A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

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São o chão em chamas onde as lavras

sábado, agosto 10, 2024

EDUCAR PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E INCLUSIVA


 

 

EDUCAÇÃO CONTÍNUA PARA UMA SOCIEDADE MAIS JUSTA E MAIS IGUALITÁRIA

 

O grande perigo é o de nos deixarmos possuir por uma ideia fixa.”

 – André Gide

 

Aprender a conhecer (ou aprender a aprender, para podermos beneficiar das oportunidades oferecidas pela educação, ensino superior e experiência de vida), aprender a fazer (ou aprender a qualificarmo-nos profissionalmente, mas também a adquirir competências sociais e de utilização dos recursos económicos, financeiros e promocionais consequentes à atividade socioprofissional desenvolvida), aprender a viver juntos (ou aprender a cultivar a compreensão do outro, a treinar/aperfeiçoar a perceção das interdependências do pluralismo, realizar projetos comuns e antevisionar/antecipar-se aos possíveis conflitos daí resultantes) e aprender a ser (ou aprender a tirar partido das potencialidades próprias – memória, raciocínio, sentido estético, capacidades físicas, aptidão para comunicar, etc. – a fim de melhor desenvolver a personalidade, a autonomia e a responsabilidades pessoal e social), parecem ser aprendizagens cada vez mais necessárias para estabelecer prosperidade, harmonia e equilíbrio na sociedade atual que favoreçam a emancipação e realização plena de cidadãos e cidadãs, que nos facilitem defendermo-nos das contínuas mutações sociais, estruturais, normativas e culturais consequentes à mudança constante e à instabilidade provocada pelos movimentos sociais, mas também pelas alterações climáticas.   

 

Isto é, afirmar a gente que as exigências educativas se podem resumir ao clássico aprender a ler, escrever, contar e utilizar as tecnologias da comunicação, demonstra estarmos eivados desse gregarismo fundamental que tudo unifica para melhor confundir, limitados a obedecer, enquadrados pela estrutura da ideia fixa ou obsessiva e que, assim, pretende iludir com as pinceladas maniqueístas tradicionais do mal e do bem, do certo e do errado, que reforça e veicula a estratificação social e eterniza as diferenças através de estigmatizações, preconceitos e não reconhecimento do Estado de Direito, através do fulanismo e do corporativismo provinciano atávico moralista. Porquanto parece ser uma maneira de negar o progresso social e cognitivo, tentando recuperar as azinhagas de ontem definindo-as como as autoestradas do futuro indo de encontro à lógica do tempo, às necessidades da sociedade, e às exigências de realização da pessoa humana de acordo com os direitos, liberdades e garantias que a Constituição da República e a Carta Universal dos Direitos Humanos instituem e determinam.       

 

Para preparar o futuro é preciso formar e apetrechar os cidadãos e cidadãs de amanhã com as ferramentas suficientes e capazes de lhes facultarem uma adaptação homogénea. Inclusiva. Aberta. Democrata e funcional. E isso só se consegue com mais conhecimento, mais competências, mais sentido prático, mais comportamentos legitimados, mais atitudes inclusivas e mais cidadania, pelo que privilegiar o acesso ao conhecimento (básico) não basta, havendo também uma necessidade premente de conceber a educação como um todo, na perspetiva do futuro, que inspire e oriente as reformas educativas, quer no campo dos programas, quer no universo das novas políticas pedagógicas, que revitalize a consciência cívica e a emancipação integral das gerações através da educação contínua, feita também geração a geração, tornando a nossa sociedade não só cada vez mais democrata, como igualmente cada vez mais justa. E mais apta à equidade e igualdade de género. Enfim, mais igualitária… progressista e ativa.

 

Porque embora ainda não precisemos de “aprender a relatividade com Eisnstein para poder praticar o amor*”, o que é evidente é que todas as sociedades dependem da nossa capacidade amar, aptidão para amar, para se tornarem sustentáveis e sãs, e essa aptidão depende muito da nossa aprendizagem total, sustentada obrigatoriamente pelo aprender a conhecer, pelo aprender a fazer, pelo aprender a viver juntos e pelo aprender a ser, uma vez que sem essas aptidões entramos no universo das sociopatias e psicopatologias, e estamos/ficamos de formação incompleta por mais diplomas que tenhamos.   

