A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, abril 30, 2017

PARABÉNS GUILHERME





PARABÉNS, GUILHAS

Parabéns Guilhas, campeão
Formado e em formatura
Que nos dá por ora a lição
– Tranquilidade segura
Que persegue suas metas
Entre curvas, sobre retas
Até ao destino final –
De pôr o ponto assente
No ser e estar consciente
Da verdade ambiental
E equilíbrio social
Que se requer sustentável
Além de gerar o "ar" puro
Harmonia e ser seguro
Pró bem-estar, e agradável
Na construção do futuro
E pla eternidade sem fim… 

Eis os votos do teu tio 
                       Quim

sexta-feira, abril 28, 2017

GENTIO E DEScomPARECIDO




GENTIO E DEScomPARECIDO 

Já sob sombras me navego
Enquanto o sol declina
Por detrás dessa cortina
Folhas dançam, e eu cego
Chego a adorar Arina
Não por ser A Deus que é
Mas falho de bárbara fé
Um atalho m'ilumina –
Sangue ao corpo ensina
O arrebatar tão eficaz
Qu'até de mim sou contumaz. 

Logo, descomparecido
Nesse juízo pertinente
De intentar ser ouvido
Com'os demais, na gente. 

Joaquim Maria Castanho

A OCIDENTE, A NASCENTE...




NASCENTE OCIDENTAL 

Lancei a minha mão ao horizonte
Para ver onde iria parar, cair… 
Aflorou tuas faces, tua fronte
Só pla esperança de te ver sorrir. 

Também o sol foi na mesma direção, 
Tomou caminho para os teus lados; 
Foi em busca, perseguindo minha mão
Por ter inveja dos meus cuidados.
Que esse astro sabe, se quer brilhar, 
Que tem de ter razões, causa de jeito, 
Tal e qual é para mim o teu olhar
Quando o verbo me pulsa no peito. 

Lancei a minha mão ao horizonte
Apenas pra ver o que de lá trazia… 
Trouxe sede e saudade dessa fonte
Que são teus olhos, na minha poesia. 

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, abril 27, 2017

AROMA DE ISTAMBUL




AROMA DE ISTAMBUL

E a bela samaritana
Deu ao estrangeiro
A beber essa tisana
Do olhar, primeiro…

E a saudade chama
A flama de seu chá
Já apenas plo cheiro!

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, abril 26, 2017

DA NEGAÇÃO DA SANIDADE




NEGAÇÃO DA SANIDADE

Já não temo a solidão
Nem receio morrer sequer, 
Pois meu medo é teu não
E não outro não qualquer… 

Supus, por deixar de te ver
Ser capaz d'esquecer também
O teu sorriso, a tua voz
Sem igual a mais ninguém, 
Mas ora fiquei a saber
Que não há forma de perder
Quem está vincado em nós, 
Quem ouvimos no caminho
(Micro-eco sem entrave
Nas ondas do vento suave)
Que fazemos para fugir
(Mas saudade agrave…), 
Estrela em que m'aninho
Insiste ser a casa cinco
Sublinhado sulco, vinco
Por favor não digas não
Outra vez, que de morrido
Ficarei vivo, mas ficção
Personagem sem coração, 
Tão rendido, tão sofrido
Que prà vida 'tou perdido… 
– Da sanidade negação! 

Não temo ser descoberto
Nem me saberem cativo, 
Mas tão-só não ter-te perto
Cada segundo que vivo.

Joaquim Maria Castanho

terça-feira, abril 25, 2017




ABRAÇO TRANSPARENTE

Mergulho em tuas águas
E sou o cristal de um jardim, 
Sem orgulho e sem tréguas
De ser em ti, como tu em mim
Já na ribeira dissolvente
Pla liquidez da sofreguidão: 
No abraço pleno a semente
Gera socalcos no coração, 
Janelas por cima deste rio
Que agita as profundidades
Mata sedes, corrói o frio
Planta vides nas saudades, 
Essas mais que uma, duas
Três, mil que sejam por segundo
Que, cópia de ti, serão luas
Cópias da lua qu'é A sol do mundo. 


