A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, abril 25, 2019

ACORDO VEM DE ACORDAR


   



ACORDO VEM DE ACORDAR

Ora atacar, ora defender
Nunca foi, nem é conviver;
Quanto muito é só pleitear...
Conversar é mais que isso:
É tentar compreender e aprofundar
Maneiras de ser e de pensar
E escolher modos pròs dizer.

Falar é compromisso!

Joaquim Maria Castanho
Com foto de Elie Andrade

quarta-feira, abril 24, 2019

PESSOALÍSSIMA UTOPIA...





UTOPIA PESSOAL


Se pudesse, esquecia-te (já)
E nunca mais te veria;
Mas temo tanto por mim
Como temo pla poesia.

Fazia-m'o breve que abrevia
Ápice entre está e não 'tá,
Prestes a ruir, assim
Sílaba o enuncia.

Punha o querer num punhado
Mancheia de versos disformes,
Onde as sombras, enfim
São luz, são a maresia.

Dava-lhe haver por sobrado
Despensa, sementes e fomes;
Alguns ramos de alecrim
Prò odor da melodia.

E então, quando conseguisse
Já predicado sem sujeito
Havia de dizer: «Se pudesse
Tirava-te também do peito!»


Joaquim Maria Castanho

terça-feira, abril 23, 2019

Keane - Somewhere Only We Know Tradução Legendado

DOENTIA SANIDADE

  



DA SANIDADE DOENTIA

Consequência de alma travessa
Por tantos nós ter já da vida ganhado,
Ficou-m'a voz mais grossa e espessa
E com sotaque meio arrevesado
Digo umas coisas pra falar doutras
Como alguns poetas mortos imortais
Se liam odes aos manequins das montras
Editados, dia seguinte, nos jornais.

E isto agravou-se repentinamente
Aproximou-se da gripe hepática
Ou da azelhice tipo “pouca prática”
Caraterística dessa comum gente
Que parece sã mas está tão doente
Que só vê que quer – movendo-s'estática.

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 19, 2019

APRAZÍVEL NUVEM


  



NUVEM APRAZÍVEL

A poesia é imprevista
Tal uma trovoada d'abril;
Pega a arte e o artista,
Surpreende poetas, aedos,
Afia nomes pelo esmeril,
Revela íntimos segredos
Mesmo os escondidos de nós
Nas cavas profundezas da voz.

A poesia subverte os sons,
Os significados distantes
E os próximos; dá meios tons
Aos tons que entoara antes;
Mas, principalmente, é fugaz
E só por instantes nos apraz.

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, abril 17, 2019

The Cranberries - When You're Gone (Official Video)

RECAÍDA, OUTRA






OUTRA RECAÍDA

Recaio,
Sempre recaio...

Depois de ter jurado
Nunca mais te pôr a vista em cima,
Eis que esfriado
Saio
E caio
Em fazer-te mais uma rima.

A poesia desceu à rua
Era já manhã cerrada,
Trazia manto cor de lua
Olhar de mulher desejada.
Plo andar era liberta
Dengosa flor, estrelada
Pétala, a boca, desperta
Pròs suspiros duma toada.


Fiquei sem jeito, portanto
Ao reconhecer que sou assim...
Basta sorrires, e logo o santo
Que era, foge pra longe de mim!

Joaquim Maria Castanho

sábado, abril 13, 2019

Marvin Gaye - I Heard it Through the Grapevine Legendado Tradução

SAUDADE NUNCA ESPERA






A SAUDADE NUNCA ESPERA

Solícita e serena
A saudade se acerca...
E com subtileza terna
A meu coração aperta,
Espreme dor aquosa
Pra escrever dolorosa
Com tinta de ausência,
Esse espinho sem rosa
Ou luz sem transparência
Do amor, sem a amada;
Da áurea sem madrugada
Sombra que nasce do nada
Como se só fora palpitação,
Batida negra na escuridão
Solícita e serena
A saudade nunca espera:
Abre caminho plo coração
De quem ama e venera!

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 12, 2019

O POEMA (IN)PRÓPRIO






POEMA (IN)PRÓPRIO

A história regista
Porém, o amor, inventa
Para que nela exista
O algo que nos assenta
Como terno por medida
E haja de facto vida.

Mas não posso dizê-l'assim
Àquela que é a poesia,
Pois se olhou para mim
Fingiu que não me via...

