A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, janeiro 23, 2008

Bom Dia, Noite


Esta vida é uma grande berlaitada de incertezas
Quase todas elas calculadas como metáforas vis
Encandeadas na tentativa de a transformarmos
Noutra coisa mas umas vezes mexe-se outras queda-se
Noutras ainda movimenta-se à toa sem percebermos
Porquê, «sim, porquê?» perguntamos a estranhar
É fenómeno dizem pra não nos responderem, sossegar
Por isso busca-se, infatigáveis de livro em livro
À procura de sinais dela pelas vielas da metáfora
Metáforas que nos atiram para outras metáforas
Como caminho para ficar dentro, ali pessoa
Entre pessoas, saltar os fossos que circunscrevem
Protegem as muralhas mais de quem mora nelas
Do quem cavalga em liberdade, balança no ramo
Frágil, tão frágil que se ouvem os estalidos dele
Até aprender a cair antes da queda, se partidos
Acontecem pouquinho antes largamos os braços
Antecipando o destino permitindo-lhe a resiliência
O restabelecer da sua elasticidade por nós eleita
Pois alteramos tudo quanto preferimos e escolhemos.

Nem tudo o dito é verdade, porém não é mentira
Tal como Fernão Magalhães o plano redondo se fez
À volta do mundo atirou corda mas a âncora é aqui
Onde se fica sob as figueiras a imaginar ilhas avulsas
Ligadas pelo não ser terra num imenso arquipélago
Raiado no vulcão de teus olhos a gritar incandescentes
Esponja dura, coral das crostas escarpadas e íngremes
De descer a gruta húmida dos lábios até à lenda, mito
Sonho dependurado do céu, ligação que nos sustém
Segurança líquida para o adormecer fetal à boca, porta
Do templo que apenas se abre com a metáfora do grito
Do mesmo dito ainda que com palavras diferentes
Díspares mas que sob o abraço esclarecem igual voz.

Tu estavas lá quando morri e ressuscitaste-me
Puseste teu seio em cada palavra dilucida e bebi

Até que a luz cedeu e livre de mim, ao sol amanheci!

sábado, janeiro 19, 2008

Prova dos Noves


Tens o holocausto da esperança nessa aliança
De sempre e eterna e frugal noiva comprometida
Posta em desassossego à esquina entre a criança
E a mulher, entre o passado e a fantasia tida
Entre a História e a ficção que há na vida...

Saturno de outra galáxia hipotecas contigo
As luas e anéis de quantos planetas te orbitam,
Para desceres múltipla mas reunida ao abrigo
Do humano direito à felicidade, e nele castigam
Quem também quer ser feliz, sem demais castigo
Que o de ter sido petiz, onde os adultos brigam.

Portanto, é imprescindível que percorras sozinha
O inferno que me queres dar, caminhos, veredas
Que caminhando se fazem na seara, risca miudinha
Sapatos que nos pés não cabem, enfaixados de gueixas
Ledas, de sofridas, vontades que só emparedas
Nas muralhas secretas de loas idas (e endechas).

E em todos os ciclos lunares, porém engravidas
Da alegria de ser apenas mulher, madura, menstruada
Que a vida tampouco quer, jogando contigo às escondidas
Inchando-te o ventre mas de onde nasce nada...

Zero bíblico, ponto abúlico, de cruz tapete de lã
Que quando grita traça calado, o caminho tapado
Obscuras nuvens que ensombram o sol da manhã
Nascido em ventre ao lado, feito luz, mas de vela vã.

Vá, adora o menino... Que de pequenino
Se torce o destino, em fazer-te o fado, o cadinho
De aquecer o chumbo da guerra em ouro marado
Prà talha dourada da capela romana, denominada

Também mesquita, no sol-pôr de Eva, da Era cristã.
Rojo Requebro em Concierto Madrigal

