A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quinta-feira, abril 19, 2007

Síndroma do apaziguamento


Embora duvidosa se enraíze quase sempre a certeza singela
Deste recente averiguar nas aves o chilreio descontraído,
Que ao labor da escrita acrescentam no vê-las através da janela
Quando antes de matar a sede se encavalitam no ramo despido
Do freixo que ao céu sobe próximo da parede e defronte dela...

O que importa não esquecer, perante a planície e suas colinas
Sub-reptícias, dengosas e feminis que se lhe deitam ao largo
Alongando seios e ancas em esparso bosquejo de olivedos sobros
É que não há sonhos sem desfiladas nem esvoaçares de crinas
Ou mesmo outras distâncias que não aquelas que em mim trago.

Seja no pleno descobrir, como no retraído e hesitante navegar...
Que o único pecado mortal nasce do olvido, ainda que a florir
Lhe estejam ausentes as folhas com que há-de também outonar.

É de verde sombrio, sujo, carregado, de camuflados militares
Entre os telhados dúbios dos hipermercados e o azul cinza do céu
Que apascenta o olhar se fitamos o horizonte ao entardecer
Como musgo sequioso sobre granito de mausoléus ancestrais.

Mas se da cor o que mais fica são os movimentos por fazer
Do sentimento tido que tudo explica se nos aturam os vagares
Esse que recai e descai sobre o ser como sombra, manto, véu
E faz ondular as papoilas ou espigas louras e maduras dos trigais
Que por não vistos se imaginam, e imaginados são mais reais!,
Então, retornam quase todas as searas vistas por esses campos fora
E pintalgam o presente com rústicas pinceladas de ontem no agora.

Madrigal

Ao cocuruto do jovem cipreste
Que há defronte da minha sala,
Qui-lo o pintassilgo silvestre
Para seu lar, quando acasala.

Podia até ter escolhido os demais
Que em fila também há rua fora;
Mas não, foi nele que criou o cais,
E escorou a eternidade que o decora.

Que um ninho, há-de sempre ter
O colorido canto de quem o faz;
E este, ainda que feito no agreste
Verde cipreste comum ao morrer,
É a vida que ele no cimo me traz
E aos filhos das aves aí a crescer!

(Continua)

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