Mergulho na água que tu és
Soluto de soletrar paixões, 
Que dá a volta mundo sem pés
Nem julgar o ser plas ilusões. 

Joaquim Maria Castanho

EM TRANSPARÊNCIA, O ABRAÇO




ABRAÇO TRANSPARENTE

Mergulho em tuas águas
E sou o cristal de um jardim, 
Sem orgulho e sem tréguas
De ser em ti, como tu em mim
Já na ribeira dissolvente
Pla liquidez da sofreguidão: 
No abraço pleno a semente
Gera socalcos no coração, 
Janelas por cima deste rio
Que agita as profundidades
Mata sedes, corrói o frio
Planta vides nas saudades, 
Essas mais que uma, duas
Três, mil que sejam por segundo
Que, cópia de ti, serão luas
Cópias da lua qu'é A sol do mundo. 


Mergulho na água que tu és
Soluto de soletrar paixões, 
Que dá a volta mundo sem pés
Nem julgar o ser plas ilusões. 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, abril 24, 2017

DESFOLHADO NOS SENTIDOS




COM AS FOLHAS SOLTAS DO SENTIDO

A dúvida me desfolha, tortura
E dilacera, que chego a delirar
Às doídas fronteiras da loucura, 
E aí te guardo pra lá do guardar. 

Não só teu rosto, mas também a voz
Perduram em mim, marcam o dia, 
Desatam e desenleiam estes nós
Com que alma à mágoa se prendia… 
Doía não te ver, com o doer atroz
Que fomenta essa melancolia, 
Que isola e ata, me deixa a sós,
E bloqueia o crer, que já descria
Sentir o quanto à vida se alia 
A si mesma e segreda existir,
Ou diz calada que sem ti é nada
Como igualmente eu nada sou, 
Ínfimo ponto sem ser nem porvir
Gota que seca no pó da estrada
Tão longe da água que a gerou
Que é lágrima de sangue morto, 
Coalho no soalho podre e torto
Do chão irregular, chão contorcido
Moída incerteza sobre teu querer,
Expetativa, papel atribuído 
Ao sentir que de mim sabes ter,
Que não sabê-lo me tira o sentido
Se dilacerado meu ser na espera
Corrói o ânimo já tão corroído
Que até o respirar me dilacera…


Tão amargurado, na incerteza
Que é a dor onde fora gerado, 
Que se fora flor de rara beleza
Havia de ter pétalas de cuidado
E dúvida, que me traz desfolhado.

Joaquim Maria Castanho

domingo, abril 23, 2017

DO MIRADOURO DE CASAL PARADO




DO MIRADOURO DE CASAL PARADO…

Em Casal Parado, as ruas
São como as ruas de qualquer lado
Com portas ímpares e portas pares
Janelas, varandas e paredes nuas, 
Cujas cores variam segundo o pintado
E conforme é vulgar em demais lugares… 

Mas Casal Parado não é igual 
A qualquer outro lado conhecido, 
Pois faz menção de dali se ver Portugal
Não plo que é mas plo que podia ter sido. 

Dali vê-se como se fosse uma geringonça
E este se parecesse a qualquer viatura, 
Que treme como gelatina e salta que nem onça
Quando a economia cresce segura;
Mas se, porém, oscila de incerteza
Traça, planeia e giza em linhas retas
Em direção a muitas dessas metas
Que parecem antídotos prà crise portuguesa.
E que já vem de há muito tempo atrás, 
Mesmo de mil trezentos e oitenta e três
Em que a coisa andava zás catrapus-catrapaz
Pelas desenvergonhices dos nossos reis.

Portanto, está bom de ver (e sentir)
Que em Casal Parado, nada anda sem mexer
Nem nada mexe sem muito rir, 
Tal e qual como costuma dizer
O nosso povo, sadio e bem-apessoado –
E que de Casal Parado não quer sair.

