A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, junho 30, 2010

Décimo Sétimo Cálice



Sobre o azul das cadeiras
Um ágil miosótis saltita
Alinha livros, limpa prateleiras
Cujos meneios são mil maneiras
De pôr o pó fora dessa palafita.

Aldeia dos lótus em flor
Siando à tona do olhar
Brancos, porém criando vida e cor
No horizonte desse teimoso leitor
Que decifra sentidos no imaginar.

Repõe a ordem nos fugitivos
Expulsa os intrusos do lugar
E se alguns são mais activos
Dá-lhes refrega e põe-nos cativos
Ordenando-lhes a onde ficar.




É autoritária esta serviçal
Dominadora perante residentes
Exigindo aos súbditos renitentes
Que assumam a sua posição real
Na estante, antes que lhe suceda mal.

E eles, livros perdidos, em jeito cru
Submissos, intérpretes do conhecimento
Acatam a catalogação em CDU
Como soldados em missão na ONU
Ou em serviço maior do seu regimento...



Tu prà'qui, tu prà'li, em fila, marchando
Pondo acerto no passo e tino nas maneiras
Que aqui, ao alto subida nestas cadeiras
Não há outras leis nem demais fronteiras
Pois que aqui, sou eu quem mais mando.

E perante essa razão incontornável
Sobre aqueles na reticência activos
Eis que Arina, o Sol da tarde perscrutável
Assume por momentos
As semelhanças e movimentos
De uma arrumadora de livros!

terça-feira, junho 29, 2010

Décimo Sexto Cálice


Tenho também seis rosas num quadro
Pintado pla mão divina ao alto erguida
De Arina revista no alfabeto soletrado
Da vida, como menina tão-só esculpida
No marfim dos teus gesto de lírio fugaz
Que por sorrir me apagas maior martírio
Me inspiras, absolves e anulas o delírio
Murmurando ordenada e tranquila paz.

Cada tem dez folhas verdes serrilhadas
Escondendo espinhos, afiado esmeril
E outras tantas emotivas pinceladas
Nas pétalas raiadas de luz primaveril
Convertida toda essa em tons estivais
Amadurecendo a promessa esperança
Nos chilreios e corridas de criança
Plos recreios de travessa ou colegiais.


Suposto é terem ainda uma fita de seda
A segurá-las e até aquela cesta de verga
Dando ao conjunto equilibrada e leda
Ordem, que ao ampará-las, também as erga
Como grito de cor no silêncio dos dias
Que assim nos conceda imenso regozijo
Combatendo o stress, ajeitando o juízo
No consenso das devolvidas alegrias.


Uma fita lilás, larga pétala de violeta
Entrançando o que demais és capaz
Com aquilo que somente eu te prometa
Na leitura irrequieta como pertinaz
Dos sinais que as estrelas vão ditando
Se audaz cometa cruza nosso momento
Propondo por condição o consentimento
De apanhá-los à mão, ardendo – e calando!

segunda-feira, junho 28, 2010

Décimo Quinto Cálice


Tulipas-lírio, dálias franjadas
Orquídeas, crisântemos, açucenas
Ladeiam os degraus das escadas
Ao Olimpo das mulheres pequenas,
Porém tão grandes e tão amadas
Que entre as flores mais cuidadas
São de todas elas, as mais serenas.

A cobiçada pose dos ramos singelos
E as vestes numa folhagem estival,
A seda escura dos castanhos cabelos
Certos e rimados ao meneio musical
Ondas sossego e escadeados anelos
Navegáveis sem nós nem novelos
Que encrespem os dias por igual.



É tudo tão simples, assim, encantado
Que do recanto nasce o canto vertical
A esquadro e a compasso desenhado
Como canteiro, ou minarete floral
Esboçando tela de quadro conventual
Para quem sonha, e desse sonhado
Floresça o sentido do sentir universal.




Início do que não tem princípio nem fim
Nem carece de conceito ou até de meio,
E completa tudo quanto falta em mim
Se dos teus lábios bebo o cálice cheio!
Décimo Quarto Cálice


Só quando te quero sou
Sou quanto te quero só,
Que dizer é içar-me voo
Venho e vou de dar o nó.

