A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, maio 31, 2015

AMPLEXO LUMINOSO





AMPLEXO LUMINOSO

É vazio o eco de uma floresta sem pássaros,
Ainda que restolho gretado sob o sol acutilante
Suplique esquisso no horizonte violeta e rosa,
Cheio do silêncio gritante dos sobreiros solitários,
Sob outro estendal de panos templários (da prosa).

E mais que isso, na penumbra do rés-do-chão
A linha de teus gestos que se desprendem
Pouco a pouco, tudo-nada, cabelos desalinhados
Estendidos como um sonho do olhar recorrente
Que, de visto, nos deixa quase embriagados,
Com os braços esticados na procura cega do ser
Elástico, elegante, ágil, felino de ter-te urgente
Verbo preso na caixa da boca, pronto a dizer
Pelos socalcos das sílabas o crescente desejo,
A tua liquidez desmaiada no ocaso; acutilante
Da estrela da alma prestes a rebentar em luz,
Lá no alto onde apenas se chega por ânsia de jus,
Esmagamento absoluto de perpetuar-te em mim
– AaaSSSSSiiiiiiMMMM!!!! – até as veias rebentarem,
Gretarem a frase pelos complementos diretos
Direitos ao verbo eclodir pra esgarrar a casca,
Pô-la porta aberta a soltar brados, sons insurretos
Despertos pelo teu ledo grito a estilhaçar o medo!


J Maria Castanho

quinta-feira, maio 28, 2015

ESTAS MURALHAS TE PERTENCEM




ESTAS MURALHAS TE PERTENCEM


Não posso dar-te as chaves da minha cidade
Porque é livre e de portas abertas, sem idade...
Mas de tanto nomeá-las, a todas as suas ruas
Se tornaram minhas – e que agora, são tuas!


Tuas, por direito e alegria de um Portus Alacer;
Que aos portos só podem chamar-se da alegria
Se forem igualmente pertença daquela, que mulher
Foi também rainha e luz diamantina, no dia-a-dia.


Portanto, se quanto esta terra teve egrégios avós
É meritória do romance que o teu nome encerra,
Das muralhas de D. Dinis os Pedros somos nós
Pedras de afeto seguro que só por ti se esmera,
E cresce dando-lhe o peito como lho dá a Serra.


Que os montes das oliveiras, penhascos e sobreiros
Onde pascem os sonhos floridos das Maias este mês
Sabes, sem dúvida o fazem para serem os primeiros
A cantar-te em saudade, com baladas a Dona Inês!



Joaquim Castanho

quarta-feira, maio 27, 2015

O ESTILO SOMOS NÓS

 

 

 

O ESTILO SOMOS NÓS

 
Incontáveis copos de vinho
e Li Bai compõe cem poemas.
Dorme numa taberna, no mercado de Chang’an,
quando o imperador solicita a sua presença.
O poeta recusa a barca do Filho do Céu e diz:
“Que Sua Majestade saiba,
este seu humilde servidor
é o rei dos Bêbedos.”

LI BAI

 


