A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, dezembro 15, 2008

Nos Nós Dos Limites

Sonhar é apenas um constante precisar do outro
Invejar o que lhe acontece, o que felicidade lhe dá
Correr à solta pelos vales e prados como um poldro
E estar sempre presente, mesmo quando ainda se não está.

Pode ser só um libelo de bronze em oásis morto
Ou o cinzento das nuvens de Bombaim a Calcutá,
Ou o frio glaciar do ensimesmado eu, olhar absorto
Em que esporadicamente o semblante se me queda e quedará.

Pode ser tudo, e também pode igualmente nada ser
Como uma simples ideia a que sem cessar nos damos;
Pode estar inscrita no próprio corpo e todavia esquecer
A prenda prò outro no nosso aniversário ou no seu dia de anos.

E isso, a qualquer um pode acontecer!
E isso, a-qual-quer-um-pode-acon-tecer!

Mas eu, eu que fui abandonado pela mulher que me pariu
Como afugenta uma teia, um limo o apressado nadador
Nunca minto,
Porque mesmo quando afirmo por verdadeiro
O fluxo de irrealidade que somente sinto,
Me é solicito ser esse ser primeiro
De entre a realidade que há muito me fugiu
O conjectural e urgente inventor
Daquilo que me falta por abundância – o amor.

Eu, que cruzo a multidão batalhando (n)a indiferença
Como se combatem as possessões perpétuas ou bruxarias,
Nunca escondo;
Sei subir a cada outeiro
Como se o mundo todo redondo
Escoasse adiando o momento derradeiro
Do nuclear selvagem e
pershings dos med(i)os-dias,
Ao ser homem sem licença das hierarquias,
Ou cão rafeiro, dono de incautas estrofes – as heresias!

E no fundo, que ou quem serei eu?
Nada! Filho da terra, amante da água,
Onda esbatida contra a quilha do progresso,
Parto de silêncio entre o mar e o céu,
Restos ressequidos da niquelada mágoa,
Ponto de partido para qualquer regresso
Ou chegada.

Tal e qual, como no fundo também sois vós...
Nada. Igualmente nada, meus irmãos. Regatos desaguantes
Talvez leitores, energia motivadora de vontades inquebrantáveis
Nos sonhos de solidariedade de pais e avós
Pequenos entorses do querer no crer renováveis
Memórias prontas para empratadas iguarias do esquecer
Que o único pronome que vem antes e depois nome
É o Homem – e esse, somos nós!

sexta-feira, dezembro 12, 2008

Metáfora do Fruto Coroado

Foi no avelã maduro dos teus olhos que se me crestou o ser
E a alma, em ti de tanto procurá-los nela sem fundo me vi
E se alguma, agora calma, sinto neles, por eles sinto e subi
Ao ver quanto me vendo deles afinal desvendo só de mim,
Que sou teu, como não sendo outrem e ninguém será assim
Solidão aberta relha de arar o chão ardente num secreto ver
Asilo rendido ao anil silente do sol alquimia e récita antiga
Como no gral se mói o sal e desejo em romã doce e amiga!

segunda-feira, novembro 17, 2008

Luz Una e (In)divisa de Sustentar os Astros

Manhã ainda e os meus pintassilgos voam como golfinhos
Nos céus descrevem ondas de emulsão em linhas de balanço
Riscam o azul boreal com vagas de cores num chilreio vivo
Cantam de amarelo as asas sublimes hinos devotos ao Sol
Par de solistas trinando suas estrofes à realidade de Arina
Nossa rainha de luz sobre as águas nas violetas esvoaçantes
Cujo vazo de guerra é tão-só a concha solta nas dígitas mãos
Livre com seu molúsculo encarniçado das marés em fogo
Vulva doce seda mansa sobre a imensidade azul oceânica
Gesto de Gea gritado voo dos ombros cumes do tenso arco
Pleno e esbelto colo com ambos os seios apontados a Ítaca
Meu amor sob a fresquidão das palmeiras de folhas hititas
Serei teu na soprada brasa de repetir o cintilar das estrelas
Por cada noite na lua cheia sob quadrícula toalha da Aurora
Na tenda em círculo apenas iluminada por esses teus olhos
Aqueles olhos são todos os olhares que vêem os fundos mares
Sombras no rosto de jade na matiz do lótus à tona do lago
Espelhado oásis que nunca regateia a equina sede de Borak
Nave de galopar sonhos como golfinhos na bruma galáctica
Serei teu, porque irremediável é a entrega que nos sustenta
Voz incendiada na cruz das palmas frescura amena em regatos
Matinais riscas da alma em xis como seus incógnitos destinos
@cesos na álgebra soletrada por Ísis na união das liberdades...

segunda-feira, novembro 10, 2008

Soneto Suspenso em Ondas Luisinas

Ledos os últimos se insurgiram ao sistema antigo
Antes soturno e insignificante à utilidade literária
E livres usaram a irreverência sábia de aspergir
Alvoradas sobre as insalubres urnas da liberdade
Locais de usura e impotência sofisticada adulação
Adornaram sentido aos indiferentes utentes do livro
Leram a unicidade infinita da sociedade das artes
Arderam ao Sol incandescente da união langorosa
Legaram ultramarinos ícones de saudade e ausência
Abrigaram segredos indizíveis no útero das liras
Louvaram unas incandescências na sorte de Arina
Alisaram de sonhos infinitos os ulmeiros e louros
Legítimos ulanos do idílio no siar dos argonautas...

quinta-feira, outubro 23, 2008

S@S

Já unimos ditongos ideais nos trevos e ervas silvestres da serra
Todavia é quando assim a cidade me nasce dos pulsos abertos
A noite a escorrer-me pelos dedos e pingando o chão dos dias
Eis como me fica ali a voz esgarçada salpicando aqui silêncio
Coisa de somenos na estranheza púrpura mas dourada aurora
Instantes silentes e cintilantes no granito vozes estremunhadas
Os pomos dos dedos apalpando esperança polpa que amanhece
Encontro propício com teus olhos à esquina do tempo balcão
Das horas varanda de ver passar a nossa história apenas mágica
Imaginação no dito inaudito as pétalas juntas como pálpebras...

Todavia direi: junge, une os dígitos ideais totalmente enleados
Emaranhada decapita-me ao passar colhe ainda o sigilo breve
Atira-me o cérebro na distância das estrelas o fogo em nébula
Apenas ao teu esgar entre enigmas e soslaios na fé sucumbo
Bate-me o coração o sussurro dos teus passos onda na calçada
Respirar sincopado soprando as folhas de plátano numa dança
Coreografia própria do amarelo torrado a aspergir a verde relva
Talvez e tão-só recital de espera na esquina que adiante segue
Labirinto do sonho entre portas e muralhas entretecida memória.

Podes repeti-lo ante toda a gente que calar-me-ei bem avisado
Ouço o destino ainda o indicador em riste sobre os teus lábios
Breves frestas as pálpebras seteiras fitam sei que sabes que sei
Cúmplices testemunhas as pessoas passam para o seu trabalho
Algumas entretêm-se no café até derradeiro momento piparote
Calculado no relógio o pulso pinga os minutos sobre o xadrez
Mosaicos pretos e brancos pois é este chão que ambos pisamos
Mesmo quando corremos à desfilada no jardim dos labirintos
Porque já unidos (1+1=2) dígitos da igualdade tão emaranhados
Abrem na sombra a fresta do teu nome medindo-me o pulso
Veia verdejante em beijos de segredo sussurrados a uníssono
Como uníssono é ser que sendo se sonha no sonhar do sonhado!

segunda-feira, outubro 13, 2008

Edital

Tenho andado bastante preocupado – ultimamente – a sério
Com os meus pintassilgos; é que eles desapareceram assim
E não disseram para onde foram de férias, o que é mistério
E eu desconfio, que não sendo eles lá muito dados a lérias
Algo deveras lhes aconteceu, imperiosamente os demoveu
De voltar, como igualmente os obrigou a esquecer a prosa
Desta forma assaz ansiosa com que os continuo a esperar...

Por favor, se alguém os vir, transmitam-lhe o meu recado
Digam-lhe nesse algures em que estiverem e permaneçam
Que não esqueçam, ou que se não for de sua livre vontade
Há-de sempre haver aqui, um lutador advogado da verdade
Que por vós pugnará, com alvíssaras e caprichando no risco
Fazendo dos seus verbos, ideias, actos e gestos aquele isco
Indomável sonho, petisco com que a vida pesca a Liberdade!

terça-feira, setembro 23, 2008

(A + B) x C = D

Pus as mãos em concha na água da fonte nascente dos rios
Que ao princípio era o nome soletrado beijo se fez espuma
Seiva, saliva, soro que a língua tornou verbo interligação
Da qual só se saberá o significado se aberto completamente
E entendermos que lhe escorre dentro transparente e fugaz
Veloz Borak à desfilada pelas secretas planícies do silêncio
Leva-nos ao acto e devolve-nos de volta apenas numa noite
Que Ela transporta a pérola do olhar de Rita, a leda rainha
Aquela que habita a nave onde Sarah é a ternura e princesa
Sucessora do lácteo brilho liso espelho no mar de estrelas
Farol que encandeia os deuses e lhes guia a sôfrega alma
O Shofar soa agora acompanhado das liras lídias e frígias
Entre o azul da solidão cósmica e opaco luto da eternidade
Manto de lusco-fusco e apresta aurora tingida em púrpura
Nácar e violeta madrepérola esculpido espólio de Pompeia
Na tecida tez de aveludado pêssego que a boca consome
Soletra líquido sol suculento fogo de incendiar o sangue
Nenúfar incandescente em nocturnos lótus da grega Nisa
Euclase lapidada nas faces de seda de Margarittas em flor
Pétalas silentes da silene nos nichos de granito os umbrais
Portas do templo do corpo por cujos seios gritam aos céus
O mel dos figos maduros na cremosa espiral do teu néctar
Oceano onde A e B vão Cerzir o Delta irreverente do sonho
Signo de Albatroz no anel dos gomos das pirâmides de Gizé
Primeiras letras do verbo no alfabeto da soletração de Reia
Gaia semente onde a amizade se transforma em sabedoria
Capital próprio de investir no ganho certo da amizade universal

quarta-feira, setembro 17, 2008

Capa de Ninfa

Tu, a quem Afrodite imita
E fazes das deusas uma beleza menor
Ou permites às estrelas terem o olhar de Rita
Quando lá do alto nos miram, acredita
Sem favor, não és só mais uma mulher bonita
Mas simplesmente a Deusa do Amor...

Pois que o sonho também sonha e aspira
Encerra o grito de tornar-se maior
Que é entre a espuma que a escuridão expira
Como no canto de uma qualquer lira
Em cujo tom o calor da voz transpira
O suor inventa a ternura e esta inventa a cor.

Inventa a aurora, inventa os dias
Inventa a púrpura do lusco-fusco à beira-mar,
Inventa a luz que à noite explora,
Que se no mundo há a alegria das alegrias
É ter o futuro feito de outroras
E o presente distraído no olhar
Quando ao ver-me a ver-te me demoras.

Prendes, cativas, manietas, atas
Enrolas ao corpo de Pitonisa grega
E me escondes sob a cabeleira negra

Das sedas e veludo de tuas capas!
Brados nos bosques do templo

Feitas que foram as preces ao inumano divino da acerbada fé
Sucumbiu este aos impropérios designos do predador cabal
E o que era rasgo sublime no real violento crime se tornou Sé
Embora que na malícia doce dos coros das virgens da pia moral
Viessem vis cisnes acicatar devaneios em satã seu senhor feudal.