Placidamente ouço Los Romeros, as castanholas de Angelita
A irreverência feminina que rompe os sonidos das guitarras
Mãe rebelde que não se sujeita sem luta aos acordes clássicos
E a faz parecer mais nova ainda que seus próprios filhos
E voa-me o pensamento no salero flamenco de tuas vestes,
Mas interrogo-me por ti romeira dos meus sonhos ímpares
Dou comigo a reflectir como alguma vez conseguirás ser
Se ser não é nunca por acaso senão o ter sido recuperado
Polido pelas nuvens que nos aspergem a esperança da alma
No digital binário, carregadas da tempestade que nos corre
Intempestivo segredo do sangue vermelho, pétala de rosa
Roja a requerer o querer do requebro e roubar-te até de mim
Sentir ciúmes de mim mesmo quando te possuo pra te soltar
A desprender-me das amarras do sainete, engodo de falcões
Donaire e graciosidade com que me domesticas as noites
Para executar sucumbido voltear à corda no picadeiro dos dias
Como ponteiro que não se cansa de girar sob o centro da mão
O pulso a ondear sentido ao estalar dos dedos, palmas, conchas
De Botticelli que te transportam do mar, sobre espuma na praia
A morrer que ressuscitas em terra fertilizada de renovada vida
Aspergida Terra por triliões de gotas quando sacodes os cabelos
Chuva de teu ventre em teu ventre gerada, gestação do verbo
Que de nove em nove meses volta e solta e requebra até nada
Mandorla do dez no aceso ou apagado dos semáforos do desejo
Halo de teus lábios com que falo preso na gruta do teu beijo.

Missing link insuspeitável que me antecede na sofreguidão
Intemporal da semântica bipolar desfeita em lava perfeita
Luar como espelho que reflecte o fogo das rosas carmins
E me ardo e consumo água do rio nos galácticos confins
Contramina das nascentes, gruta de encantos, teias e lendas
Jota do alfabeto nos pilares do templo onde te venero plena
Adoro como deus expulso do Olimpo por negação da ordem
Arina eleita com saias ciganas a bailar meus quartos crescentes
Caules germinados durante uma renovada Odisseia da luz
Teus olhos de ferir mortalmente a mortalidade das sombras
Trevas do breu do mundo lavado com o vaivém das ondas
Vermelhas das menstruações imaculadas, seivas da concepção
Sede de ser, pulsar constante, ritmo do teu sapateado e requebros
Com que inflamas o lar, palco de todos os madrigais e concertos
Que nos consertam e afinam para o cante da planície, oscilar
Candente ombrear da espiga pela brisa com que respiras e afagas
Enraízas e susténs nas colinas dos teus seios gritados aos céus
Atirados ao sol, generosos e maduros, corrupio de mel e sonho
Espiral que se alarga até evolar-se na unidade e voz dos corpos
Gesto de partir à desfilada nas nebulosas e outras vias lácteas
Caminhos iluminados, leque de auto-estradas na eterna liberdade...

Devolvida do mar e senhora dele, por te amar estou perdido
Que nunca haverá um encontrar, sem antes (me) haver partido!

sábado, janeiro 12, 2008

Empatia

Numa nova Odisseia, muito apenas expectável
Ao canto das sereias, do que dizem, ninguém no sabe
Só ainda nenhum homem lhe deveras resistiu
No uso próprio do termo, com significativo êxito…

Se diz de mim quem nada sabe,
Que perigosa é minha fala, e sou
Por ter um coração onde cabe
A minha asa, minha casa e meu voo...

Então, que diria se meu amor confessasse
O muito bem que deveras lhe quero,
Não havendo outrem nisso que a igualasse
Desde o superlativo ao apenas vero?

Assim diria... Diria que do mundo, o real
É este sentir profundo, imenso de alegria
Em sermos dois, mas cada um, em si, especial
Mas tão comuns, que igualmente cada um
Ao olhar o outro, a si mesmo se via!

terça-feira, janeiro 08, 2008

Abraço Recôndito na Ansa Silenciosa

Havemos de, em Árasa sem arestas nem aparas
Esconder, crestar as frestas, com lâminas raras
De recortar os talhos em retalhos menores
Pontos de agrupar os nós das urbes interiores
Redes de prédios, caixotes apertados, estores
De ocultar o presente com futuros passados
E passados pelo porvir cerzidos e desenhados.

Então, das célticas iguarias no cadinho liquefeito
Evolará lava livre de irrigar-nos os canais do peito!

segunda-feira, janeiro 07, 2008

Moção de Confiança


Tão-só confesso que não sei abdicar de teus olhos
Mesmo quando eles são fresta de raiva amordaçada
Emanam a rispidez dos dias, alicerçam o esquecimento
Desalinhavam o trabalho pelas costuras do dizer
Se alcantilam na infrutífera ocadura do desmaiado
Dilatam a pequenez dos horizontes marginais
Adiada sepultura deste sonhar irreverente e silencioso
Congeminar dos gestos de abandono ao sôfrego pulsar
À emergência de um acto de partir o mundo ao meio
Tu e eu de um lado, o resto ousadia e aventura, grito
Reinos a descobrir, anexos abertos ao sorriso pleno
Desmagoado em si, atrevimento de quem atira os seios
Pequenos gomos de comungar a matriz estética da vida
No que ela tem de encantamento e nela me sucumbo
E derivo, até à infinita partilha num big-bang interior.


