A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, dezembro 16, 2012


ÀS BESTAS O QUE É DAS BESTAS



Ó estupores da nação, senhores do dolce fare niente
E da mediocridade dos cafés com que ganhais o pão
Na maledicência e imitação dos gestos desta gente,
Tendes toda a liberdade para roubar e humilhar, não

Podeis, porém, é convencer-me ser afinal o indigente
Quem estuda e se valoriza, quem trabalha na solidão
E dá os textos do seu pensar àqueles que impunemente
Os vendem, lucrando, até estatuto de benfeitor cidadão.

Sois a escória mais apodrecida de qualquer sociedade
E não é por terdes dinheiro a rodos que melhorareis…
Porque ninguém, a quem sujais o nome e a dignidade

Enganais, nem as porcas mentiras que sobre nós dizeis
Alguma vez hão de ser mais que o espelho da falsidade
E a ignorância que vos cristaliza o cérebro de corcéis!   



domingo, dezembro 09, 2012


NEBULOSAS DO ACASO



Os grandiosos gestos acompanham voos inesquecíveis
Se a sede de conhecer os liquefaz etéreos e sublimes…
Porém, as grandes emoções, como as maiores ondas
Apenas por breves instantes mantêm a sua forma pura.

Portanto, se ao ver o imo inalcançável da ideia simples
Lograres que a beleza só se mostra em gestos perecíveis,
É o caminho definitivamente traçado sob signo da aventura
Cujo destino se perde nas galáxias que nunca vês, nem sondas.

DIZER-TE .COM ME TE DIGO



Chicoteio-te com o nome
De alto a baixo és
A minha dissemelhança
Concreta, por não pertença.

E ante a certeza disforme
Sobre a qual assentas os pés
Me calcas na forma intensa
Conjugação exata do homem
Que só quando é proferido
Se avença, se consome…
– E de cardo apelido se alcança! 


quarta-feira, dezembro 05, 2012


CINCO SOLUÇÕES (rápidas) PARA UMA CRISE (len-ta)


1.   Faça empréstimos. Coisa séria
E sigilo absoluto. Taxa anal 3%.

2.   Lave seu capital periodicamente. Se o povo falar
Não se importe. O que é preciso é deixá-lo
Entre Tide.

3.   Mais vale um dedo na mão que fora
Dela. Depois passe bem por água tépida
E ponha o anel.

4.   Seja empreendedor. Uma empresa fica-lhe bem;
Se não servir a mais ninguém, a culpa é da TROIKA
E pode sempre mandá-la
A
Jus
Tar.

5.   Quando entrar em algum banco ou repartição pública
Faça-o com o pé direito, mas saia com o esquerdo
Que o mercado interno está atento – e é muito diz.com
Fiado.

domingo, dezembro 02, 2012


PROSA RIMADA COMO SUCEDÂNEO DE SONETO




Amar só é verdadeiramente bom para quem ama
Que quem é amado nem sempre se dá tão bem:
É apenas quem ao abrir as asas as queima na chama
Dum fogo que arde sem se ver nem saber por que vem.

Sua vida de pouca monta é se outro coração a reclama
A pulsar com o ritmo da acérrima fertilidade de outrem,
Posto que a viver não se aposta mas antes aquece a cama
De quem por sentimento a hipotecou e o fez seu refém. 

Dito de outro modo, quem ama é o predador do ser amado
Cuja virtude está em consentir que assim seja vida adiante
Porque se não for será vil e cruel criminoso, bem culpado…

Couteiro da reserva do desamor com licença de comediante
Para representar o que podia ter sido se seu doentio estado
Lhe permitisse ir além da serventia de ocasional amante!

sábado, dezembro 01, 2012


O SELO DO SONHO E DA SAUDADE



Nasceu-me dentro aind'agora
Uma luz que não soube que era:
Não tinha nada do que por fora
Brilha, mesmo sendo primavera...

Seu rosto sorria, com demora
Durante a manhã, leda e vera;
Que ternura também é espora
Se se cavalga uma Quimera.

Porém, não partiu à desfilada,
Nem adormeceu no desejo;
Que se fecho a luz à mirada,
É seu sorriso que logo vejo...