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 21, 2017

SOB O AZUL, OLHANDO O MAR




SOB O AZUL, OLHANDO O MAR

        (Paisagem com rosto, ou alucinação sobre a água
                                             fulgente de um pôr-do-sol de Foz domingueira...) 

Olha as gaivotas, ali linhas de voo
O seu corte pontiagudo no diamantino céu
E cristal também plácido espelho
Das águas chispando (a)deuses. 

Podes pedir-lhe a calma da tarde
Que não te recusarão o destino,
Porquanto é o corpo quem parte
Mas ficando nelas o olhar-menino
Deste silêncio, líquido definido
Mascando ênfase no sonho corrompido
Pelo coração em sobressalto, desatino
Com a vida e seus incontáveis reveses, 
Que nos concedem sempre o que às vezes
Apenas acidente supomos ser no puro linho.

Não apetece ainda o escurecer:
Há caminhamantes na marginal…
Mas o soslaio do sol fisga a Pousada
E põe na grama verde a linha escalada
De romper as frestas ao molhe triste
Nos olhos dos olhos se o Douro viste.  

                           Pousada da Juventude, Porto
                           .../.../...– 16:30 horas 

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, abril 20, 2017

ESPIRAL ÍNTIMA




ÍNTIMA ESPIRAL 

Mas limito-me a ler a espera
Entre ser e ver-te, assim real
Enquanto o coração acelera
E entretece o voo original,
O retorno ao eterno querer
Onde os sonhos e a Quimera
Nunca esperam o nosso dizer
A fala, a palavra de quem dita
Que ser é ver que se acredita. 

E por esse interregno suposto
De quem se sacrifica e imola, 
Gosto tanto de gostar, qu’o gosto
É um éter que me dilui e evola. 

Joaquim Maria Castanho

O TONHO TALEGO




TONHO TALEGO

Tonho Talego era brigão e berrava lá no Sítio de Casal
Parado na minha terra do Tonho Talego, porque ele, sabem
Nunca debitou sentenças na televisão e podia berrar
E o Sítio era dum brigão, que era ele a sitiar. 

Às vezes, à tarde, em verões escaldantes, sentava-me
Na parede à beira do alcatrão apenas para o ouvir
E ele gritava e dizia que havia de a matar, que ela era
Uma puta, uma puta!!!, e ela era só a mulher e mãe
Dos filhos dele, mas ele não queria saber disso, 
Queria era o dinheiro dela para beber mais uns copos
De branco (jamais conseguiriam que mudasse prò tinto)
E poder jogar uma bisca de soldado, e ter motivos
Para discutir com outro qualquer
E esquecer-se da mulher.
À noite, madrugada fora, iria roubar que comer de dia
E os donos das hortas sabiam que ele os roubava
Mas não queriam saber, nem se importavam,
Pelo que Tonho Talego morreu sem nunca ter pedido
Nunca ter implorado nada a ninguém. 

Viveu miserável e só foi ao médico uma vez 
Em toda a vida, quando foi às sortes, nem estava doente
Que só adoecia quem podia naquele tempo. 
Tinha uma mesinha pra todo o mal, dizia
(Comprimidos de virar a mão e vacinas contra o teto)
A aguardente bem forte, que o grau é doutoramento
E até patente que tudo cura, febre, dor no dente
Fraqueza no tino ou estranhamento das ideias. 
Aos quarenta anos parecia um velho e era velho
Até era o mais velho da família dele, porque durara
Não muito mais que isso mas também poucos mais havia
Assim, tão duradoiros, depois do sol-a-sol e lambugem
Chilra pra não perderem a linha e ligeireza. 

Nunca lhe faltou a foiteza, nunca arrepiou caminho
Todavia se nunca torceu não o fez por razão nem certeza
Mas por desfastio e teimosia, que quem não sabe pra onde vai
Qualquer trajeto é perfeito. 

