A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

sexta-feira, julho 10, 2015

APELO DE PELE




APELO DE PELE


Reconheço que no dia-a-dia há nuvens de poeira 
E nem tudo será só pura e singela transparência
Pois toda a gente tem segredos seus inconfessáveis
Difíceis de dizer, de calar, de escrever, de expelir
De deixar esquecidos numa qualquer rua, esquina
De grafitar nas paredes daquelas casas em ruínas
De abandonar no banco de jardim ou gare ferroviária
De acondicionar entre os livros da biblioteca pública
De encaixotar no sótão com demais trastes e bibelôs
De meter na gaveta das trivialidades preciosas
Junto aos cromos, aos porta-chaves, e fotografias
Calendários velhos, bilhetes de teatro ou concertos
Recortes de fait-divers, catálogos de exposição, clipes
Botões invulgares, relógios avariados e colchetes ímpares,
Embora se tenha esforçado capciosa e exaustivamente
Fintando-se amiúde ou tentando desmascarar-se
Pra nada permitir oculto de si e de seus semelhantes...

É risco plausível, sem dúvida, porém deixar de o correr
Somente porque nos estreita essa indiferença humana
Tão caraterística de nós enquanto nos medimos forças
Acerca de tudo e de nada, quais molas de propulsão
Disparadas no inverso do modo, aflige-nos eficazmente:
E até há quem grite «olha pra mim, belisca aqui – vês... sou gente!» 


Joaquim Castanho

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