Crescer como um laço
Ao beijar o colo de jade,
Cruzar o tempo e o espaço
Nas asas em V da verdade.


Receber-me quando dou
E dar-me apenas abraço,
Cedendo tudo o que sou
Nos teus olhos de melaço.

Mel das flores silvestres
Alfazema, rosmaninho
Violetas entre agrestes
Junções do azevinho.




Dizeres de fresco pão
No miolo enfarinhado,
Que cada dia é canção
Se à vista do bem cuidado.

Do bem que se não perde
E das flores iguais bens,
Que se à flor, que bem herde
Há-de ter o que só tu tens.


sábado, junho 26, 2010

Décimo Terceiro Cálice


As estrelícias esculpidas na seiva da voz
Descem nos minutos da pétala à sépala
Teu nome soa nelas que nem o albatroz
Prestes a escorregar nas algas da fala
Voo de vela em delta ao ângulo perfeito
Esse de seres pêndulo que dentro do peito
Me navega e marca horas se batendo cala
Esse outro suspiro que voando me exala.

É precisamente esse o tempo da reflexão
Cujo vaivém me balança quando a lança
E flecha de Cupido me alcança o coração:

Porque entre as margens do zénite e nadir
Há um porto de chegar, e outro de partir
Incrustados no alvar murmúrio da Lua
Naquele ângulo interno e esquina de rua
Onde o vogar do crepúsculo mal soa a rasar
A face tua no nicho que o oceano entoa.

Balança, reflecte, te pinta, enfim rasga
Em treze pedaços de mês por cada ano
Iguais nos quartos como luminosa nesga
Punhais, sinais de Arina reflexa e acesa
Virtuais taças em que te bebo e chamo!

sexta-feira, junho 25, 2010

Décimo Segundo Cálice


Se na equidistância entre estrelas o afastamento a uma é aproximação
A outra entre dois pólos navega como pêndulo à procura da unidade
Esse ritmo binário digital com que nos sustentamos irrequieta condição
A bater as horas entre ser e não e não-ser, sintetiza-nos átomo paridade
Ao construir-nos duplos no género mas iguais perante a generalidade.

Olho devagar a concisão de teu sorriso aflorando o recanto da alegria
E nesse olhar em que me vou tornando está o manto rosáceo, puro, liso
Que não descuro nem quanto dele preciso para seguir em frente no dia
A dia, sobre a mesa da ocasião, apenas à solidão calada as letras aviso
Arriscarem-se a perecer se ao cometer a traição temerem doce ousadia
De tecer teus ombros na fina e branca seda dos astros reflexos os areais
Bronzeados mestiços metais nada são se os comparar a alvos celestiais
Das velas navegantes que mundos viram e trouxeram uma página mais.

Duas folhas unidas pela medianiz como dos troncos nasce só uma raiz
A veia feita das duas metades que já foram quartos doutras tantas luas
Ao querer como se crê e tanto quis que as pétalas saídas do cálice tuas
Fossem únicas verdades essas lidas assim tatuadas na pele tão-só a giz
De gizar o caminho ao amaciar o linho da repousada água na líquida fé
De se apagar a mágoa no mansinho ser somente quem, ao querer-te, é.

sábado, junho 19, 2010

Décimo Primeiro Cálice


Andam rosas autênticas sob o estampado de outras mais e-reais
Que umas sendo arte reproduzem aquelas originais primeiras
Não se sabendo agora reconhecer a autoria sufixa dada e às quais
Sim, quais foram e são as verdadeiras, se aquelas das roseiras
Ou estas @qui alvas subtis e glamorosas mais belas que as demais?


Mas se gerar confusão esse romance assim sumariado no viés alfim
Saiba-se então, que o soletrado afélio da rima é ainda mais para mim
Onde aquela cujo nome me cresce à prontidão e entendimento atendido
Se faz poema aceso-verso e sinal, estrofe de si a quadrar puro sentido
Como se fora a Aurora ao fim do dia ou Vénus a pôr-se no Nascente
Tudo trocado, nisto somado assente fica, que viver é bem mui pouco
Pois põe-me o sentido louco, se quem deveras amo está flor ausente.


