A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

segunda-feira, abril 30, 2007

Apelo

Se é no cume do caule da flor
Que o cálice das pétalas existe,
Então, verte em mim teu ser amor,
Vem para ao pé de quem, por te não ver
Quase morre, e morre de morrer triste!...


Natal Silvestre

Talvez a gente esteja indubitavelmente aqui...
É esse o nosso preço!

Mas na desesperança com que de ti me despeço
Há um beijo que não dei
Um corpo que não vivi.

Portanto, quando à luz dos momentos tidos
Nos despimos dos sonhos e das expectativas
Lemo-nos pétalas dos sete sentidos
Fusão de corolas das mesmas vidas.

E desse suplício de entrega e expulsão da dor
Nascem entre miríades de pétalas fulgentes
Cruzando círculos, quadrados, ângulos, tangentes...
As corolas se fazem cálices de nova e renovada flor!

segunda-feira, abril 23, 2007

Indecisa Prece

Embora sejam iguais as cordas tensas
E semelhantes os arcos que ostentam
Como idênticas as flechas que neles há,
Quando Diana dispara abate o gamo
Mas se o faz Apolo são outros os alvos
E Cupido acerta no humano coração...

Poderemos, por isso, dizer que é o destino
O rumo, a direcção, o sentido, a intenção
O objectivo, quem destrinça as essências?

Cruzo-me contigo e sob o arco de tuas sobrancelhas
Circunspectas e enigmáticas, emites o teu dardo:
Alvejado, abatido rendo-me, esqueço-me de mim
Todavia, confuso, não sei a que deus agradecer!

quinta-feira, abril 19, 2007

Síndroma do apaziguamento


Embora duvidosa se enraíze quase sempre a certeza singela
Deste recente averiguar nas aves o chilreio descontraído,
Que ao labor da escrita acrescentam no vê-las através da janela
Quando antes de matar a sede se encavalitam no ramo despido
Do freixo que ao céu sobe próximo da parede e defronte dela...

O que importa não esquecer, perante a planície e suas colinas
Sub-reptícias, dengosas e feminis que se lhe deitam ao largo
Alongando seios e ancas em esparso bosquejo de olivedos sobros
É que não há sonhos sem desfiladas nem esvoaçares de crinas
Ou mesmo outras distâncias que não aquelas que em mim trago.

Seja no pleno descobrir, como no retraído e hesitante navegar...
Que o único pecado mortal nasce do olvido, ainda que a florir
Lhe estejam ausentes as folhas com que há-de também outonar.

É de verde sombrio, sujo, carregado, de camuflados militares
Entre os telhados dúbios dos hipermercados e o azul cinza do céu
Que apascenta o olhar se fitamos o horizonte ao entardecer
Como musgo sequioso sobre granito de mausoléus ancestrais.

Mas se da cor o que mais fica são os movimentos por fazer
Do sentimento tido que tudo explica se nos aturam os vagares
Esse que recai e descai sobre o ser como sombra, manto, véu
E faz ondular as papoilas ou espigas louras e maduras dos trigais
Que por não vistos se imaginam, e imaginados são mais reais!,
Então, retornam quase todas as searas vistas por esses campos fora
E pintalgam o presente com rústicas pinceladas de ontem no agora.

Madrigal

Ao cocuruto do jovem cipreste
Que há defronte da minha sala,
Qui-lo o pintassilgo silvestre
Para seu lar, quando acasala.

Podia até ter escolhido os demais
Que em fila também há rua fora;
Mas não, foi nele que criou o cais,
E escorou a eternidade que o decora.

Que um ninho, há-de sempre ter
O colorido canto de quem o faz;
E este, ainda que feito no agreste
Verde cipreste comum ao morrer,
É a vida que ele no cimo me traz
E aos filhos das aves aí a crescer!

(Continua)

quarta-feira, abril 04, 2007

Lúcida luz


Cálculo, supor que me supões assim mais uma mosca morta
Consumida, estrangulada na teia do teu tarantular abraço,
Enquanto as tuas palavras me embalam e a tua baba corta
Tangentes limites, esquadrias que me circundam o espaço...

Portanto, eis o eixo da roda, o picado ponto do compasso
Sobre o qual gira cada ângulo solar do teu inspirado dizer
Que está no estribilho da entretecida língua que passo a passo
Me enreda, aprisiona, tecendo a liberdade de ser meu se em ti ser.


Dei-te hospedagem: alugaste-me o coração, simples rendeira.
Pois desta estalagem fizeste outro castelo de muradas malhas;
Todavia, centrípeta esfinge desliza-me sobre as nítidas calhas...

Rectas linhas, corporais curvas, doces bagos da mesma videira
Croché das Penélopes esquivas, com que de noite me trabalhas
O sonho de crer, no visco que é o querer-te minha a vida inteira!