A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

domingo, junho 14, 2015

GOLPE DE ASA





GOLPE DE ©ASA

Já era quase noite neste dia ainda o mesmo dia
Quando comecei a escrever-te mas é de madrugada
Quando a aurora do odor do teu corpo se mistura
E dilui em brasa no perfume acidulado da rosa canina
E seu fumo evola e dança entre nós urgentes e nus
Que os ventres se requerem desesperados e sôfregos
E se fundem num só fogo de igual fragrância o sangue
Latejante sangue, febril e avassalador de esquecimento
Que cheira tão bem que até dói custoso de acreditar
As folhas a arderem estralejando desde a semente à raiz
Libertando fleumas de convergir na morrinha da manhã.

Eu confesso que também não sei quase nada das horas
Dos dias e do tempo apenas reconheço os minutos que sinto
Na intensidade dos sessenta segundos de pensar em ti em ti
Em ti no analógico desmedido até ferver cachoeiras de DNA
Furnas de lava ácida nucleica borbulhante nas lagoas cerebrais
Ou desmesuradas quedas de água interior a despencar abruptas
Precipícios líquidos do desejo com que te dissolves em mim.

Há outras coisas que quero igualmente dizer-te sem parar
Claro, mas que podem esperar ainda pelo sacrifício do verbo
Quando o degolarmos na pedra do altar de todos os silêncios
E o seu latido agonizante raspa o arrepio pra sulcar a alma
Com as pontas de diamante as estrelas anavalham o medo
O rasgam de alto a baixo, esfaqueiam-no cristais cintilantes
Plantam nas telas do céu diamantinos e fulgentes soslaios
Esses teus com que dizes não à morte de nenhum animal
Flor, árvore, ideia, cor, som, gesto, expressão de agora ser
Porque tu preferes que profira a vida em linhas de horizontes
Paralelos sobre a paridade como socalcos de aproximação
Palavras sobre palavras a irromper no imo seio das veias
Que pulsantes impulsionam correntes águas a espraiarem-se
Até não podermos mais de tanto ruborizarmos no inconfessável
Vermelho desejo tumescente segredo dum beijo sequestrado.  

Porque quando se é julgado por incendiário e ter ateado fogo
À floresta dos sonhos incondicionais e estes em labaredas
Te incendiarem o corpo no suplício da obsessiva possessão
E me possuíres em ti como um crime consumado no imo foro
Então poderei explicar sem as usuais contundências ilusórias
Da retórica dos remorsos e rebates dos desejos arrependidos
Que mergulhei na morte abraçado ao meteorito incandescente
Do teu beijo e atravessei-a toda num golpe de adaga imperial
Separando a eternidade em duas metades como fruto maduro
Cometa acutilante de unha felina a dizer a fresta que nos une.  

Joaquim Castanho

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