A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, janeiro 22, 2010

Torres Transversais




Às vezes percebo o anagrama a dizer, a vociferar
Eu mato-te, mas também não é isso que queria
Era outra coisa que igualmente não era ela
Eu amo-te as mesmas letras, sílabas, confirmo
É certo, contabilizo, mas estão muito desorganizadas
Sabe-se lá o que fizeram para terem sido condenadas
A significar o contrário daquilo pra que nasceram
Revoltadas umas com as outras, zangadas, contritas
O T duplicado como uma aliteração esotérica
Templária, cristianismo de outros tempos e credos
A besta à volta da Torre do Tempo a recuperar a dor
As vestes no cabide da moralidade rectilínea
E rígida e intransigente e fechada do sacrifício

Em nome da humanidade, outra mentira descarada
Nem sequer em nome de Deus, e muito menos a favor
Dos homens, foi deste ou daquele cujo poder vitalício
Quis abarcar Toda a Terra e ir além da sua vida
Ter a eternidade por conta própria e ao seu serviço
Mais um vassalo às suas ordens, contudo insanas!

quinta-feira, janeiro 14, 2010

Les songlots longs des violons

Tenho um enorme vício, que me desgraçou:
O de sonhar cada palavra na frase lida...
Por isso, nem sempre sei se ao ser, assim, não estou
Apenas a ler, ou a sonhar, a minha própria vida.





Mas de entre todas as imagens
Que me são mais queridas
Reconheço o teu rosto incandescente,
E nesse logo, as vertigens sentidas
Gretam-me o sonho em suturas desmedidas,
Vibram-me as cordas dos sentidos
Acordados num sustenido plangente.

Do braço ao coração dedilhado
Meu ser aproa ao cais infinito
No celestial oceano desse choro magoado
Com que aceso me resto incendiado grito,
Tão rés das ondas revoltas no chão empedrado
Em que me ato e me soltas
Rodopio e coso nas esquinas de granito,
Que convulso dou voltas e voltas
De sufi em redor de ti, entregando-me aflito.

E no predicado que és, a periferia de mim
Dilui-se no "lento soluço de um violino"
À esquina do (nosso) condomínio global e sem fim
Universo de todos os verbos sob o manso destino,
Vaivém marinho de nos reduzir, enfim
Entre páginas e páginas, candentes outonos da memória
Versos liquefeitos no solfejo do vento, desafino
Se me aguardas mas não sonhas ao mesmo tempo,
Me rasuras e esqueço o fim da história...

Porém, se todavia, me tocas no vértice
A saliva da fala sonha, reage no húmido indicador
Aspergindo letra a letra, pormenor e zoom, até ao índice
Este simples amor que não arrefece
Nem esquece o terno e doce ardor
Em que ferve o uno e a lume brando apura o estilo, e esvanece
Cada um no outro, asilo de nós, que em nós, se torna cúmplice!