Aí, a história inventa
Lume brando, chama lenta,
E o amor é só memória
Que repete se faz e cria
Nossa própria história.

Nesses dias sofro duro.
Amar não é pera doce:
É espécie de futuro
Que só nasceu do passado
Pra repeti-lo copiado...
Só que a cópia alterou-se!

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 05, 2019

Loreena McKennitt - Marco Polo

CAUSA MOTIVADORA


   



A CAUSA (MOTIVADORA)

Suave e doce ela desliza
Pela estrada do meu peito...
Então, meus olhos vão na brisa
Deixada lá plo seu jeito
Fragrância, sonho que não desiste
Nem traz vinco, não tem nervura
Mas antes o aroma qu'existe
Na flor com pétalas de ternura;
Talvez cinco, talvez dez, em suma
Tal mão se outra nela segura,
Pois dos dias é essa espuma
Que deles nasce e se aventura
Demasiado viva pra sonho ser
Mas tão pujante, que faz viver!

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, abril 04, 2019

OS DIAS ADVERSOS


   



DIAS ADVERSOS

Todos os dias
Há pequenos desencontros
Que são grandes desgraças.

Em alguns dias
Há esse encolher de ombros
Se espero mas não passas.

Todos os dias
Há desencontros tão fatais
Que até as sombras doem.

Em alguns dias
Sofro tanto com'os demais
Que desesperados sofrem.

Hoje estou assim...
Em alguns dias
Todos os dias são pra mim!

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, abril 03, 2019

RECANTAR OS DIAS - I







NO RECANTO DO DIA


Alicerce comungável
Entre espias de bronze,
Ágil, vejo-te ao longe
Mas já levando contigo
Quanto de mim não digo...

Depois passas de largo
Voando sobre meu dia,
Que não é doce nem amargo
Só recanto de poesia!


Joaquim Maria Castanho

terça-feira, abril 02, 2019

A PRONTIDÃO IMACULADA





IMACULADA PRONTIDÃO
Hei de rasgar a voz
Com notas de sofreguidão,
Que o amor somos nós
Ao soltar os pés do chão.

Consente o avelã de teu olhar
Sob meu suspiro imediato,
Teus lábios de líquen manso
Aflorando a palavra retrato;
As coxas em moldura singular
Enquadram desenho abstrato
Do desejo, aberto pomo a pulsar
Em cujo sonho eu me balanço,
Qu'é esse intransigente transe
A suma pose do poema amante
Se à boca do grito o rosto franze
E só por dentro o corpo salta adiante.

Hei de rasgar a dor
Com as unhas da solidão,
Que o poder do amor
Gera a imaculada prontidão.

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, abril 01, 2019

TÁBUA DE AJUIZAR






A TÁBUA DE AJUIZAR



Creio haver algo que me mantém
Tão deverasmente insatisfeito,
Que não sei onde nasce, d'onde vem
Se da mente ou se do peito...



Traz quase tudo pra ser pensar,
Porém sinto que é mais que isso:
Às vezes, leva-me ao verbo amar;
Outras, tão-só a perder o juízo
Como se ele fosse coisa tida
E não balança para ponderar
O que nos acontece na vida!


De medir o certo e o errado,
Suas amplitudes e cumprimento,
Onde o pecado é um bocado
Que escapou ao entendimento
De bem auscultar o interior
Olhando de fora, demorado
A discernir se acaso o amor
Tem alguma coisa d'ajuizado.


E dar, então, por concluído
Que o que se mede por humano,
Embora faça das veias um cano
Anda nas famílias diluído.


Joaquim Maria Castanho

O CÉREBRO DO CORAÇÃO





O CÉREBRO DO CORAÇÃO


Entrelinha executável dum sonho
O sentido prático, já divisório
Afirma, contradiz, exige amanho
Pra qu'o sonhador dele seja meritório.

É espinha prosaica dessa angústia
Que fustiga, espicaça para a ação;
Vontade crispa-se célere e rústica
– Sangue invade cérebro do coração.

O instante é de esperas recheado
E, se antes fugaz, fica ora pesado
Emitindo flashs de tão alta tensão
Que o sangue, iluminado, ao pulsar
Ribomba e ouve-se quase troar. 

Joaquim Maria Castanho