“No Verão de 742, de novo na província de Shandong, Li Bai cumpre o ritual de ir ver o nascer do sol no alto da montanha, exatamente sobre a Taishan, a mais sagrada de todas as montanhas da China. Lá encontra meninas de jade que lhe oferecem de beber em taças de nuvens. Mil duzentos e trinta e nove anos depois, em Outubro de 1981, no mesmo lugar, um português, aos tombos pela China, cumpriria, rigorosamente igual ritual” – afirma António Graça de Abreu, no Prefácio a Poemas de Li Bai, editado pelo Instituto Cultural de Macau, em 1996. Omar Kayyam, outro poeta da nossa intencionalidade, astrónomo e matemático persa, muçulmano, e que viveu entre os anos 1040 e 1122, celebra os prazeres etílicos, em termos quase religiosos, não obstante a proibição do uso de bebidas alcoólicas estipulada no Alcorão, proibição essa a que se deve a descoberta do café, que então foi considerado como substituto do vinho. E fá-lo em termos tais, que esse misticismo ultrapassa o purgatório, como no Rubayyat «um jardim, uma jovem ondulante, a ânfora cheia de vinho, / meu desejo e minha amargura: eis o meu Paraíso e o meu Inferno. / Mas quem percorreu o Céu e o Inferno?», ou naquele outro em que confessa que «jamais desejei o manto do engano. / Mas roubaria por um copo de vinho. / Tenho setenta anos: o meu cabelo é de neve. / Hoje quero ser feliz: amanhã será tarde», onde as noções de tempo e propriedade, de ética e de sociedade, são minimizadas face à impetuosidade da bebida. Inúmeros artistas plásticos, não só andaram aos bordos, como esculpiram ou pintaram sob a inspiração de Baco, onde figuram os nomes de Miguel Angelo, mas igualmente Rubens, Velázquez, Murillo, Le Nain, Jordaens, os mestres flamengos e a quase totalidade dos surrealistas da modernidade. Xenefonte, Tácito, os versos de Homero, Anacreonte, Horácio, Rabelais, Baudelaire e Carducci, ou ainda os escritos geórgicos de Plínio, Columelle e Catão, são inegáveis testemunhas da importância do vinho na História (e nas estórias). Exemplos mais recentes nas literaturas nacionais e universal, como o foram Jack London, Blaise Cendras, Fernando Pessoa, Hemingway, Manuel da Fonseca, Cardoso Pires, que não negaram nunca o valor da bebida como auxiliar de criatividade. Da Antiguidade aos nossos dias, o vinho tem estado sempre na linha da frente das relações sociais e artísticas, impondo-se sobremaneira, senão pelo recurso económico e comercial que é, pelo menos nos efeitos que propicia.

Ao longo dos tempos, dispersando-se por diversas tonalidades, perfis, sabores, graus, divinizado ou satanizado, socializado ou marginalizado, o vinho veio no entanto ganhando foros de imprescindível na caracterização das celebrações (de vitórias desportivas, de colheitas, de negócios, de matrimónios e batizados, de inaugurações e de liturgias), da sabedoria (no reconhecimento da palavra e da honra, da família e da amizade, da integridade dos contratos, da reconciliação entre opositores), do amor (na antecipação e preparação do prazer, na resistência às paixões impulsivas e momentâneas, no afogar das mágoas passionais), do ritual (religioso, guerreiro e de iniciação à maturidade), do tempo que passa (iludindo a solidão, esquecendo as limitações ou eliminação do vazio existencial), de todos os dias (às refeições, aos encontros e nas esperas), da saúde (como analgésico, desinfetante e condimento substancial das mesinhas caseiras) e da morte (para “chorar” ou beber o defunto, esquecer os entes perdidos e comemorar ou homenagear datas épicas e heróis); mas foi sobretudo na sua capacidade de transfigurar o tempo e os modos, que o vinho veio a realizar a maior proeza histórica, que até hoje nos foi concedida: a da igualdade. Aquilo que sempre foi impossível pelas medidas de coesão, pelas políticas e reformas sociais, pelas legislações e Cartas de Direitos, pela luta de classes ou pelas atividades missionárias e evangélicas, conseguiu-o somente a tendência alcoólica dos povos, pondo na mesma mesa ou valeta, tanto os ricos e afortunados, os clérigos e os tropas, os políticos e os vagabundos, os doutores e os analfabetos, os condutores e os peões, os valentes e os fracos, os feios e os lindinhos, como os atléticos e os enfezados: de gatas e, às vezes, na mesma morgue.

Portanto, independentemente daquilo que aconteceu no passado ou do que venha a resultar no futuro, importa hoje escamotear, exorcizar, pensar, as motivações e efeitos dum bem, que se mal usado nos pode desgraçar. Esclarecer as relações de amor/ódio com um produto de tão grande poder sobre nós e os outros, é um passo importante para ganharmos patamares de defesa, como de usufruto do prazer, que nos podem auxiliar no relacionamento com uma substância que tanto nos pode pôr a par dos imperadores, à semelhança do que sucedeu com Li Bai, ao ser solicitado à presença de Sua Majestade, como dos velhos ladrões de Omar. Nos pode emprestar o génio de um premiado com o Nobel, como nos pode atirar para uma cadeira de rodas o resto da vida, entornando-nos o cálice da eternidade no asfalto do sofrimento e dependência. Como nos pode facilitar o dia-a-dia ou torná-lo numa dolorosa ressaca, mais ou menos interrompida conforme a carteira ou disponibilidade temporária.

