A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, setembro 09, 2011

RAZÃO SUFICIENTE

É quando o ver é visto
Que me surpreendes;
E nesse entender, insisto
Está quanto me entendes…

Se passas, fico
Ansiando que voltes a passar;
E enquanto me aplico
A esse mágico magicar,
Nem eu próprio me explico
Porque quero ver-te passar.
AO ACORDAR CATRAPISCANDO EM BUSCA

Sei, sim, sei que sou fundamentalmente kitsch
E contudo, reconheço que neste olhar divertido
Entre o quanto por querido e o desejado existe
A brecha que se requer sempre noutro sentido.

É nessa nesga entre o que morre e o que resiste
Que há o prado mais luminoso e verde, mais florido
Que alguma vez imaginaste ver ou quiçá viste
Sequer no sonho de puro anseio utópico construído…

Podia chamar-lhe oceano da humanidade, porém
Pelo tamanho e finura que essa frincha ou fisga tem
Ninguém tal admitiria ser ainda que nela vendo tudo

Quem por ela espreitar e quiser ver a vida e o mundo,
Que até o infinito lhe cabe como sorte tida e inerente
Se cada um deitar ao redor o pestanejar febril – intermitente!

domingo, agosto 21, 2011

RECUSO


Recuso pensar-te só na madrugada, e ao frio.
Recuso imaginar-te doente, sofrida ou sob depressão.
Recuso abandonar-te no silêncio mudo e ímpio
Quando a chuva selvagem fustiga o saguão.

Recuso a família ardilosa que me diz mal de ti.
Recuso o perfume das rosas nos dias em que te não vi.
Mas recuso. E recuso. E voltarei a recusar, enfim
Sempre que algo me distorça ou te afaste de mim.

Recuso a morte, a saudade, a dor, a ansiedade e o medo.
Recuso a voz que se esconde por detrás daquela máquina cruel;
Recuso a pobreza; recuso a fome, o exílio e o degredo,
Assim como recuso a mentira, a intolerância, o ser-te infiel.

Recuso a cidade, a glória, a fama e tudo quanto encerra em si.
Recuso a riqueza, o poder, a vilania. Tudo recuso: só te não recuso a ti!

quarta-feira, agosto 17, 2011

ABSTRACÇÃO

Fitando a chuva tu olhas
Entre nada e coisa nenhuma há;
E perto das cores que desfolhas
Estás, longe de ti, como quem não está.

És um ponto indiscreto de soletrar
Um silêncio a descoser-se na sutura;
E quando te miras, já te não vês murmurar
Quem querias ser, numa emenda futura.

Podias recorrer à insensatez de sonhar.
Podias esperar na imensidão do dizer.
Porém... preferes, simplesmente, estar.

Podias esconder a franca nudez de ser.
Podias pensar na contradição de pensar.
Mas no contudo, porém, queres apenas ler!

segunda-feira, agosto 08, 2011

NO BALANÇO DA LITEIRA

Assim, se houvesse alguma razão especial
Para crer que as crenças são fundamentais
Diria, sim diria, neste rumar por rimas adentro
Na cadeira de arruar fazendo o balanço ao real
Que mais que a sede há os pródigos murais
Que virtuais, neles mais te leio se me busco
E no contato brusco do instante me concentro…

Porque a principal fortaleza que na vida haverá
É a leda seda cujo fio o passado no futuro tem
Feito linha de entretecer o momento conforme está,
Momento conforme o desejo quer se o ser se atém
Que o documento só é o momento que do passado vem,

Passo a passo como onda de luz que na areia se desfaz
Que isso de dançar sob o vaivém cadente da História
É muito próximo de ser autêntico quando é ser capaz
De navegar pelas páginas dos pergaminhos da memória.

Que o breve é leve quando ao se prolongar se faz curto
Qual silêncio que entre notas de sílabas acesas nutro!

quarta-feira, julho 27, 2011

OS TRÊS DEGRAUS DO TEMPO

Podendo – quem sabe! – até haver
Mistério na noite e na fantasia,
É de supor uma só imagem ter
Sua conta e poder, gerando alegria.