Aceso dentro de mim, alada
Pelo alor sem fim – de um beijo!
   

terça-feira, novembro 20, 2012


DO ANTES E DO DEPOIS



A solução do mundo é
Qualquer coisa de irreal,
Que onde se interpõe a fé
Tudo que não é bem, é mal.

Dois opostos se completam,
Duas faces da mesma moeda:
Uma, são os olhos que pecam;
A outra, os que o pecado azeda.

E da luta entre estes dois
Só sai quem cega de vez,
Que antes do pecado, o depois
Se chama desejo e languidez.

Tanto peca o são como o impuro,
Que a culpa não tem fastio;
Se alimenta tanto do inseguro
Como do afoito, do tolo e arredio.

É senhora de casa e mesa posta,
E por prazer tem toda a virtude;
Aos doentes a saúde mostra
E aos sãos esconde a saúde.

Por isso se crê que a ilusão
Tem o papel de muito importar:
Dá ao mundo a solução
Pra ninguém o querer mudar!

sábado, novembro 17, 2012


ÁGUA ACESA



É, esta, a terceira tarde de chuva
Quase contínua, a fria humidade,
Assenta-nos na alma como uma luva
Feita por medida – e brinde da idade.

Ninguém poderá alterar os destinos
Perante tão implacável natureza…
Porém, ao cruzarem a luz os pingos finos
De chuva semelham estrelas de água acesa!


sábado, novembro 10, 2012


AMAR E VER TÊM A MESMA MEDIDA



Que pode um homem pensar, assim direi,
Quando a voz se lhe embarga no ocaso
E o sol, ao esconder a luz, como sua lei
É outra agora, outro o seu desembaraço?
Nada nos aprouve tanto, plebeu ou rei
Me vi ante ela, sujeito em seu duro laço
Nó de apertado rigor e formatado me sei
Como vassalo fiel que só teu sou e faço
Pertencer é um verbo de registo vincado
A que nenhum pretenso ser tem acesso,
Que aquele que bem ama melhor é amado
Sendo também verdade o contrário avesso…
Pois de mim para mim próprio me vejo atirado
Em teu amor, que é todo quanto do meu mereço!

quarta-feira, novembro 07, 2012


NA VOZ DAS MÃOS


Enquanto na orla dos anseios inquietos
A horda de pétalas silvestres reluz,
Reflexos dispersos, raios de alva jus
Traçam tangentes aos primordiais afetos



Esses, que tidos por puros e sãos
Se nos cruzam como apelos secretos
Nos lúcidos trajetos…



– Da palma das mãos!

domingo, novembro 04, 2012

Do coração, sua essência nos acarta... O sangue, o DNA, a família e seu afeto! 

segunda-feira, outubro 29, 2012


SÁBADO, dia 3 de novembro, HÁ (MAIS) POESIA EM PORTALEGRE


A poesia, se traz na alma a marca dos lugares que os poetas frequentaram e as pessoas com quem conviveram, tem o mérito de traduzir esse quanto de harmonioso e sentimental que cimentou a história dos homens e mulheres como das cidades onde se cristalizaram gente – e vida!
Vai daí, há seis anos consecutivos que a iniciativa e a criação poética tem acontecido, mais ou menos de mês a mês, com exceção de pequenos interregnos sem grande significado nem moléstia de desabituação para os adeptos dessa expressão artística milenar, quiçá nascida ainda como ecolalia no berço da humanidade. Desta feita, e celebrando o fato, inaugurar-se-á a exposição coletiva de poemas, sábado, dia 3 de novembro, pelas 16 horas, na Galeria Tempo Sem Fim, em Portalegre, onde permanecerá até ao dia 31 de dezembro deste ano.

Não creio que seja o culminar de uma ação constante e de uma criação desconexa o que nela se poderá assistir, mas antes a síntese de um esforço múltiplo, de cada poeta e poetisa, como da organização de ambas as etiquetas (Momentos de Poesia e Galeria Tempo Sem Fim), que intentou dar a conhecer o vitral da imagética portalegrense sob as tonalidades da escrita em carne viva, a que o sangue comum emprestou o DNA da participada e envolvida vontade de desenvolvimento e progresso de uma região a braços com diversos problemas e assimetrias, entre os quais, a crise geral que o país atravessa. É, digamos assim, o humilde contributo de quantos e quantas fizeram da palavra uma estratégia para dignificar a existência e os seus semelhantes, a arte e o sentimento, a emoção e esse enorme pecado que dificilmente seremos perdoados: a ternura, o amor e amizade.