Porém se caminha indica também caminho e é bússola desse raminho
Haste de folha verde que a sustém no carinho da esperança sinuosa
A subir amparada na roseira de asilo sem o espinho da rosa verdadeira
Que destino estampado na seda, algodão ou linho é a mais real maneira
De beber a fé primeira vestida de veludo nos lábios de pétala da rosa.

sexta-feira, junho 18, 2010

Décimo Cálice


O presente é uma esquina
Entre o passado e o amanhã
Que o Sol, raio a raio, ilumina
Treze ao todo, conforme Arina
Dita pela voz da Lua, sua irmã.

Aquela que a reflecte por alva luz
Nas tardes escuras, presas do breu
Pois assim nos ama e alivia a cruz
Pondo cada um mais perto do céu.

Se às mãos justapostas erguidas
Ou acenando A Deus os dedos abertos
Prometer compor das suas vidas
Os hinos de coro das vozes unidas
Com a clave dos solfejos despertos.

E dispersos no globo virtual
Que alinhava todo o mundo
Numa rede de ponto-cruz universal
Do tapete do voar profundo
Com que aquela Vénus digital
Fez do ser-se apenas animal
A janela do celestial vagabundo.



Argonauta dos nomes próprios
De Cronos recíproca profundidade
Sujeita alma a reduzidos aedos heterónimos
Da liberdade acesa Reia aspergindo sinais
Brilhos, cujos fátuos olhos são a verdade
Estrela dos teus por que nos vemos iguais.

quinta-feira, junho 17, 2010

Nono Cálice


Digo-te pois em segredo
Na frente de toda a gente,
Porém, sem o mínimo medo
De ao proferi-lo, de repente
Na inveja de quem por vê-lo assim
Ao nome desmascarado, o obrigue rogado
Exigido, coitado, outrossim,
Assustado no pormenor enredo
E queira parecer ser coisa diferente:
Porém, certo é dizer-to em segredo
Teu nome, só para mim,
Sabendo-o conhecido de toda a gente!


Sei-o de trás para diante
Anterior ou partindo do meio,
Repetido como refrão constante
Atreito ao brilho do diamante
Como às espigas do trigo e do centeio.


Dou-lhe aval garantido
Pelos registos da memória
Como assinatura de lido
Seja só ficção ou história.


E acerto a terceira sílaba
Do meu relógio e tempo
Na cripta de uma cabala
Onde a mim próprio me invento.

E três vezes três vezes te digo
Pelas frestas do sonho em flor,
Não serve de nada o conto antigo
Se a Aliança renegar o amor!

quarta-feira, junho 16, 2010

Oitavo Cálice



Perscruta o infinito como quem aguarda o insurgente apito do comboio
Porque há algo que escutar no silêncio da ímpar imensidão do cosmos
Quando já for quase noite neste dia ainda o mesmo dia ao crepúsculo
Quando comecei a escrever-te todavia já é madrugada o ocaso serôdio
Quando a aurora e o odor do teu corpo se misturam o mesmo fascículo
Se diluem brasa no perfume acidulado da rosa canina medida a moio
E seu fumo evola e dança entre nós urgentes e nus trejeitos de menina
Que os ventres se requerem desesperados na sôfrega eclosão plangentes
Com que se fundem num só fogo e igual fragrância de sangue ilumina
Latejante arrebatamento, febril e avassalador esquecimento da luz o til
Que cheira tão bem que até dói custoso acreditar ser cálice primaveril
As folhas a arderem estralejando desde a semente à raiz dum rebento
Libertando fleumas de convergir na morrinha da manhã acesa ao vento.

Eu confesso que também não sei quase nada das horas aberta espiral
Dos dias e do tempo apenas reconheço os minutos que sinto estar perto
Na intensidade dos sessenta segundos de pensar em ti em ti no plural
Em ti no analógico desmedido até ferver cachoeiras no DNA desperto
Furnas de lava ácida nucléica borbulhante nas lagoas cerebrais do sinal
Desmesuradas quedas de água interior despencam abruptas desmedidas
Precipícios líquidos do desejo com que te dissolves nas minhas lidas.