Alegria de ver, como de bem-querer
Que à luz do silêncio tem no dia
Outra pose de sentar no degrau, e ser
A musa do desejo numa fotografia…

A cor, o jeito subtil, peculiar, distinto
A ondear, serpenteia entre documentos;
Que a vida, é cada momento que sinto

Ao nascer da esperança, seus sentimentos
Feitos gesto, feitos respeito, jovialidade
Em cada dia, cada noite, e cada tarde!

segunda-feira, julho 25, 2011

AO LUAR, ENTRE CONTINENTES

Eis-me rasgando o instante em pedaços;
Separo-o nas suas partes integrantes,
E os unidos elementos, quais abraços
De antes, são agora tei@s contagiantes...

Nada dizem já uns aos outros os laços
Das folhas sós que aos caules dominantes
Se abraçavam no morse do grito por traços
E pontos, em discursos frios e secantes.

Todavia, entre o ser e o nada, a dor e alegria
Abriu-se uma porta outrora fechada, a poesia;
E ficou de tal forma aberta, viva, escancarada

Que a luz que só pelas frestas assim se via
Revelou uma Lua de prata, alma encantada
À ternura do Sol que, enfim, no Brasil nascia!

sábado, julho 23, 2011

Incisa Prece

Embora sejam iguais as cordas tensas
E semelhantes os arcos que ostentam
Como idênticas as flechas que neles há,
Quando Diana dispara abate o gamo
Mas se o faz Apolo são outros os alvos
E Cupido acerta no humano coração...

Poderemos, por isso, dizer que é o destino
O rumo, a direcção, o sentido, a intenção
O objectivo, quem destrinça as essências?

Cruzo-me contigo e sob o arco de tuas sobrancelhas
Circunspectas e enigmáticas, emites o teu dardo:
Alvejado, abatido rendo-me, esqueço-me de mim
Todavia, confuso, não sei a que deus agradecer!

segunda-feira, julho 18, 2011

PSCHIU!... HÁ GENTE QUE QUER SOSSEGAR!

Consequentemente, não podemos adormecer
Sob os laranjais deambulam ledas donzelas
E ouvem-se as cantigas languescentes delas
Ciciando segredos que me envergonha dizer.

Algumas dançam, revelando agilidade e prazer,
Mas outras recitam poemas de amor e de procelas
Como quem conta suas penas comuns entre elas
Também aquelas que me doem por bem-querer.

Haverá, com certeza, nessas danças muita graça
Que com tamanha beleza ninguém é indiferente;
Porém, a mim só me causam pesar como desgraça…

É que, ao ver assim a beleza sem lhe tocar, a gente
Fica de repente preso do sonho temendo a vil sarça
Que é a realidade, se acordar, enfim, e finalmente!

quarta-feira, julho 13, 2011

Clicando rima acima se ruma

“Um dia li um livro e toda a minha vida mudou.”
In Orhan Pamuk, A Vida Nova

Nas trevas da distância singro
Rogo águas para um e outro lado
Que nas dores que mim próprio vingo
Estão os silêncios de teu rosto lavado
Gota a gota se separam dos olhos ambos
Gota a gota cintilam entre poros silvestres
Gota a gota que gomo a gomo se atreve
Gota a gota descendente a vírgula breve
Cede à sede de cedo se tornar tão leve
Como a alma escurente entre ditirambos
Das odes inscritas nos hieróglifos rupestres
No presente musicados, palavra, som e imagem
Significado, significante e referente num só clip
À distância nos serve e te escuto se me ouço
E entre os ecos me destroço num doce clique.

Clicando rima acima se ruma no rio do tempo
Onde as velas ufanas libertam o vento da voz
Que mais que um instante deste ínfimo momento
É cada qual que canta sendo mais que um, é nós!

quinta-feira, junho 30, 2011

Cornucópia Sigilosa

Inclui minha prece no teu sonho de mar e sol
E escuta o respirar dos búzios nos meus olhos
Entre as frondes de seda a pingar como vimes
O silêncio sob as ramadas pendentes, a sombra
Fresca, aquele parêntesis entre o chão e o (in)finito.

Mas não desmaies na acutilância dos símbolos, nunca
Inequívocos e sonoros rompem significados adiante
Rasgam a dor como a solidão ou a verve ostracizada
Reinventam as cores dos universos mais distantes
Apuram no alambique dos sentidos o paladar de dizer
Dialecto dos deuses transversais à humanidade acesa.