Tonho Talego morreu cedo, que agora é que ele havia de ser
E sentir-se como peixe na água com que os sapos cantam
E as dobradiças enferrujam. E é pena, pois dava-nos jeito
O seu jeito de ser, para explicar às crianças 
Como se não deve ser nem estar e muito menos fazer.

Creio até que é por estas ausências que a imaginação,
A criatividade, a ficção mais se justifica nestes dias...

Joaquim Maria Castanho 

quarta-feira, abril 19, 2017

NA ASPEREZA SE DESPERTA

  


ASPEREZA DESPERTA

Estamos quase dispostos e intercalados
Como sujeitos sem verbo (conjugável),
E nesse chão, os silêncios amontoados, 
No pleno diverso que eles próprios são
Escrevem o futuro que, ainda visitável, 
Faz parte do roteiro doutra dimensão…  

E se tivemos sorte, não o reconhecemos; 
Se já pedimos para ser ouvidos, só o olhar
O testemunhou; mas temos e não temos
Todas as condições essenciais para o voo
Que nos traga de onde nunca fomos, sequer
Nem nos interesse de nada saber, nem ficar
Arriscando perder também tudo que houver
Pra perder, apenas pla esperança de ganhar.

Somos a abertura determinada, essa fresta
Ínfima que há entre o todo e qualquer nada, 
Com que a aspereza desperta nos empresta
A beleza do que é rude, e passos à estrada.

Joaquim Maria Castanho  

terça-feira, abril 18, 2017

A RIMAR SE PERSCRUTA




A RIMAR SE PERSCRUTA 

Nasceram-me novos cuidados
Sob tua voz, teu líquido olhar
Ante meus olhos e devoção
Que, das margens, aguados
– Místicos e em tua atenção –
Me pedem sôfrego naufragar; 
Sucumbir à profundidade
Do soluto d'água marina
Que espelha os encantados 
Pulsares e sentir de Arina; 
Sentires de estrela a pulsar
Na latência da esperança
Com que as brisas fazem dançar
Folhas viçosas e salgueiros, 
Tremido oscilar que alcança
Esse poder que vem de cima
Sobre os regatos e outeiros
Dando-lhes o cristal da rima… 

Nasceram-me novos cuidados
Já tão há muito por nascidos, 
Que os olhos aos teus colados
Rogam pra que sejam ouvidos.

Joaquim Maria Castanho

domingo, abril 16, 2017

DEIXAR DE GOSTAR DE TI É DIFÍCIL




DEIXAR DE GOSTAR DE TI É DIFÍCIL 
(MAS NÃO É IMPOSSÍVEL) 

Deixar de gostar de ti não é fácil
E só tentar atira-me pró buraco
Deixa-me zonzo, põe-me tão frágil
Suja-me a alma, e fico num trapo
Amarfalhado, a bater mal, ser vil
E tirano nos afetos e no trato
Com os demais, excravo de abril
Qualquer coisa abjeta no exato 
Ponto d'além de velho ficar senil.
Sim, desta vez é que não me escapo
D'esgotar todas as minhas reservas, 
Ficar c'a resiliência num fiapo
E dias como noites, só de trevas.
Hei de ir prà  pândega, hei de curtir
Tapar o céu, aproveitar o contato
De quem se ligar na minha, der o salto
Prò prado florido, e ser primaveril
Mesmo na ventania e chova a rodos,
Hei de andar na roda com todas e todos. 


Não é fácil sei, mas hei de conseguir
Já que é isso que me resta e queres, 
Enfim, se pensar em ti, hei de sorrir
E hei de exclamar: «Ora… – Mulheres!»

