NO PREDICADO,
A IDENTIDADE
1.
Pigarreando
a voz, exercício afinado, de imediato
Respiro
o sol, a macia volúpia do crepúsculo…
Não
há gesto que melhor nos esconda
Do
que a silhueta perfilada ante o ocaso;
A
penumbra agridoce da tarde, o estio violeta
A
sombra que entretece a dúvida, o vento
Norte
fresco do destino a eclodir maduro.
Se
a tua paz é a minha aflição febril
O
anil aceso duma aguarela visceral,
Porque
danças e balanças os braços nus
Tecendo
luz na insurgida escuridão do silêncio?
O
rosto diz-te, mas a alma sublinha-te verbo
E
eu apenas recito, nego a oralidade do esquecimento.
2.
Acende-se
a manhã, é como quem assopra
O
nevoeiro dilui-se, o palimpsesto remanesce
A
tinta desbotada dos ontens grita sua sobra
Num
brilho novo que ao antigo nunca esquece…
És
a minha única fragilidade, e aquela que cobra
De
mim a dor; quem te magoa me fere, embrutece
Torna
ímpio e cruel; rasga no ponto da dobra
O
puído ânimo das malhas que o universo tece.
Sofrer
é isso… Temer que a pior das piores desgraças
Nos
aconteça. E para além do tédio, do choro e do riso
Reconhecer
que para ser muito feliz somente é preciso
Que
nada de grave te alcança quando leda passas
A
fronteira das visões imaginadas, logo (pres) sentidas
Que
é onde desaguam todos os medos – todas as vidas!
Sem comentários:
Enviar um comentário