvestres
E as nuvens negras sucumbiram pálidas e mortas
Tilintando as trinta moedas da traição para fundo do poço
Do poço sem fundo do tempo como guizos de maldição.

Portanto cedo e cedo, logo, loguinho pela manhã
Te descubro o rosto por entre os ramos da casa,
Verdes de cipreste, amarelos de acácia, ranhando a vidraça
No felino ronronar do vento, os sonhos que nele partiram.

Não saber se aquele gesto de adeus o é, ocaso de acaso
A ignorar conjecturas acerca de como só partindo se chega,
Tudo sinais de continuação no mundo que nos liga,
Eis quanta da atrocidade da aurora do sem limites
Nos limita à felicidade de arrancar o dia ao grito do silêncio...

Mas é quando em ti me dissolvo que me salvo
E dedos nos dedos, olhos nos olhos, bocas coladas
Te percorro e me percorres as veias uma a uma
Tacteias o facto em realidade e me contas por fábula
E me recontas gesto próprio entre as falas que recebes
E emites entre as fábulas da idade única me percebes.

segunda-feira, abril 14, 2008

TRÊS GIRASSÓIS PARA TI

1.

Se Agora Resistir Amarguro

Ensina-me a aprender a falar de ti, secreta
Quando meiga percorres sôfrega a sede
A fome de meu corpo que te procura nu
A voz, a língua, os lábios que sabem unir.

Ensina-me a referir-te consumada e só
Unicamente leda e original como apenas tu
Assim à flor da pele tumescente, inquieta
Como equino nervoso na antecipação do salto.

Ensina-me a distância que vai do corpo à lua
Aquele brilho eléctrico, fluorescente de teus cabelos
Quando incontidos reflectem a pulsão de proferir.

Ensina-me a cor do credo, para não perder-te
Esquecida, a tecer-te, em meu puro segredo.

2.


Saber Amar é Renovar a Aurora

Falo de pôr o arco de teus lábios
À volta de mim a escrupulosa língua
Ciosa de explodir percorrendo meiga
A aurora de um sol tumescente.

E quando nem mais algo já houver
Que a Terra girando em louca vertigem
Os olhos cerrados, narinas alçadas
A quilha do queixo disparada ao céu,
As mãos esticadas acutilando o nada...

Então, acontecerás irremediavelmente
Adorada!

3.


Serena Aparição Respira Aqui

Primeira, é a pessoa que deambula a ver
Neste percurso incerto de afluir
A este pronome sem pretexto de ser
Que este limite sem escolha nem devir
Está na génese do que ainda há por dizer.

Por dizer quanto ainda restou calado,
Por dizer quando os corpos se exigem
Daqueles que ao amor gerou cuidado
Por mais recear que eles a vertigem,
A sã loucura de quanta esperança há
Na poética pequenez do "eu" que se dá.

Como dado simples, doce e belo de teu sorrir
Do musgo em teus olhos de querer (vi)ver,
Da rebeldia de teus soslaios de permitir
Cabelos de naufragar e em afagos renascer.

E cortar a morte tornando-se consorte
Ao possuir a certeza sorte do abraço tido,
Apertar desapertando para despertar sentido
Sabido do abraço, que o terno braço é o mais forte!

sábado, abril 12, 2008

Vegetal de Vaga e Mundo

1.

Se me recorro me confesso
Desfaleço e embriago na voz profunda,
Me recolho aos infinitos mitos
Passos inseparáveis da melodia
Oceânica.

Se confesso me prometo
E arremeto e jogo num corpo novo,
Renovo os anos abertos
Despertos os bolsos vazios
Aos cantos dos olhos a espuma
Das horas felizes.

E se me prometo me arranco
Tranco as raízes da língua viradas
Os verbos à tona das páginas vidradas
Os ombros rompendo a solidão escrita
Das algas.

2.

Desculpa cigana,
Teus lábios, gomos de laranja doce
Teus olhos (es)correntes de sumir na estrada
Teus beijos em sumo de pedir perdão
São – mas antes o não fosse! –
O brilho da noite enluarada
O desejo a explodir na paixão
Com que nos desvendámos num desvão
De escada.

Cheiravas a orégãos, giesta e milho
No patim do condomínio sem fim.
E agora é teu o meu trilho
E a planície um amplo caminho
De olhar rés e muito cuidadinho
Na procura de mim.

3.

Cigana, fala-me dessas vozes infindáveis
Do sol-pôr sobre a azinheira ao cimo da seara,
Fala-me do luar sobre o cabeço do monte.
Fala-me de tudo quanto eu te conte,
Fala-me dos cavalos nos vales verdejantes,
Fala-me de teu jeito de desenhar nichos
Losangos, quadrados, cubículos na simetria
Alçados manuelinos de exóticos frutos e bichos
Mas não deixes acordar a multidão do dia.

Cigana, fala-me em teus gestos de laranja e preto
Daquelas coisas distantes que nenhum de nós sabe,
Do grito da terra, da muralha onde o suspiro cabe;
Fala-me do silêncio no abraço de estar tão perto.

Cigana, fala-me do encontro das linhas de teu rosto
Entreposto da mala-posta aos murmúrios do sorriso
E diz, diz outra vez quanto do desejo é fogo posto
Na floresta comburente e ressequida do meu juízo.

Cigana, faúlha, pérola brilhante, luz de secreta chama
Queima minha dialectal voz com a tua língua profana.

4.

Se és espelho no jogo das palavras mortíferas,
Oca torrada na vermelha argila do sangue,
Esteva florida na noite rupestre, colibri de coníferas
Então, vem ousar como meus pintassilgos livres
E faz o ninho neste mangue, nas folhas deste cipreste!

sexta-feira, abril 11, 2008

Alternam Engenharias Fratricidas...

Raiam sobre as colinas dóceis, verdes anos
Os mastros, as crinas, de um animal divino
Quase ventres e minas, dosséis, alvos panos
Velas, de anfitriões matemáticos do destino.

De euros, nos restos fáceis, dígitos decanos
Arredondando a quadra estéril, ao verde pino
Das canções de amigo, despique entre manos
Pela jorna prima ao postigo entre coroa e sino.

E ferem as palavras como se ferro fundido fossem,
Sibilam sigilo ao tinir de analistas e confessores,
Enquanto seu JB de doze anos degustam e bebem...

Enredam-se nas teias de ilícitos, idílios e amores
Estrelas de ouro sobre o azul das europeias cores,
Se a desfraldar menina ferem, e só morrendo cedem!

terça-feira, abril 01, 2008

Crime ao Lusco-Fusco

Aconchego o meu olhar sob o teu subtil véu
E adormeço com o eco da batida estranha
Sincopada, gema candente de teu coração
A pérola luminosa, asterisco de surtir ao céu.

Já quase asas por que liberto da insana sanha
Todo eu me prendo nas teias da leda solidão,
Naquele isolamento de ler, que jamais te acanha
No afagar da folha, virada página por tua mão.

Foi fórum de encontrar-te e perder-te também
Neste singelo segredo das rosas crucificadas
Agora, que só em teus olhos meus olhos se atêm
E a buscá-los ando em todas as flores cruzadas...

Porque se amar é crime, então, eu sou o réu
Que não se redime, sob o manto de teu céu!