Joaquim Maria Castanho

QUANDO ÉS INEQUÍVOCA INSPIRAÇÃO




QUANDO ÉS INEQUÍVOCA INSPIRAÇÃO…

Ao recortarem-se no céu adverso do circunstancial azul, 
As verdes ramadas dos salgueiros (bíblicos e distintos)
Escrevem-te serena na memória desse instante, subtil
Tal como te encontrei na manhã de todos os infinitos
Ali, já quase inacreditável, quase silhueta inesperada
A trabalhar num dia feriado, logo dedicado às famílias, 
E foste visão, Maia ou Arina, das princesas encantadas
Gomo de responsabilidade avançada pla emancipação
Consciente de ti, resistente de nós, de Senhora gentil 
E segura que não atira a toalha ao chão e quer ganhar
Vencer porque sim, sabendo que nunca há ser tarde 
Mesmo que haja incertezas e abriladas incandescentes; 
E que todos os dias serão só os nossos perfeitos dias
Inequívocas inspirações da vida real pra reais poesias.

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 14, 2017

FLOR ESSENCIAL




A FLOR DA ESSÊNCIA SEM ILUSÃO

Se não pensar em ti não fosse crime
Eu não pensaria, nem me permitia
Procurar-te todos os dias, sentir-me
Em missão ética a favor da poesia
Combatente, monge que se redime
Dessa misoginia em que vivia
Como se fosse uma santa bênção
Ou existência elevada e sublime… 
Como se fosse, mas não é, certamente
Porquanto abençoada, de verdade, 
Só há no real, no campo, cidade
Teu jeito de Musa mais que gente
Mais que deusa natural, condição 
Essencial pra viver sem evasão! 

Joaquim Maria Castanho

ANSEIO DE VER




O ANSEIO DE VER

Conjugo todos os verbos como rios
Que vão desaguar naquele estuário
Onde a maresia fecunda os navios
A lua é uma sombra que te imita
Um esgar que se esvanece e fita
Horizonte do real prò imaginário
Lá, atrás, nos dias longos, solitário
Se guardei o sentir incendiado
Após o primeiro dia em que te vi
Segredo tangente, resvés à fala
Como um constatar que nos abala
Nos joga prò turbilhão do indizível
Negando o que já sentíramos até aí,
Até então, mesmo até a essa hora
Até ao derradeiríssimo momento
Origem da tristeza e do contento
Detonador d'explosões universais
Que fazem com que o que antes fora
Sim, a partir daí, não o seja jamais
E passe a ser outra coisa qualquer
Perdendo o que poderia ter sido
Pra ser só pleno acatar do que vier…
Sofreguidão sem ter nada a esperar
Além dessa união que os verbos têm
Quando encontraram também alguém
Com arrebatado desejo dos conjugar. 

De os aceitar tal e qual querem ser 
Quando são esse seu único meio 
De serem já o espelho do meu ver
Se és quem vejo… – e por ver anseio!

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, abril 12, 2017

RETRATO SOB SUBLIME ROSTO




RETRATO SOB ROSTO SUBLIME 

O vento manso afaga nubente
Os brotos, rebentos, folhas viçosas
E acaricia a pétala fremente
No veludo dos lábios nas rosas
E papoilas, princesas dos trigais
Com que as brisas enleiam (charmosas)
Os suspiros da luz por outros ais, 
Outros sulcos pelo chão desenhados
Arados com esses olhos infinitos
Onde guardo os meus cuidados
Íntimos ecos, os secretos gritos
Abertos como sílabas fulgentes
Na plástica das searas e montados 
– Esquissos d'Alentejo e suas gentes. 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, abril 10, 2017

ACREDITAR É REALIZAR




CRER É REALIZAR 

Se tanto Eneias como Harmonia
(Descendentes de Vénus e Adónis)
Souberam os prazeres d'alegria
Gerados por palavras e gestos gentis, 
Então, porque fico eu com teu «Bom dia!»
Assim suspenso do que tua voz não diz
Mas só anseio ouvir, em sintonia
Entre as idílicas frondes e a raiz 
Desse sonho que nem em si repara
Quando lhe passo rés o ar me falta
O chão me foge, a vida pára… 

Será porque todo o tanto é tampouco
Que o espanto o atrai e impele
'Té ver o mundo virar insano e louco
E a luz brotar do sol em fios de mel? 