As liras e as harpas conhecem-lhe a dedilhada tradução
As flautas já lá andaram perto por tão bucólicas serem
Porém a esconderem-se pastoris nas clareiras dos bosques
Nos romances de outrora cujas pastoras os enfeitiçaram
Regatos cristalinos a descerem na sede dos altos degelos…

quarta-feira, junho 29, 2011

Soneto de Parabéns

Anda-me a alma neste somenos da Psique enamorada
Cuja mortalidade tem numa flor que à beira-Tejo eclodiu
E entre mil estrelas ribatejanas está agora alcandorada
Por esse soslaio da Lua que nem só o Sol bem sentiu...

Jovem mãe que no horizonte do mar tem mira assestada
Faz mansas as revoltosas águas do mais turbulento rio
Pois ao sonho empresta a Aurora duma nova caminhada
Entre as estevas e urzes do ciúme que nela Afrodite viu.

De Mari, que em dialeto ancestral apenas jovem significa
E de Ana, que por mãe tem culto pela Terra toda inteira,
É porém pelo sorriso que a Eros mais seduz e autentifica;

Que isso, de ser Mariana se cumpre de qualquer maneira
No mais que ao sonho e à beleza e à ternura se multiplica
Onde Psique por Inana se torna mil vezes pura e certeira!

domingo, junho 19, 2011

Da Inspiração Motivadora

Escuta… Eu venho de muito longe
E não cheguei aqui por acaso,
Que a vida é só o dia de hoje
Em que me derreto, se te abraso.

Trago no doce estilo a viagem
A nova sede com que te atraso
De repor o sonho que assim foge
Prà margem do ser sem fim que arraso…

Areia estendida aos pés de Arina,
Sulco de espuma a riscar febril
A praia de versos cor de menina;

Que nisso do rasgar primaveril
A seiva do cálice de Vénus anima
Qualquer homem até ele valer por mil!


(Ilustrações: Libélula, de René Lalique; e quadro de Filipa Brasão Antunes)

sexta-feira, junho 17, 2011

Quando no Soslaio se Entardece


Andava eu morrendo por tão pouco ver-te,
Que da alma me estendo como puro rio,
E eis senão quando aceso o fulgor da arte
Se incendeia ante a busca pra matar o frio.

Podias ser breve, distante, fugaz, ou inerte
Como uma figura tecida pelo rasgado fio –
A luz que mostra também pode esconder-te... –
Se ao poder da voz te aliasses como me alio.

Mas mais que som dito és constante presente.
Mais que verbo és igualmente oração, prece
Em complemento direto ao coração que sente.

E assim, apareces na tarde que me amanhece
Todos os dias em um lusco-fusco intermitente;
Que a vida é a luz que entrelaçada enternece!

quarta-feira, junho 15, 2011

Irmã Lua

Havia naquela sombra o não haver do gesto,
Havia naquela rosa a pétala de crestar a voz,
Havia naquela lomba a colina do meu resto
A dizer a onda na sombra azul de todos nós.

Havia luz mas não estava no bruxulear lesto.
Havia cor mas fundida num grito ímpio e atroz.
Havia teu olhar mas no sinal aberto do incesto
Irmã, guerreira da noite, veio o dia, e ficámos sós.

Portanto, não importa agora repetir a luminosa,
A esperança do que poderíamos ter ainda sido
Se em vez de dizer a rosa a tivéssemos vivido…

Tu como poema, eu como apagada e crua prosa.
Tu que havias, eu que tampouco sonhara sequer
Que isso de ser flor ao luar é também ser mulher!

domingo, junho 12, 2011

O NOVO EMBOÇADO

Acontece sempre que a cor se oculta
Entre as estevas da madrugada arguta
Que o rosáceo timbre da rosa resoluta
Ao desmaiar na sombra se afirma gruta…

Ponto cardeal interno ao ser se tumultua
E manifesta temido sob a eleita e astuta
Sagacidade da ignara tribo cuja conduta
Remonta às profundidades da ímpia luta.

