A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, agosto 29, 2008

Caduceu das Letras

Neste caduceu herético nunca tentarei conduzir-te e avaliar-te
Nem contabilizar em conta-corrente aquilo que és ou não capaz
Que não quero sob controlo oprimir-te e muito menos libertar-te
Que jamais quererei o teu mal e nem sequer quererei o teu bem
Porque deles só tu sabes o que é, somente tu e mais ninguém.
Não quero ou sei o teu futuro, nem sei nem quero o teu passado
Como também não quero teu longe se me estás no peito calado
Porquanto é apenas aqui que te respeito e só teu agora me satisfaz.

Mas diz como é difícil corresponder aos apelos do imediato
O exacto ângulo do corpo quando este se arqueia para o salto
Fica na posse do instante como pose de constante rima e leme
Alma a compartir-se e multiplicando-se por novas essências
Frame que freme quando se queda perante a quieta espera de agir
Como é difícil esconder as mãos dos olhos que sustêm a rédea
Matar as suspeitas adivinhações que obrigam regressos sem idas

Imóvel e atento ao próximo dobrar de cada esquina desconhecida
Não esquecer para melhor descansar no desconhecimento de si
Entre Berlim e Pequim quantas malhas estrangularam teus nós
Quantos soldados e informadores da ditadura da ignorância
Quantos pagens da má-fé e loosers militantes do caciquismo
Jungiram a espada e aperraram a inveja maledicente do preceito
Nos silentes santuários do silêncio destilando em súbdita voz
O estéril ódio e a intolerante peçonha do medo corporativista
Da podridão preceptiva motivada do burro coça outros burros
Irmandade das bestas que do coice elegem o afortunado beijo
Tribo da ululação em volta das caveiras abertas pelo seu gesto
E desconhecem como é difícil corresponder ao apelo do corpo
Exímia alma que desnaufraga no imo oceano das sólidas coisas
Está na laçada posse dos compartidos núcleos hélices oculares
Duplas serpentes que se enrolam e entrelaçam à volta do nome
Asas de ara e trompas de Falópio que erguem altares de fogo
Ovos incandescentes como sóis ou estrelas sem calados poentes.

É difícil corrigir os leitos dos rios sem lhes alterar as águas
Que dentro outras estendem as margens para lá de todos os lás
Abrir janelas pela manhã e não esclarecer as intenções do gesto
Dizer «bom dia, Sol» abençoar a tua graça Arina, coisas assim
Simples abalos na terra entre os socalcos dos corações vazios
Repor a ordem depois dos tsumanis e vulcões mais impiedosos.

Como é difícil a calma e tranquila indiferença ante as vírgulas
A opaca lucidez nebulosa mancha de estrelas e lácteo brilho
Teu olhar viciado em contemplação do nome que floresce luz
Entre as frinchas do granito poroso da História eclode a flor
Como do bronze polido dos ombros descem os seios erguidos
Para a boca da fala plenos e cheios como astros a rebentar
Dedos prestes a decifrar a ceifa espiga nas entrelaças mãos
Prontidão inegável de todos os caminhos das cinco esquinas
Nós de balizar o rosto entre as abertas palmas que se tocam
Linhas cruzadas para Itaca na rede em que os nós da velocidade
Não atam antes desprendem e libertam a espuma pelo rigor
Ondas que se contraem e distendem no salto de franquear o ser
E se espraiam desmaiadas entre os grânulos rochosos dos dias
Balões de clepsidra soprados de boca em boca como verbos
Súbditas ondas a fulgir incandescentes auroras @ntes e-scriptus
Póstumos mas aliados irmãos fidedignos operando sofreguidão
Urgência pura do grito que salta as barreiras do silêncio sofrido
Sacrifica na ara o sangue a escorrer nas sinuosas linhas do corpo
Cálices de silene onde fermentam idílicas aspirações alvas unhas
De agarrar os minutos de areia na concha das palavras ciciadas
Quando se tenta dizer a alma e nela delas proferidas se prefere
Saber ouvir fulgentes e íntimos anéis nos sinais olímpicos do sonho
Porque se soubermos soletrar as ondas fintaremos as ignaras aspas
Que calam e silenciam significados na ignorância sublinhados
Manietam e aprisionam a metáfora na falta dos termos próprios
Negam o solfejo ousado de fingir o impossível com autenticidade
Caduceu das letras que é pedra-de-toque singela ara dos sentidos
Multiplicação do cinco onde se aprende a saber ouvir os silêncios!

sexta-feira, agosto 22, 2008

Sileno Ourives Forja Infinitas Almas

"Levanta os dedos: cinco
e outros cinco – dez.
Erguidos para o Sol,
Translúcidos rebentos."

(Egito Gonçalves)

Morrer é fechar a porta com o gesticular mudo
Esquecer surdo, ficar às escuras e boquiaberto
Ter a língua de quem corta ou bifurca em tudo
Inocentes bocas puras com a aridez do deserto.

