A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, outubro 30, 2016

OUVIR A LUZ




OUVIR A LUZ 

Inebriado pla sede e sofreguidão 
Osculo cada pétala do instante; 
Sonho que também tivera por tua mão 
A razão de ser plena e circunstante. 
A ela deve a fruta o ser doce e sã.
A ela deve o pão seu mister sagrado. 
E por ela o sol nasce em cada manhã
Quente, reconfortante e “iluminado”. 
Tem no brilho mesma forma de sorrir
Que tu tens quando o fazes (natural); 
Mas se fala… Então, é luz de ouvir
Sem sofismas nem fintas pra iludir… 
Só simples, clara e sem outra igual 
– No passado, no presente e no porvir! 

Joaquim Maria Castanho

sábado, outubro 29, 2016

ACORDO PRA SENTIR




ACORDO PRA SENTIR 

Discreta, serena, contagiante
Sobre este caminho nítida voz
Abre veredas, a todo o instante, 
Que repetem aquelas versões de nós
Com que costuramos o ser (sem retrós). 

São veredas de arar na alma aberta
Com sílaba corrente prà lucidez, 
Que, se transparente, anseio conserta
Sem pecúlio no contar «Era uma vez», 
Tido por definitivo – coisa certa. 

Porque eu escuto-te SEMPRE e ainda
Bem depois de ter falado contigo, 
E sinto que esse falar nunca finda
Mesmo se plo olhar reitero e digo
Que sentir é uma voz que nos desperta.

Joaquim Maria Castanho 

sexta-feira, outubro 28, 2016

LADEIRAS INTERIORES




LADEIRAS INTERIORES 

Já solta e suave coroa ardente
Onda encrespada tubular, arco
Sístole do verbo que diz a parte
Como todo, silente te abarco
E, suspenso, em ti me reparto 
Ósculo após ósculo se acarto
Dos olhos o magma intencional… 

És o meu segredo que toda gente
Conhece; todos sabem que existes. 
Do ar circundante a flor ambiente
(Corola e cálice em que consistes)
Por cujo aroma a pétala insiste
Segar dos sonhos o que seja triste 
– Como o ímpar das estrelas do plural. 

Tenho-te presa dentro do meu grito
A viajar entre o ocaso e infinito
Pelas ladeiras da luz interior; 
Tão intensa, genuína, que acredito
Que és da sílaba a pérola em flor. 
E mais que voz de «Bom dia» ocasional
És ainda o sol veloz, se me permito 
Senti-lo puro, bendito, e normal. 

Joaquim Maria Castanho 

quinta-feira, outubro 27, 2016

A MAGIA DA SURPRESA




A MAGIA DA SURPRESA 


A fada que me enternece 
Desaparece ou aparece, 
E enquanto Musa tece
Sempre essoutra dimensão 
Com que o sol às almas aquece
Quer no inverno como verão… 

Faz a magia parecer real, 
Porém, com um encanto tal
Que a realidade é ideal 
Mas sem a sombra da ilusão, 
Que traz às vezes o bem e o mal
Se se instala no coração. 

Das Musas que pela vida há
Só ela tem o dom perfeito, 
De ao vê-la, saber que está
Também dentro do meu peito.  

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, outubro 26, 2016

ALCANÇAR AS ESTRELAS




ALCANÇAR AS ESTRELAS 

Às portas do céu, a cavaleira
Celeste, tão celta como moura, 
Interrogou a luz vindoura
E, após curveta, foi certeira 
Flecha, raio divino, maneira 
Que Olimpo tem de falar às gentes
Humanas, soberanas, que do sonho
Guardam cetro, cálice e lanho
Entre auroras e ocasos fulgentes, 
Tendo-lhe respondido (sem voz): 
«És a glória sagrada que há em nós, 
Que nascemos da chama primordial
Múltiplas, aspersões sobre bem e mal.» 

Seus cabelos escorreitos e lisos
De seda quase chumbo nacarado
Em camadas descaídos, precisos
Oscilam plo voo ao azul estrelado, 
E aí brilham feéricos inocentes. 

Osculo-os de pronto, mentalmente 
– Fiel devoção às fadas supremas… –,
E tão inebriado e obediente 
O faço, que brotam flores serenas
A dançar a compasso, e balanço, 
Que também eu às estrelas alcanço! 

