A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras

A aventura das palavras... das palavras... as palavras... as palavras
São o chão em chamas onde as lavras

quarta-feira, agosto 17, 2011

ABSTRACÇÃO

Fitando a chuva tu olhas
Entre nada e coisa nenhuma há;
E perto das cores que desfolhas
Estás, longe de ti, como quem não está.

És um ponto indiscreto de soletrar
Um silêncio a descoser-se na sutura;
E quando te miras, já te não vês murmurar
Quem querias ser, numa emenda futura.

Podias recorrer à insensatez de sonhar.
Podias esperar na imensidão do dizer.
Porém... preferes, simplesmente, estar.

Podias esconder a franca nudez de ser.
Podias pensar na contradição de pensar.
Mas no contudo, porém, queres apenas ler!

2 comentários:

Lúcia Bezerra de Paiva disse...

Há tanto, na abstração!
Sua poesia, faz refletir a maravilha
que está no ato da leitura...Nunca pensei, na "insensatez" do sonhar,
na contradição do pensar,no "ser",
no "estar"...Nunca estive a ler, simplesmente, no entanto, nunca poderia imaginar o "quanto" de abstração, dialética, pode-se alcançar num ato tão simples e...
solitário...
É sempre muito bom, vir aqui.
Obrigada, mais uma vez, pelo
"balanço da liteira"...
Um abraço, joaquim
lúcia

Joaquim Maria Castanho disse...

Obrigado, Lúcia; o momento de leitura é, por assim dizer, um momento de entrar na metáfora, que em si mesma significa “meter fora” do significado de uma palavra a significação que o enunciado discursivo invoca. E isso é um paradoxo incomensurável, que só através da compenetrada abstração é possível “realizar”, conceber. A sua sensível acuidade sublinhou-a de forma exemplar.
Não teria sido sob essa perspetiva que Anita Malfatti terá retratado a leitora, nem nela a depositou propositadamente, é certo e sabido, mas foi motivada por ela que esse processo evoluiu: havia leitores/as que liam nas suas incursões ao mundo exterior em liteira, que teriam a mesma solidão abstrata. Estar simplesmente a fazer algo cuja química se compõe de tantas substâncias, ou conteúdos, é como o fumar, que se faz fazendo-o pelo valor/prazer que lhe é intrínseco, e além de observável, sobretudo imaginável.
Para foi uma viagem, e fico extramente contente com o fato de nos termos cruzado nela, com a empatia a balançar-nos, a embalar-nos, o conforto da soletração… Uma galáxia de beijos pra Vc. Mhhhuuuuaaammm ***