Porém, sendo uma espécie de corda bamba entre bebedores e abstémios, o equilibrista nem sempre mantém a postura da vara, faça ele o que fizer, porquanto se esgueira demais para os lados da imaculada perfeição que é abdicar de si mesmo em favor da sua teoria de vida. E hoje, superiormente às circunstâncias que estipulam o consumo ou não de bebidas alcoólicas, o que está sobretudo em causa é como cultivar a nossa atitude perante este ou aquele produto, que nos pode ser benéfico e igualmente nocivo, e assim definitivamente possamos aprender a conviver com “alguém” de que nunca seremos capazes de nos separar, embora nos comprometa ou nos teste os limites por dá cá aquela pinga. Principalmente porque, como Li Bai, também nos é possível afirmar das bebidas, sem mágoa, que são essa «água faiscando como seda prateada / [que] transforma a terra num céu sempre igual» e nos permite «agarrar esta noite de luar, / vogar na barca do vinho e procurar as flores.” Essencialmente  porque tudo é possível, se acreditarmos que sim. E o vinho e o tempo, é, pelo modo como se usam (consomem, bebem, fazem, gastam, aproveitam, testemunham, apuram, editam) que ganham a diferença – e a qualidade... Enfim, o seu estilo. E esse, somos sempre nós.

 

Joaquim Castanho      

segunda-feira, maio 25, 2015

ZOOM DUM ECO DESPIDO E ESPELHADO




ZOOM DUM ECO DESPIDO E ESPELHADO


Se ao zoom que zune sobre a janela
Se estilhaça a luz no espelho da água,
Então, se se mergulha a sede na mágoa
Nasce por ela o nu desejo despido nela
Aquela que pra ser o que em si havia
Se despiu ali perante o olhar motivado
Daquela que vendo só via o que queria
E não quanto ao espelho fora mostrado.

Que quando zune o zoom cru da fantasia
E vai de janela em janela sendo aumentado
É quase certo haver algo nela, algum dia
Quanto visto ser certo e estar também errado.

Pois que ver é estar-se todo nu nessa visão
E pôr os olhos onde quem só pôs o coração!

J Maria Castanho



UMA APOSTA PELA MUDANÇA, UMA MUDANÇA PELO FUTURO





UMA APOSTA PELA MUDANÇA, UMA MUDANÇA PELO FUTURO


A autonomia e consciência cívica, responsabilidade pessoal e coletiva, a democracia direta e participada, a cidadania plena e irrevogável, o empenho e conhecimento social ou individual sobre a qualidade de vida, a biodiversidade e sustentabilidade ambiental, são as raízes fundamentais duma sociedade equilibrada e justa, emancipada e fraterna, humanizada e livre, que favoreça o são relacionamento entre nós mesmos, bem como entre nós e as outras espécies, entre a nossa e as restantes sociedades e as suas respetivas culturas. Ao invés do que alguns setores egoístas da presente conjuntura sociopolítica pretendem afirmar (no discurso) e confirmar (na prática), o ser humano não vive para a exclusiva satisfação das suas necessidades, nem para o fixado intento de ser feliz (olhando ou não a meios), embora também precise de os conseguir, quer a felicidade como os meios, em termos e patamares plausíveis e positivos, mas antes para a vida, que quer ser omnipresente e eterna, e nos tem a nós, homens e mulheres, apenas como mais uma estratégia, entre milhões de outras conhecidas, para o realizar. Portanto, devemos animar o nosso cotodiano quotidianamente num movimento presente e constante acerca dele, mas igualmente sob os auspícios do futuro e sua providência, a fim de salvaguardarmos a harmonia social, o equilíbrio dos ecossistemas, a unidade do indivíduo e as suas capacidade de empatia, de forma a que se mantenha livre, lúcido, objetivo, livre e autoconfiante face a todas as problemáticas que nos impeçam ou bloqueiem, a cada qual como às comunidades onde está inserido, de responder positivamente às expetativas que a vida nos reservou ou atenções que nos despensa e exige. O ecocentrismo é, assim, a resposta imediata e a atitude consentânea com esta perspetiva existencial, assente em três grande linhas de força ou pilares (integração simbiótica do ser humano na natureza e combate de todos os dualismos que a sonegam – condicionamento da atividade económica e opções tecnológicas que ponham em causa a sustentabilidade e a biodiversidade essenciais – prossecução funcional da natureza de modo a facilitar um contínuo de harmonia planetária), com vista a prosseguir as bases de concórdia interpessoal e internacional num sistema operacional da plataforma ambiental que é a atividade sociopolítica regional, nacional, europeia e global.