Pois, se tal for, e verdade houver
Se saiba aqui e galáxias em redor
Que nada se cria nem faz sem amor 
– Do chiar da roca ao voo do Condor; 
Desd'a magia macia que a seda tiver
À magia do malmequer e qualquer flor –, 
E qu'esse sentimento nunca é vão
Mesmo quando parece ser paixão
Tão arrebatada que nos ata e requer
Mais que a humana força permite
A morte julga, e o fogo omite, 
Azar esvaneça, o pulso governe,
Melhor ou pior qu'ao poder concerne,
Só terá uma dona e nome: o teu… – Mulher! 

Joaquim Maria Castanho

domingo, abril 09, 2017

SEGAR CONSEQUENTE (E SEGURO)




SEGAR (CONSEQUENTE) E SEGURO

Atraso-me nas circunstâncias
Como um advérbio à deriva
E trago na mochila infâncias
Crestadas na teimosa porfia
Como de propósito cultivadas, 
Sem subterfúgios nem esquiva
Voz que das nuvens fez estradas
Tornadas ínfimas pelo meio-dia
– Entre o cativado e a cativa.

Não dou ao nó o que o aperto pede
Pois não há soluções apressadas, 
Que o que é feito à pressa cede
Mostra as costuras, sucumbe aos nadas; 
Agrava por alívio (precoce), 
Adultera qualquer objetividade, 
Apodrece antes de ganhar doçura, 
E tanto quebra como torce. 
Que sentir é tal e qual o sorriso
Esse mesmo, o teu, de que preciso
Se espontâneo, exato, natural
A escrever na alma o plural
Com tinta mágica e pura. 

Tinta que é tinta branca na brancura. 
Tinta que é tinta negra na negrura. 
Mas própria prà grafia de quem sente, 
De quem habita sonho consequente –
E até seca a própria secura. 
E até sega quanto procura. 

Joaquim Maria Castanho

sábado, abril 08, 2017

DA BIFURCAÇÃO DAS RAMAGENS




DA BIFURCAÇÃO DAS RAMAGENS

Cada árvore carrega a história
Que a memória da voz celebrou, 
Cujos brotos são nova vitória
Que a História por nós hasteou… 
Bandeiras desta vida sensória
Nós de emalhados tons e glória, 
Gerando gerações a germinar voo
Que é gerar que a si mesmo gerou. 
Que eclodiu na voz de sermos sós
Foz e rio igualmente nascido
À volta do ser pra ganhar sentido
Nessa navegação em cascas de noz
– Qual grito que se parte ao meio, 
Pra ficar sujeito, trama e enleio.

Joaquim Maria Castanho

sexta-feira, abril 07, 2017

O CAPITULAR DO CORAÇÃO




CAPITULAÇÃO 

Se chego te nomeio
E cego me entrego
Ao teu trago bem cheio, 
Que do sentido prego
Trago de nobre enleio…

E mago imagino
Que chego logo cego
Pra ficar de permeio
Entre este que trago
Nobre sentido cheio
E quanto tragueio 
Já do doce enleio… 

– E só a ele m'entrego!

Joaquim Maria Castanho

quinta-feira, abril 06, 2017

MINHA LEI, MEU CREDO




MEU CREDO, MINHA LEI 

Dilui-se-me a alma já por pensar-te
Horizonte estendido pra lá do lá, 
Que a fonte é teu querer nesta arte
Onde me sou, se vida em nós está, 
E tu és a imperativa imensidão
De "sofreguir" os verbos dess'além-cá
Do corpo, órbitas da sorte e parte
Da fé n'A sol, infinito mel que há
Na serena luz, se desfaz a ilusão
Sem omitir o sonho do sim, nem do não… 
Porque a voz, se tua, é A lei minha
Crente num ente, de cuja vontade
É igualmente o nó dado, e a linha
Que aprende o pulsar da liberdade. 

