A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, dezembro 10, 2009

Punctum Um






Da vida saberás um dia
A importância dos pormenores.
Dez milhões de portugueses
Todos eles a mesma língua, os mesmos genes
Os mesmos apetites, a mesma solidão
Os mesmos gostos, as mesmas aspirações
A mesma urgência, a mesma gratidão

As mesmas penas, as mesmas contas
As mesmas pérolas, as mesmas plumas
As mesmas armas, as mesmas almas
Igual partida para idênticas chegadas.

Todavia, de todos os pormenores
Eis que és o único que perdura
Além dos dias, das horas, dos segundos
Dos gestos, dos instantes, das cores
Dos hábitos, do sonho, da amargura
Nos segredos dos degredos aos desamores.



Enfim, o ponto incandescente, o sinal
Que não morre além do pôr-do-sol!

quarta-feira, dezembro 09, 2009

nada Sou, nem nada haverá, Além de ti



Por mil anos que vivêssemos jamais conseguiria esconder-me de ti
Deixar de sofrer por cada dia, hora, que partes, sais, tão-só te adias
Como se fosse amputado por vitais desastres, danos, perdas, afasias,
Órgãos essenciais, membros sem os quais não viveria, veres que não vi.

Porque sou um morto sem ti, uma alma penada, coisa, avantesma:
Um registo apagado. Um mutante sem futuro. Um ser do ser isento.
O Quasímodo. A elevada potência de nada. A nulidade em si mesma.
A raiz quadrada de ninguém. Um grafite sem muro. O cais insustento.

Porque sou a encarnação do desespero puro, o clamor da voz insana
Gesto tímido de menino abandonado e inseguro, seco musgo na savana
Força escondida sob a laje da esperança decepada, restolho que emana



Pó, a esperar-te verso a verso, suplício das artes, na oclusão do ser
De fazer rimar amor com desejo, cotejo de futuro na erva em chama
Ou regresso, se a saudade clama, na dor em que partes, e repartes
O silêncio dito, escutado a bater, num salto alto que me toca, a dizer!

sábado, dezembro 05, 2009

Rosto Agreste



Sei dos gestos só aquilo que há
Para saber, nada mais que a plástica,
O incompreendido registo na prática
De uma intenção que se não vê nem dá.


São peças dum puzzle, retalhos vivos
De vidas sem princípio nem fim
Que ao sucederem entram nos arquivos
Fechados das gavetas bolorentas de mim.


Desta memória que insiste ser realidade
Farol, escora, muralha insegura
Que a cada dia me faz a caridade
De me tornar a vida ainda mais dura!

sexta-feira, novembro 27, 2009




Procuro a véspera, a minha flor negra
De raiz branca, a mandrágora e o lótus
O génesis português, o verbo, a regra
De sair vivo porém cativo entre mortos…






Mesmo que a luz nos enfeitice e separe
Estas palavras ficarão, cruas, nuas e vivas
A testemunhar, que se nos céus houver luar
E de te amar nunca pare, nestas velas a brilhar
Ardidas para além dos tempos e das seivas,
Seu fim será breve como leve é este chão de mar,
Este encrespado de espuma e leivas a chamar
No peito dos alqueives ainda por arrotear.




Já que de ao sonho ao sonhado, pressentido então
Seja dado ser infinito se se intentar ser imortal,
Como o de Petrarca, Dante ou até de Nasão,
Porque não o nosso, se é humano quão é real?...




Que eu, à minha parte, a pulso, até sozinho
Prometo bem, e cumpro mesmo ser capaz
De cantá-lo todo o caminho, da ode ao hino
Que à teima de ternura o sexo faz, o ser se compraz
Como as aves fazendo o ninho, palha e palha
Em que nasça menina ou rapaz, génio ou canalha.





