A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, dezembro 24, 2015

TODO O POEMA É FRUTO DO EMBARGO

 
 
 
 
TODO O POEMA É FRUTO DO EMBARGO

 

"A lei é a própria razão, tal como reside e opera na mente do homem"

(aedem ratio cum est in hominis mente confirmata et confecta est lex)


– in CICERO, De Legibus, I,IV

 

Por quem, e de que é feito o puro intento

Ou ainda, como se forma a razão segura,

Se cada, e também, a cada momento

Muda, e, ao mudar, logo amadura?

Assim mesmo é o verbo inconstante

Em seu dizer, para calar de seguida

Marcando, pois, a pausa e o instante

Pra nova ação, mas dentro da mesma vida...

Logo, regular a respiração d'evoluir

É tarefa que aos limites frequenta,

Já que para sermos, crescer é partir

Noutro ser que em nós próprios se senta.

E comanda e opera e dita por moral

E certo quanto for também honesto,

Que a poesia impera pelo racional

Que se exercita num íntimo arresto.

 

Joaquim Castanho

(Imagem:Princesas da Disney)

UMA ÓPERA MALCONTADA

 
 
 
 
UMA ÓPERA MAL CONTADA

 

"Agora estás distante certamente

Pois tua voz tem o inumerável tom

Do eco, e mal o ritmo lhe percebo.

Mas te vejo: tens violetas nas mãos

Cruzadas, tão pálidas, e tens líquenes

Junto aos olhos. Portanto, estás morta."

in SALVATORE QUASIMODO, A Balsa

 

 

Quasimodo tinha uma bela

Mas que não era tão bela assim,

Pois ao fazer o caminho dela

Apenas lhe antecipava o fim.

Queria da poesia o elogio,

Da vida o sonho e a magia,

Mas esquecia viver num rio

Onde a corrente é só água fria...

Quasimodo tinha uma bela

Tão bela que parecia Querubim

Que fugia, fugia, fugia, e fugia ela,

Porque uma mariposa assim

Só brilha apenas se mais ninguém

Lhe pinta a alma com esse desdém

Que além de brisa é assopradela.

Joaquim Castanho

(Imagem personagens Disney)

 

Salvatore QUASIMODO, poeta italiano, nascido em Siracusa, Sicília, em 20.08.1901, e falecido em Nápoles a 14.06.1968, funcionário do ministério das obras públicas, redator do semanário Il Tempo e professor de literatura no Conservatório Giuseppe Verdi, foi laureado com o Prémio Nobel da Literatura em 1959.

terça-feira, dezembro 22, 2015

GARANTIA CIVILÍSTICA




GARANTIA CIVILÍSTICA 

Quando a realidade é indistinta
E nada prevalece que a ilumine, 
Só a tua palavra à névoa finta
Só ela garante que a luz ensine,
A bem distinguir, a bem destrinçar 
Entre o que é interesse ou conceito
Plo qual a alma inocente tem lugar
Próprio, efetivo e único, por direito. 

Que quando a realidade é irreal, 
O chão treme, a esperança oscila; 
Mas o subjetivo é objetivo natural
Que dita a nova ordem e se perfila
Sem receio desse insight confundido 
Num interesse jurídico protegido. 

Joaquim Castanho
(Imagem: Princesas da Disney)

O TRADICIONALISMO É A MODERNIZAÇÃO





O TRADICIONALISMO É A MODERNIZAÇÃO 

Flexível e plural e identitária, 
Descentralizada e comunicativa, 
É mais justa a ordem se contrária
À rigidez abstrata e corporativa;  
Porque é contínua comunicação.
É verbo em simbiose de cultura.
É rasgar de mitos senis à tradição
E ser presente na iurisdictio futura.  

Assim te digo eu hoje como um amanhã
Pleno desde o primeiro dia em que te vi, 
Que há no quando um espaço de lã
A tecer sonhos ideais do sonho em si. 

Joaquim Castanho 
(Imagem: Princesas Disney)

QUE SEJAMOS COMO SOE SER-SE




QUE SEJAMOS COMO SOE SER-SE 


Pois, o dever-ser é um fim no meio, 
Consequência jurídica e ética
A cuja hipótese não fica alheio
O justo na justa escrita da métrica. 
Que a cidadania também tem suas normas
E todas as normas que são de regras feitas
São sempre outras tantas das tantas formas
De nas portas tortas, baixas e estreitas
Da vida, as gentes entrarem direitas. 