Há outras coisas a querer igualmente dizer sem parar ininterruptamente

Claro, mas que podem esperar ainda pelo sacrifício do verbo ao nome
Quando o degolarmos na lousa e altar de todos os silêncios cintilantes
E o seu latido agonizante raspar o arrepio e sulcar a alma alerta insone
Com as pontas de diamante das estrelas que anavalham o torpor antes
O rasgam de alto a baixo e esfaqueando-o como cristais candentes ais
Plantam nas telas do céu diamantinos e fulgentes soslaios e madrigais
Esses teus com que dizes não à morte de nenhum animal ou ser vivente
Flor, árvore, ideia, cor, som, gesto, expressão do agora digital semente
Porque tu preferes que profira a vida em linhas de horizontes tangentes
Paralelos sobre a paralelidade como socalcos de aproximação do grito
Palavras sobre palavras a irromper o imo seio das veias no grão granito
E pulsantes impulsionem as correntes águas a espraiarem-se liquefeitas
Até não podermos mais de tanto ruborizarmos nas inconfessáveis teias
Vermelho desejo do tumescente segredo no beijo sequestrado perfeito.



Porque quando se é julgado por incendiário e ter ateado o fogo divino
À floresta dos sonhos incondicionais e estes em labaredas irrompam
Incendeiem o corpo no suplício da obsessiva possessão nosso destino
E me possuíres em ti como um crime consumado no imo foro as glórias
Então ficará explicado sem que usuais contundências ilusórias acudam
Da retórica dos remorsos e rebates dos desejos arrependidos assaz frios
Que mergulhei na morte abraçado ao meteorito incandescente do olhar



E do teu beijo, e atravessei-a toda num golpe de adaga imperial secular
Separando a eternidade em duas metades como fruto maduro nos estios
Cometa acutilante de seda felina a dizer a fresta que nos une até gritar
Teu nome através dos tempos milenares provocando infinitos arrepios.

segunda-feira, junho 14, 2010

Sétimo Cálice

Só pode haver uma lenda, um fado, um mito
Aonde esteja o nosso destino traçado,
Repondo fundamento no mundo, em que acredito
Até podermos ter o futuro alado, dez vezes escrito
Há muito, no mais profundo e recôndito passado.


Sucedem-se aqui raras ampulhetas vistosas, sãs, originais, habitáculos
Acesos e reincidentes ateando sinais de leda esperança na soleira
Átrio reduto das aves seculares arroteando registos auríferos à beira-
Seiva das algas em regras aquilinas da sensatez afecta aos cenáculos
Cujas águas ardentes reflectem as aspirações supremas desta videira
Em que me enrolo e enleio no esteio do teu jeito, teu querer e maneira.


Altivo rogo acerto sumário antes da resoluta aurora tecer seu manto
Violeta e dourado de sangue aguado no rosário austero da tua sede,
E assim resumido na ara sagrada aprendo o refrão do aliado encanto
Que há em ver-te, ardendo metade de mim, a florescer noutro tanto
Como quem se mede no quanto acede aos reais anseios de submissão
Sabendo ainda reconhecer alianças remanescentes dos antigos sonhos
Águas, resoluções ardentes de selar harmonias no jardim da promissão
Atalhos simétricos de alinhavar rotas ancestrais do rumo adepto ao ser
Ponto na ponte os sinais acordes a rescrever álgebra rima da alva sina
Ao ritmo ainda sufixo do viver em cada crer que o sonhar nos ensina
A querer até conseguir, neste chegar gerúndio, ao ficar que domina ver
Porquanto estar é ser, e ser um sendo, crescendo a par da suma razão:
Tu, gritada no meu silêncio, ecoas e bates veloz[da]mente ao coração
Qual anel refeito na angústia sofrida como se nunca a houvera dito
Ou tida, arte da resiliência aprontar soluções antes e reparar acontecer
Antídotos e anestesias reais para a dor e mágoa, ainda antes do doer.