Joaquim Maria Castanho     

terça-feira, outubro 25, 2016

A NOVA DEMANDA




A NOVA DEMANDA 

Contundente como um adjetivo 
O advérbio de modo disparou 
À desfilada, o freio nos dentes
Brida arrastando chão na planície
Oh sorraia, baio torrado dos sonhos  
Crina esvoaçando sul desnorteado
Entre estevas, giestas e alecrins. 

Sobre sela de cetim e pele de anho
Traz Viviane o cálice da fertilidade
Senhora das chuvas e das nascentes
Rios e lagos, e das flores sem idade
Caem vertigens das pétalas no clímax  
Se Excalibur em suas mãos chispa o sol. 

Seus raios são capazes de segar a dor. 
Seu ventre explode ao balanço do salto.
Seu olhar emite nova demanda do amor. 

Joaquim Maria Castanho

domingo, outubro 23, 2016

O APÊNDICE SOCIAL




O APÊNDICE SOCIAL

Não há Verdade mas verdades
Que a mentira pode corromper, 
Desde qu’ela saiba o que sabes
Embora que não o saibas dizer. 
Viver é algo em que cabes
Sem precisar de te encolher, 
Mas esticam-te em partes ardes
Ou dão-te infernos pra viver. 
«A escolha foi tua», informam
Como se nascesses criado,
Sublinhando o que contornam
Aind’assim não mudes de lado; 
Desistas de ver-te torcido
E exijas o que te é devido!

Joaquim Maria Castanho    

sábado, outubro 22, 2016

OS SEXISMOS E A PRECARIEDADE




OS SEXISMOS E A PRECARIEDADE 


Abrem-se as espinhas da penumbra, 
Arrepia-se pela sombra este sol,
Que o ser inventa o que o deslumbra
E amassa no chão, se fica mole. 
Os contingentes nebulosos passam, 
O céu é só cinza alvoraçada, 
Sem o mínimo azul que o console
Da fé e esperança atraiçoada. 
À humana estirpe já compete
Reimplantar o advento que repete
As inquisições; e as bruxas assam
Ante as fleumas dos falatórios, 
Qu’os sonhos só vingam se corroboram 
Outros – ainda que contraditórios! 

Joaquim Maria Castanho 

sexta-feira, outubro 21, 2016

O EROTISMO DAS RIMAS




O EROTISMO DAS RIMAS 

Intransigente como uma haste
À beira-caminho o olhar fustiga
Acarreta sombras, dispara verbos
Desfolha papoilas, e a espiga
Invade a curva que atropelaste; 
Veste de nuvens o céu profícuo
Adorna nos silos entre sementes
Desmaia como faminto bêbado. 

Dos sonhos sobraram as raridades
Também alguns acordes encantados
Pequenos gestos nunca esquecidos 
Ou o adocicado odor das maçãs
Maduras folhas amarelas levitam
Sobre o piso de caruma moída…

Porém, em equilíbrio precário
E frugal, versos estabelecidos 
Dizem que só ficarão corrompidos
Por rimas despidas de calendário. 

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, outubro 20, 2016

OLHAR VAZIO




OLHAR VAZIO 

Por me arrastar pelas horas
Deste dia assaz corroído, 
No plangente chiar de noras
A tirar dor do tempo tido, 
É que o sol, em febre, dolente
Raios macilentos, chorosos
Anda nas sombras desta gente
A pisar fungos ou remorsos
(Líquenes sociais venenosos) 
Pra destilar em aguardente
Fogo, desespero stressado 
De quem está aqui por falta de lado. 

Sou a mágoa fria, preconceito; 
Detenho na lápide do dia
A faca da frieza que mata; 
O silêncio que a mudez retrata; 
O (in)conformado trejeito 
De quem olha dentro da poesia
E não se vê como antes via!  

Joaquim Maria Castanho 

quarta-feira, outubro 19, 2016

O ANALISTA DE PORMENORES




O ANALISTA DE PORMENORES

De cada instante, o próprio instante; 
Cada pormenor, o exíguo pormenor. 
E do mais da vida, o que encante
Dessa magia que também é flor,
Feitinha toda ela de sentimento
Como se fosse pétala, momento 
Do instante, e do segredo sem fim
Que escreve os dias e horas em mim: 

Ápice, Casa Nova da perfeição 
No eito do tiquetaque redutor,
Onde até plo ritmo do coração 
S’escuta sentido ecoar do … 




… sol-pôr! 