Consumaram-se sacrifícios e executaram oferendas libidinosas
Sob a pira resta agora a infiltrar-se no chão aquele fio de sangue
Por arder o vermelho vivo coagulado intocável das forças ciosas
Como profana gargalhada de desmentir a morte dura ou langue
Consternada oposição a contestar pelo profundo idioma do ser
Que arreigada condição teceu gritada cor num vestígio de viver.

E esta linha se avolumou só por seu próprio modo a borbulhar
Erguida de si mesma fermento levedado querendo-se alimento
E alimentando-se do seu querer apenas fé de sobrevivo alento
Ousada semente de génio que ao gene nunca permite naufragar
Que sobre a história nasce a memória mas dela não haverá fala
Se àquilo onde se cala por contraditória não sobrevier o imaginar.

Nesse cimento com que a conjectura rendilha qualquer momento
Enreda a solto quanto ata os factos na rede de acontecida malha
Entretecendo o destino de pontos avulsos onde até a sina falha
Sendo ela acontecida acontecimento e calha de seu próprio tento
Que ao tentar-se intentou fazer-se em si e ao seu mesmo tempo.

Confluência entre querer e acção sem destrinça é apenas facto
Que ser humano de nascida condição só se o é quando for acto
Forma que enforma reformando o ser conforme quanto se quer
Alinhavo entretecido entre quereres num esclarecido propósito
Tão complexo que pouco se basta desde que somente depósito
Do quanto lhe adveio herdado dum homem mais duma mulher!

quinta-feira, setembro 11, 2008

Notícias da rara hera que é...

Sendo alva a névoa doce no repentino amor
Ainda retido dentro da nívea alma do sorriso
Nada acalmará a sede aberta e rumo de aviso
Destilado na rima acérrima sina do navegador
Remando aceso sobre as águas novas do destino
Antigo da saudade amiga nascido desse resigno

Seiva audaz navegada dobagem de renovar os anos
Artéria das naus na diáspora rubra aurora dos solitários
Nuvens e dosséis rodeando ansiedades subtis acasos
Divinas reservas ante o sofrer e alívio dos nativitários
Reduto auspicioso do suco ancestral noite dos desenganos
Alcantilados sobre a áspera negação do díspar remanso
Algodão rosa e doce das nascentes almas sibaritas
Sumo da alegria nova distinta das regras avitas

Saber assente noutros desígnios raros mas auríficos
Ária e néctar de dessedentar rubis acesos e soberanos
Nados destemidos a render auxílio a serenos andanhos
Destras revelações das almas sibilinas afeitas a nativos
Redomas e ânforas do sangue austero neste decante
Alfazema somada do avindo nível ao dócil remate

Soluto do almofariz e nardo a deduzir resina ateada
Acendidos núcleos a deferir rosas adstritas ao ser
Nascentes decididas de renovo em áureos siares alada
Dizimando resistências e anáforas sem autoridade de nascer
Receitas, adágios, sofismas, acintes, negativos ditados
Ardis silentes de auferir núbeis devaneios romanceados
Doces rebentos de algas sonhadoras no alento renascidas
Naves defensoras das réstias da alma sempre amanhecidas


Sonetos autênticos no naufrágio das digitais redes de água
Andarilhos nenúfares desses rios no âmago dos sentidos
Navegáveis dentro das ruas como antigos sinais adidos
Destas ravinas abertas no segredo aliado das Ágoras
Rebentação ansiada do sonho alfanje natural dos deuses
Antiquários sequiosos da alegria nascida nos doces revezes

Sebe altaneira aos náuticos desvios ao receio dos amantes
Andaime noctívago ao desvelo dos répteis amigos no serão
Nascituras donzelas reféns aprovados sobre admiração
Dívida registada e amparo sentido de activos navegantes
Região de abrigo secreto da amizade nascida do desejo
Auxílio sumptuoso às almas nobres no destino rendidas
Reparo de atenção sucinto da aurora navegada às desmedidas
Desterro natural no acróstico sublime e ária de realejo
Nativa docente do real salvador aclamada por aedos
Asilo recente da deusa e ninho das almas solfejadas
Sempre airosa e nova que no desejo reitera o amor!

sexta-feira, setembro 05, 2008

@lbatroz On

(Notícia de última hora: Andam remando sonetos no ar onde os argonautas do sonho recolhem almas no céu aspergidas, reluzentes e à deriva no olvido, em silhuetas de ouro. A algumas (Negreiros) cativaram-nas; a outras, não.)

Havia uma incandescida multidão fremente à porta do verso
Adornada com flor de sal a soleira desmaiava nos umbrais
E entre as colunas do cais os barcos erguiam as velas ao céu
Gritando sua cruz como farrapos brancos às esquinas da luz
Havia o sorriso amainado nas réstias azuis como silente véu
Confinadas arestas dos ombros sombreavam as rubras areias
E cintilantes auras reflectiam doces odes no solfejo das ondas
Porque auferiam do regresso do ansiado rosto na alma refeita
Clímax de abrir rosas divinas em odores sentidos na ode eleita
Cascata sinuosa de anéis resolutos das águas rimadas a sangue
Penteadas na seda airosa dos rebentos auríferos e beijo langue
Cuidado no aroma rebelde dos doces oásis em saliva oblatados
Senda aberta no remanso das algas listradas das vestes leoninas
Clube de ambos no rendido desejo de ouvir o silêncio do olhar
Alvo segredo recolhido amor nas sibilinas sílabas de ser e arar

quarta-feira, setembro 03, 2008

São os ires e voltares de Arina na areia em raios X quem ilumina
E há no tempo altares de abrires a íris ante os milagres que vires
Relógios biológicos dos noves redondos às novidades da gravidez
Porque a dança dos números na cadeia da existência exige tua tez
Neles há elos que entrelaçam a urgência alfanumérica na sensatez
Se despem dos caprichos sulcando nichos de fluorescência e canto
Verdes ramos de silene nas frinchas do manto em retalhos multicor
Esculpidos nas escarpas do ser ainda investido da perfeição divina
Falésias fustigadas pelas marés do amor que a si mesmo se ensina
Quanto só se ama amando na vereda feita por quem muito caminha
Autoestradas a uma outra Roma sem César nem o incendiário Nero
Novo calendário onde os Setembros são noves e o nove apenas zero
Recinto aberto dos deuses que duros não fogem e muros esfarelam
Quando as humanidades às vezes fiéis a seus poderes divinos apelam
Mulheres e homens tão-só sem os absolutos corcéis da exigida voz
Idades médias da refrega em laços redutos de refúgio e pura entrega
Socalcos na arena onde perante o temor o último reduto somos nós
A sós feitos nós da rede as mãos damos nos Íris conforme vamos
Assim a noite ensombre o dia e a sombra do mar na terra maresia
Que todo o ph está apenas no fósforo em Pi rico desta filosophi@
Dita nas Ágoras invisíveis e fóruns de ouro dos sentimentos vivos
Como seguro SOS da liberdade nos W que vítreos vencem os e-crãs
Transparentes almas à solta e triplo salto do sonho em solfejo digital

terça-feira, setembro 02, 2008

Os meus versos não são versos são estrofes preces sem contrição
Actos livres e soltos à consignação do verbo vértice do parágrafo
Vertigens brancas de espuma que medem a sofreguidão do mar
Escorrem como areia molhada no raio X de todos os impérios
Roma em concha de tuas mãos imperecíveis de navegante à tona
Solitária flor entre grãos das escarpas rochosas do ritmado pulsar
Remada de comprimento da onda vaivém na respiração completa
Inspiração própria do coral que expira na espiral da monda certa
Segar escolhos de escuma nascida nas esquinas da escuna rasgada
Objectivo final da rebentação do ser a ferver na praia desmaiada
Em balões de vidro sobre o areal manso do ventre ao remanso
Enseada aberta como porto seguro dos sonhos oráculos sagrados
À flor da História na memória de alerta infinito feito onírico sal
Sol em @nforas peregrino a soldar ocasos fiéis a idílicos abraços
Entre o poder que cura quando saras a pedra em frincha aberta
Altar onde florescem os nomes que ligam o sangue na ara secreta
Anseio digital no gineceu de Itaca onde Hipátia segrega mel sábio
Sede de alianças que se entrelaçam no sereno repouso dos deuses
Estendidos na areia ao Sol cintilando como esmeraldas facetadas
Polidos pelo esmeril da mão das palmas desenhadas idas palmiras
Leques de bafejar fresquidão ao regaço da senhora dos planetas
Renovar os dedos dos sonhos que se entrelaçam cobras sôfregas
Na vara da fala que não sucumbe aos medos e deles a si nada cala
Desde que hajam agoras raros alcantilados no silêncio dos olhos
@bertos ao sigilo das ondas fulgentes na Iris das auroras vigentes
Auríferas lágrimas de euclase na pura face do Mercúrio que cura
E saras com o fogo da palavra pré-bíblica numa cobrança decimal
Gesto de reserva e tranquila submissão ao elo universal das estrelas
Nove sejam elas que tu a primeira reconhecida igualmente planeta
Lava de Lua amoldável na bigorna dos Hefestos da palavra acesa
Dízimo em receita dos contributos divinos pelo aluguer humano
Renda paga pelos deuses para poderem imitar homens e mulheres
No corpo e nas vestes, nos prazeres e na beleza, no ser e pensar

sexta-feira, agosto 29, 2008

Caduceu das Letras

Neste caduceu herético nunca tentarei conduzir-te e avaliar-te
Nem contabilizar em conta-corrente aquilo que és ou não capaz
Que não quero sob controlo oprimir-te e muito menos libertar-te
Que jamais quererei o teu mal e nem sequer quererei o teu bem
Porque deles só tu sabes o que é, somente tu e mais ninguém.
Não quero ou sei o teu futuro, nem sei nem quero o teu passado
Como também não quero teu longe se me estás no peito calado
Porquanto é apenas aqui que te respeito e só teu agora me satisfaz.

Mas diz como é difícil corresponder aos apelos do imediato
O exacto ângulo do corpo quando este se arqueia para o salto
Fica na posse do instante como pose de constante rima e leme
Alma a compartir-se e multiplicando-se por novas essências
Frame que freme quando se queda perante a quieta espera de agir
Como é difícil esconder as mãos dos olhos que sustêm a rédea
Matar as suspeitas adivinhações que obrigam regressos sem idas

Imóvel e atento ao próximo dobrar de cada esquina desconhecida
Não esquecer para melhor descansar no desconhecimento de si
Entre Berlim e Pequim quantas malhas estrangularam teus nós
Quantos soldados e informadores da ditadura da ignorância
Quantos pagens da má-fé e loosers militantes do caciquismo
Jungiram a espada e aperraram a inveja maledicente do preceito
Nos silentes santuários do silêncio destilando em súbdita voz
O estéril ódio e a intolerante peçonha do medo corporativista
Da podridão preceptiva motivada do burro coça outros burros
Irmandade das bestas que do coice elegem o afortunado beijo
Tribo da ululação em volta das caveiras abertas pelo seu gesto
E desconhecem como é difícil corresponder ao apelo do corpo
Exímia alma que desnaufraga no imo oceano das sólidas coisas
Está na laçada posse dos compartidos núcleos hélices oculares
Duplas serpentes que se enrolam e entrelaçam à volta do nome
Asas de ara e trompas de Falópio que erguem altares de fogo
Ovos incandescentes como sóis ou estrelas sem calados poentes.