Então, cruzo os braços sobre meus próprios ombros afoitos, secos, nus
E nesse amplexo um realejo amplia sonoros ritmos para antigos rituais
Que onde se fundem os ecos profundos pelos mais do que outros, uns
Esses serão os teus, que ao cingir nos meus, os confundi seus iguais
Por não haver outros que lhe caibam e saibam amparar como nenhuns
Porém mais, muitas vezes, por sinal, multiplicado muitas vezes mais.

sábado, junho 12, 2010

Sexto Cálice



Três vezes os pratos da balança se equilibraram no prumo horizontal
Dois a dois aferidos por um só destino no condomínio dos espelhos
Clepsidra de medir as vozes ao discernir da tarde antecedida e plural
Descendente ao meu beijo vertical até finalmente ante ti, de joelhos
Te beber dos olhos, dos seios, do ventre sustenido, um suspiro sideral.




Que temor pode esconder a eleição do corpo devotado nas espirais?
Que rodopio de luz se acende com teus passos de corroer o silêncio?
Que brilho pode ofuscar a serenidade às pedras seculares e medievais
Senão o do teu cério rosto sob os repentinos reflexos de digitais aedos
No senso incenso os jograis da luz na luta jus dos vitrais dos segredos
Esmeraldas e rubis, cristais e diamantes, mas todos eles subtis enredos
Ligados e unidos, pelos diademas ofegantes sob o jade de teus dedos.






Ceres te rendeu seu sexto sentido, e na empatia comum das cerialias
Em que as espigas gritam suas agulhas nos estames ao infinito manto
Eu sei-te pequenina mulher mil vezes menina protectora das famílias
No desvão recatado recanto afirmado ao labor cuidado de teu canto...





E dessa certeza, que mais do que de outra qualquer, se serve da beleza
Deméter ajusta seu ser entre a espiga e madeixa de cabelos a florescer
Para melhor ser fiel, eis-me crente na extensa fé, que sendo tu mulher
Entre as mulheres a que A Deus requer pequena, porém, sua fortaleza!

sexta-feira, junho 11, 2010

Quinto Cálice


Com tanto de tão pouco nasce a fortuna que é sorte sina o ter nascido
Que outro milagre não houvera igual em qualquer tempo futuro ou ido
Este de levantar os olhos e reconhecer que o sonho é tão real-autêntico
Como respirar, falar contigo, estar a par, porém saber o propedêutico
Instar da luz no recanto da folha digital tangente ao desejo assumido.

Que devagarmente se isola na rispidez o gesto assaz nulo, oco e vão
Pois nisso de viver é coisa basta a resistência comezinha e até pueril
Dizer «sim» quando ao «não» se pensa ou tido vice-versa por decisão
Como qualquer fogo que arde sem combustível pode apenas ser ardil
Da matéria, ao espírito alheia, simples fusão a frio do ninguém e nada
Pondo a parte tida em forma perdida já por demais em si tão achada.



Porém, tempos houve outrora ainda do aqui-e-agora tão-só distantes
Que lídimos dedos apontaram os céus infindos e disseram o espanto,
E perante tua luz os olhos fulgiram como mil sóis candentes voantes
Explodindo as vozes dos mais entendidos em desgarradas no descanto.

Foram esses os primeiros dias de todos os dias daí seguintes adiante
Que feitos à tua imagem na repetida procura, busca ansiosa e diária
Nenhuns outros se assemelhando em intensidade, que se de férias
Ou folga tida, me senti pária roubado por mim de minha própria vida.



Me senti desnecessário do sentir que é viver e não saber até quando
Teus olhos me segam o desespero sem qualquer intenção de fazê-lo,
Pois que ao Sol do acaso todo o verbo é um gerúndio afecto andando
A(r)riscar reflexos e ângulos silentes e lisos às esquinas do teu cabelo.
Quarto Cálice



É preciso amar muito uma pessoa para lhe escrever o nome
Em cada verso avulso há esse sentido no escorrer das sílabas
Anteriormente rimadas na antecipação sujeita e papiroforme
Esquissos de amoras nos reflectidos astros similares às opalas
Com que a noite erige socalcos de ambrósia regenerada alma
E me chama na alvorada rica em áureos sinais da pura calma
Em ter-me súbdito alerta a render acatada suserania pelas falas
Dizer ansiedade é reduzir aspirações do sentimento conforme
Ao muito mais que alcança o requerimento de alguém superior
Que superiormente aceita o rimado alívio por sentir-se só amor...