Neste sentido importa que nos sensibilizemos quanto à nossa maneira de estar e conviver, de forma a que neles contemplemos a tomada de consciência entre grandeza e grandiosidade –  posto que a primeira é sinónimo de excelência, magnificência, fortuna, honraria, dignidade, mas segunda nos sugere megalomania, sumptuosidade, dispendiosismo extravagante –, a fim de efetuar a mudança social e ideológica que faça confluir a qualidade de vida com níveis de bem-estar (material e espiritual) conformes às exigências dos ecossistemas que compõem o nosso habitat e dos quais também somos parte, e a mais interessada, por sinal, uma vez que cada vez se torna mais evidente, em termos de sobrevivência, que ou sobrevivemos todos e todas (incluindo as espécies) ou não sobrevive ninguém. Ou seja, nunca a escolha se nos deparou tão fácil. E imperiosa.  Ou mudamos, ou a natureza e a vida nos mudam.

Pelo que, e em conformidade com o status quo global  facilmente diagnosticável e à vista desarmada, devemos reconhecer que o florescimento da vida humana e não-humana tem valor em si mesmo, e não relativo aos objetivos e finalidades que lhe determinámos ter de acordo com os nossos interesses; que a nossa riqueza depende sobretudo da nossa diversidade e da diversidade dos seres vivos que compõem o nosso ecossistema; que não temos o direito de usurpar os direitos à vida das demais espécies a não ser para satisfazermos as nossas necessidades vitais; que o controlo da densidade populacional se deve fazer em termos de manutenção e preservação do nosso território e ambiente, e não por fundamentos e necessidades económicas e belicistas; que a interferência da espécie humana sobre as demais é excessiva e abusadora a maior parte das vezes; e que as nossas opções políticas, sendo a política......, devem ser democráticas e não autoritárias, quer em relação a nós mesmos e nós mesmas, quer em relação à ecosfera e espécies que têm igualmente por habitat. Será isso sobre-humano? Não creio. Principalmente para nós, portugueses e portuguesas, habituados que estamos a sair do quadradinho térreo das ideias quadradonas para abarcar a universalidade do ser e do habitar. E essa mudança nunca a fizemos apenas por nós, mas pelo nosso futuro... O mesmo futuro que ora nos convoca.

Joaquim Castanho     

       



sexta-feira, maio 22, 2015

SONHAR PARA FAZER ACONTECER





SONHAR PARA FAZER ACONTECER

E na raiva perdida, o caminho deserto
Pela sofreguidão dum futuro tão perto
Que é ser já ontem em vez de só amanhã,
Nessa rude e imensa solidão, palavra chã,
Soluto da consciência do ente desperto,
Quase viva de crer correr no tempo certo,
Para destruir o que é áspero da meiga lã,
E nascer na aurora de teus lábios de manhã…

Qual tempo de esgrimir o Mal e o Ninguém
Que são todos, pra ter apenas por único bem
Esse refazer da sede no grito d’exigir viver
E ter as mãos que procuram tão-só o encontrado
Na transformação do indiferente em amado,
Como se fosse desejado, o sonho de acontecer!


J Maria Castanho

quinta-feira, maio 21, 2015

PROPOSTA ESCALDANTE




PROPOSTA ESCALDANTE

Para quando a justiça das palavras
Justas? Prontas e imediatas? Acesas,
Que na brandura dos excessos lavras
Para pores o pão e o vinho sobre as mesas?

Para quando a água pura das cascatas
Cristalinas, e das cachoeiras do arco-íris,
Onde matas as sedes dos corpos, se acatas
Seus duendes e magos, com trejeitos feminis?

Ah, pudera eu ser a viva lava incandescente
Dos vulcões do infinito onde o tempo arde,
E mergulharia nesse imo lume, eternamente,
Como tanto hoje ardo, agora mesmo, nesta tarde!