É difícil corrigir os leitos dos rios sem lhes alterar as águas
Que dentro outras estendem as margens para lá de todos os lás
Abrir janelas pela manhã e não esclarecer as intenções do gesto
Dizer «bom dia, Sol» abençoar a tua graça Arina, coisas assim
Simples abalos na terra entre os socalcos dos corações vazios
Repor a ordem depois dos tsumanis e vulcões mais impiedosos.

Como é difícil a calma e tranquila indiferença ante as vírgulas
A opaca lucidez nebulosa mancha de estrelas e lácteo brilho
Teu olhar viciado em contemplação do nome que floresce luz
Entre as frinchas do granito poroso da História eclode a flor
Como do bronze polido dos ombros descem os seios erguidos
Para a boca da fala plenos e cheios como astros a rebentar
Dedos prestes a decifrar a ceifa espiga nas entrelaças mãos
Prontidão inegável de todos os caminhos das cinco esquinas
Nós de balizar o rosto entre as abertas palmas que se tocam
Linhas cruzadas para Itaca na rede em que os nós da velocidade
Não atam antes desprendem e libertam a espuma pelo rigor
Ondas que se contraem e distendem no salto de franquear o ser
E se espraiam desmaiadas entre os grânulos rochosos dos dias
Balões de clepsidra soprados de boca em boca como verbos
Súbditas ondas a fulgir incandescentes auroras @ntes e-scriptus
Póstumos mas aliados irmãos fidedignos operando sofreguidão
Urgência pura do grito que salta as barreiras do silêncio sofrido
Sacrifica na ara o sangue a escorrer nas sinuosas linhas do corpo
Cálices de silene onde fermentam idílicas aspirações alvas unhas
De agarrar os minutos de areia na concha das palavras ciciadas
Quando se tenta dizer a alma e nela delas proferidas se prefere
Saber ouvir fulgentes e íntimos anéis nos sinais olímpicos do sonho
Porque se soubermos soletrar as ondas fintaremos as ignaras aspas
Que calam e silenciam significados na ignorância sublinhados
Manietam e aprisionam a metáfora na falta dos termos próprios
Negam o solfejo ousado de fingir o impossível com autenticidade
Caduceu das letras que é pedra-de-toque singela ara dos sentidos
Multiplicação do cinco onde se aprende a saber ouvir os silêncios!

sexta-feira, agosto 22, 2008

Sileno Ourives Forja Infinitas Almas

"Levanta os dedos: cinco
e outros cinco – dez.
Erguidos para o Sol,
Translúcidos rebentos."

(Egito Gonçalves)

Morrer é fechar a porta com o gesticular mudo
Esquecer surdo, ficar às escuras e boquiaberto
Ter a língua de quem corta ou bifurca em tudo
Inocentes bocas puras com a aridez do deserto.

Fazer das crianças letra morta, pesponto sisudo
Ou ponto cruz cinzento dos bolsos nas costuras,
Que cada trapo comporta na rodilha do entrudo
Entre refegos das texturas e sacanas com canudo.

Morrer é erigir perto o santuário do silêncio, aqui
Escola do medo e ignorância na gestão autárquica,
Preferir a missionária razão exemplar da suástica
Ao segredo da transparência que em teus olhos vi,
Teus dois seios afoitos rompendo auríferas @uroras
Cálice de silene ousada a fabricar infinitos agoras!

terça-feira, agosto 19, 2008

Sela e Arção, Rédeas de Artemisa Hipátia

Do Olimpo Lis Hartel saúda os duplos peitos medalhados
Par de seios ao puro laço de olhar infinito a eterna moradia
Vivenda dos vivendis modus que habitam hábitos divinos
Dinamarca dos meus reinos onde cavalgas adestramento
Moldas o destino fazendo-o cepilho de teu meigo ventre
Domesticas sob tuas coxas o selvático alento e fértil fulgor
Diriges com estalos de língua e rédeas de harmonia o silêncio
Comandas o verbo à solta pelos ângulos da ternura sem freio.

Espero-te à sombra da expiração profunda de meus versos
Haverá sempre saudade nas esquinas da cidade desabitada
Sempre síncopes de soluços entrecortados sinais de morse
Entre as almas simples esperar não é assim tão desastroso
Apenas fere a dolosa ausência matiza as tardes cor de fogo
Incendeia de ânsia pelo reencontro na reconhecida voz o til
Pois só tu
saras o silêncio que há nas vírgulas das estrofes
E agora sei da semana concreta da minha morte o tamanho
Exacto choro medida do meu doer no delta aberto dos olhos
Ansiedade liquefeita aço de minutos redondos e perfurantes
Brocas pontiagudas como espinhos no diadema dos sonhos
Croquis de intenção no esboço da cultura em areal deserto
Espuma desmaiada sobre quem navega a concha da memória
Teu batel cimeiro no comando das tempestades do mar chão
Se outras leis geradoras de alternidade se quedam caquécticas
Sonegam a autarcia responsável e autêntica porque têm medo
E tal como a sequestrada de Poitiers que vivia num chiqueiro
Pocilga de convencimento e violação pelos nazistas celebrada
Implorou em prece prostrada aos Aliados que lhe não roubassem
A sua linda casinha lodeiro corporativista de afirmação suína,
Assim essa chicória de répteis das muralhas de outras eras são
Assim são as osgas perto da luz para caçar os insectos incautos.


Mas o Pégaso branco de Aras voa agora em Berlim sobre as areias
Altares fixos como rectângulos de pedra e lousa no imo do lar
Sela-as de ternura a grinalda cilha aí contigo nas asas do voo
E galopo o sonho no coração em trote que em valsas se demora
Piafés, deléveis empinos, ladeados, passages no adaptado jumping
"Vernissage" em cabriolas de quem muito a si mesma se sonhou!

quarta-feira, agosto 13, 2008

Sem Ansiedade no Repetido Alento

Que toda a vida é apenas uma palavra líquida
Incluindo a minha, digamos sangue, digamos
Digamos água corrente bebível a sôfregos tragos
Digamos regato que se esconde nas areias quentes e desérticas
Entre os poros da tua pele, subterfúgio de porcelanas
Amanhecidos marfins ante as portas de jade.

Digamos o escoar clepsídrico nos ponteiros da sinonímia
Literatura de sofreguir o momento sob a urgência (geo)métrica
Instante que vaza sobre o cálice do corpo a mágica sede.

Digamos imediatez no abismo estreito do abraço apertado
Lúdica entrega ao acaso descendente do ocaso na planície
Mergulho no outro lado exímia investidura leda no lá do lá
Ritmo animal que pulsa e se contorce na revulsão do ser
Sonho desnudo na boca dos olhos que gritam a saudade.

Digamos salto de corça na clareira das folhas impressas
Gesto, esgar, repente, gargalhada de arrancar ao movediço chão
O pavimento polido e xadrez interior da palavra tudo.

Digamos sílex acutilante, digamos recorte no espaço
Digamos teu nome sem ansiedade mas repetido alento,
Digamos desfraldada vela na crista da onda à proa do vento
Digamos murmúrio de dizer beijando o beijo em teu regaço.

terça-feira, agosto 05, 2008

Ângulos de Soprar as Areias Raras

Enfim, saberás tu Hipátia dos meus secretos hexámerons
Bela sábia lapidada pelos gangs missionários do medo
Como o traidor Sinésio de Cirene me induziu em erro
Me fez crer serem suas as teorias explanadas no recato
No terraço neoplatónico onde trocámos impressões raras
Sensações traduzidas por convertidos (Judas) resignadores
Que sonegaram o prazer do conhecimento de si mesmos
No tranquilo controlo das inquietações se acende o sentido
Significado e sensação únicas vias para a ética até Ítaca
Desde que Thera sucumbiu a Roma me entrego agora a ti.

As uvas ainda não amadureceram mas a sombra das parras
Ilumina de laivos e chispas o jarro de limonada sobre a mesa
Os dois copos que o ladeiam, os teus dedos prestigiadores
Prestes ao dígito clique de acender verbos tácteis atingindo-me
Saliva aglutinada de silvestre e lânguido planger do vidro
Na porta que não tem porta apenas a cortina dança e balança
Sob a brisa de tuas passadas lestas no baile da túnica e tules
Estremecer da cal branca ante gases e linhos nos alvos godés
Conforme a lua se ergue me prende a beijar-te os níveos pés.

Ainda peço tudo demais as horas falhas de azares ou sortes
(A)parto-me delas e sofro mortes quando nelas demoras
Se entanto esqueces milhões sucumbem aflitas consortes
Nortes indiferentes aos lábios da bússola o sexo me escora
Fulminantes as vozes de pedir água plangente cristal na luz
A fonte quase seca de boca em boca se faz renovado alcatruz
Da nora funda imensa roda que nos solicita plena liquidez
Atira fora irrigando doce paz nas veias da senda da humanidade
Quase intento se o instante do momento ganha elasticidade.

E freme no enleado enternecimento dos corpos entrelaçados
Desinquietos se abriram e abrigaram inquietações e cuidados
No terraço perante o mar naufragamos nas ondas convulsas
Que em revulsão nos enredam e atam entre laços e soslaios
De reclusas milenárias em revoltas vestes me despes a pele
E em carne viva da tua carne me fundo e me transformo copo
Cálice seio da clepsidra que nos ângulos topos da areia me sopro!
About Roads And Streets

São apenas oito os caminhos da liberdade no acaso do ocaso
Os olhos, as bocas, as línguas, os sexos, os abraços infinitos
Seios de Hipátia em Cirene apedrejada por sentir prazer dizendo-o
Por pregar a autarcia e emancipação de quem a si se conhece
Alfa e ómega das estranhas estradas para (im)possíveis longes.

De resto labirintos, abismos, promontórios, padrões e cruzeiros
Cruzamentos, pelourinhos e rossios de sextas-feiras à meia-noite
Rotundas como becos sem saída nem outro fim além de si mesmas.

Porque só são caminhos os caminhos abertos
Todos aqueles de cujas janelas se avistam campos de papoilas
Na frugal avareza dos olhos silvestres
Das bocas
Dos sexos
Dos abraços apertados
Como nas demais estradas ainda possíveis.

Porque de resto é a morte
É a progesterona
É o nuclear
É a modificação genética
É o suor frio
É o efeito de estufa
É a campânula do smogue
É a birra e o capricho
É o silêncio incomunicável
É o homicídio de um no par
É o rio apodrecido
É a floresta incendiada
É o beco sem saída
É o precipício abismal
É o redil e o curral
Onde chafurda a própria vida
No suíno lodo do quintal
Tão inútil
Como todas as outras coisas inúteis.

E
Inútil é o estares aí e eu aqui e
Inútil é a leitura sem sentido e
Inútil é a sequência mortífera e
Inútil é a gradação decrescente e
Inútil é a estrada fechada e
Inútil é a anáfora rotineira e
Inútil é a hipálage do medo e
Inútil é a dissimilada opressão e
Inútil é a configurada abdicação e
Inútil é a estrada sem destino e
Desconhecer que uma estrada é um corpo
Uma rua que se faz caminho novo ao apagado caminho.

Como a letra, a palavra, a frase que leva até ti
A língua que se curva em redor do teu nome...

sábado, agosto 02, 2008

Quando enfim voarmos de Ítaca para Roma ou no regresso
Inverso voo de conjugarmos o ser diverso que somos, és e sou
Ou soar sobre o mármore das escadas o tilintar das lídias
Rolando degrau em degrau como uma História que saltita
Entre os cômoros do tempo onde se ergue o nosso bairro
Na encosta frente ao mar saberemos o destino de cada barco
Cada silêncio à tona do azul cintilante no esgar dos dias
Lua deslumbrada mas tão equívoca aos instantes de prata...