Ninguém pode destruir o que assim refeito ante a suma existência
É opalina aurora rasgada na austeridade sufixa da luz de Arina,
Do quanto ainda as rosas anseiem ser-lhes semelhante opalescência
Jamais o conseguirão por se sentirem ausentes da reflexa anima
Que só a si assiste reparada em autoridade real e alva suficiência.



É esse o líquido que em fogo me arde cor de sangue aberto e raro
Quando ao verter teu nome em mim se acende registo antigo, caro
Entre os demais raros que saram o rasgão do dardo a que me acerto
Sendo cupido das setas que com meu próprio arco tenso me disparo
Na acesa rebeldia armada de sucumbir ao distante por estar tão perto,
Sendo até utopia, horizonte escrito na lei eterna da nascida anuência,
Essa coisa reflexa que é ver-te, e naufragar, cair fundo no desamparo!
Terceiro Cálice



A Deus Arina escutou meus pedidos mais íntimos e profundos
E o delta de fogo me verte nas veias teu silêncio incandescente
Sagra-me aedo dos rituais do amplexo entre o Sol e os mundos
Entre a história e a ficção, entre o imaginado e o ainda existente
Já se esculpe a muralha do futuro em seus devires vagabundos,

Qual gesto de lírio entre as caiadas frias arcadas dos claustros
Eclode o senso da pétala azul e lilás a ocultar-se na coluna plena
Se fecha como biombo ou luminescente leque de vivos astros
A esconder tão-só a luz da luz que há da razão na manhã serena.



Ninguém saberá nunca até onde alcançará o licor nosso segredo
Até onde, a que reino chegará esta soletração arisca da regra alva
Nem, muito menos, que significa isso de dizer o amor sem medo
A crepitar polposa flor-de-cera como em verde veludo da malva.

terça-feira, junho 08, 2010

Segundo Cálice



Antes do verbo o nosso aceso referir de alianças siderais
Correntes de água renovadora dessa onda sufixa às olaias
Habitáculos exclusivos da liberdade escrita nestes anais
A medir arestas reflexas ao tanger isolado néctar das sericaias.

Osculo teu ventre e deponho meus ternos lábios e fiéis
Tributos sagrados do amplexo redentor à ampla amplidão
Estelar aos sonhos alegres risonhos da acção, sentimentos
Unificada em teus gestos de catalogar papéis, documentos




Notas de rodapé, informações imprescindíveis, signos preciosos
Ordenar alfabetos, cruzar conhecimentos novos e ancestrais
Moderar influências, riscos, atitudes menos harmoniosas
Esquecidos solfejos de Arina nas rosas acesas dos cristais…

segunda-feira, junho 07, 2010

Primeiro Cálice


São esses altares de rigor a Arina em segredo edificados
Sempre que as pétalas de veludo de tua pele deslaçam
E na alvura marmorínea o sorriso descreve os passados
Mas é o futuro que leio se meus lábios aos teus soletram

Na linda do silêncio, ao fundo da tutelar penumbra
A tarde aguarda ante o cintilar sincopado do browser
Teu perfil sob a cascata sedosa dos cabelos síceranos-
Sibilinos sussurram-me o olhar ledo de colorir a sombra
Repetindo cada gesto tudo quanto o sonho apenas requer
E crescem-me aos olhos tamanhos os amanhos de mulher
Os trabalhos, as lides, as esperanças que só o desejo cobra
Pondo cobro ao tédio se sobraça e grita, incita e tece obra:

Eis o aval de quem se prende por cativo preferir ser homem
Cuja bandeira sacudida alude rebeldias ancestrais helénicas
Na senda dessas flores acesas que em ternura se consomem
Brilham nos céus pejados labaredas iridescentes e académicas.


Não sei quem foi que disse isso ser amor alguma vez sequer...
Porém, essa esquina única em que a alma se baloiça e me dobra
Ferve em cachão se tua mão me açoita semeando nessa sina sobra
De vivo esse ser, ao soltar-se o silêncio audaz no repentino arder!