J Maria Castanho

quarta-feira, maio 20, 2015

NÃO SE FAZEM OMELETES SEM OVOS

crónica da semana




NÃO SE FAZEM OMELETES SEM OVOS

Se defendemos um desenvolvimento que promova a afirmação das potencialidades criativas e intelectuais do ser humano, em declarada harmonia com o meio social e ambiente, então temos a obrigação de pugnar por um ensino que valorize as qualidades pessoais de cada um, e de cada uma, no sentido de lhes reforçar o equilíbrio físico, material e psíquico, bem como a autonomia, a responsabilidade, consciência cívica e emancipação basilares, e essenciais, ao desempenho dos seus direitos de cidadania e participação democrática.

Portanto, “laurear” os bons alunos e as boas alunas pelos excelentes resultados que obtiveram nas suas licenciaturas ou mestrados, não significa sancionar ou menosprezar os que não conseguiram alcançar semelhantes níveis, mas antes sugerir-lhes que não devem acomodar-se a eles, conformar-se com a mediania, pois é sempre possível atingir melhores resultados, aperfeiçoar as suas performances cognitivas, e práticas, tal como alguns e algumas fizeram, e lhes trouxe reconhecido mérito e correspondente bolsa com isso. Clarificar-lhes o acesso a mais cidadania e possibilidades de participação na (e da) sociedade. No ambiente. E na qualidade de vida.

Pelo que, embora com anos de atraso, importa registar a notável valia da iniciativa do IPP – Instituto Politécnico de Portalegre – em atribuir diploma e bolsa por mérito aos cinco melhores alunos de 2011/2012, no passado dia 06 (e a saber: Cristina Mira Luís – Educação Básica; Andreia Pereira – Produção Enológica; Anette Reintjes – Enfermagem Veterinária; João Löbe Guimarães – Jornalismo; e Joana Reis, de Higiene Oral), conforme noticia o semanário Alto Alentejo de 13.05.2015, pág. 5, e só lamentamos o facto de terem sido apenas cinco, e não vinte ou trinta como seria o ideal, porque tal significaria terem existido outros tantos alunos e alunas a preencher os critérios estipulados pelo ministério, em  outros tantos cursos que o estabelecimento de ensino em causa ministraria com reconhecido sucesso e serventia social. Principalmente porque premiar os melhores é contribuir para melhorar a média dos demais, bem como apetrechar as comunidades onde estes alunos e estas alunas estão inseridos, e inseridas, com potencialidades/ferramentas significativas para o seu desenvolvimento social, humano, ambiental e económico. 

Sobretudo se lhe abrirem as portas para que ponham em prática (profissionalmente) o seu aprendizado, em vez de lhe invejarem o valor da bolsa que, por mais dois ou três tantos que fosse, nunca lhes pagariam o investimento em propinas e tempo, estudo e dedicação, que despenderam para consegui-las, ou de os exportarem para países estrangeiros como ultimamente tem acontecido, pois que esse sim seria um diploma de verdade e uma bolsa efetiva que lhes proporcionavam, e nos contemplaria também com uma autêntica valia favorecendo a intervenção ativa dos cidadãos e cidadãs, nas suas mais diversas formas de organização e autonomia, em prol do desenvolvimento, que tanta falta nos faz, numa capital de distrito a braços com a crescente desertificação, elevado envelhecimento populacional, fraca empregabilidade e incipiente tecido empresarial, baixo rendimento per capita e incaraterística contribuição para o PIB Regional. 

Porque essas é que devem ser as grandes preocupações das mesas de café e órgãos de comunicação do mesquinho burgo, onde o «que bom pra eles» vigora ainda sentenciando, porquanto são estas questões as que podem moldar o nosso presente e o nosso futuro, e que devem deixar o recatado remanso dos gabinetes da superficialidade do establishment político e administrativo, para vir a terreiro e em celebração de mais um Dia da Cidade onde se homenageia e elogia toda uma panóplia de inutilidades e insignificâncias como se fazia no tempo da outra senhora a quem "o botas" pôs a casa, e telefonia, para poder escutar os Serões Para Trabalhadores ou estanciar nos “equipamentos turísticos” da FNAT. Porque ainda não há ovo em pó que dê para fazer uma açorda de jeito, nem omelete comestível, por melhor que ele sirva qualquer doçaria… Ou há?!  