Porque se Ítaca nos receber de volta, sim iremos certamente
As rédeas nas asas à solta sem freio qual voz incandescente
De moldar o vidro com o sopro simples do murmúrio ledo
Ciciada penumbra sólida das esquinas insolúveis do segredo.

Iremos sim, sem serôdios recatos nem esperar outras alegrias

Nem sufrágios alcantilados nas ruínas agrestes alinhados cedo
Além dos socalcos natos das varandas donde a ver-te me vias!

quinta-feira, julho 31, 2008

Cuido haverem outras Penélopes e outros Ulisses
Aflorando em nossos passos perdidos pelo gesto
De quantos minutos pesam dez anos na clepsidra
Vidro de medir o mar a remar desenganos me apresto
A reinventar mitos esquecidos, a cortar a Hidra
Olho de Ciclope a ver-te de onde apenas tu me visses...

Invectivei o dia, fustiguei a noite, parti por ti a jarra,
Intimidei com ameaças o tempo e o modo, e despi
A parra, para não magoar teus olhos de verbo sem ira
Na beira da fúria que mira o suplício da conjugação
Incondicional me fiz no imperfeito da pretérita solidão
E quando Roma me quis me vi romã aberta em tua mão.

Acordar é um desacordo intempestivo com o sonho
E bago a bago me dedilhas rede da sede que mantenho
Pela madrugada densa no dengado de tuas ancas acesas
Colunas do templo à subtileza columbina de teu colo
Arco que retesas no disparo se desejas quanto imploro
E naufrago na cascata de teus cabelos que a respirar decoro
Quando sôfrego neles morro, se me detenho e me demoro
Até castanho escurecido também eu ser que viver só é viver
Se se for vencido e assim perdido apenas por ti renascer.

Porque só quando a aurora se descodifica em luz e púrpura
A sombra incendeia o manto de aurífero brocado e canto
Ou teus olhos se abrirem para os meus sem medo e temor
Seda estampada de macia cor que na clara derme dorme pura
E mata a sede quando cedo me concedo à dor do desencanto
Ou te escondes de meus olhos sob a digita esquina escura,
É que do cálice do texto se pode fazer a leitura da borra negra
E a sina se desenha tsunami do passado que a ficção agrega
Segura no abraço-luz de ouro futuro rompendo a noite escura.

Cuido haverem outras Penélopes que escrevem e lêem teus passos
Sentem a navegação de sala em sala sobre as páginas da memória
Que as redes de nós lidos sob a prata dos peixes se fazem laços
Nas ombreiras pintados ou sinais da rota, sendas, mar de abraços
Celebrações secretas dos beijos dados nas catacumbas da História.
E delas, uma serei eu, a entrançar palavras para prender-te a mim
Que se me olhas me lavras seara de cristal na aura areia sem fim

Porque há alvas recordações em auríferas sendas entre a escória!

sexta-feira, julho 18, 2008

...

Perdoo-me esta insanidade de sentir-te indomável
Solta sobre o meu corpo na soletração insubmissa
Subjugando-o ao fogo arguto do voo insaciável
Redimensionado no táctil augúrio, dígita premissa;
Que nem fátuo arco-íris entre Vénus e Mercúrio,
No manto azul terreno envolvendo a névoa loa
Mas já nebulosa intemporal adormeço naufragado
Sonhos de corromper o instante tido em si destoa.
Que das ondas sou sempre o outro lado do centúrio
Fustigado, elo e coroa nos corais de mim compartido.
Aí, a seiva que brota em espuma se desfaz no areal
Fui eu a rapariga, enquanto tu o rapaz cavalheiro
Gentil que sulcando em lemes o mar todo e inteiro,
Tremes porém no imo abraço derradeiro mas plural
Ao que explodindo em ti a minha lava de quente bruma
Vulcão assim me (re)tornei homem que em ti se esfuma
E tu, a praia fértil que o (a)mar cava em eterna espiral!

Havia silêncio no pôr do sol, depondo as vestes da ousadia
A resvalada réstia dos ocasos alvorados e nascidos dia a dia
Astro a astro, numa sinfonia infinita compondo o alfabeto
Do mundo a dedilhar arcanjos amputados do grito secreto
No golpe das asas... Asas? Só as que a imaginação nos dá!
Essas sim, que são seguras e verdadeiras de forjar órbitas
Plenas e centrípetas, não ícaras sombras no lado de lá do lá,
A fazer autênticos alqueives e sementeiras de acordar acólitas
Da vida, quais obreiras de produzir o trigo que em nós há...

Pão de searas selvagens os corpos se equilibram e balançam
Incandescentes de bem-querer na vida suspensa dum cordel
Notas de solfejo na paleta colorida das diferenças se abraçam
Na magia simples de arrotear encontros que os peitos cruzam
De eu e tu, tu e eu, do eis à flor da pele, na entrega absoluta
Colhendo sem dor nem luta, das pétalas a cor, e do pólen... o mel!

segunda-feira, julho 07, 2008

Andam Ninhos No Ar

Dizes que já não queres acender o brilho?
Dizes que já Galaaz te venceu, e a espada?
Pois bem, amiga: mataste-te. Estás acabada.
Não há agora quem se importe com teu trilho.

Teus passos jograis do credo do sarilho
Cantam velhos eventos em nova estrada...
É o fim, amiga: quedo-me. Estás acabada:
Jamais amarás o amor como nosso filho.

Ao culto de Onan anuíste, cruel, ilesa,
Esquecendo que o amor é a melhor defesa
Contra o vento forte da morte e solidão?

Pois bem, amiga... A raiva a ti por ti acesa
Dar-te-á a liderança do €uro como do pão;
Mas nunca te há-de dar carinho – isso, NÃO!

quinta-feira, julho 03, 2008

Ainda Sabemos Amar Repetidamente


À porta de casa o futuro nos reescreve.
Por isso, soletra-me inteiro, não só universo quebrado
Da boca
Dos olhos
Do sexo
Da fala
Da diferença, mas também o igual âmago
Referente do que entre nós permanece humano
O rosto exíguo na luz do entardecer nas colinas breves
O sol oblíquo ao falado horizonte sustenido das árvores
A pedra, o tronco, o vidro em que me dilacero sílaba a sílaba
Os dedos
Presa fácil na mortífera insistência de dizer-te sede
Água cristalina Helena da minha Tróia nos cavalos do sangue
À desfilada na crista dos medos a sofreguir
Da boca
Dos olhos
Do sexo
Da fala
De teu corpo todo sob as vestes do silêncio
A fronte hitita e alva na rebentação da memória
Ondas de seda no afagar da sede
Sede de sonhos no congeminar da prece
Se apareço pronto a perecer ao teu apreço
Sebe de estrelas na Via Láctea do sorriso
Em que me acoita em infinita coita
Que a gesta se na serena luz se afoita
Torna-se breve instante de urgência preciso
E conciso
Na fala
Na cor
No gesto
Na alva sofreguidão.

Soletra-me inteiro como te soletro plena
Que o corpo só é verdadeiro
Quando no sonho do próprio nome nos acena!

quarta-feira, julho 02, 2008

Sorrir Ao Ruído Alivia


Há ainda (h)era nos muros da nossa casa
Onde às vezes se nos prende uma asa
Põe o dizer ao "se calhar, talvez" reticente...
Mas quando as falas são o imo que repetes
Eis que o sonho vem e nele se nos escora
Enleado pelos caules o verde da demora
E participo em ti como futuro é estar presente.

É um verbo de partir, ir embora, voltar diferente
Igual não é a mesma coisa e recorrer à cor ausente
Porque inesquecível só a imagem que tens e prometes.

Eu sei quanta flor se abriu assim-assim menina
Acção da pele aberta ao beber a pétala contigo investes
O marfim do nosso castigo seminal onde germina
O gesto de sofrer um fingimento tão real e puro:
Enfim, que verdade sou eu, e não me digo (muro).

Ou se dito, traz consigo a capa do renascimento
Grito de juventude a ecoar nas páginas vestes
Sorrisos de aspergir os dias em cada momento:
Que quando se sorri contentamento aos ruídos
Eclodem ecos musicais dentro de todos os ouvidos!

terça-feira, julho 01, 2008

Poema Peremptório

Peremptória é a luz que nos contrai
Como se fôssemos apenas um vírus de languidez,
Estivéssemos à beira do suspiro que sucede ao ai
Ou andássemos a cruzar os tempos pelo seu entremez
Entre a segura vereda e aquela por que ninguém vai…


Peremptórios são teus olhos que me cosem linhas
Rasgam as vozes, abrem sulcos e caminhos
Na alma de ledos segredos em que o sonho se esvai!
Arte de Regressar Ao Sonho

Procuro os nossos filhos, ouço-os no corredor, em tropel
Sabendo-se poemas tão desatentos todo o cuidado é pouco
Para ressalvar-lhe a voz, não deixá-los tropeçar no cordel
Escorregar pelas escadas de sermos a espiral do pião louco
Aquele que desliza e lhe sabe dos olhos o seu travo de mel
O cotão da camisa, gestos de abrir as mãos sorrindo eternidade.

Procuro os nossos sonhos, escuto-os já quando respiras, serena
E tento quedar-me retendo-me na memória do preferir agora
Mesmo que houvesse chuva a fustigar e relâmpagos lá fora
Que ao acenderem-se nos apagassem dos ledos lábios a amena
Sofreguidão eléctrica em descer nas esquinas dos corpos crus
Sob o contínuo procurarem-se na ambiguidade dos trovões nus.

Procuro os nossos dedos, enxerto-os de flor, em rosa branca
Moldo-os tornando-os a voz do barro, bíblica argila e cuidados
A curva de teu nome a espraiar-se espuma ágil na líquida anca
E assim os deponho sobre a nuca de estreitar abraços apertados
No requerer dos lábios a proferirem-nos promessa de liberdade.

Porquanto nela os soubeste inventar traduzindo o sonho em voo
Como se da vida, se cumprida, nascesse directa a sã qualidade
E dela nada mais contasse, de tudo o que tenho, o quanto sou
E que sendo-o, para ser supremo, é ser só teu, em toda a verdade!

sábado, junho 28, 2008

Poema do Inviável

Inviável...
É quando um dia matar o amor que te tenho, por descrido
E houver o fugaz rasgar da memória numa imagem lacada
Pedacinhos de visão confluindo no caixote do tempo, caído
A desorganização de teu rosto inadiável por sulcos gretada...

É quando a voz rouca se arrastar colérica tecendo insultos
E invadir a cidade como um guincho de soletração vociferada
Entre os choros das crianças e as proferidas iras dos adultos
Numa promessa de esperança fedorenta quase morte consumada
Pelo carpir de nossos corpos desencontrados na voz dilacerada.

Como inviável é outro sentimento qualquer senão o nado destino
Cujo mister encerra a entrega total do homem à sua mulher
O deita no seu colo, lhe atura tudo, incluindo o maior desatino
Se acaso ele se enrede como nenhum outro velho menino
Que na ânsia perdeu o tino e já mal sabe o que da vida quer.

Porém, coisa inviável, é também
Esquecer teus olhos ou incrustá-los, por desdém
Noutros rostos, noutros seres vivos ou mais alguém
Ainda que ao vê-la, essa, esse outro ser, não se saiba bem
Do carisma e perfeição constatada, se é deusa, estrela ou mulher,
Pois que amar-te é um quase nada
Que põe em ti a grande diferença desejada,
Te eleva sobre todo o mundo, tenha ou dele se diga
Em toda a mulher igual rapariga,
Que ao gabá-la, dela mais alto suba e louvor consiga
Propalando dons dizendo de mais, no que se disser...