A uns, que sabida é a ambiciosa receita
Tomam o poder para a outros aplicarem;
E na noite se afoitam como secreta seita

Que aos homens humilham dizendo serem
A salvação na opressão que só lhes querem
Dar; triste fado o de quem a si se enjeita!

quinta-feira, junho 09, 2011

Tronco Humano

Sob o contorcido sobreiro, junto à carreteira
Nessa pedra de ângulos gastos pela sombra
Onde os cigarros avulso se dissipam no estio
Fumo agora as imagens recordadas desse rio.

E ponho o ar sisudo da solenidade na dobra
Dessa esquina que o tempo tornou seteira…
Será que aquele ali, sentado, sou eu a fumar?
A raiva escondida, ardendo pouco a pouco
Que em cada trago me ata ao tronco louco
E só, contorcido com a cortiça ainda por tirar?

Não; não pode ser! Eu era muito diferente
E rebelde, pronto para ferir, a língua afiada
A pedra sempre no bolso, a funda no cinto
Dependurada pelos elásticos, aí pendente
Elásticos esticados pelo que agora sinto
Me apresto entretanto a mais uma pedrada.

Tenho que ser breve, contundente e certeiro.
Não se podem desperdiçar palavras, ou dizer
Apenas por dizer. Nada disso. Dizer é preciso.
Nada de salamaleques ou de quer-me parecer.
É proferir na língua o homem pronto e inteiro
Que cabe num verbo do tamanho de seu sorriso!

sexta-feira, junho 03, 2011


Regressa indiferente a gesta lusa
Dessa jornada que a crise lhe impôs,
Que nada lhe valeu a camoniana musa
Nem o socorro de seus egrégios avós;
Agora, que é a doer, se verá quem é capaz…
Muitos há falando, mas nenhum fez, nem faz!

segunda-feira, maio 16, 2011







Em Portalegre é evidente
Bem ao jeito da cruz no boletim
Que votar no segundo, é ser gente
Que confia em si, como creio em mim.





P O U S
A solução que Portugal merece!

quinta-feira, maio 12, 2011


No dia em que me morreste dentro não senti nada
Nem dor, nem mágoa; nem impotência, nem ira
Mas apenas o desencrostar da ferida seca e sarada
Depois da carne ter esquecido de todo por que se ferira.

Não senti receio nem insegurança, nem sequer algum tormento
Apenas o brilho daquela estrela que em nós periquita e dança
Que antecede os minutos das horas nos dias de contentamento.
Apenas aquele estertor da brisa nas folhas dos plátanos lá fora.
O perder do jogo na “apanhada” quando enfim alguém nos alcança
E segura num agarrar que não segura mas toca e assim se demora…
Que a felicidade é esse toca-e-foge de quando viver não nos cansa
A não ser por servir de escora da cabeça perdida que já não pensa.

No dia em me morreste refulgiu em mim mais que a doce alegria
O gesto de quem rasga o acaso súbito atento na rota da aurora…
Cujo Sol fere com sua luz pura e crua ao eclodir de outro novo dia.
E acende, no chão, a morta sombra do que negritude fora outrora!

quinta-feira, abril 21, 2011


Me acorde, amor
Por essa altura, quando você chegar
Que a Lua também não demora
A acordar, pese embora, na planura
Da rua, minha e tua, banhada à prata
Do luar, como quem desperta
Se acerta, aparta e ata à pele nua
Para o sonho de ficar.
E fica, fica; fica, até o beijo madrugar!

domingo, abril 10, 2011

PÃO E VINHO


Fazer um poema não é como fazer um filho.
Não é partir uma vidraça. Nem é olhar uma cria
Enquanto brinca nas ruas do crescer
Nas escolas do crescer
Nas rampas do crescer
Nas pistas do crescer
Nas balizas do crescer
Nas passerelles do crescer
Nas discotecas do crescer
Nas tabernas do crescer
Nas avenidas do crescer
Nas câmaras do crescer
Nas camas do crescer
Nas bolsas do crescer
Nas reformas do crescer.


Não é. Mas comer uma azeitona de Elvas também não;
E todavia, ambas as coisas dão imenso gosto e prazer.

sábado, abril 09, 2011


Crepúsculo em Flash Natural


Sob o azul do túnel do regato verde da leda serenidade

Entre o silêncio da distância das ondas e o Sol ao nortear

A cujo ritmo a alma inventa a plena sede de eternidade

No pulsar do verbo se a Lua sopra o meigo pestanejar,

Vaivém de teu sim, consentido no sentido do lido céu…

Então, eu de mim somente serei mais teu do que meu

Posto que à rosa do teu rosto a que a nuvem pertenceu

Me esclareço, enfim, que do sofrido medo e ansiedade

Apenas a esperança de azul penteada se lembra de mim!