Fazer das crianças letra morta, pesponto sisudo
Ou ponto cruz cinzento dos bolsos nas costuras,
Que cada trapo comporta na rodilha do entrudo
Entre refegos das texturas e sacanas com canudo.

Morrer é erigir perto o santuário do silêncio, aqui
Escola do medo e ignorância na gestão autárquica,
Preferir a missionária razão exemplar da suástica
Ao segredo da transparência que em teus olhos vi,
Teus dois seios afoitos rompendo auríferas @uroras
Cálice de silene ousada a fabricar infinitos agoras!

terça-feira, agosto 19, 2008

Sela e Arção, Rédeas de Artemisa Hipátia

Do Olimpo Lis Hartel saúda os duplos peitos medalhados
Par de seios ao puro laço de olhar infinito a eterna moradia
Vivenda dos vivendis modus que habitam hábitos divinos
Dinamarca dos meus reinos onde cavalgas adestramento
Moldas o destino fazendo-o cepilho de teu meigo ventre
Domesticas sob tuas coxas o selvático alento e fértil fulgor
Diriges com estalos de língua e rédeas de harmonia o silêncio
Comandas o verbo à solta pelos ângulos da ternura sem freio.

Espero-te à sombra da expiração profunda de meus versos
Haverá sempre saudade nas esquinas da cidade desabitada
Sempre síncopes de soluços entrecortados sinais de morse
Entre as almas simples esperar não é assim tão desastroso
Apenas fere a dolosa ausência matiza as tardes cor de fogo
Incendeia de ânsia pelo reencontro na reconhecida voz o til
Pois só tu
saras o silêncio que há nas vírgulas das estrofes
E agora sei da semana concreta da minha morte o tamanho
Exacto choro medida do meu doer no delta aberto dos olhos
Ansiedade liquefeita aço de minutos redondos e perfurantes
Brocas pontiagudas como espinhos no diadema dos sonhos
Croquis de intenção no esboço da cultura em areal deserto
Espuma desmaiada sobre quem navega a concha da memória
Teu batel cimeiro no comando das tempestades do mar chão
Se outras leis geradoras de alternidade se quedam caquécticas
Sonegam a autarcia responsável e autêntica porque têm medo
E tal como a sequestrada de Poitiers que vivia num chiqueiro
Pocilga de convencimento e violação pelos nazistas celebrada
Implorou em prece prostrada aos Aliados que lhe não roubassem
A sua linda casinha lodeiro corporativista de afirmação suína,
Assim essa chicória de répteis das muralhas de outras eras são
Assim são as osgas perto da luz para caçar os insectos incautos.


Mas o Pégaso branco de Aras voa agora em Berlim sobre as areias
Altares fixos como rectângulos de pedra e lousa no imo do lar
Sela-as de ternura a grinalda cilha aí contigo nas asas do voo
E galopo o sonho no coração em trote que em valsas se demora
Piafés, deléveis empinos, ladeados, passages no adaptado jumping
"Vernissage" em cabriolas de quem muito a si mesma se sonhou!

quarta-feira, agosto 13, 2008

Sem Ansiedade no Repetido Alento

Que toda a vida é apenas uma palavra líquida
Incluindo a minha, digamos sangue, digamos
Digamos água corrente bebível a sôfregos tragos
Digamos regato que se esconde nas areias quentes e desérticas
Entre os poros da tua pele, subterfúgio de porcelanas
Amanhecidos marfins ante as portas de jade.

Digamos o escoar clepsídrico nos ponteiros da sinonímia
Literatura de sofreguir o momento sob a urgência (geo)métrica
Instante que vaza sobre o cálice do corpo a mágica sede.

Digamos imediatez no abismo estreito do abraço apertado
Lúdica entrega ao acaso descendente do ocaso na planície
Mergulho no outro lado exímia investidura leda no lá do lá
Ritmo animal que pulsa e se contorce na revulsão do ser
Sonho desnudo na boca dos olhos que gritam a saudade.

Digamos salto de corça na clareira das folhas impressas
Gesto, esgar, repente, gargalhada de arrancar ao movediço chão
O pavimento polido e xadrez interior da palavra tudo.

Digamos sílex acutilante, digamos recorte no espaço
Digamos teu nome sem ansiedade mas repetido alento,
Digamos desfraldada vela na crista da onda à proa do vento
Digamos murmúrio de dizer beijando o beijo em teu regaço.

terça-feira, agosto 05, 2008

Ângulos de Soprar as Areias Raras

Enfim, saberás tu Hipátia dos meus secretos hexámerons
Bela sábia lapidada pelos gangs missionários do medo
Como o traidor Sinésio de Cirene me induziu em erro
Me fez crer serem suas as teorias explanadas no recato
No terraço neoplatónico onde trocámos impressões raras
Sensações traduzidas por convertidos (Judas) resignadores
Que sonegaram o prazer do conhecimento de si mesmos
No tranquilo controlo das inquietações se acende o sentido
Significado e sensação únicas vias para a ética até Ítaca
Desde que Thera sucumbiu a Roma me entrego agora a ti.