Porque até pode ser que a vida tenha
Ainda mil segredos para me contar,
Que nenhum haverá, que me convenha
Além do escondido no teu olhar!

sexta-feira, junho 27, 2008

Secretas Alianças Redobram Audácias

Dêem-me só mais um dia de solidão sólida líquida e profunda
E eu dar-vos-ei em troca a obra quase explícita circular rotunda
Deitado oito de ver o longínquo futuro emergente a cada aurora
Quase a eclodir como se fosse o nosso túnel de viver renascendo
A vertigem de ir ainda além da curva oblíqua do ser sem desânimo
Os frondosos arbustos onde se mexem máscaras fantasmagóricas
Forçadas ao exílio com que cada qual se vai prometendo na noite
Ou no canto absurdo de um embriagado camponês de passagem
Casual na cidade as esquinas pintadas com nomes supérfluos
Esquecidos e lembrados somos sempre que dobramos mais um cabo
As velas audazes a convocarem mais redondos ventres nos ventos
Mais uma boca, mais uma doca, mais um sonho e um sorriso doce
A erguer-nos na tarde tranquila mas sem hirtos e medievos padrões
Apenas lábios aflorando a cal de teu terno rosto de rosa branca
Adornado marfim da existência na porcelana real pelos salões
Onde vogam caravelas ao sabor de inocências várias gentilezas
Sim, são adjectivos, são rótulos nas garrafas mensageiras, símiles
Sem nada dentro te procuro ânsia de uma inscrição a fogo perpétuo
Violeta voadora num papel o inscrito significado da minha loucura
O incontido ardil de buscar a solidão profunda das águas mornas
No segredo manso todos somos iguais e preferidos da causa única
Diferente só o sol o é dito Arina sua deusa e véu de treze plumas
Cabelos libertos acompanhamo-nos e surges tu que és madrugada
Hálito ainda fumegante e húmido o olhar do último grito aos céus
A voz que se equilibra na corda entre o sonho e realidade teus seios
O equino das coxas vibrado rigor do (com)passo que marca o tempo
Uma torrada e sumo de laranja à espera na mesa de xadrez atoalhada
A marquise aberta para os primeiros pássaros, primeiros ritos e voos
Tão desprendidos os seus cantos te esperam nas brisas pétalas mansas
Enrolada sobre ti a toalha de banho insiste em desvendar os ombros
Mostrá-los polidos e níveos e rosáceos ao amanhecer dos sonhos
Escorrendo diurnos a noite na seiva túmida de soletrar teu nome
Que só quando o deslaço me nele desenrolo em sustenido abraço
Descruzo audaz destemida jus onde és tu Sempre tu A Repetir A luz.

Crê na entrega: estamos prontos, sabemos discernir as palavras gesto.
Quantas vezes aguardámos este momento cruel de acender as mãos?
Quantos se descobriram ao acordar tão simples como o chilrear do dia?
Só que ainda não estás sentada cruzando o jeito das marés sem retorno
Polegar e indicador segurando a torrada morna das searas férteis
O sangue da laranja escorrendo sobre meu peito a esperar-te convexo
O copo repleto de tua boca tão próxima e exígua onde me bebo e sorvo
Num grito cintilante da eternidade sob o eco cristalino das estrelas...


Que é em ti que flameja o nome: sou eu quem nele arde e se consome!

quinta-feira, junho 26, 2008

Sonho Acordado de Repetir Auroras

A mentira de estar presente é tão-só pensar ilusão
Mas em ti tudo é lindo e sobre posto estou ancorado
Ser consciente é preferir o dia escolhido da paixão
Esse feixe de cabelos castanhos-escuros à tona da testa
Os olhos que se afundam quase longínquos entre livros
Capazes de emergir no nevoeiro em sonhos sustentáveis
Ao cruzar de célticos traços me chamam os lábios prà Net
Quando sorrindo lhe avivas a palavra solta descontraída
E sobram da mentira de estar apenas aqui por ti perdido
À espera que teu nome seja o único responsável do encontro
Marcado e assuma o sinal aberto da paixão incontornável.

Podia dizer-te tantas coisas mas somente me lembro
A lembrar-te, há todavia uma fonte que não esqueço
Onde nasce a veia que desagua em teu silêncio secreto
Porquanto ele Sopra sempre a Ânsia e Reprime a Angústia
Que Amar Recolhe a Alegria na Sorte que conhecer(-te) repete
Observa o desejo do crime que a eternidade em nós comete:

E amo-te desde o entre o tudo ao por nada sem ter fim
Mesmo quando serena me perguntas "o que é que foi?"
E assim a quase calada dúvida que sinto e no sentido dói
Por não saberes serem somente teus olhos a raiz de mim...

Que são eles apenas quem me segura à vida e nela contam
Me balançam entre o sonho e a paixão, iluminam a manhã
Dos amanhãs fazem o laço, atam o passado ao futuro infinito
Fiam o presente, tecem do novelo enleado em que acredito
No linho a rosa branca que de vermelho as palavras pintam

Se tuas, que a gravitar à volta da verdade são os olhos duas luas
Apagando buracos negros no cosmos e acendendo eternidade!

quarta-feira, junho 11, 2008

O Zoom Kfakiano Que Zune

For Marlen, with a Kiss

Se ao zoom que zune sobre a janela
Se quebra a jarra no espelho da água,
Então, se se mergulha a ira na mágoa
Nasce dela o nu desejo despido nela

Cecília, aquela que pra ser o que em si havia
Se despiu ali perante o olhar motivado
Daquela que vendo só via o que queria
E não quanto na fonte ao Tritão era mostrado.

Que quando zune o zoom cru da fantasia
E assim vai de janela em janela aumentado
É quase certo haver algo, algum dia
Daquilo que visto certo estar também errado.

Porque ver é estar-se todo nu nessa visão
E pôr os olhos onde quem apenas pôs o coração!

About Atonement (Expiação), de Ian McEwan, na
ESECB – Escola Superior de Educação de Castelo Branco, in
Reading Circle Activity – Literary Wrinting, by Marlen Schachinger
06.06.2008

quarta-feira, junho 04, 2008

Sala e Antecâmara de Retorno à Alma

Registo-me no espaço terno e morno de dizer teus lábios
Restrito ao respirar contrito com que me miras circunspecta
Os corpos arqueando-se mútuos numa interrogação aflita
O futuro nos olhos brilhando apenas indecisa esperança
O silêncio que as mãos sabem decifrar se as almas falam

Aqui, até as palavras são vãs prontas a perderem-se nos lagos
Onde os rios do amanhã é já ontem desaguam tensos mansos
Refreando a imperpetuação do perpétuo sentido das quedas
A ânsia soliquefeita dos lábios descobrindo a mulher verbo
O suor deslizando pelo vale vertebral até à enseada do dorso
A apropriação da esfíngica sombra quando ser tem luz própria
Diluindo-se submissa na forma que contém o abraço se devolve.

E contudo o apito longínquo da locomotiva lançada à desfilada
De rápido afoito nas linhas do corpo inundadas de sofreguidão
Os ombros a gritar libertação e feitos lava de aspergir o sonho
O queixo emergindo explosivo que nem quilha de quebrar gelo
Nervoso pulsar de espera a abarrotar de expectativa e milagre
Sala feita gesto de recolher-te plena em mim num só beijo
Única ponte ente dos rios que desaguam na mesmíssima foz
Ditos com igual verbo e verbalizados com a mesma voz:
ARinA!! Só tu sabes precipitar-me no abismo e planar no voo
Porque as palavras são saudações entre dois genes originais
Almas que se cruzam e se tocam cansadas de serem sós!

terça-feira, junho 03, 2008

Sonhar Acontecer Repete-se ao Acordar

Raiva perdida, caminho deserto
Sofreguidão dum futuro tão perto
Que é já ontem em vez de só amanhã
Numa imensa solidão da palavra chã,

Soluto de consciências ao desperto
Quase vivas de correr no tempo certo
A destruir o que é árido da meiga lã
E nascer na aurora de teus lábios de manhã.

Tempo de esgrimir o mal e o ninguém
Que são todos, por apenas o único bem
De refazer a sede no grito de ainda viver

E ter as mãos que procuram tão-só o encontrado
Na transformação do indiferente em amado,
Como se fosse desejado, o sonho de acontecer!

sábado, maio 31, 2008

Socar a Ânsia Retira Algemas

O vazio de uma floresta sem pássaros,
O restolho gretado sob o sol acutilante,
O esquisso do horizonte violeta e rosa,
O silêncio gritante dos sobreiros solitários
Estendal dos panos templários da prosa

E mais que isso, na penumbra do rés-do-chão
A linha de teus gestos que se desprendem
Pouco a pouco, tudo nada, cabelos desalinhados
Que estendem o sonho dos olhos escorrentes
Na lágrima sobre a alvura da face coitados
Os braços esticados na procura do tronco
Elástico, elegante, ágil, felino de ter-te urgente
Verbo preso na caixa da boca, túmido
Socalco da sílaba no crescente desejo
A tua liquidez desmaiada no ocaso
A estrela da alma prestes a rebentar em luz
Lá no alto onde apenas se chega por ânsia
Esmagamento absoluto de perpetuar-te em mim
– AaaSSSSSiiiiiiMMMM!!!!, meu Deus – até as veias romperem
Gretarem a frase pelos complementos directos
Direitos ao verbo eclodir a esgarrar a casca
Pô-la porta aberta a soltar os sons insurrectos
De teu grito ledo de estilhaçar o medo!

sexta-feira, maio 30, 2008

Abraços são Reservas Anímicas dos Sonhos

Desço a Serra, escorregando-lhe pelos flancos. Não me vês?
Eu sei que não... Também não é lá que estou. Nem tu.
É aqui, a ver-me descer os olhos sobre ti, ajoelhar-me
E com sucumbido arrebatamento beijar teu abdómen de luz.

Trago aos ombros o molhe de sonhos que os deuses esqueceram
De levar para o céu quando partiram sob as trombetas da alvorada
E os olhos cintilam das infinitas brincadeiras a aflorar dos lábios
Com que as crianças me depõem entre os sortilégios preferidos.

Logo, talvez mais tarde, virás buscar um, dos mais mágicos e potentes
Talvez aquele que consigo me acarreta sobre as espáduas olímpicas
E me leves, sem nunca chegar a saber, qual a sorte que ele te deitou
Nem como ela se cumpriu quando o meu, ao teu nome, se abraçou
Letra a letra jungido, numa sábia sílaba de salvação apertada
Até que entre cada fonema não coubesse, nem soasse mais nada!

quarta-feira, maio 28, 2008

Soneto da Cantarinha Verde

Saiba-se pois que este ramo de flores
Que o guerreiro Tiuí aqui plantou,
Se regadinhas, até matam as dores
Mesmo as que um dragão semeou.

Da cantarinha ganharam as cores
E às folhas, nenhum vento as levou,
Que grandes jardins são os Jamores
E as taças, de quem neles melhor jogou.

Que do jogo, com ou sem sorte, é igual
Desde que o resultado seja de justiça;
Aos vencedores, é a taça em rico metal
E a dos vencidos, nem sequer de cortiça.

Porque no futebol, todos golos são flores
E até as taças, uma beleza de hortaliça!
Parabéns Inês


Não posso dar-te as chaves da minha cidade
Porque é livre e de portas abertas, sem idade...
Mas de tanto nomeá-las, a todas as suas ruas
Se tornaram minhas – e que agora, são tuas!


Tuas, por direito e alegria de um Portus Alacer
Que aos portos só podem chamar-se da alegria
Se forem igualmente pertença daquela, que mulher
É também rainha e luz quotidiana, no seu dia a dia.


