A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, novembro 30, 2007

Respirar em Sustenido

É difícil não te abordar
Com o sucumbido olhar desmedido
Dos jograis,
Rendido até doer
De não poder suportar mais.

É difícil corresponder com a voz imediata
Estar na posse do constante em partir
Bilhete de saída e contudo ficar quedo;
É difícil esconder as mãos dos olhos
Ficar atento à próxima esquina
E esquecer o futuro que se aproxima.

É difícil corrigir o leito dos rios
Rasgar janelas nas muralhas da manhã
Dizer "bom dia, Sol", segar a luz
Pretendendo ter feito apenas nada
Ou nada ter dito e gerar sismos de lã
Simples abalos nos corações vazios.

É difícil a calma sorridente do teu esgar
O semicerrado das pálpebras no prazer
O olhar que vicia em querer adivinhar
Sem desejar ser o segredo que estão a esconder,
Sem desejar ser a chave dos vermelhos ladrilhos
Em que os ombros te descansam e entalhas
Os seios se suspeitam sob as riscadas malhas
O pescoço resguarda a voz para novos trilhos.

É difícil não querer soltar os cabelos
Libertá-los da rubra e negra bandelette,
Moldá-los em abandonados novelos
Sobre o quadriculado chão que os repete.

É difícil não quedar-me ceifado
Sob o sorriso ao sol expelido,
Sem querer ser o raio iluminado
Que asperge o rosto de vítreo sentido.

É difícil tão-só respirar, com receio
De apagar com a surpresa o enleio
A mágica valsa entre a luz e o parêntesis lido
Para te adornar em onda, o pulsar sustenido.
Crime Perfeito

Arrumaram-me a um canto
Como uma caixa vazia
De camisas, de sapatos
Como qualquer cartão inútil
No sótão da tarde fria.

Calaram-me, por enquanto
Arrumaram o meu canto.

E todos fomos cúmplices.
E todos somos suspeitos.
Mas só eu sou o culpado!

quinta-feira, novembro 29, 2007

Lúcido Recreio

A lógica é uma doença contagiante
Na lucidez opaca da realidade,
Transmitindo transparência, transitando
De boca em boca, de mãos em mãos
Mesmo quando abertas, os bolsos vazios
O sonho à flor da fala, o dito instante
No ontem de amanhã vertido,
Os dias sem adiamento da verdade
Que a vida sem ti nunca terá sentido
Se ao partires quebro sem querer,
Se quando partes fico igualmente partido.

Portanto escolhe. Abre os taipais
E diz quanto é ainda possível fazer
Para libertar o crescendo no crescer
No lugar da espera o prosperar mais.

Sinceramente, é esse o melhor poema que te faço...
Diabrura mansa que se aconchega no teu regaço
Gata que se desenrola e espreguiça o ventre,
Condomínio de quem a querer se quer bem
Teu espaço de correr livre entre mais ninguém!

quarta-feira, novembro 28, 2007

Farol de Vermelho Incandescente

"Rosa, oh contradição pura! Prazer de sermos
O sonho de ninguém entre tantas pálpebras."

Rainer Maria Rilke


Viver é sonhar-te os olhos em mim,
No fogo de soletrar-te poro a poro.
Porque nasce desse beijo sem fim
A ternura, em que me dou e devoro.


Quando partes, se me parte o ser
E daquilo que era só metade me fica,
Mas sendo metade é dobrado o doer
Que no amor, o dividir multiplica.


Fogo Amigo

Se quiseres, o meu poema pode arder...
Pode eclodir dele o vulcão de lava pura,
E ser aquela gota, rubi de brasa a tecer
A luz que desbrava a alma, quando escura.


O Riso de Arlequim


Loucura é como estar presente
Quando nada mais nos consente
E assim, de repente, voamos
Para lá do lá em que estamos.

Loucura é estar aqui e saber
Quebrar a rotina que recomeça
Quando à ânsia de ainda viver
Nos equilibramos na voz que tropeça.

E faz com que a mão
Seja parte entre sim e não,
Entre não e sim,
Sobre o rio sem fim
Fogo de líquida intenção
Cruzando os limites de mim
Assim, no cuidado da confissão
De fingir sentir o que deveras sinta.

Opala de várias cores, mágica cera
Molde dos dedos borrados de tinta,
Bochechas lambuzadas, farripas na testa
Com o mundo a pregar-nos a finta
Dos Outonos que são Primavera
Lengalenga da Serra no "era não-era"
Do era uma vez uma festa

De festejo sorriso que em ti se apresta!

sexta-feira, novembro 23, 2007

Regra de Trânsito

Se conduzires, dominando os sentidos, conduz com vagar
Divaga na luz rubra e verde colorida que apenas apaga
Os restos soltos, os mastros íngremes que sobram do mar
Nos braços que aos remos as galés das ondas o sonho traga
Engula, preso em linhas, redes, algas, sargaços de sonhar.

Se conduzires, atira o verbo ao ar, a voz às brisas, ao vento
Deixa-a rolar o ventre, dançar como bola de fogo no céu azul
E admite que a cada curva surge o caminho, aquele momento
De nos cruzarmos com as aves dos estuários, os vermes do paul,
Os pântanos, ossos de dinossauros, fogos fátuos de tágide taful.