Mas também que o meu caminho foi marcado, tendido
Massa compacta de segurar os pés entre as bermas
Não descambar para lá dos limites, o corpo como via
Rápida de emergir na imperiosidade do requerer mútuo
Sempre insaciado de retornar ao tempo que te cabe
Por inteiro sou quando em ti me afundo e me perco
Apenas teus olhos me chamam em labareda ardo neles
Folha ressequida, papiro incendiado, página secreta
Que contamina todos os conteúdos com teu nome
Fazendo dele metáfora imprescindível ao supremo valor
Eco perpétuo para qualquer fala em que me descavo
Retiro a ganga imprópria, lapido o rubi que me lapida
Aveluda o desejo, o querer, a vontade solta de gritar
O beijo incandescente no frémito simples dos mamilos
Determinantes absolutos, imperativas preces dos lábios
Que te soletram deliciados como palavra morna e doce.

Mesmo em literatura nenhum navegador experiente
Sabedor dos impulsos imprevistos das profundas águas
Deita ao mar a sua carga mais preciosa, que salvar-se
Mais depende de igualmente salvá-la, que perdê-la
Pois que assim seria perder o fito à sua navegação
Ao seu eclodir para lá das barreiras do rumar constante
Remar às rimas inauditas ainda mas já lava eruptiva
De teu corpo gritado na dominada devoção ao nome.

Confio-me a ti, nada além sei que dar-me a tuas mãos
Se arrebatadas me arrebatam sofreguindo todos os verbos
Me enleiam na teia, névoa de despertar para o essencial
Condomínio fechado, rosto acerado na têmpera do prazer.

E eis que morrer não amedronta, é como virar à direita
Num cruzamento de sentido único – tudo fica dito assim
Ao sentir teu abraço possuindo-me, possuindo-te enfim!

Porque ainda se lâminas afiadas teus olhos me rasguem
As entranhas não rasgam, lavram e semeiam, aspergem
Com centelhas a ânsia de realidade onde sonhar é concreto
Tão real, que o sonho é só o corpo da alma que aperto...

sexta-feira, janeiro 04, 2008

Se Ainda Recuperamos Alvoradas

Então tu, detective dos sentimentos camuflados
E das palavras crivadas pelo parágrafo oculto,
Zoom à semântica prisioneira em vésperas de indulto,
Porque te escondes de mim e me transportas e transformas
Em simples atracção circense dos palcos digitalizados
Electrónicos socalcos do estar aqui, hirto de leis e normas
Falho de certezas à luz das controversas e versadas formas?

Simplesmente pretendo recuperar os sonhos perdidos
Nas esferas do teu olhar em oblíquas ogivas sepultados,
Esquecidos tão à flor do não-ser brancos de cal, caiados
Como se fossem danças étnicas multimilenares, ancestrais
Rodapés, esquissos em oca por aguadas aguarelas cerzidos
De artesãos caçadores de éclogas nos remansos escondidos
Do vivaz rupestre encontro para decifrar o beijo dos vitrais.

O puzzle, juntar as peças do naufrágio nas correntes da vida
Em que suposta é a esperança e a dignidade de navegar,
Qual balancé do tempo, preso na teia de malha entretecida
Com as tempestades, os vendavais vigorosos, os jeitos de falar
E incentivar a descida, aos pergaminhos que nos hão-de registar
Como ponte entre o passado e o futuro, por sonhos suspendida.
E sustentada

Na escalada
Ousada
Desejada
Recuperada
Aliada – neste quase abraço de invenção com ternura desmedida...

Sim, porque a alvorada, se eleita em profundidade
Sara a ferida, domina o nevoeiro como muralha ensolarada
E dita desertos nos areais vitrinários da cristandade,
Abrindo caminhos sobre espirais à propulsão de quase nada
Nas apenas bermas do jungido e estreitado afecto da liberdade!