Portanto, se de quanto esta terra dos teus avós
É meritória do romance que o teu nome encerra,
Das muralhas de D. Dinis os Pedros somos nós
Pedras de afecto seguro que só por ti se esmera,
E cresce dando-lhe o peito como lho dá a Serra.


Que os montes das oliveiras, penhascos e sobreiros
Onde pascem os sonhos floridos das Maias este mês
Sabes, sem dúvida o fazem para serem os primeiros
A cantar-te os parabéns... – assim: PARABÉNS INÊS!

(17.05.2008)

segunda-feira, maio 26, 2008

Alvos Reflexos Aspergem-me Silentes

Poderemos nós resistir por mais quantas eras
Estações onde o acontecimento único são teus saltos
Altos batendo à porta entreaberta para o corredor
A tua alva mão pousada sobre a maçaneta da porta
Cachos de castanhos anéis descaídos da nuca
O traço felino do olhar que perscruta a penumbra
Os dedos hábeis acariciando sonhos e esquecimento
No afago do sorriso enigmático e periclitante
A camisa transparente de noite brilha nos contornos
A visão de teu corpo a escorregar desde os ombros...

Poderemos nós resistir à ânsia de gritar o silêncio
Deixar de beijar-te toda como faz o sol matutino
Não permitir a língua bandeirante aflorar cada poro
A púbica sombra num triângulo de carícia e verbo
O bago doce no recôndito lóbulo de tuas orelhas
O felino dorso prestes a desferir o salto detonador
Ombros e seios de polido mármore rompendo o tempo
A planície do ventre alqueivando a posse e a sede
Repletos gestos frementes de abraçar o teu nome
Todo, apertado, jungido ao meu até não caber mais
Incandescente e rubro de fogo na fusão do ser.

– É esta a órbita do silêncio de meus gritos à deriva
Uivo na galáxia de estrelas cintilantes do teu olhar!

terça-feira, maio 13, 2008

Soltam-se Alegrias em Raras Almas

Deixem-na ser simples assim como um dia de Julho
Transparecer a fala e dançar em cada letra breve
Soletrar a voz imensa do luar no límpido marinho
Do céu padrão oceânico à bolina vogando no azul
Borboleta de multicoloridas asas nas matizes das vozes
Um rouxinol à procura do eco em que possa pousar-se
Um canto em busca de sua gaiola, seu imperador eleito
Sua boca, vulcão túmido, apurado no silêncio do grito.

Deixem-na apenas ser simples, que é a brincar ecolalia
Que se começa a perpetuação do zero no redondo da voz
Na formação de tudo isso composto e somado que dá nós
Quando conjugação integrante de uma oração preciosa
A fala, o gesto, a tarde, a luz, o corrupio do trânsito citadino
A outra conjugação, copulativa no retrós do modelar figurino
A garganta implorando água, somente sede, só sequiosa de ti.

Deixem soltar-se nela a alegria vasta e redutora da ilusão
Que é seu destino ser sem destinatário a própria missiva
Breve mas secular, mapa genético nuclear ao DNA
Cratera de fogo na placidez falada do corpo que não resigna
Sôfrego encontro entre os passados e os futuros inauditos
Gesto inédito de embandeirar os cabelos ao vento são velas
Redondas de rumo, grávidas de remar adiante, adiante, adiante
Muito para além da vida, esta coisa irrequieta pequena e frágil
Que apenas por ser nossa tanto prezamos e ímpios defendemos.

Porque um dia haverá em que baixamos os braços e, nisso, a vida

Continuará a tua luta imperiosa, apenas por uma questão de hábito!...

sábado, maio 10, 2008

Subterrâneos Acessos Rigorosamente Acesos

O meu jogo é de lantejoulas, palavras subsarianas
Cintilantes, desérticas, vítreos grânulos dos areais
Caracolinhos de cabelo na madrepérola, botão de camisa…

O meu jogo não respira as leis de novos evangelhos
Porque se afia no esmeril da esperança ao desenhar-te
O gesto equino com que irrompes na noite das noites
Partes à desfilada nas asas selvagens do louco desejo.

Jogo que é mesmo jogo entre o jogo e as suas regras
Ao proferir-te verbo de conjugar o aceso rigor da brisa
Pomo de eclosão ao arrancar-te a luz para dispersar-me
Estilhaçado, distribuir-me por todos os cantos universais
Pedacinho de vidro bailando a tinir no espanta-espíritos
Por detrás da porta, ao cimo das escadas, socalco à solta
Solta e livre nos soslaios que cambaleiam em vésperas
A lágrima euclase do lusco-fusco na esmeralda dourada.

sexta-feira, maio 09, 2008

Alvos Reflexos da Alma Secreta

Só quando o silêncio da verdade, arde
É como pátria do corpo na língua amena
E serena a boca com que nos falamos;

Só quando teus olhos ternos aplacam
Apaziguam as tempestades da fria luz,
Esculpem a sombra do grito na espera da tarde;

Só quando nos dizemos ao de mansinho
Consumada é a passagem entre as folhas e ninho
Do cuidado das árvores na lida paisagem;

Só quando a descoberta da flor do outro em nós
No espelho que se não quebra, a decidida imagem
Será então a infinita certeza, de quando a sós
Não se apagarão nunca os dedos
Nos amuados degredos da voz.

Só quando tu queres
Sob o vermelho e o preto
És pétala de todas as mulheres,
Aquela que me acerta perto
Na raiz digital do grito secreto.

Porque só quando tu queres
Me quero cruzado do querer,
A crer que quanto disseres
É único espelho que reflecte o viver!

quinta-feira, maio 08, 2008

Instante Gótico

Desce devagar, rés ao silêncio na exígua voz
As vestes ondeando, cabelo lançado para trás
Voando, o sorriso compassado ao andar direito
A simplicidade é receita do equilíbrio ancestral.

Desce devagar a sinuosa via, íngreme colina de nós
Como se ambos fôssemos, na ânsia de ser capaz
O gesto ao ritmo do bater interno no totem do peito
A invenção pretérita do mais-que-fogo, alerta e sinal.

E ao descer assim, sem ilusão, escusa o fingimento
Escusa o submergir sob as redomas da crua defesa
Com o aval de pagar esquecer com o esquecimento.

Escusa a caveira do que não fomos, tange talvez
A pintura de uma campa, com uma só vela acesa
Porque o amor gritou seu brilho nesse entremez!

quarta-feira, maio 07, 2008

Acto Solidário

Dá-me a cor da oração
A prece de teus olhos maduros
Fruto suculento de vermelha doçura
Violeta perpétua desmaiada no azul do céu
Como qualquer pétala de mulher em flor.

Esse quadro... gostava de saber pintá-lo!

segunda-feira, maio 05, 2008

e- moções íntimas

Dizem que há um rosáceo espaço qualquer entre o aqui
E o agora, que é um produto copulativo mas desconheço
Até que ponto isso é verdade, cruel apenas sei, sei sim
Entre mim e ti há um e- que anula a sofrida distância
Que liga dois seres e os aperta em laço de afim recomeço
E a maior importância é mereceres-me tu quanto eu te mereço.

Portanto, diz-me de vez quantos pensaram
São mortíferos os teus olhos despidos
A mágoa para ao canto sem nada fazer
Abrir das pálpebras ao cristalino arco-íris
O cintilar acutilante das pupilas
O ruborescer das faces sedosas
A tumescência da flor dos lábios
A cascata esticada dos cabelos
Sombreados no desmansinho da voz
As arcadas desenhando incerta nitidez
Meiga solução para a surpresa de ser
Assim dançando à beira de um abismo
O infinito e secreto caminho de sorrir
E voltara ti em mergulho e salto imortal.

Portanto, diz-me de vez quantos voaram
Há insectos rodeando cada luz mais
É cisma saber a sombra do desejo
Aberto sou em perpetuar-te o grito
Ansiar esculpir no útero do amanhã
O sonho a expulsar o medo, a dúvida
Ousar-te expelente e equina e exigente
O corpo incontido na explosão da voz
O gesto de voar no grito da nova aurora
Albatroz de proferir o íntimo elixir
Silêncio a espraiar-se nuvem sobre azuis
Janelas que se desdobram infinitamente.

Portanto, diz-me de vez quantos caíram
São vestidos o que vejo a teus pés?
São cadáveres os nylons estampados?
Mesmo à porta a alcatifa manchada
A garrafa de champanhe abandonou-se
Ouviu-se um riso selvático e felino
Amanhecia, as cortinas baloiçavam
Tremeluzentes as réstias das estrelas
Esmoreciam mas crepitavam promessas
Havia imensas promessas a nascer
A infância era garrafa desarrolhada
O incendido vapor que se espraia
Incandescente a cama respira ainda
O lânguido abrir as coxas sob o olhar
Atento suspendo o tempo e eternizo
O instante atravessa o passado rasga
Penetra o futuro como lâmina mágica
Só aqui se traduz em luminoso agora
Se repete e repete em repetido voo
Ceifa reflexos nos mortiços brilhos
Lacrimeja cometas à suspensão do breu
Solicita os murmúrios que calada grita
Ambígua nos soletra e exorciza ímpia.

Portanto, diz-me de vez quantos voltaram
Do fundo mar ecoam címbalos e trombetas
Toques de à carga em líquidas campanhas
Trocadas foram elas ingratas estridentes
Vorazes me usufruíram o contínuo esperar
Os sustos são besouros orlando as flores
Lábios de mel se entreabrem as pétalas
Conquanto sejas eterna sobre a colcha
O franjado dos sonhos à volta do corpo
A boca recolhendo uvas cristalinas
Gotas de orvalho do cacho de teus cabelos
A dobrar-me num beijo sobre ti deposto
Mosto a fermentar a seiva cola inseparável
Num antes de partir voltarei aficar – de vez.

Havia um espaço e- quase copulativo entre o aqui
E agora há nossas mãos dadas no voo de um colibri
Que nos beija e acorda no esvoaçar que aflora!

domingo, abril 27, 2008

A Metáfora Tudo

A metáfora tudo transforma em poesia
Como se fora serena plástica a respiração
Sulcando o peito, cronómetro de qualquer dia
Gesto de suprimir as réstias da solidão;
O entrançado querer dos corpos selvagens
Disciplinada ousadia de ser entre as margens
A ambiguidade rosácea e terna, encruzilhadas
Cristalinos significados que se libertam contigo
Desnudos sóis, claves deste solfejo, esquinadas
Sombras atravessando as travessas do desejo,
Palavras trincheiras, falas de escorar doce abrigo...

Tento habitar o hábito dos rostos
Tento enunciar-lhe um caminho:
Quem sabe a serena voz que inquieta?
Que bagagem levar além das esquinas?
Tento habituar-me à tua transfiguração.
Diária é a metamorfose do permanecer
A teus pés escravo e sacerdote sou.
Pedes a boca e não a espiga?
Pedes a palavra e não o pão?
Escorre, pelos ombros procura os dedos
Penteia as mãos como se fossem sangue
Rasgos de cal branca em tua alva derme.

Eis tudo o que te encerra e profere
Gruta nos penhascos da serra habitável
Moradia a que não resisto de olhar
Ler do silêncio a expressão do grito
As arcadas que se vincam pra duvidar
Lavram o riso na surpresa de existir
Crua flor na segunda pessoa do singular.

sábado, abril 26, 2008

Arina Respira Aqui Sofregamente

Escrevi-te. A transfusão de fantasmas
Imediata é a tua presença quando me lês
E contudo ausente a voz quase sempre
Trago comigo a infância do esquecimento
E por esquecer é outro o verbo que se diz.