 

Joaquim Maria Castanho  

 

*in PRIMEIROS CADERNOS

Albert Camus

Prefácio de António Quadros

Edição «Livros do Brasil»

Caderno nº 1, pág. 36

quinta-feira, agosto 08, 2024

Selin Sümbültepe - Meryem Meryemti

O NOME DO TEMPO


 

O NOME DO TEMPO

 

Numa sociedade em constante mudança, sempre sujeita a contínuas e aceleradas atualizações, onde a inovação social e económica parece ser um dos principais motores de desenvolvimento, crê-se, mais ou menos na generalidade, que se deve dar uma importância especial crescente à imaginação e à criatividade, para que a sustentabilidade da sociedade seja propícia à realização completa e concreta da humanidade, a que não pode ser alheia a igualdade de género.

 

Nesse sentido «algo de novo se prepara no mundo, cuja ponta avançada é a mulher.

Tão distante de um certo domínio da linguagem, menos fechada que o homem. Encontrando-se assim na última periferia dos territórios conhecidos, não tem um registo onde inscrever-se.

É um presente, ausente e silencioso.

É o nome do tempo.

 

Reconhecidamente de todo o tempo, se adianta, não só por ser mentora e tutelar administrativa do sistema social anterior ao antropocentrismo primário, mas também porque já em 1920, por exemplo, há mais de cem anos portanto, ano em que foi publicado pela primeira vez, quando a autora tinha 45 anos, e somente depois de ter conseguido divorciar-se, tendo em conta que o marido não lhe reconhecia qualquer talento e chamava aos seus escritos de papéis, sendo contra a sua verve literária, bem como ao seu gosto pelas coisas da literatura e do viver em sociedade, o livro OS QUE SE DIVERTEM (A Comédia da Vida), da autora portalegrense LUZIA, se debatiam as questões da igualdade de género e dos direitos humanos, da defesa dos animais e da biodiversidade, embora nesse tempo não fossem ainda assim tão evidentes e prementes, não obstante o livro tivesse vindo a revelar-se um sucesso extraordinário, com duas reedições seguintes.

 

Ou seja, para as coisas da sensibilidade cultural e literária ela, a mulher, incluindo a mulher portuguesa, revelou sempre uma aptidão superior, que não é só de agora, mas marcou o desenvolvimento humano, mesmo quando ele se revelou ser-lhe opressivo e castrativo, pelo que é de relevante importância que lhe seja devolvido estatuto correspondente.    

 

Joaquim Maria Castanho

 

*in SEXUALIDADE E PODER

Direção de Armando Verdiglione

Trad. António José Pinto Ribeiro

EDIÇÕES 70, 1976

Página 55.

quarta-feira, agosto 07, 2024

LADANIVA - Saraiman | POSTCARD (Official Video)

o mito e a criação


 

 

O MITO E A CRIAÇÃO

 

 

Pode parecer absurdo, contudo para quem se habituou a viver antes de se habituar a pensar, há nisto uma clarividência inegável: «A pétala de rosa, o marco quilométrico ou a mão humana, têm tanta importância como o amor, o desejo ou as leis da gravitação. Pensar já não é unificar, tornar familiar a aparência sob a face de um grande princípio. Pensar é reaprender a ver, a ser atento, é dirigir a consciência, é fazer de cada ideia e de cada imagem, à maneira de Proust, um lugar privilegiado. O que justifica o pensamento é a sua extrema consciência*», como refere Albert Camus.

 


«Criar é viver duas vezes**», dar uma outra expressão àquilo que pretendemos se venha a repetir com maior frequência enquanto congeminamos acerca das razões do mundo, porque «a expressão começa onde o pensamento termina**», e se concretiza, rumo à criação que «tem do amor o deslumbramento inicial e a ruminação fecunda***», tornando-a indubitavelmente romance, ou narrativa, expressão romanceada da sua constatação que nos liberta para de seguida nos prender a ela, uma vez que o nosso olhar e entendimento sobre o mundo e sobre as coisas passa a ser diferente do que antes tínhamos.   

 

É dessa repetição absurda mas contínua que nascem os mitos. Incluindo o de Sísifo, a reiterada e eterna repetição duma lembrança voltada para o futuro, que nos fará correr atrás dos mesmos anseios que tivemos como objetivos anteriores, as pedras da felicidade, por exemplo, que levámos para o cume da montanha durante o sonho, mas que transportamos novamente para o sopé do quotidiano a fim de que as possamos devolver ao alto da montanha ao adormecer na noite seguinte.   

 

 Joaquim Maria Castanho

 

O MITO DE SÍSIFO

Albert Camus

Trad. Urbano Tavares Rodrigues e Ana de Freitas

Edição «Livros do Brasil»

Págs. 39*, 113**, e 126***