E nesse segredo imenso que há em dizê-lo a toda a gente

Eis que me renovo, se calo, o amor que só eu distingo ver

Que como contínuo renasce todo o ano em comum viver

Ao eclodir e irromper a cada minuto e instante… de repente!

sexta-feira, março 11, 2011

Há Sorrisos no Ar da Récita Atenta...

Esse teu sorriso traz entre aspas a palavra,
Entre o sinal de maior e menor a língua diz
Que o chão é só folha branca de quem lavra
Mordendo polpa ao sonho na verdura da raiz.

É o gesto que desarma a ira, e tristeza escrava,
Faz a melancolia perder seu fado em dó infeliz
Somando esperança onde o ser e ânimo encrava,
Pondo Sol radioso na sombra escurecida e gris.

E mais que a alma ainda por dizer me inventa
Quando a doçura do mel não é assim tão doce
Nem a frescura da água sega a sede como foice,


Então, é ele, esse teu sorriso que ao ar me aventa
Para voar até onde nem sequer a luz estelar tenta
Beijar o sonho da ousadia que nesse beijo eu fosse!

quinta-feira, março 03, 2011

Sentires Con(m)Sentidos



Dizem das almas os tímidos esgares retinentes
As sombras sobretudo, mais que a voz sustenida
Porém, das horas há ainda estes minutos ausentes
Em que o reverso de ver-te é peso de mor medida.



Mais que a dor, mais que os sinais intermitentes
A esculpir a luz, só pelos silêncios interrompida,
Que sentir vai muito além dos sentidos vigentes
Sendo sentires todos sentidos da alma consentida.



E nessa ânsia, ainda mais camoniana se consente
A alma, se consigo arrastando assim teu corpo vem
Dessa a que nossa sentida alma chama maior bem...



Então, lhe dá valor, muito valioso, aquela leda mente
A que o destino põe e exige destinta nota destemida:
Uns, chamam-lhe amor; outros, fortuna – eu, apenas vida!

segunda-feira, fevereiro 21, 2011

Assim Resistiremos, Até Haver Sinal



Inanna, aquela que ao mesmo tempo é neta
E é avó, é também filha e é mãe, e no respeito
A Arina recebeu das edubas de Shara a meta,
A palavra que soa nas mentes ao ritmo do peito
E acalenta com seu pulsar a respiração da Lua
Que fecundada é quando leda e plena mingua,
Manda que te diga e segrede o murmúrio do mar
Sopre a pérola dos lábios de amigo para amiga
Que isso do desejo é onda de espuma e cantiga
Onde apenas baloiça e dança quem sabe esperar…

Que sempre haverá alva na rosácea ansiedade
E brilho no olhar após respirar o alor da saciedade!

sábado, fevereiro 19, 2011

Sonhar é Abraçar-te Recordando Arina

Aberta a rosa da álgebra solta
Silvam aéreos reflexos da alma
Envolta a soletrar os atritos que salta
E aclama, chama acesa que acalma
E acena A Deus, eis Inanna, a maior Mãe
Que é Grande como Grande é seu Amor – também!

Mas se no topo da colina o sol declina
É Arina quem assim aceso e rubro o mantém,
Cujos raios como sedas de Borak sacode a crina
E à desfilada nos faz voar entre o real e o Além,
Casa sua e trono daquela que sendo Deus é mulher
E sendo mulher é irmã, esposa, estrela, rosa, mãe
Do sonho que a si mesma sonha se nos deseja e quer.

E ei-la tecendo agora neste repente o instante
Do abraço entre a realidade e a pura fantasia,
Que sendo Sol é igualmente espelho e amante
Adormecida Lua a iluminar a noite em outro dia
No Templo de Shara celebrado e dito e recriado
Colo de receber a palavra como ente vivo e amado.

Que a ternura é o manto violeta de seda doce e pura
Solfejo de ambrósia no repasto das almas famintas
Adocicadas reservas de aromas silvestres e cordura
Essa a da verdade aliciada das cores com que te pintas
E me destilas no verbo que a conjugar-se se aventura
A sonhar ser próprio amor que em amor único consintas.