Mas importa que seja rafeiro, castanho, mestiço,
Digo zambo, cabrito, simbiose – sei lá!
Para que quando se quebre do sonho o feitiço
Dos corpos ao culto da terra
Se veja nele que houve todos os plurais e há
Metade de cada um sem guerra
Das cores que ao crepúsculo lótus nos dá.







Uma estrela apagada no escuro
Mas que brilhe durante o dia,
Tornando-nos o olhar mais puro
Fazendo da diferença energia.


E que tenha a exigência perfeita, a noção exacta
Do que a (as)simetria faz às cores, faz às formas,
Para que ao ritmo da voz inaudita, tépida e intacta
Diga que as harmonias desarmam, e são normas.


Os diálogos... As trocas ímpares, sem rede.
Como se fôssemos seixos dum regato fundo
Correndo constante ao cristalino da sede
De ter em si mesmos todo o mundo.



E uma propensa mania indigente
De percorrer os dias ao pulsar solar,
Que nem fôssemos a posta-restante
Da noite amante
Em seu correio com o luar


Ou álibis... ou cúmplices... ou sentinelas,
Guardiões dessa fortaleza muralha
Com que um braço é um pão, e o pão as janelas
Com que o futuro nos trabalha


Molda, exige, completa, pede contas,
Diz do tempo mais que a sorte
De esquecer rácicas afrontas
Do pó que é pó, antes e depois da morte.


Porque, para quando todos formos filhos
Dos nossos filhos em mistura de razão
Duma milésima hipótese genética,
Ao beijarmo-nos sejamos os trilhos
De um canto sem mas, nem senão
De gorar a aposta (pari)patética
Ao ser chão que se levanta do chão,
Para logo cair que nem castelo de formigas
Oco por dentro, erecto na visão
Mas sem o discernimento das mãos amigas
Aperradas no Xis de pura comunhão.

Porque mais que os lábios a língua se toca
Cruzando a procura de nós
Que em cada beijo somos a rota
Do sangue e vontade de nossos avós...


Afinal, tão ainda perdidos
Nesse azul de água que é o céu
Em demanda de outro D. João II
Fazendo novo mar desse véu
Que é o tecto do mundo!

Abóbada de um só vitral
Cujo desenho seja uma estrela em rosa
Negra e branca, como da areia nasce o cristal
Dessa seiva incontida
Que faz de teus olhos a flor formosa
Que são as letras de escrever a vida.

terça-feira, novembro 24, 2009

Presente II



Que é isso de a gente oscilar na corda plangente

Estar à porta do tempo, equilibrados no botaréu
Com um pé fora e outro dentro, dependurados do céu
Trajados no rigor ascendente, da lua em seu quarto aceso
Crescente, com a certeza que o passo não nos pertence
Assente de um acontece acontecido ao avesso?




Não há prosas vãs, rimas falhadas, nem palavras perdidas
Quando os momentos são directos, instantes abertos
Em que todas as noites são confessadas nas nuvens caídas
No acontecerem dias completos, de minutos a segundos certos
Na surpresa graça do que soído fora, nos escora concretos.




Que o amanhã é um ontem que vigora, e dura com vigor
Embora haja quem lhe chame futuro sustentado, é dado de rigor
No humano designo de um soneto inacabado, que se fora creditado
É tão-só aquilo que eu, rústico e tosco, nomeio apenas por agora!

Ninguém suspeita daquilo que se esconde em teu olhar
Por revelar estará sempre quanto só o soslaio calou,
Dito de outra forma, jamais alguém acreditaria sequer
Que o futuro é título de quem um dia ousou, no crepúsculo
Amar, e rendido ficou, enleado, sofrido, a naufragar
E a congeminar se congeminou nos teus sonhos de mulher.




segunda-feira, novembro 23, 2009



Esfarelados escombros resumem os locais a histórias
Todas elas abertas aos acesos movimentos dos tempos
Por demais interrogativas e subtis nas fugazes memórias
Essas consumidas sem pios desvelados consentimentos
Alternos à dor, afoitos ao medo, idos contornos serôdios
Repartidos no degredo à volta do imenso ocaso no azul
Que feito ânsias já não vão além nem vêm, sequer restam
Lodo ou nesga de sombra movediça, chão de qualquer paul.