Portanto, o Convite a que se junte a nós nesse dia, aqui lhe fica dirigido, com a atenção e cuidado que irremediavelmente merece… Bem-vindos e bem-vindas sejam!    

domingo, outubro 28, 2012


DA OXIDAÇÃO DO SER



Eu podia ter um anjo amarelo
– Mas não tenho…
Ou um diabinho rosa circunspeto…
– Mas também não tenho.



Igualmente, quando contra a luz me ponho
(Sujeito e verso descubro de pronto)
É tal e tão difuso o meu aspeto
Que sendo eu, outro de mim me suponho.



Por isso, não exijo nada ao Ser
Cuja identidade me abarca condigno;
Basta-me observar e de imediato esquecer
Ainda assim o melhor de mim se não torne maligno!



domingo, outubro 14, 2012


DE BRAÇO ERGUIDO



Torarei de pronto mal souber a voz
Ou me amanhecer teu rosto vivaz,
Que o destino afronto em cascas de noz
Deixando o passado passar para trás…



Trastanto o verbo há de ser mais um nós
De conjugar o querer crendo no que se faz,
Porque é do mundo criar estando a sós
Se sabido for em fazer o que a todos nos traz.



Traz por mim, traz por vós, assim por diante
Passo a passo cumprindo o mister destinado,
Que a vida nos escolheu seu primeiro amante
Logo no primeiro choro que por nós fora dado.



Isso comigo se passou, e convosco foi passado,
Que nosso bem é grande, mesmo sendo um punhado!


sábado, outubro 13, 2012


NO EMBALO DO BALAIO



Neste balaio carrego
Minha serena condição,
Que a vida toma o rego
Prà vereda mais à mão…



E rumo de rima e aprumo
Fuzilaz para o zulzul,
Escorrente água e sumo
Nascidos do verão do sul.



Praias e música é bagagem
De quem não sabe naufragar,
Que se o amor é de torna-viagem
Então vai e vem – e torna a amar!



quarta-feira, outubro 03, 2012


DO NÚCLEO, A ESPIRAL



É difícil o despovoar dos sonhos cimentados
Crescidos no dia-a-dia ante os teus gestos
Como verbos de arrumar em livros catalogados
Novos, reposições, como registos, e lestos
De pronto se autorizam e te obedecem servis…



Por mim o digo, que no contento de tuas mãos
Me andam ajeitados os puros sentimentos
Balançando nas ondas de teus cabelos, sutis
Vaivéns de quem alisa recatados desvãos
Onde moram os secretos anseios e alentos.  



Pudera eu ser o teu andar! Pudera eu ser, então,
Todo o ar que respiras para ir até cada poro teu,
Invadir de manso tua íntima pele, e na sofreguidão
De ver-te cirandar, rodopiar em mim até ao céu!

sábado, setembro 29, 2012


PELOS SONS DO CAMINHO



Soam teus passos no paço da investidura
E como sargaços no oceano da saudade
Têm a liberdade de ser a sua armadura
E descalços irem na água da eternidade...

Buscam-se ante o silêncio de longa dura
Se presencio as vozes sem cor ou idade;
E mais que o sonho são a leda aventura
De abraçar com ternura e autenticidade.




Perdidos mas achados, soam pé-ante-pé
Nesse marchar inclinados pelo balanço
Numa mistura de samba e fado manso,




Que nisso de dançar nada é puro – nem a fé
Cujo xadrez quadrícula todos os credos
Sob as mesmas esperanças, iguais medos!

quarta-feira, setembro 19, 2012


BORIS, O LEITOR



No jeito especial de ler
Está posto o saber usufruído…
Deitado até dá para ver
Quanto anda a fazer
Quem nos traz absorvido.

Sério suporte é a cultura,
Sustentáculo abnegado,
Dos que querem vida segura
Tenha ela curta ou longa dura
Neste mundo tão (a)variado.

Por mim, aceito o que vem,
Meu destino é observar…
Desde que não exista ninguém
Que se lembre de ler também
E apenas para me enxotar!