Joaquim Maria Castanho 

terça-feira, outubro 18, 2016

FAZER O DESTINO FAZ-NNOS




FAZER O DESTINO FAZ-NNOS 

O destino é imparcial 
Nas determinações que tem,
E às vezes até acha mal 
Aquilo que é nosso bem. 
Porque quer decidir por nós
Sem nos perguntar em nada, 
El'encontra-nos sempre sós
Na multidão da estrada... 
Bem no meio do caminho
Como se pedra aguçada, 
Que nos leva direitinho
À cova por nós cavada. 

Que o destino é banal, 
Não quer saber de ninguém; 
Tem por seu bem o nosso mal
Real, ou temido, também.  

Joaquim Maria Castanho 

segunda-feira, outubro 17, 2016

SÍNCRISE




SÍNCRISE 

Reposto o breve expressivo
Grito ao infinito distante, 
O passivo «Ai!!» se faz ativo
E eu vivo, só pró instante
Único, pleno, em que te ouço
Vejo, no também ser, se posso
Assim aberto e transparente; 
Assim, de certo, e perto, ente… 

Que sem ti os dias são noites
E as noites tão-só escuridão; 
Já farol que à luz acoites
Brotas em sins de qualquer não! 

Joaquim Maria Castanho 

domingo, outubro 16, 2016

ASSÉDIO MORAL




ASSÉDIO MORAL 

O assédio moral existe
Com o fito de desmoralizar; 
E só o pratica quem persiste
Em diminuir e apoucar. 
Quem critica afetos, relações, 
Pondo em causa aos demais; 
Ou duvidando das intenções
Dos que vê como desiguais.

O assédio moral existe
Nas empresas, nas repartições, 
Supermercados, hospitais; 
Nas famílias e religiões; 
Nas câmaras municipais, 
Nos cafés; em tais dimensões, 
Que até plas redes sociais.   

O assédio moral existe, 
Digam o que disserem, agora… 
Se do lobo pele vestiste
Torna-se tua sem demora!

Joaquim Maria Castanho  

sábado, outubro 15, 2016

POEMA DA NÃO-POESIA




POEMA DA NÃO-POESIA

Nem todos os versos são poemas, 
Sequer convocam qualquer voz, 
Pois muitos há que o são apenas
Pelo tato ou conforme o olhar,
Ou partilhar, caso estejamos sós,
Dizendo-se eles, doutra maneira, 
Segundo o balanço de uma rede, 
No invocar "daquela" nossa sede, 
Ou pelo conforto de uma esteira...  

Há poemas que nunca o foram
E que também nunca o serão; 
Mas aceitamo-los se decoram
Nossos gestos, sentires, intenção.

Joaquim Maria Castanho 

sexta-feira, outubro 14, 2016

DILEMA TROIANO




DILEMA TROIANO  

Com o coração agitado
Plo anseio te prevejo; 
E vendo, fico ansiado
Desejando mais que ver, 
Tentando tanto esconder
Este espinho cravado 
No cimo profundo do ser... 
Que busco ora o outro lado, 
Ora este, do meu dizer: 
Um, é saudade de ti; 
Outro, nasce mal te vejo. 
Se poema, conta o que vi; 
Se calo, diz que desejo. 

Joaquim Maria Castanho 

quinta-feira, outubro 13, 2016

PÉTALA SUBLIME




PÉTALA SUBLIME 

A tristeza semeia silêncios 
No mesmo chão da felicidade, 
Só que a primeira germina e singra
E a última se perde nas discórdias, 
Nas diferenças semânticas e dialectais… 

Tenho hastes de tua voz implantadas
Na alma dos afetos distintos; 
Germinaste nela, agora és flor:
Pétalas e canto de jograis. 

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, outubro 12, 2016

LIVRINHO DE POEMAS




LIVRINHO DE POEMAS 

Tenho amor pequenino
Pra me caber no coração, 
Quase ode, doce hino,
Sob a batuta do condão;
Da magia e do encanto, 
Que cresce do dia a dia, 
Que aquece como manto.
Amarra feras, destino; 
Apaga soluços (d’ontem). 
– Ó meu amor pequenino
Sorri, sorri sem que notem
O sorrir da poesia fonte. 