Cruzam-se vozes na breve altivez, qual sotaque da silente cor
Fazem aos homens outros homens o favor da infrutífera espera,
Mas quanto mais profunda é soletrada a profundidade em flor
Mais desmaiam os ângulos da igual redondez na global esfera.

Fosse a terra toda una e ninguém haveria de escorrer na solidão
Que isso do mundo é uma palete que se comete sem incriminar
Sem violar a integridade aos nomes nem lhes roubar a sede e pão
Cuja água nunca mata porque o seu mister é tão-somente saciar!


sexta-feira, novembro 20, 2009



Este é o império do foi ontem, ao crepúsculo;
Tudo é memória, lassidão contemplativa, sede.
E esse alguém que procuras do outro lado da espada
Que conhece o gume e fio de diferente ângulo ao vértice
Já esculpiu a dor na pedra dos rostos com o cinzel da fala
Já escorreu de ventre esgueirante entre as fragas agrestes
Já desceu os rápidos entre o silêncio e o sonho
Como se canoa de asas abertas fosse o seu canto
Num composto cromático de argila vermelha e cinzenta.



Já te disse que nunca poderia ir por onde todos vão
Embora haja no seu sorriso a precisão dum caminho
Duma vaga ambiguidade a que me possa abandonar,
Alguém a pisar o linho com o sopro da voz no desvão
O murmúrio quase aceso no patamar de uma elipse
A curva do tronco a arfar na contradição do suspense.


Esse thriller, sim, que a história nos segreda nas tardes
Como se fosse o dia do tamanho dos milénios indecisos
É tão-só o negativo do romance que o teu nome soletra
À esquina da sombra, entre ser e dizer, apenas sofreguidão
Aberta válvula para dentro transparecer a serenidade doce
Da luz a desmaiar aos pés de um quotidiano que aspira
Corre e se deita ao comprido das águas imperiosas.

terça-feira, novembro 17, 2009


Pensei que eras a linha do mar
Que na distância usurpa o olhar;
Pensei esconder a ilusão do corpo
Preferido no silêncio de naufragar;
Pensei que havia um grito absorto
Em cada antecedido gesto de posar.


Pensei que eras a língua do império
Na curva do ser ao dizer “descobrir”;
Pensei sentir o pulsar lúcido e sério
Dum romance onde pudesse intervir;
Pensei que estava na paixão do chegar
E, afinal, ainda nem chegara a partir.


Pensei que eras luz mas fazias a noite
Por cada sorriso em sustenido ensaiado;
Pensei que eras alegria mas eras açoite
Em alambique de metal velho e oxidado.


Pensei em tudo e até em ti, como foras
Um dia à procura do olhar que diz e diz
O silêncio de soletrar ínfimas desforras;
Mas o que pensei ser pensar era querer
A apodrecer de tédio antes do verbo nascer,
Antes de existir e ser, de quem não quis
Inventar o seu próprio nome – e acontecer!


Neste sorriso juvenil e pacato
Existe um olhar triste de gaiato
Que me rasga e me desfralda
A vontade de viver e de vencer;


Por baixo deste véu alegre
Com que não deixo transparecer
A mágoa, a incerteza e a febre
Que me vai na alma inconformada,

Há um acto de abandonado ser
A construir a última sólida solidão.


Como foi que o encontrei? Sem querer
À custa de responsabilidade e repressão.
E tudo isso, porque apenas quis ser o ver
A instantânea fresta de um grão e outro grão
Numa película do sonho sem negativo
A revelar tua face de estrela intemporal
Curva de acontecido brilho sensitivo
Com que voo para além do bem e do mal!

sábado, novembro 14, 2009


(Esboço de Fotografia)


Há muita gente a quem...
A infância já morreu!
E do S O S dos olhos
Partem mãos dum sonho
O revés duma imagem que se esgueira.