Alimento de deuses que A Deus se comete cultivar agora
Outro âmbar de palavras feito produto do tempo e história
Onde o reduto dos homens se entrincheira na memória
Viva, dádiva que se promete e reinventa na vivaz demora
Dos lábios sobre lábios que como língua a língua devora
Dizendo sua meiga magia feita divina para intensa glória
A palavra que é gesto e num gesto a gesta humana aflora.

Arde-me a rosa na alva serenidade de teu olhar vigente
Sobre os andaimes da reminiscência ancestral, contudo
Em cada ramo da árvore do renascido amor há a semente
De quanto somos ainda repetições antigas na fé do mundo:

Arina é outra vez a vez que nasce para contar o destino
Que o ser humano apenas escuta, como qualquer menino
Disposto a alcançar o rosto da alegria suprema na esquina
Daquela cujo olhar a ver as flores na flor me ensina segredos
Rimas iniciais à repetida estrofe, encantos mágicos da flor lida
Que o sonho é igualmente duas mãos de entrelaçados dedos
Sem medo trocado nem fuga aflita perante os possíveis medos
Que escurecem os céus ou encrespam as vagas do mar da vida.

É sonhar de abraço e respirar adormecendo de qualquer amante
Num segredo arrebatado revisitando Arina e apagar todo perigo
Que o mundo se expande se o sonho se inclina e salta ofegante
Ao adormecer no desejo ardente para acordar feliz e vero amigo!

quinta-feira, fevereiro 17, 2011

A Verdade Vertical da Primeira Linha

Pode chover, pode ventar, esfriar e rugir
Ainda pode também haver morte e breu,
Revoadas de insectos, bancos ruindo falir
Até torres cimeiras a cair, estrelas do céu
Baixarem aos rios dos caudais por ouvir,
Esconderem-se os rostos sob doloroso véu
Ninguém escutar o clamor humano a pedir
Socorro aos deuses com o destino por seu.

Contudo, mesmo que o infinito finito esteja
A madrugada vire tarde e o rumor grito seja,
Repare-se, toda vida passada é futuro intento,
Legítimo instante, insight que repete é reflectido
Após cada dia, cada noite, Sol e Lua no teu… – Nascimento!

segunda-feira, fevereiro 07, 2011

Andam Rosas a Aliciar a Solidão…


Sofro sempre alucinações repetidas de adivinhar-te
Se soam sonetos angélicos nos reflexos da aurora
Porém, cada sílaba acesa perde brilho na demora
De esperar-te: eis a razão desta tão singela arte
Ao cinzelar o sonho da alma na recorrente alegria
Com solstícios de âmbar repercutidos no ar que sia.

Se soubesses isso de sentir alvoradas ante a rebeldia
Corpo que insiste em galopar à desfilada conciliadora
Os verbos com o freio nos dentes, os lábios sôfregos
As mãos que procuram segurar-se aos vazios da hora
Abertas num grito, os dedos hirtos vencendo trôpegos
Silêncios da sonata áspera da resignação à aridez do dia…

Então, saberias arrotear as ravinas da ausência na sorte
Que é ver-te mesmo quando não estás – e em toda a parte!

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Secreta Alucinação de Regresso à Antiguidade

Se procurar antecedesse a voz e suprimisse a distância
Então ninguém poderia duvidar de meu ver-te alucinado,
Ver-te a todo o instante como em todo e qualquer lado:
Que a magia acontece e permanece muito para lá da infância.

Tenho a sorte de pensar por imagens e tu és [o] só o quadro
Preferido, a foto permanente do meu ambiente de eficácia
Onde me desenvolvo como palavra de brincar à solta no adro
A rodar o pião ou a virgular entre os ledos verbos da audácia.

Não nego, em momento nenhum, que veem nisto loucura
Como se insano estado fosse este ao querer uma realização
Que acontece se se entretece a vontade ansiada da alma pura,
Com as mais finas linhas e veias tecidas que nascem no coração…


Porém, da Babilónia a esposa do patriarca me sorri enigmática
E eu, perdido por tamanha magia, torno-me poema sem lição
Nem regra, nem forma explícita, ou limitação doutra gramática!