Joaquim Castanho 

terça-feira, maio 19, 2015

DAS OCADURAS VISIONÁRIAS




DAS OCADURAS VISIONÁRIAS

Têm-se por sérios e intransigentes
Entre os quase-nadas repartidos,
Nesse aflorar de temas tão quentes
Como a fugaz certeza dos sentidos.

Que também quase todos, aliás, são
Confluentes condomínios das mentes
Que agem na oportuna ocasião
Inoportunamente pertinentes.

E aflorando aprofundam tão-só
O que à rama apenas pertence,
Por medo da compaixão, pena e dó
Sentidos por quem sentido a si desconhece.  


J Maria Castanho

segunda-feira, maio 18, 2015

A MAGIA DA MANHÃ




http://www.facebook.com/evolui.verde

A MAGIA DA MANHÃ…

A vida para ser MESMO vida
Há de ter um sorriso assim:
Meigo, feminino, e cuja lida
Escreve poemas dentro de mim.

Dá integralidade ao pão,
Dignifica só pelo olhar;
E (ainda) escuta como quem não
Perde seu tempo só por escutar

Na simplicidade do ser profundo,
Onde a gente é hora florida,
É quem dá razão e valor à vida
E empresta alegria ao mundo.

J Maria Castanho

A MAGIA DA MANHÃ




A MAGIA DA MANHÃ…

A vida para ser MESMO vida
Há de ter um sorriso assim:
Meigo, feminino, e cuja lida
Escreve poemas dentro de mim.

Dá integralidade ao pão,
Dignifica só pelo olhar;
E (ainda) escuta como quem não
Perde seu tempo só por escutar

Na simplicidade do ser profundo,
Onde a gente é hora florida,
É quem dá razão e valor à vida
E empresta alegria ao mundo.


J Maria Castanho

sábado, maio 16, 2015

AMOR CLÃ DESTINO




AMOR CLÃ DESTINO


Quando o vento nos abre as janelas,
Atira as jarras ao chão, fustiga cortinas,
Escreve de rajada na areia das bermas do caminho
O querer apagado das almas imperfeitas
E obriga a bater mais rápido o tic-tac do dia,
Então chegou a hora de sussurrar o silêncio
Do abraço a todos os irmãos e todas as irmãs
Como um élan vital de esperança na mudança
Viva e ativa, fértil e regeneradora do país amargurado…

Porque mais que o ar em participado movimento
Nosso respirar seja o gesto de demora no momento.

J Maria Castanho

REPOSITÓRIO PARA UMA MISSIVA




REPOSITÓRIO PARA UMA MISSIVA


Eu gostava era de dizer-te «espera»
Como quem embarca de madrugada
Sem ninguém no cais à despedida;
Pôr as luvas à volta da garganta,
Calçados pés com botas de pele de quimera,
O relógio atrasado pra retardar infortúnios,
A mochila carregada de livros e jornais
E um envelope lacrado com as disposições finais,
A depositar na posta-restante da alfândega.


Além disso, haveria também espesso nevoeiro,
O que faria o eco remada a remada peganhento
E um mar imenso à minha frente, abismo aberto
Donde escutaria teu distinto silêncio na resposta.   

J Maria Castanho

quinta-feira, maio 14, 2015

O ELIXIR DA FELICIDADE




O ELIXIR DA FELICIDADE

Porque ver-te é como chegar a casa,
Ou ficar a salvo, ou ganhar o dia,
Sentir na alma a brisa do bater de asa
Duma borboleta azul, milagreira;
Ou acender a luz do sonho e da magia
E ver que viver não tem outra maneira;
Nem nunca terá outro jeito de dar certo,
Além do ser assim, a ecoares em mim
Por tanto querer-te tanto, e tão perto.

Porque ver-te é soletrar a eternidade.
É inventar milhentas palavras já ditas.
É saber que os olhos sabem a verdade
Do poder dum elixir quando os fitas.