Mas em nós nunca ela!
Sucumbirá. Um virar de página
Um sorriso, uma recusa
Uma vela que se apaga:


Mas nunca! Nunca perderemos o ar...
Sermos inocentes é um vento
Uma aguarela que nos envolve.


A morte cai-nos aos pés...
Como se chama aquela árvore
Ali, seca quase fogo?


É que no fundo, não posso perder-te
E eu sei: resoluta era a sombra
Porque não sabia esquecer a forma.

sexta-feira, novembro 13, 2009



O meu sentir tem o cheiro das brisas do mar azul indomesticável
E os trejeitos simples das papoilas silvestres das searas trigueiras
De quando o vento sussurra intrigas à planície luminosa e fértil
Plena de maresia e sôfrega de meus olhos em si derretidos e desmaiados


E veste os mantos do negro estudantil em que esvoaça liberta
Afinando as horas pelo Abril de balada que ao fado acerta.
E joga comigo ao esconde-esconde de janela em janela, estar e ir,
Essa que eu mil vezes fixo nos fins-de-semana e feriados longos
Como se ela fosse a resolução de todos os meus problemas e hiatos.
Qualquer coisa como a moldura única de todas as minhas narrativas.
Universo ilimitado para o jogo de todas as minhas metáforas e elipses.
Campo de batalha para todas as minhas alegorias, imagens e sinédoques.
E comparações e prosopopeias e metonímias e ironias e alucinações.


Que nem ela fosse a revelação dos sonhos nas milhares de galáxias
Por descobrir e desvendar à plenitude dos corpos e das planícies
Ao infinito brilho de estrela que há em seus olhos de medir o céu.


Porque transporta consigo a esperança e fulgor dos ancestrais
Os genes que me faltavam para eu resumir a história da humanidade
Num só capítulo, todo ele de ir à escola e brincar pelas veredas
Correr pelas estradas à desfilada com o vento, voando sobre as estepes
Acendendo aqui e ali pequenos nenúfares de estames solfejados
Assobios de canoras aves ao despique com a madrugada que vestes
Mantos de violetas bravas sobre as muralhas de qualquer colina.

Vê a manhã colorida pelas casas
Duma rua de sol, cães vagabundos,
Bolas aos hexágonos escorrendo nas valetas
E bicicletas estacionadas sem ordem nem zelo.

É aí que eu resido e me demoro
Quando tudo aquilo que tenho
A fazer é deveras mais importante.

Nunca obedeço aos imperativos da disciplina
Numa manhã assim sou anarquista
Para almoçar como um nobre burguês
E deitar-me pouco depois de descambar
Na crítica materialista e no socialismo.

Ao adormecer sou sempre comunista
Para que os sonhos madrugadores me libertem
Da opressão de Estado e possa erguer-me
Sem mácula, arrependimento, saudades.

Finalmente kitsch, na manhã soalheira
Os olhos condoídos mas a alma limpa.

quinta-feira, novembro 12, 2009



A descoberto da sombra a luz
Procura teu corpo de mar e sol
Percorrendo o negro de uns olhos nus
Com que te vejo sob o lençol
Branco de minhas velas empoladas
Ao vento das vozes desejadas.


Tens no teu corpo o crioulo invencível
Que transforma o chumbo em ouro
E no leito de teus sonhos o louro
Das vitórias sobre o impossível;
E alcanças até com teus medos
Aquilo que outros querem sôfregos
Com o poder e raiva de seus dedos...



Mas não só quando altiva desfilas
Entre as demais se nota o queixume,
Diferente é também o perfume
Solitário dos beijos que destilas
Em vapor de subir ainda além
Do céu, do sonho e do amor
: ÁMEN!!