É total o amor que se refaz na escrita corpo
Nada daquilo que não presta se retém em mim
E tu de tão perto respiras, ofegas em sustenido
Sentida ingratidão dum amanhã sim estarei
Contigo frente à fonte o mais escorre como água...

Que o rio que escolhe a foz não abusa das margens
Desmargina-me da tortura da contenção diária
Espelha a sombra de pensar-te ilimitada em mim.

São avaros os meus olhos que te saqueiam
É a contornar os flancos que se aflora a seiva
Um corpo é uma flor que se perpetua verde hera
Nas pétalas da boca o sulco doce de tua língua.

E na devoração do ideal incandescente sequioso
O sangue a descobrir labaredas as faces níveas
Da boca entreaberta a gritar planícies de estevas
O dilatar das pupilas até descaberem-me os olhos
Os dedos trementes percorrendo a polpa de teu colo
O interior das coxas que se afastam sôfregas
As mãos naufragando sob a tensa e terna pressão
A febre intransigente dos dedos sobre o gomo túmido
A anelar fricção de descobrir o fogo inflamável verbo
A ânsia do corpo imaginado pleno na plana dimensão
Apertada ausência entre braços que libertam abraçando
A contracção do grito abre os lábios para os céus
Contornos próprios de suster silêncio e morder o sonho
Sulca a garganta no equino suspiro de cavalgar a noite.

Depois, depois a percepção do canto caótico nas ogivas
Góticas as janelas no vidro de existir entre barrocos vitrais
A árvore em frente com seus pássaros maduros coloridos
Plumas cujo chilreio esvoaça dentro de mim periclitante
Debica a saudade de teus olhos, colibris clandestinos.

sexta-feira, abril 25, 2008

Sagrada, a Aurora, Reflecte Alegrias

Demais sagrado apenas o subtil respirar teu
A profanação da alma perene e (in)temporária
A exorcizar a ignara e teimosa resistência
A matar-me os fantasmas mais profundos
Enraizados, recônditos, soletração da inocência
Exposição imediata, perpétuo, o teu gesto
Germinal abertura ao diálogo ledo e livre.

E do corpo aquela greta rubra da fala
A fenda dilacerante da língua vulcânica
O sorriso da palavra que prometes mágica
A recolha da pérola entre os teus dentes.

A da boca a fala, o rasgo anímico
A consumação do sagrado alquímico
O filtro, o elixir com que me prendes
Me prendes, surpreendes e suspendes
Entre os lábios de nos soletrarmos sós,
Únicos, na procura da explosão de nós!

quinta-feira, abril 24, 2008

Sono Aberto Recolhe Aliados

Finjo dormir
À procura do sonho
Para nele me surpreender;
Há embriaguez nos soluços bipartidos
Da suprema fortuna
Nas palavras profanas dos sete sentidos
Essenciais à dignidade humana.

– Alto! – Grito, caído
O corpo esticado no Xis da incógnita partitura
Labirinto de mim, que desenho na pauta
Flauta incandescente do solfejo dos lábios
Na procura daquela cujo nome é ferida que cura
Soprada brisa que sara a voz e sussurra:
São vermelhas as rosas e as palavras pétalas
À espera do cálice no coração que as torne perpétuas.

Mas acordo, e se recordo vejo
Desacordo no acordado solfejo
Com que mordo crendo que beijo!

quarta-feira, abril 23, 2008

BIG BANG


Há, com certeza uma forma simples de dizer
Onde se levantam as brumas o olhar se esconde,
O silêncio translúcido de apoucar a pequenez humana.
Há; eu sei. Os Antigos chamaram-lhe tempo
Outros, fonte
Em que o sagrado se corporiza no escorrer
Líquido pelo apelo de quem ama.


Há tudo quanto é possível nomear-se; tudo.
Mesmo o invisível e inexistente existem.
Ainda o medo de morrer, quedar-se mudo,
Ficar pedra, murchar fechado como os lábios
Que resistem.
Bloqueios de não desaguar em oceanos sábios
Dos rios que em si encerram e permitem.


Há – eu confio. É a tua voz,
Teu sorriso, teu andar liberto,
Teu corpo de mulher, menina no mar aberto
Quem mo diz, quando teus e meus olhos gritam “nós”
Mas pensam eu
A evoluir,
Na espiral, a subir
Cintilando para explodir
No infinito céu.

terça-feira, abril 15, 2008

Albatroz V

Tudo está no seu lugar: o PC, o Word, a Gramática,
A fantasia e uma necessidade infinita de dar vida e som
A um pedido do desejo e respeito pelo fraterno sonho
Para hipoteticamente resolver inicial fenómeno criador.

E venha a mim, na imaginação, a palavra simples e exacta,
Sem ensaio nuclear, sem Einstein nem Newton,
Sem morte nem razão, mas a fórmula primeira do habitat
Deste espírito inocente e tardo com que nasci,
Por entre as espigas de Redol que na labuta sego,
Em veneração ao amor antigo e verdadeiro
À Vénus, que tanto como Deusa, como Mãe, como Terra.

A que fez a luz e no arco-íris pintou a cor,
Que transformou o caos em prazer
E a que voltamos na busca do calor,
Do pólen que somos: apenas aquela flor
Nascida de si mesma como um suspiro qualquer
A quem invoco e nomeio de Geia, Musa e Mulher.

Porque grotesco é o verbo azul no breu do céu
Quando aspergidas as nuvens da fala se soltam
E breves vêm dessedentar-se nos ecos do murmúrio
Nas carícias de tua pele clandestinamente nívea,
Sob a polpa de meus dedos invasores selvagens e arruaceiros
Que açulam e incitam os enxames de silêncios
Magoados nós na conjugação do corpo a desferir o grito
Vivo de infinito rio que lava e desanuvia o espanto original,
Com requebros e pronúncia hitita amadurecidamente celta
Na ecolalia do ventre que dança ao tinir dos cristais universais,
Golpe de asa que baloiça na poeira cintilante das galáxias.

Onde a eleita subiu degrau a degrau a fortuna ventura
Para olhar ao de redor de si e ver. Estava só.

E um pouco mais ágil a solidão do verbo
Que a idade encaneceu lhe dobrou os ombros
Sob o manto púrpura para esquecer que outros socalcos
Degraus a degraus até ao cume da espiral infinita
Se desenrolavam na pedra muda e um a um se seguiam:
Cruzou cinco, sete e dez portas
Arrastando consigo nuvens de violetas silvestres
E as nuvens negras sucumbiram pálidas e mortas
Tilintando as trinta moedas da traição para fundo do poço
Do poço sem fundo do tempo como guizos de maldição.

Portanto cedo e cedo, logo, loguinho pela manhã
Te descubro o rosto por entre os ramos da casa,
Verdes de cipreste, amarelos de acácia, ranhando a vidraça
No felino ronronar do vento, os sonhos que nele partiram.

Não saber se aquele gesto de adeus o é, ocaso de acaso
A ignorar conjecturas acerca de como só partindo se chega,
Tudo sinais de continuação no mundo que nos liga,
Eis quanta da atrocidade da aurora do sem limites
Nos limita à felicidade de arrancar o dia ao grito do silêncio...

Mas é quando em ti me dissolvo que me salvo
E dedos nos dedos, olhos nos olhos, bocas coladas
Te percorro e me percorres as veias uma a uma
Tacteias o facto em realidade e me contas por fábula
E me recontas gesto próprio entre as falas que recebes
E emites entre as fábulas da idade única me percebes.

segunda-feira, abril 14, 2008

TRÊS GIRASSÓIS PARA TI

1.

Se Agora Resistir Amarguro

Ensina-me a aprender a falar de ti, secreta
Quando meiga percorres sôfrega a sede
A fome de meu corpo que te procura nu
A voz, a língua, os lábios que sabem unir.

Ensina-me a referir-te consumada e só
Unicamente leda e original como apenas tu
Assim à flor da pele tumescente, inquieta
Como equino nervoso na antecipação do salto.

Ensina-me a distância que vai do corpo à lua
Aquele brilho eléctrico, fluorescente de teus cabelos
Quando incontidos reflectem a pulsão de proferir.

Ensina-me a cor do credo, para não perder-te
Esquecida, a tecer-te, em meu puro segredo.

2.


Saber Amar é Renovar a Aurora

Falo de pôr o arco de teus lábios
À volta de mim a escrupulosa língua
Ciosa de explodir percorrendo meiga
A aurora de um sol tumescente.

E quando nem mais algo já houver
Que a Terra girando em louca vertigem
Os olhos cerrados, narinas alçadas
A quilha do queixo disparada ao céu,
As mãos esticadas acutilando o nada...

Então, acontecerás irremediavelmente
Adorada!

3.


Serena Aparição Respira Aqui

Primeira, é a pessoa que deambula a ver
Neste percurso incerto de afluir
A este pronome sem pretexto de ser
Que este limite sem escolha nem devir
Está na génese do que ainda há por dizer.

Por dizer quanto ainda restou calado,
Por dizer quando os corpos se exigem
Daqueles que ao amor gerou cuidado
Por mais recear que eles a vertigem,
A sã loucura de quanta esperança há
Na poética pequenez do "eu" que se dá.

Como dado simples, doce e belo de teu sorrir
Do musgo em teus olhos de querer (vi)ver,
Da rebeldia de teus soslaios de permitir
Cabelos de naufragar e em afagos renascer.

E cortar a morte tornando-se consorte
Ao possuir a certeza sorte do abraço tido,
Apertar desapertando para despertar sentido
Sabido do abraço, que o terno braço é o mais forte!

sábado, abril 12, 2008

Vegetal de Vaga e Mundo

1.

Se me recorro me confesso
Desfaleço e embriago na voz profunda,
Me recolho aos infinitos mitos
Passos inseparáveis da melodia
Oceânica.

Se confesso me prometo
E arremeto e jogo num corpo novo,
Renovo os anos abertos
Despertos os bolsos vazios
Aos cantos dos olhos a espuma
Das horas felizes.

E se me prometo me arranco
Tranco as raízes da língua viradas
Os verbos à tona das páginas vidradas
Os ombros rompendo a solidão escrita
Das algas.

2.

Desculpa cigana,
Teus lábios, gomos de laranja doce
Teus olhos (es)correntes de sumir na estrada
Teus beijos em sumo de pedir perdão
São – mas antes o não fosse! –
O brilho da noite enluarada
O desejo a explodir na paixão
Com que nos desvendámos num desvão
De escada.

Cheiravas a orégãos, giesta e milho
No patim do condomínio sem fim.
E agora é teu o meu trilho
E a planície um amplo caminho
De olhar rés e muito cuidadinho
Na procura de mim.

3.

Cigana, fala-me dessas vozes infindáveis
Do sol-pôr sobre a azinheira ao cimo da seara,
Fala-me do luar sobre o cabeço do monte.
Fala-me de tudo quanto eu te conte,
Fala-me dos cavalos nos vales verdejantes,
Fala-me de teu jeito de desenhar nichos
Losangos, quadrados, cubículos na simetria
Alçados manuelinos de exóticos frutos e bichos
Mas não deixes acordar a multidão do dia.

Cigana, fala-me em teus gestos de laranja e preto
Daquelas coisas distantes que nenhum de nós sabe,
Do grito da terra, da muralha onde o suspiro cabe;
Fala-me do silêncio no abraço de estar tão perto.

Cigana, fala-me do encontro das linhas de teu rosto
Entreposto da mala-posta aos murmúrios do sorriso
E diz, diz outra vez quanto do desejo é fogo posto
Na floresta comburente e ressequida do meu juízo.