Tenho o amor numa linha
De apontar com o dedo, 
Onde a sílaba faz esquina
Com a oração do segredo.
Trabalha na secretaria
Dum parágrafo aberto, 
A mostrar ao mundo poesia
Com um sorriso de magia, 
Num ritmo de ponto certo. 

Joaquim Maria Castanho 

terça-feira, outubro 11, 2016

ACTO DE PREFERIR DE FACTO




ATO DE PREFERIR DE FATO

Hoje preferia minhas as tuas dores
Neste momento, incómodo, magoado
Preso à ansiedade das rubras cores
Com que o ocaso pinta o azul cerrado
No Éden das roseiras, mas sem flores
Espinhos só quase, lida, cuidado;
Dias que rasgam dias, frios e calores… 
Ânimo por desânimos alquebrado. 

E tê-las-ia mui reconhecido, grato
Alegre e em “feliz contentamento”, 
Se assim te devolvesse bem de fato
O sorriso, âmbar, néctar, sustento 
Com que alimento a alma apaixonada
Por uma estrela – misto de mulher e fada. 

Joaquim Maria Castanho 

domingo, outubro 09, 2016

SUBLIMAÇÃO POÉTICA




SUBLIMAÇÃO POÉTICA 

Refugio-me no trabalho
Tão-só pra te não procurar, 
Fazendo do criar atalho
Para a senda do esperar; 
E escondendo-me de mim
No sonho que oculta sonhar
Terei melhor sonho, enfim, 
Entretecido e desejado
Calando o sonho que tiver… 

Que sentir que ninguém disser
Não pode ser contrariado, 
Ainda que ponha a mulher
Bem no centro do pecado. 

Joaquim Maria Castanho

sábado, outubro 08, 2016

A ALMA DOS POEMAS




A ALM :) DOS POEMAS

Sem a tua voz não me digo… 
Sem teu «Bom dia», tudo corre mal; 
A jornada é um perigo, 
E escrever, um ato formal. 
E os versos soam ocos
Com sílabas marteladas, 
Ond’os sentidos são poucos
Em estrofes derrotadas.

Então, invento que fazer
Só pra passar perto de ti… 
E eis que no amanhecer
O “sol” brilha: o dia sorri. 

Joaquim Maria Castanho 

quinta-feira, outubro 06, 2016

SEGREDO DE ALMA




SEGREDO DE ALMA


Queria fazer um poema
Que te merecesse… 
Que dissesse o teu rosto
– E teu rosto fosse. 
Que dissesse os teus olhos 
– E teus olhos fosse. 
Que dissesse as tuas faces
– E tuas faces fosse. 
Que dissesse teus lábios
– E teus lábios fosse. 
Que dissesse a tua fronte 
– E tua fronte fosse. 
Que dissesse teu cabelo
– E rabo de cavalo fosse.
Em que se ouvisse meu coração bater
E que não só de palavras fosse, 
Mas fosse o sangue a dizer.
– A correr ao leme do tema
Que nenhum poema
Consegue ser. 

Queria fazer um poema
Como se não fosse humano
– Que nascesse dos dias
E assim fosse todo o ano; 
Que não tivesse versos
Métrica, nem tons submersos,
Mas as texturas macias
Como só tua pele tem
Quando o vê-la vai além
Do sublime das poesias. 

Queria fazer um poema
Que me fosse alma pequena
Em sílabas que só tu lias. 

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, outubro 05, 2016

DISCUSSÃO SOBRE O DISCUTÍVEL




DISCUSSÃO SOBRE O DISCUTÍVEL 

É bonita, sim, é bonita, 
Disso não há como duvidar, 
Se sua trança bem catita
Me oscila e dança no olhar. 

Tem o segredo da certeza; 
Tem a certeza de meu afeto.
E só discutimos a beleza 
Porque não acredita no certo. 

Ou não repara no visível, 
Incontornável aos sentidos, 
Como se ainda fosse possível
Desmentir meus desmentidos.

É bonita, sim, é bonita, 
Maravilhosa nas feições, 
Despachada e expedita 
Em quaisquer ocasiões. 