Se conduzires – quem não conduz? –, fá-lo de olhos abertos
E condiz com o que disseres, porque faças aquilo que fizeres
O que jamais poderás fazer, sem atender aos sinais concretos
Puros, evidentemente evidentes, é gerar mais e maiores desertos.
Se conduzires, cuidado, que os filhos dos homens estão despertos!

terça-feira, novembro 13, 2007

Minerva doutorada


Quando te conheci, tinhas um sol em cada mão.
De um lado, emanava a luz do conhecido e alcançado;
Do outro, as réstias cintilantes da ousadia e do tentado.
E o sorriso transparecido de quem traz na língua o coração.

Mas ao toque de vésperas, que antecede a dor e a escuridão
Se então na noite a Lua nem Vénus se vislumbram sob o breu,
Puseste sobre as níveas faces as máscaras coloridas da ilusão
E ficaste repartida entre o que deveras eras e te imaginava eu...

Há quem diga, que acreditas ser esse o teu principal condão:
Acabar com todos os sonhos e demais esperanças infinitas
Só para reteres as pepitas e temeres perdê-las ao abrir a mão.

No fundo, queres subir ao céu embora penses, faças e repitas
Tudo bento e com requinte igual aos que no inferno estão
Fizeram, pensaram, disseram, e calando pagaram por salvação!

sábado, novembro 10, 2007

Mulher-a-Dias

É de Verão, o Novembro mês.
E as formigas, foram-me ao açúcar...
Não lhe gabo o feito:
Foram só uma ou três
Mas morreram a eito.

Sem a ajuda de São Vicente,
Nem rezas a Santa Bárbara Bendita.
Apenas com o detergente
Al Gore de crer em nada
Como quem em muito acredita.

Era só delas a peregrinação...
Em fila, felizes, alegres e contentes
Nas carreiras de forte combustão.
Mas chegou Fátima, entrementes
E passou-lhe com o esfregão!
Da Conjugação no (Com)Participativo

Ler, traduzir este gesto de gestas por outros gestos
Saudar a crescente e infinita legião de mortos,
Socorrer-me do fogo no vulcão labiríntico do ser
E estar sempre pronto que nem recruta disciplinado...

Sofrer a plástica das paisagens e montes alentejanos,
Passar os dedos pelos índices dos desesperos alheios,
Ouvir ruídos arrastados nas catacumbas correntes fluviais
Deste quadro como se ele fosse fosso de castelos medievais...

Ansiar que a lebre se não atravesse na vereda ao cavalo,
Zunir como jacto que besoura e debica a crosta terrestre
E querer chegar mais depressa ao local do crime proposto
Sem anexar os membros e vísceras de meu íntimo clã...

Escutar amenas confissões ao lusco-fusco enamorado
Por saber que nem todos os amores são lícitos e puros
Mesmo quando três rimas os adocicam de laranjeira
E labaredas flores de incêndio na floresta ao lado...

Para quê? Quem fez o eterno favor desta imagética
Se os deuses não nos exigiram adulterar-lhe o segredo
Nem pediram a outros deuses seu concílio de inconciliação?
Todavia, cúmplices até na voz dos gestos desta gesta

A brisa contorna-nos, se retidos, e acaricia-nos o olhar!

sexta-feira, novembro 09, 2007

Capital de Risco

À noite, esvaziada de sentido, a cidade
É uma discoteca, algumas tascas, pouco mais...
Tem o soluço dos arrependidos da idade
E a solidão dos sem-família sazonais.

A euforia do álcool e da erva clandestina,
Alguém que vomita no ondeado da calçada
Da marrafa, que já não é de ouro aquela mina,
Nem a obra mealheiro prà pepita arquitectada.

Se foi sonho de engenheiro, hoje é quase nada
Que se basta em Onan muito bem celebrada
Pelas históricas muralhas e beatos florais...

Que da gesta, se houver grata sinceridade
De Alacer apenas lhe resta essa saudade

Em ser Porto inseguro de comércio – e capitais!

quinta-feira, novembro 08, 2007

Discreta por Sinistro Decreto

Sabe-se muito pouco acerca dela... Sim, consta que, acasos...
Às vezes aparece. Os olhos pestanejam-lhe como bonecas,
Tipo semáforos de intermitente amarelo para filtrar ocasos
Ou flertar entre cervejas e até dançar com as surrobecas...

Mas... Que mais dela se pode dizer? Se tem família? Que faz
Ninguém confirma. E se do talento lhe assiste alguma rima
Ou pendor para explorar conceitos... Apenas se sabe que traz
Nesgas de mistério, visgos onde caem os carentes e atreitos.

Rumores, quiçá rara palavra comedida entre sonoras batidas
Silêncios de house tantam entre gestos de ritmo robotizado,
Máquina de curtir o momento sem momento futuro adivinhado...

Que se basta em ser indiferente ou nada mostrar e menos sentir
Que o inferno são os outros e só trazem à vida dobradas lidas
Para quem viver é vedar, fugir, correr para que jamais o permitir
Viver seja o misturar a sua, sendo nada, com as demais vidas!

quarta-feira, novembro 07, 2007

Sáfico Conluio


Não regateei o preço que impuseste ao meu silêncio.
Nunca discuto quando me compras apenas obedeço
E pago-te sentindo infinito prazer pelo prazer que sentes
Se me dominas e manietas, que é ao penetrar-te que me penetras.
Sou a tua prostituta de mão, aquela mulher de falo erecto
Que se deixa possuir e sucumbe fatalmente ao teu desejo
E frui imensa e docemente a fruição que de mim tens,
Me rendo quando te rendes, te prendo quando me prendes
Me solto quando te soltas, me venho quando te vens!