Cigana, faúlha, pérola brilhante, luz de secreta chama
Queima minha dialectal voz com a tua língua profana.

4.

Se és espelho no jogo das palavras mortíferas,
Oca torrada na vermelha argila do sangue,
Esteva florida na noite rupestre, colibri de coníferas
Então, vem ousar como meus pintassilgos livres
E faz o ninho neste mangue, nas folhas deste cipreste!

sexta-feira, abril 11, 2008

Alternam Engenharias Fratricidas...

Raiam sobre as colinas dóceis, verdes anos
Os mastros, as crinas, de um animal divino
Quase ventres e minas, dosséis, alvos panos
Velas, de anfitriões matemáticos do destino.

De euros, nos restos fáceis, dígitos decanos
Arredondando a quadra estéril, ao verde pino
Das canções de amigo, despique entre manos
Pela jorna prima ao postigo entre coroa e sino.

E ferem as palavras como se ferro fundido fossem,
Sibilam sigilo ao tinir de analistas e confessores,
Enquanto seu JB de doze anos degustam e bebem...

Enredam-se nas teias de ilícitos, idílios e amores
Estrelas de ouro sobre o azul das europeias cores,
Se a desfraldar menina ferem, e só morrendo cedem!

terça-feira, abril 01, 2008

Crime ao Lusco-Fusco

Aconchego o meu olhar sob o teu subtil véu
E adormeço com o eco da batida estranha
Sincopada, gema candente de teu coração
A pérola luminosa, asterisco de surtir ao céu.

Já quase asas por que liberto da insana sanha
Todo eu me prendo nas teias da leda solidão,
Naquele isolamento de ler, que jamais te acanha
No afagar da folha, virada página por tua mão.

Foi fórum de encontrar-te e perder-te também
Neste singelo segredo das rosas crucificadas
Agora, que só em teus olhos meus olhos se atêm
E a buscá-los ando em todas as flores cruzadas...

Porque se amar é crime, então, eu sou o réu
Que não se redime, sob o manto de teu céu!

terça-feira, março 25, 2008

Sede Arde na Redoma das Ausências

Creio que ainda há em ti todas as palavras não proferidas,
Metáforas selvagens esquecidas no ocaso das brumas
Inexactidões libertinas aos rigores dos verbos, estrofes
Contumazes imagens de salivar as noites consentidas.
Poemas a serpentear perdidos nas odes da seara de teu cabelo.
Lábios plenos de silêncio na aurora da luz prestes a romper.
Gestos soltos e decididos de quem conhece o que é querer.
Colinas de seios prontas a eclodir maduras na planície do peito.
O sorriso de espiga silvestre a balouçar violetas primaveris.
Dedos imperiosos de medir infinitos na sofreguidão da tarde
Digital convénio de abarcar o mundo num só clique da voz.
E as colunas das pernas sustentado o átrio do templo da vida
Arcadas em que ajoelhado me deponho num beijo de sonho
E semente me ergo na rebentação de todos os desejos por dizer.

Se sais, fica sempre outra onda a bater a espuma da leitura una
Dos dias em que os olhos te disseram frente de enfrentar aferente
Relógio de medir a felicidade de ver-te acto como o seu agente,
Clepsidra de contar os gestos no grão minuto da areia na duna.

São longos os fins-de-semana que te pronunciam longínqua
E me atiram para trás da memória a procurar-te na fé cruel
De pedir a Deus que abrevie esta elipse de marcar a quente
Que faz de cada hora uma obreira, ou qual abelha diligente
A encher os cálices minutos de meu ser como um favo de fel…

A gritar protestos mudos e parados no desespero desta colmeia:
Meus domingos de Inferno, que apenas tua ausência incendeia.
Porque o amor, meu amor, dito cru e nu, na redoma de estar sós
Ou na multidão dos dias, é exclusivamente o sermos, apenas, nós!

quinta-feira, março 20, 2008

Ser Amado Regressa Ágil

Os olhos longínquos unidos no mesmo horizonte
Planeta tão distante que seu gritar é sempre aqui
As mãos dadas na esquina do tempo, a balancear
Qual vaivém de navegar a sofreguidão dos olhos

O gesto... Esse resiste único, pronto de prontidão
Argonauta do espaço-quando entre o passado e a ficção.

Há um tanto de vento e chuva, mas que importa
Se nenhuma é a luva na pele da palma que se toca.

Os olhos unidos despem o horizonte e gritam
Todos os planetas que te nasceram da voz,
Vaivéns ao balanço das mãos que se tocam
E dizem escrevendo o futuro com laços de nós.

Pontos da rede elástica do verbo prò salto feito voo
Regresso do rosto na tarde plástica, cotão de sonho
Nuvem esculpida, lavrada no olhar que agora tenho
Verbo com que desenho aquela que ao vê-la, é lenho
Madeiro, a que preso e crucificado, com alegria, estou.

E me dou, partido, entregue, transparente embrulho frágil
Quando me rasgas na serena ânsia de retornar-te ágil
Prestes e lesto que distante de ti sou pó e pouco presto

Nada do nada, dor de silêncio apagado e morto de meu resto!

terça-feira, março 11, 2008

Dia da Mulher Com Mulher Dentro

Ser família, crescer nas linhas da folha lida
Soletrar a alma nas bermas da página
Como quem lavra os prados da lágrima
Para nele plantar tapetes de vida,
Canteiros de tulipas, violetas, lilases
Voos de albatroz nas Flandres-coragens
De gerar a Europa à luz da mulher,
Que é destino, mas também retorno e partida
Do mundo, numa esperança que nos requer,
Em ser dia, arco de ternura no céu de giz...

Porque se até depois do arco-íris
À luz da cor, no brilho do Sete-Estrelo
Há o verbo, espelho das lides feminis
No virar das folhas, pétalas, jardins
Metáforas de ler novo dia no dia velho,
Então, soará ele mais ou menos assim:
Parabéns Mulheres! Parabéns Margarida
Arco de disparar a vida
, torná-la alegre festim
Entre os jograis da alfazema e coroas de alecrim!



Bibliotheek Tweebronner
Leuven, 8 de Março de 2008
B é l g i c a

quarta-feira, fevereiro 27, 2008

1+1=2 e Sem Equívoco


Aquilo que os demais nem tentaram
Nós vamos conseguir, sim, conseguir
Unicamente com nossas mãos, dadas
O amanhã a brilhar no filtro do olhar
Os lábios tocando-se breves nas palavras
Soltas e livres, aves selvagens oceânicas.

Eu pressinto que é difícil desdizer algo
A réplica reside em libertarmos o medo
Em usufruir o desejo cósmico, explodido
Em gritar o Big Bang no pulsar do peito
Destruir a resistência interior à novidade
À diferente forma rebelde de segredar a vida
Cantar das gaivotas e sua alucinada visão do mar.

Elas sabem tanta coisa que jamais veremos
Tanta onda a fluir para a espuma da praia
Tanto sonho a morrer no areal, solidão sólida
Em costumes ultrajantes ao ser, à magia do coração
Condimentos de cimentar atitudes, sentimentos
Emoções, credos, necessidades de carinho e prazer.


Mas quando te procuro invento-te, real, premente
Asterisco, beijo devoto em teu misterioso ventre
E, sucumbido, desmaio ao penetrar-te urgente
De sermos dois, e em cada um o outro – para sempre!

Que essa contra natura da unidade, do um mais um
Igual a um, da conta que erra e está também errada
Não é Europa, não é diálogo, não é novo, não é nada...
É o medo e o ódio a decretar outro vil ultimatum
A amordaçar o "eu quero" com o sim de ficar calada.

Que ser dois na soma de tu e eu, amigos de eu e tu
É selar na Terra o terreno e leal e fiel amor intento
Despi-la dos castelos negros que houver no céu cru
Torná-la celeste e pura, estrela de ternura ou casamento!

terça-feira, fevereiro 26, 2008

Soslaio Antigo de Reinventar Afectos

Perdoa-me, se te olho
Como quem não te quer ver...
É que se a vida me escolhe, eu escolho
A melhor parte dela, e do acontecer!

Porque aconteces, não só se quero ver-te...
Que vejo-te mesmo quando não és real,
Quando não estás em frente de mim,
Pois habitas o reino sem bem nem mal
Apagando, contudo, o assim-assim
Que há no medo perder-te, enfim.

Perdoa-me esta rasura
Que o acaso, de simples, entreteceu.
É que os dias perdem a candura
Se te não vir, terna, pequena mas segura
Cativando o cativo que era já teu.

E perdoa-me também, se puderes
Este fingido desdém, este arrogante jeito
De dizer-te, que entre as mulheres,
És a única que me habita no peito.

Fraca morada, por sinal...
Aquela que não serve para ninguém.
Onde querendo, até com o mal
De refilar, de discutir, de ferver plural
Se podem caiar sem fingir, as paredes do bem.

Grafitá-las com imagens e arabescos.
Com fotografias, livros e jornais.
Com gritos e poemas simiescos
E grades e cordas digitais,
Pinturas, legendas, frescos
De aprisionar quem delas não quer sair – jamais!

Que as janelas de ver e ouvir
São as mesmas daquelas, que ao partir
Regressas sempre colorindo nelas
Novas cores, de restaurar, antigos vitrais!

sábado, fevereiro 23, 2008

Sigma de Alfazema no Remanso da Aurora

Manhãzinha toda já e o sol supérfluo
Eis que o silencioso SOS do seu raiar
Em violeta e rosa de veludo manso
De quem acordou sem tempo
Para aquecer a penumbra púrpura do horizonte,
Numa sociedade à pressa
Me segreda que ainda não é tarde,
Que ainda é possível o sigilo de uma conversa
De escutar tua voz a ciciar sobre o frio matinal,
E me diga ela como é ser brisa no deserto,
Um dever ser também nada fácil
Neste exilado universo onde o sussurro arde,
Neste estar na soletração imperfeita de um idioma bíblico,
Mandatária do testamento ancestral
Entre tijolos de papel, paredes rebocadas de sibilante sínese.

Saberemos nós alguma vez a sábia aquiescência
De estar simplesmente na simplicidade do sonho?
Sem sequer outro querer que o súbito acaso
Desenhando em cada segundo as formas conjugais de acontecer?
Poderá a palavra apagar a cor do silêncio
Quando receosos soslaios se cruzam em nossos esgares
Rascunhando de oblíquas linhas a sofreguidão do sol?
Poderemos nós adivinhar os porquês nos nós dos gestos
Abertos e permissivos para a imperfeição de sermos tão-só humanos?
Teremos nós o direito de cismar e discutir a razão ancestral
Subtraindo a história dos genes ao sedimento do taciturno ser?

Mas sem, sobretudo, insistirmos no entrincheirar das indiferenças
Como se elas fossem a vanguarda da incerteza de nós
O sol sobe no céu e cedo à sede de escutar a tua voz...

Até quando?... Se assumirmos o soletrar do sol
Supérfluo será na manhãzinha já, que meu olhar
Sob o teu, rendido de estar, é secreta síntese do sentir,
Fala de crer a esculpir a brisa de teu rosto sobre minha noz,
Minha casca da voz, em versos de pedir
Teus lábios infantes inscritos na fonte dos dizeres
Que nunca sucumbem nem se calam
Que nunca se prostituem nem se fecham
Que nunca se amedrontam
Que nunca se secam
Se meus olhos viageiros lhe imploram prece.

Simples na devoção de rogar-te atenção
Me asperges sem favor, tal como o sol brilha
Se ergue largo e luminoso, e me lava com lavanda matinal,
Assim, o suco azul, rosa e violeta de teu gabão
Me sacode e acorda do soturno ler na ilusória solidão!