A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, agosto 21, 2011

RECUSO


Recuso pensar-te só na madrugada, e ao frio.
Recuso imaginar-te doente, sofrida ou sob depressão.
Recuso abandonar-te no silêncio mudo e ímpio
Quando a chuva selvagem fustiga o saguão.

Recuso a família ardilosa que me diz mal de ti.
Recuso o perfume das rosas nos dias em que te não vi.
Mas recuso. E recuso. E voltarei a recusar, enfim
Sempre que algo me distorça ou te afaste de mim.

Recuso a morte, a saudade, a dor, a ansiedade e o medo.
Recuso a voz que se esconde por detrás daquela máquina cruel;
Recuso a pobreza; recuso a fome, o exílio e o degredo,
Assim como recuso a mentira, a intolerância, o ser-te infiel.

Recuso a cidade, a glória, a fama e tudo quanto encerra em si.
Recuso a riqueza, o poder, a vilania. Tudo recuso: só te não recuso a ti!

quarta-feira, agosto 17, 2011

ABSTRACÇÃO

Fitando a chuva tu olhas
Entre nada e coisa nenhuma há;
E perto das cores que desfolhas
Estás, longe de ti, como quem não está.

És um ponto indiscreto de soletrar
Um silêncio a descoser-se na sutura;
E quando te miras, já te não vês murmurar
Quem querias ser, numa emenda futura.

Podias recorrer à insensatez de sonhar.
Podias esperar na imensidão do dizer.
Porém... preferes, simplesmente, estar.

Podias esconder a franca nudez de ser.
Podias pensar na contradição de pensar.
Mas no contudo, porém, queres apenas ler!

segunda-feira, agosto 08, 2011

NO BALANÇO DA LITEIRA

Assim, se houvesse alguma razão especial
Para crer que as crenças são fundamentais
Diria, sim diria, neste rumar por rimas adentro
Na cadeira de arruar fazendo o balanço ao real
Que mais que a sede há os pródigos murais
Que virtuais, neles mais te leio se me busco
E no contato brusco do instante me concentro…

Porque a principal fortaleza que na vida haverá
É a leda seda cujo fio o passado no futuro tem
Feito linha de entretecer o momento conforme está,
Momento conforme o desejo quer se o ser se atém
Que o documento só é o momento que do passado vem,

Passo a passo como onda de luz que na areia se desfaz
Que isso de dançar sob o vaivém cadente da História
É muito próximo de ser autêntico quando é ser capaz
De navegar pelas páginas dos pergaminhos da memória.

Que o breve é leve quando ao se prolongar se faz curto
Qual silêncio que entre notas de sílabas acesas nutro!