É bonita, sim, é bonita; 
Disso não restam suspeições. 

Joaquim Maria Castanho     

terça-feira, outubro 04, 2016

HÁ ENTRADAS QUE SÃO SAÍDAS




HÁ ENTRADAS QUE SÃO SAÍDAS 

Na ínclita inclinação, verbo nobre
Que se declina perante a plebe lusa, 
O épico desassossego de quem é pobre
Trambica, argumenta, pede escusa.
Em questão ‘tá a receita que não cobre
O orçado fiscal, coisa assaz obtusa
De quem conta com ovo por pôr, e descobre
Que tal galinha, a pô-lo, se recusa.
Ó opíparos no divino alheio, 
Então, vós, que gastais além do tido
Desconheceis quanto é rude e feio
Contar com o que não será recebido, 
Para pagar dívidas já contraídas…? 

– Orçar entradas assim, anseia saídas! 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, outubro 03, 2016

CINZAS FULGENTES




CINZAS FULGENTES

Porque feminina, logo plural
Como a madrugada joanina, 
Sei duma estrela estival
Que até ao sonho ensina
A ser o que é, unicamente, 
E não outra coisa qualquer; 
Para quem olho como gente
Mas vejo somente por mulher. 

Tem o jeito mágico duma fada
E guarda no olhar esse elixir,
Com que a eternidade é nada
Pelo instante de um devir;
Dum estar que o viver transforma
Tirando-lhe tédio e ilusão, 
Pondo o caos com essa forma
Que consideramos ter a paixão. 

Pois por ela já de mim não sou
E daquilo que fui nada me sobra, 
Que quem ama o ser à luz deitou
Até lh’arderem as cinzas… 

– e obra! 

Joaquim Maria Castanho



DO NÚCLEO, A ESPIRAL




DO NÚCLEO, A ESPIRAL


É difícil o despovoar dos sonhos cimentados
Crescidos no dia a dia ante os teus gestos 
Como verbos de arrumar em livros catalogados
Novos, reposições, como registos, e lestos
De pronto se autorizam e te obedecem servis… 

Por mim o digo, que no contento de tuas mãos
Me andam ajeitados os puros sentimentos
Balançando nas ondas de teus cabelos, sutis
Vaivéns de quem alisa recatados desvãos
Onde moram os secretos anseios e alentos.  

Pudera eu ser o teu andar! Pudera eu ser, então,
Todo o ar que respiras para ir até cada poro teu, 
Invadir de manso tua íntima pele, e na sofreguidão
De ver-te cirandar, rodopiar em mim até ao céu!


Joaquim Maria Castanho

domingo, outubro 02, 2016

SOL VAGABUNDO




SOL VAGABUNDO 

Aquela que eu amo, é o meu amor. 
Não há no universo ninguém tão lindo. 
E, muito menos, até dele em redor
Se me diz «Bom dia» e fala sorrindo. 
Pequena (luz), gotinha qu’é também flor, 
É a nova estrela do céu infindo 
A quem a lua pede brilho «por favor»; 
E as plantas imitam, se florindo. 
Contudo leva os dias a trabalhar
Como astro insigne, ou segundo… 


Mas se houvesse justiça no mundo
O sol pedia ao meu amor pra brilhar; 
Assim, não passa de um vagabundo 
À volta de quem a Terra anda a girar! 

Joaquim Maria Castanho 

sábado, outubro 01, 2016

O NOBEL DA CULTURA UNIVERSAL




O NOBEL DA CULTURA UNIVERSAL 

O momento imprevisto (sem igual)
Cuja b’leza, magia, significado
Devia ser Património Mundial, 
Queiram ou não, já foi encontrado: 
Não é fotografia, alucinação, 
Acertar na roleta, número, sorte
Vencer guerra (apoteose triunfal), 
Bater record, abrir uma casa-forte, 
Filme, livro, quadro, ocasião 
Histórica, hino, ode musical, 
Ópera, descoberta d’El Dorado, 
“Bingar” no euromilhões, ou visão; 
Evitar uma causa de dor ou de morte… 

– É olhar de repente, para um lado, 
E ver-te entre gente, conforme o sonhado! 

Joaquim Maria Castanho