A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

terça-feira, fevereiro 22, 2022

PALLADIO - Asturia Quartet

INVENTÁRIO EXISTENCIAL

INVENTÁRIO EXISTENCIAL


Que nada na vida é o que parece

E tudo emana dos seus segredos

Se diz, mas sentir é algo que cresce

Ainda que o faça entre esperas

Contrárias, tão frágeis como várias…


Invernos que são como primaveras,

Prenúncios de secas, vírus e medos.

Ameaças de guerra, confusões diárias,

Férteis para migrações e degredos.

Gripes, inflações, esperanças pueris,

Influências, modas, fatores astrais.

Politiquices imaturas, ou senis…

Desaguisados coletivos, pessoais…

Janeiros que são maios, marços por abris

De importâncias mundanas – e mundiais.


Défices d’economia, revistos em baixa…

Pois nada disso conta, nada vale.

O que sinto é qu’importa, e não cale

A felicidade de ver teus olhos a sorrir

Miríadas estelares, campos a florir,

Se passo junto a ti... – à tua caixa!


Joaquim Maria Castanho

22.02.2022


 

sexta-feira, fevereiro 18, 2022

QUANDO PASSAS ME LEVAS CONTIGO


 

QUANDO PASSAS ME LEVAS CONTIGO


Há instantes breves, e soalheiros,

Próprios para atravessar os dias,

Que valem por vários anos inteiros

E são a rotunda essência das poesias.

São ápices disferidos, e certeiros,

A despertar a beleza às fantasias,

A pintar meigas brisas pelos outeiros

No chão fértil das inocentes alegrias.


Clique! – Gota que por nosso ser s’alastra

Como onda que nos invade duna a duna…

Pois sentir, não carece de fortuna

Habilitações ou certidão ou casta;

É uma sede sôfrega e oportuna

Prà qual a vida toda nunca basta!


Joaquim Maria Castanho

18.02.2022


sexta-feira, fevereiro 04, 2022

Human - Christina Perri (tradução)

OUTRA CHUVA NOS CONFORTA

 

CHÃO AGRESTE


1. MANEIRA DE SER


Calcetada de compungido silêncio

Eis uma rua que nada diz do que penso

Sob os frios passos magoados do caminho…

Seu semblante comum às idas abandonadas

Regressa ao estio dos cães em vadiagem

Ladra a preto e branco o bicudo escarninho

Por quem atravessa chão que é escadas

E leva às costas a sisudez da bagagem.


Dias escarram nelas a sombra dos plátanos.

Noites cobrem-nas de geadas deslizantes.

Mas ímpios e insensíveis são só pântanos

Onde coaxam as solidões ofegantes

De quem já esperou uma vida inteira

Que lhe reconhecessem normal o andar

Os gestos, a lida, a voz… a sua maneira!


2. OUTRA CHUVA NOS CONFORTA


É subterrânea a sombra

Que a luz dilacera,

Como se faz a uma cobra

Que sonhou ser Quimera.


Que travo trago a trago

Dos olhos que ora me norteiam,

E iludem o seco vago

Para em vez dele porem

O porém

Do amor, e carinho que semeiam.


Então, viradas para cima

As raízes da incerteza,

Eis que muda agora o clima

Chovendo-me na alma… Mas só beleza!


Joaquim Maria Castanho