J Maria Castanho

quarta-feira, maio 13, 2015

NA PEUGADO DO CAMINHO




NA PEUGADA DO PASSEIO

A vida é um caminho
Entre o ontem que se apostou
Sendo, e o amanhã que, de mansinho,
É um quase ser que nos fintou
Acontecendo, logo à beira do ninho.


J Maria Castanho

terça-feira, maio 12, 2015

ANTES MORRER, QUE NÃO TE VER




ANTES MORRER, QUE NÃO TE VER

Pois mata-me o não te ver
Assim, desse azul vestida,
Onde a nuvem ao crescer
Tapará a própria vida…

No que me traz em si outrossim
Perdido e ferido de morte,
Que esse fim, é já para mim
Melhoria de grande sorte.


J Maria Castanho

segunda-feira, maio 11, 2015

FUGIR AO TEMA


crónica da semana:



FUGIR AO TEMA


Confesso que o objetivo de hoje, por ser uma segunda-feira de rapapés, a que antigamente chamavam dia de sapateiro, logo atreito a muita martelada na sola, era o de escrever sobre cidadania. Mas meti baixa-ética, pelo que vou falar doutra coisa qualquer. O rendimento é subsuficiente, os amigos são uns batidos e o empreendedorismo, com as bases enunciadas, é pouco prometedor. Além do mais, os mecenas andam a treinar manguitos para estarem em forma nas próximas legislativas.

Porque há uma estrondosa diferença entre ser-se democrata e lutar-se pela democracia. E não é só conceptual: a segunda exclui a primeira, e esta não admite a segunda; ou seja, é totalmente adversa à imposição de algo superior sobre aquilo que é inferior. Aliás, quem lutar contra ou favor do quer que seja em termos e moldes democráticos, respeitando o adversário na sua dignidade e integridade, na sua diferença e nos seus direitos, liberdades e garantias, perde irremediavelmente e à partida, pois os adversários, que não são minimamente democratas, nem se sentem obrigados a respeitar as normas éticas da participação e da cidadania, vão utilizar essa vantagem competitiva a seu favor, deitando os democratas ao tapete por KO, e logo no primeiro round. Quero eu dizer, que ainda mal pusemos os butes no ringue eleitoral, e já malhámos com os costados no sobrado... Nas sondagens, no acesso aos órgãos de comunicação social, nas mesas de voto, onde só ficaremos representados quase por favor, e em muito diminuído número. 

Simplesmente, a democracia, é o conjunto de leis, instituições, regras de condutas e maneiras de estar democráticas, o que significa não-autoritárias, que um povo constituiu como desejáveis para se conduzir interna e externamente, quer no seu imo nacional como no relacionamento conjuntural e planetário sociopolítico. Ora, todos os partidos do espectro político e legislativo (com assento na Assembleia da República) português, são veteranos da luta pela democracia, exceto o Bloco de Esquerda, fundado há pouco tempo, e muito depois do 25 de Abril-MFA-Povo-Unido-Jamais-Será-Vencido, todavia empenhado intrinsecamente em seguir de perto o mais veterano deles todos, o PCP, cujas origens remontam à arqueologia da democracia portuguesa, ou aos primórdios da clandestinidade. Embrulhados que estamos no celofane europeu, não será fácil deteriorar-se nem ficar fora do prazo de validade, a democracia, tal e qual como a conhecemos, nas suas vertentes clássicas e de após II Grande Guerra. Pelo que, manter e querer usar a semiótica, discurso e estratégias de luta pela mesma, é autêntica manobra de diversão e de empata-progresso; no entanto, qualquer força política que pretenda confirmar-se legalmente democrática através de eleições, executando apenas as suas aptidões democráticas, sujeita-se a ser considerada intrusa e persona non grata nelas. O que é, suis generis, um handicap de notória significação para o efetivo esclarecimento dos resultados.

Enfim, essa ou essas forças (outsiders), vão ser uma espécie de povo judeu para os demais partidos do establishment, ainda hitlerianos, ainda autoritários, arreigados às lutas de barricada como de antimotim, que abdicarão de guerrear entre si e, ante a ameaça que vem de fora, as elegerão como inimigos número-um, e alvos abater, ou sob o desígnio (nacional) excomungáveis, nem que para isso tenham que fazer aumentar o abstencionismo. Como? Não cultivando a cidadania, a atitude democrática, a liberdade de expressão, o esclarecimento das bases, a participação ativa e consciente, a responsabilidade e emancipação populares. Bem como promovendo o ruído, o bairrismo fanático ou intensificando a toxicidade da propaganda. E, diga-se em abono da verdade, somos obrigados a reconhecer que estão a sair-se muitíssimo bem!