As uvas ainda não amadureceram mas a sombra das parras
Ilumina de laivos e chispas o jarro de limonada sobre a mesa
Os dois copos que o ladeiam, os teus dedos prestigiadores
Prestes ao dígito clique de acender verbos tácteis atingindo-me
Saliva aglutinada de silvestre e lânguido planger do vidro
Na porta que não tem porta apenas a cortina dança e balança
Sob a brisa de tuas passadas lestas no baile da túnica e tules
Estremecer da cal branca ante gases e linhos nos alvos godés
Conforme a lua se ergue me prende a beijar-te os níveos pés.

Ainda peço tudo demais as horas falhas de azares ou sortes
(A)parto-me delas e sofro mortes quando nelas demoras
Se entanto esqueces milhões sucumbem aflitas consortes
Nortes indiferentes aos lábios da bússola o sexo me escora
Fulminantes as vozes de pedir água plangente cristal na luz
A fonte quase seca de boca em boca se faz renovado alcatruz
Da nora funda imensa roda que nos solicita plena liquidez
Atira fora irrigando doce paz nas veias da senda da humanidade
Quase intento se o instante do momento ganha elasticidade.

E freme no enleado enternecimento dos corpos entrelaçados
Desinquietos se abriram e abrigaram inquietações e cuidados
No terraço perante o mar naufragamos nas ondas convulsas
Que em revulsão nos enredam e atam entre laços e soslaios
De reclusas milenárias em revoltas vestes me despes a pele
E em carne viva da tua carne me fundo e me transformo copo
Cálice seio da clepsidra que nos ângulos topos da areia me sopro!
About Roads And Streets

São apenas oito os caminhos da liberdade no acaso do ocaso
Os olhos, as bocas, as línguas, os sexos, os abraços infinitos
Seios de Hipátia em Cirene apedrejada por sentir prazer dizendo-o
Por pregar a autarcia e emancipação de quem a si se conhece
Alfa e ómega das estranhas estradas para (im)possíveis longes.

De resto labirintos, abismos, promontórios, padrões e cruzeiros
Cruzamentos, pelourinhos e rossios de sextas-feiras à meia-noite
Rotundas como becos sem saída nem outro fim além de si mesmas.

Porque só são caminhos os caminhos abertos
Todos aqueles de cujas janelas se avistam campos de papoilas
Na frugal avareza dos olhos silvestres
Das bocas
Dos sexos
Dos abraços apertados
Como nas demais estradas ainda possíveis.

Porque de resto é a morte
É a progesterona
É o nuclear
É a modificação genética
É o suor frio
É o efeito de estufa
É a campânula do smogue
É a birra e o capricho
É o silêncio incomunicável
É o homicídio de um no par
É o rio apodrecido
É a floresta incendiada
É o beco sem saída
É o precipício abismal
É o redil e o curral
Onde chafurda a própria vida
No suíno lodo do quintal
Tão inútil
Como todas as outras coisas inúteis.

E
Inútil é o estares aí e eu aqui e
Inútil é a leitura sem sentido e
Inútil é a sequência mortífera e
Inútil é a gradação decrescente e
Inútil é a estrada fechada e
Inútil é a anáfora rotineira e
Inútil é a hipálage do medo e
Inútil é a dissimilada opressão e
Inútil é a configurada abdicação e
Inútil é a estrada sem destino e
Desconhecer que uma estrada é um corpo
Uma rua que se faz caminho novo ao apagado caminho.

Como a letra, a palavra, a frase que leva até ti
A língua que se curva em redor do teu nome...

sábado, agosto 02, 2008

Quando enfim voarmos de Ítaca para Roma ou no regresso
Inverso voo de conjugarmos o ser diverso que somos, és e sou
Ou soar sobre o mármore das escadas o tilintar das lídias
Rolando degrau em degrau como uma História que saltita
Entre os cômoros do tempo onde se ergue o nosso bairro
Na encosta frente ao mar saberemos o destino de cada barco
Cada silêncio à tona do azul cintilante no esgar dos dias
Lua deslumbrada mas tão equívoca aos instantes de prata...

Porque se Ítaca nos receber de volta, sim iremos certamente
As rédeas nas asas à solta sem freio qual voz incandescente
De moldar o vidro com o sopro simples do murmúrio ledo
Ciciada penumbra sólida das esquinas insolúveis do segredo.

Iremos sim, sem serôdios recatos nem esperar outras alegrias

Nem sufrágios alcantilados nas ruínas agrestes alinhados cedo
Além dos socalcos natos das varandas donde a ver-te me vias!