És prece pagã, noite bárbara
África morena em pleno dia
Escorrendo música do andar,
Ritmo da terra, beijo de mar,
Incêndio lúdico na tártara
Obrigação de ser a poesia.


E talvez por isso sempre também
Quando da noite procuro a luz
Sejam teus olhos que de longe vêm
Dar-me a esperança pela cruz
Que te dei no tempo do ainda
Pura do pecado que nos finda.

quarta-feira, novembro 11, 2009



Há sempre livros possíveis de abrir
Entre nossas mãos aperradas
Um sorriso jovial, um sei-lá! no esquecimento da rua
Roubado sou quando me lembras o computador
Distante, sobre a mesa apenas a luz a vazar dos claustros


Podia minha voz sussurrar-te outros longes
A distância transponível na versatilidade de um pergaminho
A minha cabeça entre papiros foscos o teu colo convergente
Alinhavadas pérolas frescas em gotas orvalhadas.



Mas há sempre um MAS
Que a vida tece
Com as linhas que nos pede emprestadas
E tu não me escutas, nem eu repouso...


Por isso, nas horas vagas
Em que me alinhavo e descoso
Continuamente visando o mar e as vagas
Em que vou e venho
Um rumo me impele, e ouso...


E sonho...
... E tenho.





É preciso amar as sombras que me falam de ti
Ou as nuvens quando estas ganham formas
Que em tudo se assemelham às tuas ausências;
É preciso. E ser lesto no referir dos olhos
Amoras silvestres de ouvir os gestos
Falar às fontes de teus lábios gomosos lineares
Ou descer pela seda ondeada castanha-escura escorreita
De teus cabelos partidos ao meio dos sonhos iguais.



É preciso esconder as mãos nas ânsias de ser,
Meter os dedos nos refegos e costuras de existir
E saber que continuar é uma metafísica adiada,
Uma ontologia auspiciosamente pejorativa preterida
Como se de uma vergonhosa mania íntima se tratasse,
Sem recear as curvas derrapantes ou as agulhas marginais,
As culpas assumidas e as projecções perversas,
Os fundamentalismos intolerantes ou as crostas
Sempre demasiadamente rígidas das dores alheias.



Porque é preciso a cada hora minuto segundo reconverter
A ausência saudade em espaço quando imagem acabada
Suficiência compensatória do quanto é irremediável viver
Não sei onde, não sei porquê, mas saber é bastante
É bom ouvir o telefone de “podes ser tu a tocar”
Retinir insistentemente insistes em esconder o nome
No alô impessoal, profano,
thriller mal contado
À beira dos dedos com unhas roídas até à pele de veludo
Acariciante dos gomos sensuais e meigos em leque dispersos
Pelos gestos indomáveis da fala sublinhando iluminuras.




Sei isso e muito mais que tu também não esqueces
Nunca jamais seremos outros em nós ainda que importe
A conjuntura, o carro novo, a mobília a prestações.
E quando é preciso as coisas acontecerem, acontecem
Ninguém pode mudar a lei porque a lei é a Lei
Não uma decisão da assembleia que calhou votar assim
Tão-só assim, precisamente não doutra lei mas daquela.



É não estares aqui ou eu aí o único órgão que me pesa
Nunca os pés, as pálpebras, a língua também entaramelada.
A sonolência é outra coisa não parecida com languidez,
Mas pode ser um despertar para o reino do sonho
Navegar entre as tuas coxas naufragar e naufragar
Não importa esquecendo, esquecendo, esquecendo sempre,
Até ao fim do gesto morno de estender os ombros e gritar.



Gostava de pensar que me esperas os olhos postos na porta
A respiração suspensa a cada sombra que se aproxima
Um formigueiro na espinha e as espáduas que fremem
Embalam expectante fantasia no perfil convergente à ombreira
«Eu vou voltar!...» -- A certeza cresce ainda cresce
Não repete, não pára, não fica aí como se fosse estádio
Mas paragem à tona fluente terna dos absolutos possíveis.

terça-feira, novembro 10, 2009

(Sobre tela, um óleo de rapariga subindo a escadaria de entrada duma
Escola Secundária, a fim de ir fazer exames.)