Chiça! Lá estou eu a fugir ao tema...   



Joaquim Castanho

domingo, maio 10, 2015

DIVINO NÓ




DIVINO NÓ

Saber o céu por azul medido
E saltar ao léu no luar perdido
Dançando aguado na sede vã
Do amanhã de qualquer lado,

É descer à essência profunda
Da luz, quando à lua inunda.

J Maria Castanho

sábado, maio 09, 2015

A COISA E O SEU CONTRÁRIO





A COISA E O SEU CONTRÁRIO

Sólida na sonegação
Afirma a voz que cala
Quanto lhe deve a imensidão
Que só no azul se diz, só a ele exala. 

Por mim, aceito-a por condição, 
Que já o verbo anda no infinito
Como a nuvem do próprio grito
Sublinhando o “sim” de cada «não». 

J Maria Castanho

sexta-feira, maio 08, 2015

A LEI DAS LEIS




A LEI DAS LEIS

Arrepende-me a alegria;
Envergonha-me o canto.
E, como quem crê, se cria
Escondido no aparente manto
Que a palavra tece, enleia, fia
E doba em novelo de espanto…

Se algo houve, ficou perdido;
Se tanto disse, mais calei.
E quando em mim, enfim
Procurei sentido ou voo,
Apenas teu meigo ser me iluminou,
Apenas teu terno olhar se fez lei.


J Maria Castanho

CRÓNICA DA SEMANA: O JORNALISMO JÁ NÃO É O QUE ERA




CRÓNICA DA SEMANA: O JORNALISMO JÁ NÃO É O QUE ERA.

O tédio tem-se instalado, mais ou menos por todo lado. Na cidade, então, não acontece absolutamente nada digno de nota e reparo. As pessoas cruzam-se umas pelas outras nas andanças de rotina, nas marchas de manutenção ou giros de profissão, repetindo os mesmos gestos que anteriormente fizeram, dizendo as mesmas coisas, alinhavando os mesmos cumprimentos e saudades aos conhecidos e parentes; enfim, são gentes como outras gentes, e não encontram nenhuma razão para serem diferentes, no que fazem muitíssimo bem, que a vida não está pra chatices e já chegam e sobram aquelas que as governações e governâncias nos vão arranjando com coligações e outras manigâncias.

Ou seja, esta semana foi talqualmente o que a anterior fora, nomeadamente no número de dias: seis mais um, que continua a dar sete.

Exceto numa coisa… Uma bagatela.

Na quarta-feira passada, decorreu nas instalações do Instituto Politécnico de Portalegre, a cerimónia de entrega dos diplomas de mérito e bolsas para os melhores alunos da instituição, do primeiro ano da segunda década deste milénio. Cinco, ao todo. E, entre os e as agraciadas, estava o nosso comum amigo João Guimarães, que foi o laureado pelo Curso de Jornalismo e Comunicação. O que é caso para dizer que merecia reportagem…

E teve-a. De facto, e contra estes não há argumentos. Porém…
Porém…

Porém…

Ele, o pai, é que foi o melhor aluno de Jornalismo e Comunicação; mas quem fez a reportagem completa e irrepreensível, foi o filho, o nosso militante Bernardo, que, suponho, ainda nem para a escola primária entrou.

Pelo que podemos concluir, que não obstante o tédio, os tempos estão mesmo a mudar!

Joaquim Castanho

quinta-feira, maio 07, 2015

A LEI DAS LEIS





A LEI DAS LEIS

Arrepende-me a alegria;
Envergonha-me o canto.
E, como quem crê, se cria
Escondido no aparente manto
Que a palavra tece, enleia, fia
E doba em novelo de espanto…

Se algo houve, ficou perdido;
Se tanto disse, mais calei.
E quando em mim, enfim
Procurei sentido ou voo,
Apenas teu meigo ser me iluminou,
Apenas teu terno olhar se fez lei.


J Maria Castanho