Assim é portanto a poesia, sobretudo
Quando atenta nos fazeres milenares, 
Se o nada feito de pequenos nadas é tudo 
Sã diferença prà primazia entre pares...   

Joaquim Castanho 
(Imagem: Princesas Disney)

TRAJA A IDEIA CONFORME O IDEÁRIO




TRAJA A IDEIA CONFORME O IDEÁRIO 


O que não é proibido é permitido
E não poderia ser doutro modo, 
Que quem serve também é servido
Garantida parte e de garantido todo. 
Porém, no relativo e igual aparte 
Tem parte cativa no positivo
Que assiste ao social da arte
E dita o natural normativo
Hipotético
Categórico, 
Tanto pelo plural ou ético, 
Simples ou gongórico, 
Qualquer verso do universo imperativo... 
Seja aqui, na Terra, como em Marte. 

Joaquim Castanho
(Imagem: Princesas Disney)

ESTRITO PULSAR EXTENSIVO




ESTRITO PULSAR EXTENSIVO 

Porque ver a lei à luz da Lei
Amor é tanto que nem eu sei
Como dar sentido a esta dor
Em ver-te assim tão distante, 
Num rompante de esgar em flor
Cuja cor é doído semblante
No rio dos sentidos do amor, 
Ou saudade de um instante
Já sentido, já sentimento,
Qual história do preceito
Com que o ritmo é momento
Abatido plo bater do peito.

Que conhecer esse conhecido
Sentido que é todo querer bem
(O sentimento compreendido...)
Tem, enfim, seu maior sentido 
Motivado e tido por alguém.

Joaquim Castanho 
(Imagem: Princesas Disney)

§ ÚNICO




§ ÚNICO 

Nada é dito por enquanto
Que a palavra já não saiba, 
Pois qualquer rima é canto
Desde que aí a alma caiba;
E se do toque o sonho fica
Para nos tatear o interior, 
Então vemos que modifica
Tudo o que nos toca por amor. 

Que a vida é um parágrafo
Plo epitáfio resumida, 
Tendo coração polígrafo
Se a verdade nos é querida. 

Joaquim Castanho  

quinta-feira, dezembro 03, 2015

O SONHO NÃO É SONHO




O SONHO NÃO É SONHO 

"Aquilo que a Glosa determinar deve ser mantido, pois nas decisões das glosas raramente se encontram erros" – Baldo, século XIII-XIV. 

Quando te digo o sonho
Aprendo-me contigo
A escapar ao medonho
E a fugir do perigo. 
Que a voz se liberta
Libertando-nos com ela; 
Logo-logo nos desperta
E acorda a "Cinderela" 
– Assim tão uma, tão de repente
Que o sonho, não é sonho... é gente! 

Que ao dizer-te primeiro
Bem antes de tudo o mais
Me faço teu aio escudeiro, 
Mentor de aedos e jograis; 
E que nunca esquecem gratos
De tanta felicidade ter,
Pela Senhora cujos atos
Lhe conferem são parecer
– Assim tão uma, tão de repente
Que o sonho, não é sonho... é gente! 

Primeira de primeira lei, 
Par mas de ímpar gesta; 
Que a ela devo quanto sei
E sem ela o saber não presta. 
Que meu dizer é por si só, 
Depois partilhado a eito; 
Moído grão a grão sob a mó
Por quem me bate o peito 
– Assim tão uma, tão de repente
Que o sonho, não é sonho... é gente! 

Joaquim Castanho
(Imagem:Princesas da Disney)

quarta-feira, dezembro 02, 2015

IUS EST IUSTUM




IUS EST IUSTUM 

O que é justo é direito, 
Que do direito se vê justo
Tudo quanto a muito custo
Vai ficando a nosso jeito.
E logo assim em igualdade
Sílaba a sílaba proposto,
Se também for essa a vontade
Das uvas que podem ser mosto. 

E mosto de elevado grau, 
Bem frutado e fino aroma; 
Que a justa liça não é pau
Mas razão que a todos doma. 

Joaquim Castanho 

TOGA DE CINZA




TOGA DE CINZA

Há grafites na pele do ser
Que o revestem de brocados
Sedas ou cetins a condizer
À garça por graça tatuados, 
Transparecidos por vocação
São dogmática, são cuidados
São conceitos em justa (razão) – 
São razão prà razão criados. 

É por eles, que à alma espelham
Como sombras de cinza e prata, 
Que estes versos se assemelham
A algodão numa negra nata.

Joaquim Castanho