Nos degraus das escadas os olhos postos
Sobem lestos e azulíneos através dos rostos
Cínzeos de bronze e pedra lacerados cedo.
Tão de repente demasiados dos sustos
Há órbitas sôfregas em ausentes custos
E rangem os granitos sob os pés do medo.


Fitam-se ângulos rasantes à íngreme escalada
Horizontes tangentes chocando estrelas no vértice
Só de humano nos esgares perpendiculares da escada.
Raios disparam-se em traços de ícones formas em hélice
Ferindo plásticas portas encimando telas
Feitas das lonas tostadas nos mastros das velas.


Fendem-se os gestos no cinzento dos gritos!
Gemem lágrimas dos ângulos aflitos!
Gladiam-se os exteriores em espólia conquista.
Esvoaçam tecidos frémitos adolescentes; crista
De onda em plúmbeo orgasmo de atritos!...
VER É SENTIR


Procura o silêncio. É aí que reside
A profundidade das coisas simples;
É como estar na berma que divide
O ser pela fronteira das arestas.


Sejamos breves na luz que incide.
Acutilante é estar no raio das frestas
E vogar como fumo em espirais deslizes

Assim se podem aspirar imortalidades,
Não por diatribes do som que desdiz;
Que quanto mais simples, mais são verdades
No perfeito do verbo que ousa
E diz,


Calado, mudo, incauto dum sereno olhar
Ao saber que ver é sentir sem esperar.
Secretas Insignificâncias,
Omissões Breves, Fortunas Vãs



Há os segredos que segredam
E calados dizem certos indizíveis
Jamais possíveis aos que se quedam
Perante a penumbra oculta dos sinais,
Na rubra resistência aos signos credíveis.


São a indumentária dos serenos murmúrios,
Dos rituais na ternura das noites sigilosas
Discretas, profanas, amantes e pecaminosas;
Mas também as leigas preces nos subúrbios
Das mães solteiras ao filho que tarda fora
Madrugada adiante na boémia noite, a demora.


E que como um luxo do coração no dizer
Imperam ainda além das palavras reais
Dos nomes, das pessoas, das coisas, do ser;


Que vistas à lupa dos factos que tais
Participam em tudo que é por acontecer
Sendo quanto não foram... E muito mais!
Instante Instantâneo



Quando a sombra desliza protuberante
Entre as frestas da penumbra secular,
É a fantasia concubina em sonho distante
Esboçada promessa de ser, em lesto chegar.

É a magia do desejo traçando a secante
Ao interno novelo que enleia as preces,
Transformando o longe num instante
Em que te fazes autêntica... E apareces.

É o fulgor aceso do flashback desejado
A enobrecer a realidade, pondo amor
Inesperado no acaso, tornado áurea cor.


E também é o verde semáforo sincopado
Frente à zebra que nos queremos transpor
Em que à ousadia sempre incita outro Condor!

sexta-feira, novembro 06, 2009



l.
Guardas a avareza de Israel
A luxúria de Roma – bebe neste sol... bebe!
Vives na aspereza da morte
Da sorte
Em gestos lentos de quem passaja tempo
– Bebe neste sol... Bebe!
A planície lá ao fundo respira (ainda)
Como quadro crispado se
Sobre sendo.
As horas rompem másculas
O silêncio
Em separata e cuidados.
Receias-te e recompões-te sequencialmente
Sem notar que há mar e fogo e sede.
Sonhas e sondas o hemisfério

Pela sinédoque do arco do arco-íris
– Bebe neste sol... Bebe!



2.

A alva lava está entre mim e ti.
Com ela mergulho – pertenço-te.