Joaquim Maria Castanho

quarta-feira, abril 05, 2017

BÁRBARO E SANDEU É O CORAÇÃO MEU




CORAÇÃO BÁRBARO E SANDEU 

Meu coração inquieto
Esteve hoje tão perto do teu, 
Que me arde no fogo esperto
De consumir-se plebeu –
E cativo da suserana
Qu'emana do céu que me teceu. 

Esteve tão perto d'arder
Consumir-se nessa chama, 
Em que viver só é viver
Se inquietude de quem ama 
– Que bárbaro já não é meu
Mas sandeu que me reclama. 

Meu coração afogueado
Saltou bárbaro e sandeu, 
Apenas por ter estado
Hoje muito perto do teu; 
Que o siso me é queimado
No fogo em que ele ardeu
– Anseio, céu espelhado, 
Alma me deixou em chama, 
Inquieto o  coração plebeu
A consumir-se porque ama
Já a suserana que o teceu, 
Que sendo meu já só é teu.

Meu coração inquieto
De bravo no fogo esperto
A consumir-se me ardeu, 
É cativo porque já ama
Essa pura e viva chama
Qu'emana da suserana
Por quem é bárbaro e sandeu. 

Joaquim Maria Castanho

terça-feira, abril 04, 2017

O PARDALITAR DOS PINTASSILGOS




DO PARDALITAR DOS PINTASSILGOS 

Conheço, dos pintassilgos um casal
Que parece que pardalitam como qualquer pardal… 
Namoriscam e constroem o ninho
Em seu vaivém regular, 
Nas árvores, à beira do caminho
Como se fossem prédios de andar
Sobre andar; 
Apartamentos para novos casais, 
Singelos e pequenotes, 
Que não deve haver verba pra mais. 

A brisa areja-lhes as janelas
E as ramadas laterais, 
Sem patins nem escadotes, 
Que quem voar entra nelas
Sem carecer doutras portelas, 
Frontispícios ou umbrais.

Ele canta – é um janota! 
Fadista da marcação cerrada… 
Ela, faz a obra, acarreta materiais, 
E tão-pouco se importa
Que o parceiro não faça nada. 
("Pelo menos, não atrapalha", 
Deve pensar, se calha…) 

Que suponho ser isso que faz
Ao andar dum lado prò outro
Quando nem uma palhinha traz, 
Embora tenha muito bom corpo
Para ajudar a companheira
A construir a morada
Para essa nova ninhada
De sua própria sementeira. 

Ele há casais curiosos! 
Sim, senhora… Essa é que é essa! 
Mas mesmo se se debicam (amorosos)
Não demonstram nenhuma pressa – 
Vão e vêm, vêm e vão, e, volta e meia
Se um estende linha o outro enleia, 
E dão-se um pouco mais de atenção… 
Quer dizer: coisa e tal… 
Como faria qualquer pardalita com seu pardal! 

Joaquim Maria Castanho

segunda-feira, abril 03, 2017

MAS, MAS E MAS




MAS… MAS… MAS… MAS… MAS…  

Mas já me dança a alma agora
Por uns olhos que não esqueço, 
Tão lindos, que até dói por fora
Não saber s'ainda os mereço, 
Que do quanto na vida tem
Ou me deu, já a eles ofereço
Tudo, e tanto dela houver bem
Só por eles imploro e peço… 
Não o perdão, que ninguém pecou; 
Não desculpas, que não as há já. 
Só voltar a vê-los, sentir o voo 
Do sonho, que por eles está. 

Me dança ora a alma noutro tom
Que nem sei s'errado, se certo;
Apenas que vê-los foi tão bom
Que quero vê-los mais perto. 

Joaquim Maria Castanho

domingo, abril 02, 2017

A TOSSE DE INANNA




A TOSSE DE INANNA 

Quem foi a bela
Que tão belamente tossiu? 
E, porque sendo ela
Assim, tão bela
Ninguém mais a ouviu 
– Como eu ouvi?

E eis que a tosse se repete… 
De uma vez até sete. 
Então, de imediato a reconheci. 

– É Inanna –, digo aqui.  
E a tosse fugiu!

Joaquim Maria Castanho