A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, maio 22, 2009

Andrino Laço de Luz Lisa no Azul

Pois para lá das pequenas coisas controversas e risíveis
Tristeza de estar ou não presente e aquele livro na mesa
Às horas fúteis da sesta morna sob a sombra da incerteza
Há um querer que não ousamos por ângulos plausíveis
Escorregar, deixarmo-nos escorrer livremente, a natureza
Da entrega o salto áspero que antecede o voo, o rasgo vil
Dum diagnóstico envenenado cujo antídoto se chama Abril.

Mas fazemos mal, não por mal, antes o medo temos por bem
De sentir acorrentados a segurada esperança em poder cair
Só quando houver rede por baixo, embora feita por ninguém
Essa certeza perdida que nos impede de seguir a própria vida.

Que aos pormenores é dada consequência de modo primaveril...
Tu, essa luz isadelfa do feixe de estames que tece o firmamento
Entretece também ledo fio sin@l de enfeixar-me a cada momento
Que a lisa luz que ao azul rompe e tece a frecha da flor da voz
Ata a exacta quantidade dos dois feixes no feixe nascido de nós!

quarta-feira, maio 20, 2009

À Luz de Isis Acendem-se @lmas

O nome é a alma dos seres, das coisas, das gentes
Das flores, das aves, estrelas, árvores, rios e do luar
Dos seres luminescentes e presente de todos os ausentes
Risca o firmamento e apaga o incógnito algures ao lugar
Onde o infinito Xis se cansa de ser ruptura e se torna chão
Laje que piso, pegada sobre o lodo liso da velada imensidão.

O nome é a voz que soletrada ecoa a fugaz essência da luz
A chama que chama da cega iluminação em quão justa é a jus;
Que o nome é o gesto que se insurge ante a escuridão e breu

Traço fosforescente eléctrico da tangida fala nos minaretes do "eu"!

terça-feira, maio 12, 2009

Notícias a Dizer de Ponta e Mola

Falo da morte – desta morte acontecida sorte na gesta
Daquela morte, desde outra morte na entretecida corte
Atesta se nunca a morte da morte é consorte nesta vida
Doutra morte universal, absoluta, resoluta causa perdida.

Falo da morte, navalha afilada, e pontiaguda apontada
Cigana malvadez do corte na escarpada aresta desta malha
Cabo tumefacto profere o acto incesto sob o texto destapada
Pérola húmida tua boca de irmã rainha no sol alado anunciada
Esguias pernas de mulher doce em cuja junção a língua encalha
Nos seios com que cinges os cisnes do sonho no desejo da escrita
Rosa na cripta devota os dedos são segredos que o escriba atalha
Razões por que não tresmalha da lura aflita a mão sobre navalha.

Falo da morte, falo que fala como quem ao soletrar mais cala
Penetração contínua no medo do só que dedo a dedo traça o nó
Amuleto salvador na estrada de permanecer o silente enredo exala
Escala fiel linha entre forte, fraco, primo, segundo grão na mesma mó
Do moinho o vento sopra o pó que acalenta a sede e cobre a vala.

Falo da morte, na madrepérola do cabo a mão sagaz, veloz
Mão preciosa de luar em uivos descendentes sobre os ombros
Rentes caídos nos escarpados do ser, atados escombros da voz
Rolada pérola sobre o atroz temor sem dizer o albatroz no condor
Que a voar ergue a sombra que ilumina o amor que raia entre nós.

terça-feira, maio 05, 2009

Fala do Pescador à Linha


"Bom é que não esqueçais
Que o que dá ao amor rara qualidade
É a sua timidez envergonhada.
Entregai-vos ao travo doce das delícias
Que filhas são dos seus tomentos.
Porém, não busqueis poder no amor...
Que só quem da sua lei se sente escravo
É, de facto, finalmente livre."

Ibn 'Ammãr
(Silves, século XI)

É lógico, ó solitárias companhas pescadoras nas arribas silentes
Que não nos venhamos a compreender perfeitamente, em definitivo
Se vós quereis subir na vida, provisoriamente soletrada entredentes
Mas eu quero apenas descer ao que de mais íntimo nela há, dela cativo
Sou, que tão infinitamente voo, através das asas, que somente ela me dá.

Por conseguinte peço, sem qualquer retórica e eufémica relutância
Que não reprimam meu canto nem o resguardem das correntes de ar
Eloquentes adormecidas na substância ímpar do sufixo desta vida
E muito menos recalquem as palavras insurrectas, flechas directas
Dos poemas que te fiz, Arina a que dança na solidão das ervas e regatos
Envolta em tules e sedas, braceletes de prata e diademas de ouro e cristal,
Porque a Liberdade nunca esquece que existimos antes do bem e do mal.

No horizonte, quiçá o fio de prumo paralelo nível do olhar deslumbrado
Em que as ondas aprisionam a espuma nas correntes dos altos fundos
Onde o zelo condicionado da luz refractada pinta ternas ilusões coloridas
No azul celestial como se este apenas fora o signo avesso dos mundos
Enquanto o albatroz cruza as vagas aéreas na quadrícula margem boreal
Traçando vigas imaginárias com suas ícaras trajectórias a pentear o globo
Tracejados de união que sustêm a abóbada no xadrez das cumplicidades
Das regras inerentes às elipses na órbita das estações do clássico pórtico
Ancestral cais onde as duas colunas suportam todo o peso da eternidade,
Eis que nos conhecemos no anonimato dos @@ sob clave de Sol em pauta
Em tratamento de desintoxicação dos efluídos da espiritualidade ilusionista
Charlatã dos vendilhões de essências marginais andróginas nos concílios
De misóginas estirpes para esterilidade da espécie e destruição planetária,
Eis que esquecemos o tempo em que fomos olhos nos olhos sem o temor
O medo abrupto da reincidência o trauma da experiência falhada, soluto
Amargo, demorada resiliência em recuperar o fôlego para a folgada linha
Essa onde dançam os papelotes e lâmpadas pintadas no terreiro do baile
Romarias suis generis das preces missionárias e casamenteiras de acreditar
Sem ver na obscuridade pejorativa da perfeição divina és só capítulo nulo
Somos apenas púlpito para vociferações intestinas da morte acesa central
Diploma de enredo na satisfação do capricho da cruz que no nicho do medo
Acende a morte e a opressão e a mentira e o flagelo e a ira e a dor como luz.

Apagai os sorrisos, ó cínicos, que tensa a linha do horizonte na tez marinha
Arina se rende ao culto de seus adoradores ocultos e anónimos e sem capa
Nem a duplicidade equívoca dos verbos mal conjugados do vil impropério

Que a navegante das conchas alinha e marca as fronteiras do Novo Império!

Convite

Surpreendo-me a ver-me nu, despido de mim
Rasgo as entranhas deste animal clandestino
E soluço. Bebo-me sem rebuço e busco-me fim
Entre adulto ser pra também poder ser menino.

Que nisto de ser sério como no parecer assim
De com tudo brincar até perder o pé ou o tino,
Há mais de homem que de descarado querubim;
Mais de querer ser, do que de rendido ao destino!

Quem ainda se lembra do que afinal é ser criança?
Quem? Pois se saiba que esse sabe o que é estar além
A discernir entre o logro, o aval, o voto e a fiança...

E mais ainda sabe, se acaso o escuro da noite vem
Que fusão é despirmo-nos de tudo, não só lembrança
E ser capaz de dizer, sem dor nem medo:
VOO TAMBÉM.